sexta-feira, 10 de novembro de 2006

É fruta ou chocolate!...

Tenho escrito inúmeras vezes sobre os problemas cívicos que, a meu ver, explicam muito do nosso atraso.

De facto, olhando outras nações que progridem, mesmo não detendo riquezas naturais de vulto (como sucede connosco), tenho vindo a afirmar que valores e atitudes como o mérito, a honestidade, a lealdade, o esforço, o estudo, entre outros, podiam fazer-nos, atendendo às imensas qualidades de que também somos fieis depositários, estar na liderança dos países desenvolvidos, em não muito tempo.

Em quatro andamentos (quatro singelas e reais situações que me sucederam) abordo a ideia pelo lado comercial, em torno do qual gira muito do que é a maneira de agir de um povo, nas economias de mercado.

Dispenso-me de gastar o meu latim com o lado da procura, já que, também em mais do que uma ocasião, me debrucei sobre o fenómeno do sobreendividamento e a histeria actual pelo supérfluo.
Resta-nos, assim, olhar a oferta e tentar ilustrar as razões pelas quais, mesmo nos actos comerciais mais simples, começa a ser interessante deixar o seu dinheiro e pagar os seus impostos associados ao consumo noutros países, sempre que possível. É neste âmbito que caiem as duas primeiras situações, que relato esta semana.

Assim, e pegando na deixa, começo pelos casos em que isso foi possível, recentemente. Opto por situações comuns do dia-a-dia, já que são aquelas que mais me interessaria perceber, visto que começa a avolumar-se em mim a ideia de que, sendo verdade que, em média, recebemos menos a título de remuneração e consumimos bens mais caros (o exemplo mais célebre é o dos carros, mas, neste caso, com uma explicação tributária óbvia), é duvidoso sonhar com o ideal de equalização que preside ao chavão da “coesão”, tão apreciado pelos que vêem em Bruxelas o paraíso.

Exemplificando, posso dizer-vos que, num sítio da Internet dedicado à electrónica e baseado em Espanha é possível comprar, por exemplo, um telemóvel que custe cerca de 280€, na loja do fabricante (Nokia), em Portugal, por menos de 230€ com portes e comissão do revendedor incluídos, economizando aproximadamente 18%, sem sair de casa.

Mas, mudando a agulha, também em bens culturais pode evitar os comerciantes com sede ou filiais em Portugal, com vantagens notórias. Aponto o caso de um livro que aborda a cultura ocidental dos últimos dois séculos, que pode adquirir por mais de 53€, na FNAC, em Lisboa. Com meia dúzia de toques no rato do seu computador, câmbio efectuado e impostos liquidados, a Amazon do Reino Unido envia-lhe a mesmíssima obra, no mesmíssimo idioma (inglês), por 40€, números redondos, posto o que também reteve no mealheiro cerca de 25% do que lhe pediram na capital portuguesa.

Ou seja, torna-se fácil optar pelo estrangeiro, numa altura em que a retoma precisa de nós. A verdade, porém, é que termos como “retoma”, “crude”, “OPA” e afins não satisfazem as nossas necessidades de consumo, pelo que haveria que repensar a competitividade da nossa economia, refrescando (eufemismo deliberado) a atitude de Estado, trabalhadores e empresários.
No próximo post, voltaremos ao tema com dois outros exemplos que ilustram o défice de competitividade, desde logo, da nossa atitude.

Numa altura de personalização da procura, a nossa oferta continua a tratar o assunto a granel, digo eu…

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Os amigos de Drácula

O Governo (e bem, tenho que reconhecer) pretende limitar os arredondamentos da taxa de juro do crédito à habitação, sempre que há uma revisão da taxa euribor.

João Salgueiro, que não sei se ainda se diz social-democrata (relembro que chegou a concorrer à presidência do PSD contra Cavaco Silva, em 1985), em nome dos bancos (é presidente da associação do sector), declarou que a banca não ficaria a perder, já que sempre restará a possibilidade de castigar os portugueses, aumentando o spread (a margem de lucro assumida dos bancos).
Indiferentes a qualquer consciência social, e resistindo à tentação de implantar dentes de vampiro, os nossos banqueiros mostram bem o grau de consideração que têm para com a situação actual do País.
Seria bom para os nossos banqueiros fazer o mesmo que eu, a seguir ao jantar de ontem, para os lados da Rua Jardim do Regedor, nos Restauradores, subindo a pé por esse lado da Avenida da Liberdade; veriam mais de uma dezena de pessoas dormindo na rua, embrulhadas em mantas e cartão.
Creio que o fenómeno humano da miséria implícita neste caso ainda tem uma dimensão que permite a sua resolução, não falando já na questão social e turística de se tratar de uma artéria que é um cartão de visita da capital portuguesa.
Bastariam umas milésimas dos ditos spreads, tornando-se, pelo menos, compreensível a sua existência e os sucessivos aumentos...
Contudo, aposto que os motoristas dos banqueiros são velozes ao passar na Avenida, que os restaurantes a que estes vão não são tão plebeus (apesar de tudo, ao Gambrinus pode ir-se pelo Rossio) ou que preferem o outro lado da rua...

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O estado do "Quarto Poder" e... o Estado e o "Quarto Poder"

Parece inevitável.
Sempre que se fazem rankings mundiais sobre o que quer que seja, estamos confinados a figurar nos piores lugares.
Seja qual for o assunto, lá estamos nós, portugueses, na lista negra, habituadissímos aos lugares mais vergonhosos.

Mas diz o povo que “não há regra sem excepção”...
Na passada semana, a ONG “Repórteres sem Fronteiras” divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no Mundo referente a 2006.
E eis que Portugal “arrecada” a 10ª posição entre 168 países.
Esta posição talvez não nos surpreenda assim tanto, uma vez que longe vão os tempos das comissões de censura e do lápis azul.

Porém, desenganem-se os que julgam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são “dados mais que adquiridos” quer em terras lusas, quer por esse Mundo fora.
Mediáticos casos como o dos cartoons dinamarqueses – país que outrora figurava no primeirissímo lugar deste ranking... - ou a mais recente morte da jornalista russa fazem-nos repensar o conceito de liberdade de expressão no mundo de hoje.
Até porque os atentados à liberdade de imprensa não se confinam somente a actos graves e mediáticos como estes...

A liberdade de imprensa e a inerente liberdade de expressão estão consagradas em quase todas as Constituições por esse Mundo fora. Trata-se de um princípio cuja importância, à partida, ninguém questiona.
E que na prática parece estar assegurado: afinal, vão surgindo novas formas de pôr em prática a nossa liberdade de expressão – como o é aqui o caso da blogosfera!
E todos os dias nascem novas publicações e revistas. (Por terras lusas, a morte do "Independente" e o nascimento do novato “Sol”, cujo grau de isenção eu não questiono, vieram relançar esta discussão da isenção jornalística...)

Contudo, a maioria de nós mal se apercebe de que diariamente este princípio se vê limitado um pouco por todo o lado, mesmo diante dos nossos olhos. A forma mais subtil de limitar a liberdade de imprensa nos nossos dias é controlar a informação, controlar criteriosamente e rigorosamente aquilo que é passível de ser notícia.
A questão hoje para o editor parece ser: «o que há de novo no mundo de hoje que mereça destaque no meu jornal, que conquiste leitores e que não se confronte com os que o sustentam economicamente?»
E assim se faz jornalismo dito “livre”...

Esta é, ainda que não queiramos assim ver, uma nova forma de censura. Não a do lápis azul, mas talvez a do “toque no ombro”, a do telefonema em tom de aviso.
Apesar de estarmos no “top ten” da liberdade de imprensa, a verdade é que nem o nosso jornalismo é impermeável às influências do poder político e económico...
Nem nós, nem a espanhola Prisa do PSOE, nem a Fox dos Conservadores... tantos (maus) exemplos de como a concentração do poder mediático em quem tem poder económico, pode deturpar o conceito de liberdade de expressão.

Ou seja, legalmente, a censura há muito que acabou.
Em Portugal, do ponto de vista formal, há liberdade de imprensa desde a Revolução dos Cravos. Contudo, volvidas mais de três décadas, não podemos falar de uma imprensa totalmente livre. Aliás, o mais provável é que nunca chegue o dia em que possamos falar dela.
Afinal, trata-se do Quarto Poder, e como Poder que é... há-de sempre ser “controlado”.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Music Hall


Na 3ª feira, os GNR comemoraram 25 anos de carreira, no Coliseu de Lisboa.

Sei que sou suspeito, uma vez que se trata do meu grupo favorito, mas arrisco dizer que foi uma performance notável de um conjunto que tem no seu vocalista, mais do que um cantor, um artista.

E, permitindo uma audição meramente pop ou a degustação de letras com conteúdo social (conforme o gosto de quem ouve), lá desfilaram Piloto Automático, Hardcore 1º escalão, Dunas, Valsa dos Detectives, Efectivamente, Morte ao Sol, Sangue Oculto, Sexta-Feira (um seu criado), Quero que vá tudo pró Inferno e por aí fora, em duas horas de boa música, com bons convidados (Legendary Tigerman, NBC e Sónia Tavares dos The Gift).
Aguardo com expectativa o próximo quarto de século do Rei Ninho...

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Muita garganta


A Constituição da Sérvia, ao que tudo indica, foi aprovada por uma maioria juridicamente vinculativa.
O texto basilar da organização do Estado da ex-Jugoslávia inclui nos limites da sua soberania o Kosovo, como não poderia deixar de ser, desde logo olhando ao facto de os sérvios verem naquela região o berço da sua nacionalidade.
É evidente que ninguém pode esquecer a violência das tropas patrocinadas por Belgrado, quando surgiram as reclamações independentistas.
Entendo, de igual modo, que também não podem olvidar-se as acções terroristas das milícias de matriz albanesa e o perigo para a estabilidade da região balcânica que pode representar mais um Estado (eu diria, um estrago) similar ao que (não) é governado a partir de Tirana (não me contaram; eu vi)...
A questão do momento, porém, é outra, a meu ver. Falo da adesão da Sérvia à União Europeia que, ao que se diz, pode estar a ser condicionada pela entrega de Mladic e Karadzic (heróis na Sérvia, bandidos fora dela) e pela resolução do dossiê kosovar.
Não entrando sequer na questão da jurisdição internacional (que permitiu ir buscar Milosevic a "casa"), sublinho, mais uma vez, a hipocrisia do sistema de relações internacionais, bem patente no enleio amoroso em que o mundo ocidental anda com a mesma China que pratica tiro ao alvo no Tibete e que, em início de 2005, aprovou uma lei anti-secessão, que proibe qualquer auto-determinação em Taipé (Taiwan).
Eu diria que o Kosovo é mais simbólico para a Sérvia do que as duas regiões mencionadas para a China. Bem sei que a China não deseja aderir à UE, mas inunda-nos de produtos, pelo que, creio eu, a questão moral parece equivalente.
Mais uma vez, a valentia e ética europeias têm mais garganta do que outra coisa...

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Aún hay lodo en el muelle *

Não sei se já sentiram o mesmo, mas parece crescer o número de jovens cidadãos portugueses entre os vinte e os quarenta anos que, em conversas de café ou em alocuções mais estruturadas, começam a dizer pérolas do género “quem me dera ser espanhol” ou “estávamos melhor se fossemos uma província de Espanha”.

Evidentemente, digo isto sem esquecer que, embora com versões e correcções para todos os gostos e feitios, um ministro do actual Governo, Mário Lino, se declarou iberista, com a força política que as palavras ganham quando ditas por um governante.

Em boa verdade, nem para outro fenómeno queria eu alertar, quando sublinhei, no último congresso do PSD, que a Espanha está a conseguir por modo pacífico o que nunca conseguiu pela via agressiva, ao longo de uma história vicinal. Basta olhar o sector energético, a moda, e por aí em diante…

Vamos então conservar a bola a meio-campo e tentar perceber se é de atacar ou tempo de jogar à defesa…

Desde logo, arrasa quem começa por comparar os níveis de vida. Os vizinhos do lado ganham (muito) mais e gastam (muitíssimo) menos a atestar o depósito e a encher a despensa. Aliás, não há muito tempo, jantava nas cercanias do museu em que acabara de ver uma soberba exposição denominada “Rusia!” (Rússia) - falo do Guggenheim de Bilbau – e sou interpelado pela constatação de um amigo que me alertava para o quão caros achava os bocadillos, as tapas e todas aquelas comidas às prestações que fazem nuestros hermanos lamber os beiços… Como se tomado por um ataque de clarividência, cerce desmistifiquei o veredicto; bastou chamar a sua atenção para o facto de as mesas povoadas por espanhóis (todas, excepto a nossa, tanto quanto pude aperceber-me) estarem cheias de pratos e pratinhos. Resignados, concluímos que nós é que estamos (comparativamente, pelo menos) bem mais pobres…

Em segundo lugar, não falta que diga que muito do que podemos legislar ou fazer é, já hoje, ditado por Bruxelas, pelo que sermos uma província autónoma do país de Zapatero em nada apoquentaria, já que seremos, cada vez mais, uma província federada da União Europeia. A vantagem, na óptica dos cultores desta linha de raciocínio, era colhermos as prebendas de Madrid, numa espécie de epitalâmio que nos levaria a votar para o inquilino da Moncloa (sede do governo espanhol) - a residência de São Bento seria para o presidente da junta autónoma, calculo.

Por fim, os adeptos do casamento ibérico assestam baterias contra o alegado provincianismo alheio, afirmando que o discurso “patrioteiro” de muitos políticos nacionais tem a ver com o receio de perderem os lugares e sinecuras, dada a mediocridade reinante e a dimensão do “mercado político” numa escala peninsular. Este argumento, em meu entender, é o mais fraco de todos, já que, se é verdade que grande parte da geração que domina a política actual faz tudo para se agarrar o lugar, o receio tem mais a ver, salvo melhor opinião, com o facto de muitos se terem vindo a eternizar sem acautelar um lugar profissional de recuo. De facto, parece-me que a maleita magna da nossa vida pública é geracional e explica-se com as oportunidades de carreira do pós-revolução.

Entrando na contra-argumentação, faz-me confusão pensar que milhares de portugueses morreram em batalhas, navegaram para mundos desconhecidos e criaram pérolas do saber em vão. Não estou preparado para entregar de graça algo por que tantos pereceram e a que outros consagraram uma vida.

Acresce que estou em crer que nem o clássico “mercador de Veneza”, que queria cobrar a onça de carne ao devedor, trocaria a pátria por uma viagem mais barata a Lisboa ou mais sumos no armário.

Sendo algo de idiossincrático confesso que nem sei bem explicar a certeza de que não quero ser algo senão português; mas disso estou bem seguro.

Há, porém, algo em que ambos os lados da barricada estão irmanados: a necessidade de preservar com muito mais vigor a nossa identidade cultural. Até os que vêem bom vento e bom casamento a vir do quintal vizinho vão dizendo que sempre seríamos autónomos na língua e cultura. Eu, na minha insignificância, já venho dizendo que é com cultura que se defendem as fronteiras actuais, de há muito a esta parte.

Correndo o risco de desagradar a todos, sublinho que não vejo que os nossos decisores o saibam, de tão ridículos que continuam a ser os orçamentos para a cultura. Talvez seja assim que, um dia, um destes posts venha a terminar com um “hasta la vista”!...
* Em boa verdade vos digo que o título deste post é uma tradução "selvagem" para espanhol. O título do filme que (também) inspirou o baptismo do blog ("Há lodo no cais) é, na lingua de nuestros hermanos, "La ley del silencio". Em inglês é mesmo "On the waterfront".

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Por que é que falei bem do Ministro?!?!

Comunicado do Conselho Nacional do Médico Interno

Perante as sucessivas violações a que tem estado sujeito o processo de colocação dos médicos internos nos respectivos concursos de acesso ao Internato Médico, o Conselho Nacional do Médico Interno entendeu comunicar a todos os colegas a sua posição.
A criação de dois concursos simultâneos, com requisitos especiais de admissão distintos, para ingresso no Internato Médico em 2007 não se encontra prevista quer no decreto-lei 203/2004, quer na portaria 183/2006 (regulamento do Internato Médico). Entende o CNMI que o estabelecimento de requisitos especiais de admissão deste tipo abre um precedente grave, já que permite alterar significativamente as regras de admissão ao Internato Médico de concurso para concurso e de ano para ano. Alterações desta monta não devem ser feitas através dos Avisos de Abertura dos Concursos, porquanto estes se referem apenas ao concurso em causa e não às regras gerais a que estes procedimentos devem obedecer e que devem permanecer constantes.
Inicialmente esteve em causa a possibilidade de acesso ao concurso pelos médicos actualmente no Ano Comum de 2006. Esta situação perdurou durante várias semanas até que a Secretaria-Geral do Ministério da Saúde, após insistência do CNMI, finalmente publicou no seu site informação adicional sobre o concurso IM2007-B, onde previa claramente a possibilidade dos internos do Ano Comum de 2006 concorrerem.
Hoje (23 de Outubro), o CNMI foi confrontado com a revogação dos avisos de abertura dos concursos para o Internato Médico de 2007 (A e B) que haviam sido publicados há apenas 13 dias, e que acontece já durante o período de inscrição para os mesmos. Uma tal atitude sem precedentes por parte do Ministério da Saúde constituiu uma surpresa, tanto para o CNMI, como para os médicos internos que pretendem participar nestes concursos. Os novos avisos de abertura alteram significativamente a orgânica proposta pelo MS para estes concursos. Deixa de existir um concurso específico para os recém-licenciados por universidades portuguesas, passando o concurso A a integrar todos os médicos que não tenham realizado o Ano Comum ou estágios equivalentes. Por seu lado, os médicos internos que pretendam mudar de área profissional de especialização, são remetidos para um concurso B, cujo número de vagas deixou de ser conhecido face às alterações introduzidas hoje, deixando os jovens médicos que pretendem trocar de especialidade num clima de grande incerteza. O Conselho Nacional do Médico Internos sempre foi favorável à existência de um único concurso de acesso à especialidade, aberto a todos os médicos internos. Esta situação é do interesse não só dos internos, mas também da população portuguesa, que assim veria os seus jovens médicos nas especialidades para as quais realmente se sentem vocacionados.
A publicação do mapa de vagas para o Internato Médico de 2006 tinha já antes sido alvo de comunicado da Ordem dos Médicos exigindo a sua divulgação até 20 de Junho; não compreende o CNMI por que razão ela ocorreu passados quatro meses. Menos entendemos que após menos de uma semana da sua publicação ele tenha sido suspenso quando os candidatos tinham já estabelecida a calendarização das suas escolhas. Já em 2005 o CNMI tinha manifestado a sua perplexidade pela alteração do mapa a apenas 3 dias da escolha dos candidatos; na altura a justificação apresentada foi a da mudança de governo. Foi-nos garantido que tal não se voltaria a repetir. Qual a justificação para mais este atropelo?
O CNMI considera que esta suspensão do mapa e dos concursos em curso representa uma atitude hostil perante os jovens médicos e denota uma clara irresponsabilidade e incompetência por parte do Ministério da Saúde, estrutura responsável pela sua elaboração e publicação. Consideramos ainda que tal atitude reflecte uma postura de contínua arrogância e prepotência desrespeitando quaisquer prazos e condições legais previstas e elaboradas pelo próprio Ministério da Saúde.
Quando num estado de direito é o próprio executivo que não respeita as regras por que se rege e faz reger os outros, consideramos que foram ultrapassados todos os limites.
Está por isso instalado um claro clima de desconfiança entre jovens médicos e Ministério da Saúde que, para além de tratar de áreas sensíveis do Serviço Nacional de Saúde, tem que ver com direitos básicos de cidadania. Não nos sentimos respeitados nem como profissionais ao serviço da população nem sequer como pessoas.
Coimbra, 23 de Outubro de 2006
O Conselho Nacional do Médico Interno
Nota: Para quem não sabe, o CNMI é uma estrutura da Ordem dos Médicos. Peço desculpa por publicar um Comunicado, mas o desrespeito pelos jovens médicos da parte do Ministério da Saúde merece ser denunciada!

domingo, 22 de outubro de 2006

O SIM e o NAO...

Há uns anos atrás fomos confrontados com um referendo (aliás, dois), mas hoje dou atenção ao assunto de política nacional do momento.

Quando, foi feito o referendo ao aborto, não me deixaram votar. Apesar de ser cidadã portuguesa, maior, e com gozo pleno dos meus direitos, ainda não tinha cumprido os 6 meses sabáticos pós-recenseamento.
Apesar de vir de uma ala política que critica a interrupção voluntária da gravidez, a minha opinião pessoal não é coerente com as minhas escolhas políticas...
Nem sempre a política e a nossa consciência andam lado a lado... podia ser pior... sou simplesmente uma desalinhada!
Não posso dizer que conheço a "realidade" dos abortos clandestinos em portugal como a palma da minha mão... Mas consigo imaginar, consigo pensar nisso... Não é muito dificil!
Olho à minha volta e imagino a quantidade de mulheres que já fizeram uma interrupção voluntária da gravidez, de forma ilegal, nem sempre nas melhores condições. Quantas mulheres não terão ido a Espanha?!? Quantas mulheres não o fizeram em caves e garagens?! Quantas não terão ido parar ao hospital com lesões graves depois de um aborto?!?
Os abortos fazem-se na mesma: quer sejam de forma legal ou ilegal. Então porquê fechar os olhos, fingir que isso não existe?
Existe hoje, e vai existir sempre. Claro que os movimentos "pró-vida" viram sempre com a mesma demagogia da prevenção, da educação sexual... Está visto que isso não funciona.
Não acredito que nenhuma mulher faça um aborto de forma tranquila, que não fique marcada. E esse é o maior "castigo" que se lhe pode aplicar. Não há ameaças de pena de prisão que marquem mais do que o próprio aborto em si,
Lembro-me do dia em que o referendo teve lugar... Estava um dia de sol fantástico, as praias estavam cheias... Pleno verão.
As sondagens davam uma vitória inequívoca à despenalização. E sim, sabemos que a sociedade portuguesa é receptiva à despenalização. Contudo, houve uma minoria que não se deixou ficar a "trabalhar para o bronze". Que se levantou e foi às urnas e que marcou uma posição. Cidadãos cujo voto tem igual valor àqujeles que acharam que a vitória estava garantida. Cidadãos que merecem ser respeitados. Se quem era a favor, se desleixou, tem de arcar com as consequências.
Só entendo que o aborto deveria ser despenalizado por não ser uma questão política, por ser uma questão de consciência pessoal. Era o que mais faltava que o Estado pudesse escolher por mim, por exemplo, aquilo que como!
Se quem está no poder e na Assembleia da República, e quer ver esta questão alterada, deveria ter a coragem para fazê-lo por si só, em vez de atirar o ónus dessa decisão para os portugueses.
Porque apesar de ser a favor da despenalização do aborto e por ser a favor de que as mulheres tenham condições para realizar este tipo de intervenções, mas sobretudo, por ser contra os lobbies instalados de médicos/enfermeiros/parteiras que se aproveitam do estado de necessidade e pânico de uma pessoa - que deve estar desesperada - para lhe "sacar" umas centenas de euros...
Mas não posso deixar de respeitar os portugueses, cujo voto vale tanto como o dos outros portugueses (aqueles que ficaram ao sol), e que tiveram a coragem de expressar a sua vontade.

Estou num paradigma!

sábado, 21 de outubro de 2006

Afinal tudo tem uma explicação...

Como Benfiquista, gostaria de citar a explicação do Treinador Principal da SLB sobre os mais recentes resultados dos encarnados:

«Tem a ver com a questão das transições...Quem determina o jogo é a bola. Quem tem a bola ataca e a equipa que não a tem, tem de defender. É esta transição que nos tem penalizado e nos leva a derrotas por valores anormais.», explicou Fernando Santos.
O meu comentário: no comment.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Conceitos

Peter Drucker:“ A finalidade é a satisfação, a recompensa é o lucro.”

Hoje e cada vez mais, com a homogeneidade existente no mercado, o “truque” está em encontrar conceitos que vão de encontro às necessidades daqueles com quem há o interesse de interagir. O foco no consumidor é seguramente uma necessidade e não uma decisão altruísta.
A prová-lo está a IBM, que não vende material electrónico nem software, mas sim soluções informáticas para problemas de gestão. Ou então a Danone, que vende corpos Danone e não iogurtes; a Disneyland, que oferece divertimento para famílias, não está no negócio dos parques temáticos; ou mesmo uma qualquer empresa que não quer ser conotada com a venda de parafusos, mas sim com suportes de afixação (pudera, meter-se com os chineses!).
Enfim, estamos cheios de exemplos no mercado…
Mas o conceito que aqui me apraz referir, é relativo à matemática, bicho de muitas cabeças para os jovens lusitanos.
Rompendo com os clássicos centros de explicações, surge a era dos ginásios da matemática (como ilustra a foto).
Estou mesmo a ver uma conversa de final de dia entre dois alunos de uma qualquer escola secundária:
- Oh pá, vamos ao ginásio?
- Ok. Vamos lá que preciso de exercitar um pouco as equações de 2º grau.
Ou então:
- Espera por mim que vou a casa buscar o material para irmos ao ginásio.
- Vai lá que enquanto não chegas vou fazendo uns exercícios.

Brincadeiras à parte, o conceito é interessante e de apostar, até porque parece-me bem mais motivador.
De notar é que estes ginásios são privados, o que equivale dizer: é só para quem pode.

Ah, ganda Lello!!!

Sem sequer entrar no tema da oportunidade de convidar o Partido Comunista Chinês para o congresso do PS (de vacilar só se um dia o CDS/PP convidar a Alessandra Mussolini...), que tanta polémica tem gerado dentro e fora das "novas fronteiras", é quase comovente ver como o ex-governante socialista e actual deputado José Lello decidiu usar o seu ascendente sobre o partido que governa a China, há decadas.
De facto, o nosso Lello decidiu introduzir profundíssimas mudanças nas teses do PCC; senão, veja o Diário de Notícias on-line de hoje:
"o secretário nacional do PS responsável pelas relações internacionais do partido, José Lello, assegura que o convite à delegação chinesa vai manter-se. 'O PS e os comunistas chineses têm relações no âmbito da Internacional Socialista, na qual o PCC tem o estatuto de observador. Só lhes faz bem assistirem a um congresso muito participado e democrático, como será o nosso' ".
Ora bem! Resta aguardar a prescrição de Lello para o Partido Comunista da Coreia do Norte...

Duche escocês

O SPA do Engenheiro é limitado nos tratamentos.
Nós avisámos...

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Interessante e bonito


Mas talvez os críticos cinematográficos de esquerda (99,9% ?!) digam o contrário...

Por isso sai... sai da minha vida!

O senador democrata dos US of A John Kerry veio a publico esta semana afirmar que, tal como outros no passado (nomeadamente o Presidente Reagan), também ele merece uma segunda oportunidade para se candidatar pelo Partido Democrata à Casa Branca.

Trata-se de um indivíduo que não aparece e, quando diz alguma coisa, exige a retirada total e imediata das forças americanas do Iraque. Concordando ou não com a tomada de posição do Bush Jr. no Iraque, a verdade é que a retirada apenas iria dar início à guerra civil... e afirmar o contrário disto é pura demagogia.

Mas mais importante que a ausência de ideias e de activismo da parte do senador Kerry é o facto do Partido Democrata ter pelo menos dois candidatos muito melhor qualificados e que têm demonstrado uma oposição séria e responsável à administração Bush: refiro-me ao Al Gore e à Hillary Rodham Clinton.

O John Kerry teve a sua oportunidade e perdeu. Se tivesse feito uma boa campanha, se tivesse feito uma oposição credível e com visibilidade, se tivesse demonstrado que afinal é um político dinâmico, capaz de inspirar milhões com as suas palavras, então eu seria o primeiro a defender que, à boa maneira americana, lhe dessem uma segunda oportunidade. Mas não foi o caso e, apesar de não ser americano, julgo que os cidadãos do mundo têm direito a ambicionar alguém melhor para liderar a maior potência global. Nem todos nasceram para ser Presidente e o Kerry, caso concorra, irá perceber isso logo nas primárias.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

O circo veio à cidade

Por vezes, até o adepto mais leal desepera...
Nessa singela condição de apoiante (a mesma na qual escrevo estas linhas) desloquei-me a Paços de Ferreira, no domingo, para constatar tristemente que entregaram o apito a um senhor (Hélio Santos de seu nome) a quem se esqueceram de explicar que não era para o carnaval, mas sim para dirigir uma partida do escalão maior do futebol português.
Não é preciso saber muito de "bola" para entender que, na pior das hipóteses, se um guarda-redes demora com a bola e a chamar um companheiro para bater um pontapé-de-baliza, a haver admoestação, será ele o punido e nunca o "cristo" que chamou.
Piora a coisa se nos lembrarmos de que falamos de um jogador (Pavlovic) que já tinha um cartão amarelo averbado, pelo que, mesmo que fosse devida a sanção (e não era, como disse... eu e o resto do mundo, adeptos do Paços de Ferreira incluídos), haveria que usar de bem senso. Não tendo sido assim, o vermelho foi a cor que dito a moda.
Acrescentando a isto (algo que se passou a quase meia hora do fim da partida) uma grande penalidade altamente duvidosa (a que deu o empate aos locais), temos a tenda armada.
A fotografia?! É só para enfeitar...

Estrela decadente

A propósito do aborto (tema a que voltarei, sem dúvida alguma), ouvi um bizarro argumento (e ela lá tem de outro tipo?!...) da parte da eurodeputada Edite Estrela: querendo defender o "sim" à despenalização/descriminalização, argumentou que só os países menos desenvolvidos (por exemplo, em matéria de literacia) ainda penalizam a interrupção voluntária da gravidez.
Ora bem, eu que até sou favorável ao sim, pergunto-me se, presumindo que a ex-edil de Sintra fez a comparação no âmbito dos países ditos ocidentais, o debate mais actual não é o do relativismo excessivo, da falta de uma pauta de valores de convivência.
Ou seja, é o mesmo mundo que liberaliza os comportamentos que hoje se debate com a pedofília, com o tráfico de pessoas e de ógãos, com a toxicodependência crescente e até com o individualismo que torna o outro num objecto susceptível de posse...
Diria que, indo pela lógica civilizacional, quem defenda o "sim" deveria estar calado, dada a deriva ética de que falei.

And now... for something completelly different

Realmente, o ser humano nem sempre é mau... ou será?!?

Enquanto estava em Lisboa fazia todos os dias o mesmo percurso: casa-escritório, escritório-ordem, ordem-escritorio, escritorio-casa... Claro que como a rede de metro, em Lisboa, é fantástica, decidi torná-lo o meu transporte de eleição.

E às 8h50 da manhã, lá entrava eu em Carnide (ou Telheiras) para chegar às 9h10 ao Marquês de Pombal. Só voltava a apanhar o metro de regresso depois das 19h15...
Achava que trabalhava imenso, que ficava estourada... que trabalhava horas a mais!
Um dia parei para pensar...

Havia um senhor, que todos os dias estava na escadaria do metro, na minha saída... Figura esguia, cara magra. Não consigo precisar a sua idade, mas era velho. Todos os dias, aquele homem estava no mesmo sitio: fim das escadas, no sitio em que a estação já não é coberta, encostado à parede, junto a um corrimão. Apoiava a cabeça nessa parede... olhar parado, perdido no vazio, expressão triste, marcado por uma vida amarga, sem fitar ninguém. Não estava mal vestido, mas a roupa era sempre a mesma, toda azul marinho, sóbria, assim como a “tacinha” laranja que tinha sempre junto de si, à espera que alguém se lembrasse dele. Ficava assim todo o dia (posso dizê-lo, cheguei a ter de sair do escritório a horas desencontradas e ele estava sempre ali, nem sequer saía para o almoço!). Acho que não reparava em ninguém, não sei se alguém repararia nele. Seria quase impossível não reparar, mas às vezes as pessoas andam tão perdidas nas suas vidas... não é por mal, acontece! Desde manhãzinha (quiçá madrugada) até à noite, ele não saía dali... praticamente nem se mexia. Fizesse chuva, sol, vento, calor, frio... ele não saia dali. Naquela escadaria desabrigada não havia faltas para ir ao médico, para ir de férias, para saír mais cedo. "Trabalhava" mais do que eu, mais horas, em condições muito piores... e não tinha ar de quem se queixasse.

Talvez gostasse de conversar: havia um dia da semana (talvez sexta-feira, não consigo precisar) em que tinha uma companhia e falavam. Ela falava com ele. Gorda, cabelo desanrajado, saia ligeiramente abaixo do joelho, vermelha, sapatilhas velhas, sujas e gastas e umas meias tipo soquettes que lhe deixavam as canelas expostas. Deviam ter assuntos e vivencias em comum… a vida tinha sido dura para os dois.

Lembrei-me dele na noite anterior à véspera de Natal... pensei onde iria estar, com quem iria estar. No dia 24, antes de fazer as últimas compras passei pela escadaria, para tentar dar-lhe um Natal melhor. Não estava lá. Nunca imaginei como aquela escadaria ficaria tão vazia sem ele. Nunca imaginei sentir assim a falta dele. Fiquei uns segundos parada a pensar... onde estará? O que faço com as coisas que lhe trouxe (que estavam devidamente embrulhadas e com laços bonitos)?
Durante 2 ou 3 dias ele faltou... E aquela falta angustiou-me! Achei que me teria lembrado dele tarde de mais. Fui inundada por um sentimento de culpa arrasador, afinal de contas, fazia aquele percurso desde meados de Setembro e nunca tinha tido coragem para o abordar...
Nessa semana ele voltou. a minha consciência sentiu-se mais aliviada.

Hoje já não passo por lá, já não sei se ele ainda lá está. Vou pensando nele...

Aprendi a não me queixar tanto!

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Socialismo?!? O que é que é isso?!? Algum chocolate novo?

Vivo num país que parece a república das bananas.
É, por isso, compreensível que cada vez que vou ao estrangeiro não me apeteça voltar...

Chego a casa, depois de ter estado um dia inteiro a trabalhar (DE BORLA!!!! - estágio profissional!) e olho para a TV. Está tudo histérico por causa do acordo do Governo com o MIT... Aparecem uns tristes (sim, com "i"...), em bicos dos pés, para terem 5 minutos de fama com uma universidade americana.
Mas será que alguém acha que somos nós que vamos lucrar com o projecto?!?
Bem, o pior cego, é aquele que não usa bengala!!!

Será que, de repente, alguém se esqueceu que os americanos nunca assumem o papel de ajuda humanitária num conflito?!? Ficam sempre com a parte tecnológica... Wonder why...

E ver o Primeiro-Ministro todo inchado...

Resta-me dizer(-te):

José Sócrates, julgo que não suportavas o medo da felicidade!

Agitar antes de abrir...

(frase típica em qualquer pacote do tipo "Tetra Pack®", tão banalizada que já nem damos conta que ela está lá... que já nos esquecemos de agitar... mas que é sempre um bom princípio!!!)

Há uma pessoa que admiro muito, de quem me lembro sempre, e por quem tenho o maior (e melhor!) dos carinhos...
Uma pessoa tão encantadora que só me vê qualidades - e, confesso, que defeitos tenho de sobra!!!
São essas pessoas que nos fazem os convites mais aliciantes, mais inesperados, mais aterrorizadores... porque têm uma expectativa muito grande sobre nós, daquelas que nos fazem cortar a respiração, que nos fazem pensar: "mas eu não sou capaz"!

Espero não te desiludir neste desafio que me lançaste, porque sabes que nunca me perdoaria se o fizesse.
(Neste momento lembro-me de uma das minhas frases preferidas...)

"Pedras no caminho?!? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Obrigada, Gonçalo!

Olá a todos!

Mister Machado deu a táctica, Capitão entrou no terreno de jogo

O que eu ri com o teu post, Gonçalo.
Não podia, no entanto, deixar de aproveitar a ocasião para mostrar aqui no “lodo” a tua “pinta” de jogador da bola, num estádio, cuja “estrutura foi muito bem montada, especificamente pensada para a prática do futebol”...
Como dizes, quem lá está sabe o que faz e parece-me que muito bem. Os resultados, certamente, surgirão com o tempo.

PS: Mister Machado é um gentleman, na verdadeira acepção da palavra.

Trevas do vento que passa

Manuel Alegre e o seu MIC (Movimento de Intervenção e Cidadania) começam a tornar-se, em meu entender, num oximoro, numa contradição política...
Numa sessão oficial, ontem, segundo a edição on-line do DN, o Poeta de Águeda "sem nunca mencionar o nome de José Sócrates, denunciou as reformas que são feitas contra as pessoas, a lógica neoliberal aplicada aos serviços de saúde, a consolidação das contas públicas encarada 'como um fim em si mesma' e os despedimentos na administração pública".
Ora bem, vamos por partes: por um lado, é natural que um militante da ala esquerda do PS tenha estas apreensões.
Mas, por outro lado, será que o Partido Socialista, até pela cultura política de que se gaba, milhares de vezes, o "construtor" da "Praça da Canção", não é hoje um local suficientemente democrático para que se ouça quem diverge? Dito de outro modo, pergunto-me se é necessário criar uma "equipa B" para se fazer ouvir?
Se aceitarmos a segunda hipótese, então, a desfiliação seria o acto mais natural e consequente. E claro que estaria fora de questão voltar a aceitar um lugar em futuras listas.
Porém, quando toca a prestar serviços à Nação (mesmo que ela os não encomende, como é o caso), o nosso Deputado Alegre lá se sacrifica por nós, como ilustra o caso de, apesar de se ter mostrado enfurecido com a intenção de António Guterres e José Sócrates de instarem a co-incineração em Coimbra (falo da primeira tentativa), ter limitado a sua consternação à mudança da lista da Lusa Atenas para a de Lisboa (como se não tratasse do mesmo partido e do mesmo secretário-geral...).
Não sei quando esmorecerá esta verdadeira MICose, mas vivemos trevas no vento que passa.

Alguém falou em socialismo?

A moda de fechar áreas hospitalares por esse país fora causa-me alguma perplexidade. O encerramento das maternidades foi muito discutido (à mais de três semanas que ninguém fala do bebé que morreu por não ter chegado a tempo a Portalegre...) mas eu assumo que não conheço a realidade daqueles sítios e portanto apenas noto a longa distância a que ficam as famílias de um serviço de saúde tão necessário e a incoerência de agitar a bandeira da luta contra a desertificação e fechar maternidades no interior do país - maternidades, escolas, é melhor não entrar por aí!
No que toca ao encerramento das urgências já tenho qualquer coisa a dizer. Um dos hospitais assinalados para perder este serviço de saúde é o do Montijo. Supostamente os doentes deverão dirigir-se ao Garcia da Orta, em Almada (risos).. Ora, o Montijo dista 40 quilómetros de Almada, acrescente-se o trânsito inevitável no fim da A2 e como se não fosse suficiente, informo os demais que as urgências do Garcia da Orta não estão às moscas... habitualmente uma situação de gravidade média pode demorar horas a ser recambiada para casa...
Hilariante é o caso de Cantanhede: foram assinaladas para encerramento as urgências inauguradas em Setembro... de 2006, sim, leram bem!!! As obras ainda não acabaram, a edilidade ainda anda ressacada da inauguração e já têm morte anunciada...
Por este andar é melhor que tenhamos dinheiro para ir aos privados porque se adoecemos, morremos a caminho!

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Dar a táctica

Pedindo perdão pelo momento de narcisismo imagético, é nesta semana que os academistas do "lodo" (que se saiba, eu e o Ricardo Cândido, ao lado do mister Manuel Machado, na foto) mostram o apoio incondicional à Briosa, que tem tido um arranque difícil.
Escusando-me de enaltecer o academismo enquanto forma de estar na vida, é nos dias complicados que preparamos o paladar para os momentos saborosos que sempre se seguem ao trabalho de quem sabe o que faz; entre outros, Manuel Machado e o capitão Pedro Roma são desses!...
A ver vamos se a praxe começa já em Paços de Ferreira, neste fim-de-semana.
Nota: a fotografia, tirada em Vitoria (País Basco), no jogo de apresentação do Alavés, em que a Académica foi o clube convidado, foi uma simpática oferta do academista (o maior elogio possível em "gonçalês") João Santana.

Edição revista e aumentada

A propósito de dois textos prévios, continuamos a ver o que se passa:

  1. No caso norte-coreano, a realidade evolui para a condenação internacional, com os paninhos quentes chineses que previramos. Declarações anónimas proferidas em Pequim e atribuidas a um alto dignitário de Pyongyang dão conta de uma ameaça de uso de arma atómica se houver aplauso para a mão pesada proposta por Washington. Cá por mim, entendo que a elasticidade da estupidez terminará no ponto actual, já que o fito de mater o regime ditatorial (a Coreia do Norte não tem, nem podia ter, objectivos expansionistas) deixará de fazer sentido se o País for arrasado.
  2. Já no que aos posts sobre prostituição diz respeito, registe-se que o assunto merece a atenção do Presidente da República, no seu "Roteiro para a Inclusão". Sublinha-se a resistência ao sensacionalismo, procurando destacar os aspectos positivos na abordagem do fenómeno (seria bem mais fácil um "número de circo", na rua... Mas, enfim, o soarismo já lá vai...).

sábado, 7 de outubro de 2006

Who cares?


Cada vez mais nos deparamos com constantes apelos à consciência ambiental de cada um. Já é mais que sabido (ou deveria ser) que a protecção do ambiente está nas nossas mãos, e que todos nós devemos contribuir para um mundo melhor. Para tal não é preciso muito esforço. Basta começar com gestos simples como separar o lixo e colocá-lo em ecopontos, reutilizar os sacos das compras, poupar energia (ex: não deixar a TV em stand-by nem deixar as luzes ligadas desnecessariamente), enfim…pequenos gestos que muitas vezes só não fazemos por preguiça ou falta de atenção. De facto nem todos têm em conta estas pequenas atitudes pró-ambientais, mas creio que grande parte das pessoas reconhece a sua importância e admite que o deveria fazer, principalmente os jovens.

Qual não foi o meu espanto hoje, quando ao falar sobre o ambiente com os meus alunos de 16 anos me deparei com as mais absurdas reacções. “Eu? Reciclar? Dá muito trabalho!”; “Não há ecopontos à porta de casa, acha que vou andar com os sacos na mão até ao próximo ecoponto?”; “É «stôra», já viu o que era eu levantar-me da cama para tirar a TV do stand-by? Não faltava mais nada!” De facto fiquei estupefacta com as declarações da turma que nem depois de um empenhado discurso de sensibilização para as questões ambientais mudaram de opinião. Dizia uma aluna: “Proteger o ambiente para quê? Posso morrer amanhã, não vale a pena o trabalho.” Pergunto-me: são estes os jovens do futuro?
Apesar de existirem várias turmas como esta, decerto não representarão a maioria das turmas de adolescentes deste país. Assim espero, pois se os jovens não se preocuparem com o mundo em que vivem o que será do seu futuro?

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

The "Collor" of money

A somar às notícias mais debatidas, designadamente sobre a realização de uma segunda volta para escolher o Chefe de Estado, outro escrutínio simultâneo, além-mar, trouxe uma novidade de monta: Fernando Collor de Mello, ex-Presidente do Brasil (1990-92), voltou à política activa, eleito que foi senador por Alagoas, de onde partira do cargo de governador à conquista do Planalto, numa campanha entusiasmante e mediática.

Refrescando a memória, Collor viu o seu mandato como alvo de cassação pelas duas câmaras do Congresso, na sequência de um escândalo de corrupção que atingiu toda a sua esfera próxima, Primeira Dama e secretária incluídas. Na altura, ficou célebre o empresário PC (Paulo César) Farias que, ao que se demonstrou, financiava aquele por intermédio de depósitos em contas abertas para o efeito pela colaboradora presidencial.

O caso ganha ainda mais interesse ao recuperarmos uma das bandeiras eleitorais que levaram o político neoliberal a Brasília: a moralização da vida política (além do controlo da, então, galopante inflação).

Aliás, numa campanha magistralmente orientada para os media, ficaram célebres tiradas como o "vamos caçar marajás", que simbolizava uma guerra sem quartel aos privilégios injustificados da minoria abastada. Houve mesmo quem dissesse que a Rede Globo teve um papel de patrocínio oficioso da bem sucedida candidatura, que chegou a incluir momentos épicos como uma marcha debaixo de chuva abundante, que Collor insistiu em fazer, apesar de desaconselhado, e à qual viriam a juntar-se centenas de pessoas, à medida que a caminhada progredia.

O outro extremo do populismo de Fernando Collor é, como está bem de ver, o autismo dos conselheiros de Lula da Silva, que o afastaram dos debates televisivos, na recente primeira volta da campanha presidencial, facto que é, agora, reconhecido como eventual causa da necessidade de uma segunda volta.

Retomando o fio à meada, e provando que a memória pode ser curta (não é só por lá…), e embora modesto, eis um regresso de um ícone político brasileiro da década de noventa. E vendo bem, não é caso único, pois também Paulo Maluf (ex-mayor de São Paulo), já previamente detido e indiciado, foi eleito para a Câmara dos Deputados.

Por outro lado, o próprio Lula da Silva viu o seu staff encolher como camisola de algodão em máquina com programa de temperatura elevada, precisamente por casos sortidos de escandaleira.

Contudo, mais do que pensarmos que se trata de uma moda brasileira, devemos apenas sublinhar que, se já hoje é uma das economias potencialmente mais pujantes do mundo, o Brasil só terá a ganhar se eliminar esta chaga da sua vida pública.

Por cá* , preocupa-me que o "pacto para a justiça" não tenha abordado o tema. É certo, como li, que mais do que legislar, há que aplicar o normativo já existente (pena é que a preocupação de eficácia normativa se não estenda a outras leis feitas ou a fazer), mas também ninguém me convence de que o aspecto simbólico não é muito relevante; contam os sinais que o poder político envia, no caso, aos prevaricadores. Ter escolhido um lugar de destaque para a nossa "caça aos marajás" seria bom, sobretudo num meio político-empresarial-futebolístico em que me parece que nem toda a gente (aprecie o eufemismo, por favor) consegue explicar tudo o que tem, à luz dos rendimentos declarados.

Sem caça às bruxas, também aqui seria pedagógico dar à justiça gente que responda a algumas das perguntas que a vox populi faz, há muito tempo...

*Sem querer acusar o Presidente da República de plágio :) e sem desejar provar o que quer que seja, sublinho que este post corresponde a um artigo publicado no Diário "As Beiras" (Coimbra), a 4 de Outubro.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

A pronúncia do Norte


A Coreia do Norte anunciou que vai realizar um teste nuclear, em data não especificada.

Cá para nós, que ninguém nos lê, estou em crer que é mais uma ameaça, a que não será estranha a ciumeira que deve estar a causar a quase certeza da eleição de um sul-coreano para secretário-geral da ONU.
Porém, mimos como este e como o recente lançamento do míssil Taepodong 2, não obstante ter explodido poucos segundos depois do lançamento, devem fazer-nos pensar sobre a estratégia de Pyongyang que, como parece óbvio, decidiu contrariar a sua obsolescência convencional pela dissuasão nuclear.
Este tem sido o rumo do regime de Kim Jong-il, desde os alvores da década de 90, e nem mesmo a insistente oferta do restante grupo dos 6 (que inclui, a mais da Coreia do Norte, a Coreia do Sul, os EUA, o Japão, a China e a Rússia) parece poder (ou querer, no caso chinês, digo eu) convencer o herdeiro do "Grande Líder" a trocar atómos por dinheiro.
Ao mesmo tempo que reforça a defesa, Pyongyang consolida o poder interno, lançando as maiores dúvidas sobre um parto sem dor de um qualquer regime que não seja aquele que vigora.
Baralhando e voltando a dar, as minhas ideias são estas:
  • não vale a pena sonhar com mudanças nesta ponta do "eixo do mal", a breve trecho.
  • não há qualquer vantagem do regime norte-coreano em desencadear um ataque (excepto, como é óvio, em auto-defesa), mesmo quando vier a ter poder efectivo para tal.
  • vamos ter que aturar muitas mais chantagens e birras, porque, ainda assim, não compensa correr o risco de encostar à parede Kim Jong-il e as forças armadas que fazem a festa a norte do paralelo 38.

Solução?! Além de manter a pachorra do costume, sonhar com o dia em que Pequim tenha interesse em proceder a obras na casa do vizinho e rezar para que dê certo, nessa altura...

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Desenvolvimento paulatino

“Falámos do desenvolvimento paulatino. Eu disse que cada qual resolve por si a questão de fazer o bem ou o mal, sem esperar que a humanidade chegue à solução deste problema pela via do desenvolvimento paulatino. Além disso, este tipo de desenvolvimento é uma espada de dois gumes. Paralelamente ao desenvolvimento paulatino das ideias humanistas, observa-se também o crescimento gradual de ideias de outro género. Já não existe a servidão da gleba, em compensação cresce o capitalismo. E, no auge das ideias da libertação, a maioria continua a alimentar, a vestir e a defender a minoria (…) continuando ela própria faminta, despida e indefesa. Este sistema convive perfeitamente com quaisquer correntes e ideologias, porque a arte da escravidão também de cultiva paulatinamente. (…) Entre nós, ideias são ideias, mas se pudéssemos, mesmo hoje em dia (…), encarregar também os operários dos nossos processos fisiológicos mais desagradáveis, fá-lo-íamos, e de certeza que o justificaríamos dizendo que se as melhores pessoas, pensadores e grandes cientistas, gastassem o seu tempo precioso nesses processos o progresso correria um sério perigo”*.
O texto é um clássico, mas as ideias são quase pós-modernas, tal a actualidade das palavras.
Sou um adepto da economia de mercado - creio que temos aqui o melhor ponto de encontro de vontades - com a intervenção reguladora do Estado; creio que também é isso que faz de mim um social-democrata in the portuguese way.
Porém, pergunto-me várias vezes se não estamos a ir longe demais, tal o grau de consumo supérfluo e de endividamento draconiado. Já o tenho dito, mas repito: chegamos ao ponto em que ganha corpo o receio da criação de autênticos direitos de propriedade sobre sujeitos.
Além disso, emagrece para perto da anorexia a classe média, extremando-se as disparidades sociais.
Falta, a meu ver, uma atitude mais pedagógica por parte dos políticos mais conceituados.
Como canta Rui Reininho na música "Cais" (a mesma de onde nasceu a ideia para o nome deste blog): "se o mercado impera, e vais sempre longe demais/ muito cuidado, quando escorregas sempre cais" (cito de cor).

*Tchékhov, Anton, “A minha vida”, in “Contos de Tchékhov”, vol. V, pp. 222-3, Lisboa, Relógio D’Água Editores, Maio de 2006.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Provavelmente, a melhor equipa do mundo

Se há erros geniais, a SportTv foi autora de um, no passado fim-de-semana (entretanto, já rectificado).
De facto, não escondendo o seu provável e natural entusiasmo com a equipa do Barcelona, o responsável pela publicidade daquele canal desportivo conseguiu pôr o clube da cidade condal a jogar, no mesmo dia e à mesma hora, em Bremen, na Alemanha, e em Sófia, na Bulgária. Tal só estará ao alcance, pensa o "lodo", da melhor equipa do mundo!
Quem me dera que a minha Briosa se pudesse dar a estes luxos...

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Serviço de Estrangeiras sem Fronteiras

Há dias, inseri um pequeno texto sobre o domínio da prostituição.

Mais tarde, vi um noticiário em que se dizia que o Governo tem um texto legal em mente, que penaliza os clientes, se souberem que a(o) prostituta(o) foi vítima de tráfico de seres humanos.
Bem podem dizer que a penalização da prática é apenas um efeito colateral da regulação deste último tipo legal.
Contudo, a meu ver, duas questões se levantam (salvo-seja...): por um lado (salvo-seja II), fica por regulamentar a grande parte da actividade em causa. Podia até seguir-se o interessante caminho (salvo erro, em vigor na Suécia) de criminalizar o utente, mas, nesse caso, deveria penalizar-se qualquer solicitação daquele serviço.
Por outro lado (salvo-seja III), não é preciso ser um expert para imaginar que não seja de esperar que o cliente passe a encetar a abordagem com uma frase do género "desculpe, a menina foi traficada?" ou mesmo com uma solicitação do estilo "fazia a fineza de mostrar o seu passaporte e respectivo visto?"... E mesmo que a hipótese seja de admitir, não me parece normal que venham a obter-se respostas como "sim, vim num camião sob coacção e a minha família está correntemente ameaçada, mas passemos ao preço." ou "concerteza, estou cá, por três meses, em turismo; venha ao meu hotel para confirmar!"...
Francamente, parece mais um controlo de imigração em outsourcing. Já se me disserem que a medida é meramente dissuasora (ninguém deve apreciar depor num processo crime sobre este assunto, por muitas que sejam as hipóteses de arquivamento ou absolvição), ainda vá...
No entanto, até ter força de lei, fica o benefício da dúvida para o diploma.

Finalmente Alegre...


Um ano e um dia depois do anúncio da sua candidatura a Belém, Alegre formaliza o seu MIC com Cavaco e Jaime Gama ausentes no estrangeiro, o que faz com que o poeta seja (temporariamente, graças a deus!!!) a figura máxima do Estado Português em Território Nacional.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Falar em grande

"O Diabo passou ontem por aqui, este lugar ainda cheira a enxofre".
Hugo Chavez sobre George W. Bush, na Assembleia Geral da ONU.
Fonte: edição on-line do DN (hoje).

Show me the Money!

O nosso Ministro da Saúde tem uma tarefa árdua nas mãos: Salvar o Sistema Nacional de Saúde (SNS).

Pessoalmente considero que é um dos maiores conhecedores da realidade e dos problemas do SNS. É teimoso? É. Cometeu erros? Muitos. Mas quem é Ministro, ou melhor, quem toma decisões está destinado a errar aqui e ali. O importante é o balanço final… Apesar de faltar muito até ao final do presente mandato deste Governo, até ao momento a actuação do Ministro tem sido globalmente positiva (francamente mais positiva que no tempo do outro Eng… sim, o Gut… Gut… Guterres. Até custa dizer o nome e já estou com urticária!).

Dito isto, permitam que eu analise uma proposta que se encontra actualmente em discussão. Pretende o actual Ministro que determinados serviços assistenciais de saúde totalmente gratuitos para o utente passem a ser abrangidas pelas políticas de taxas moderadoras.

Na prática, o doente irá passar a pagar uma taxa moderadora em caso de internamento em enfermaria ou cirurgia em ambulatório.

Se por um lado as taxas devem servir para ajudar a colmatar o enorme défice financeiro que afecta a área da saúde, por outro lado tem tido um papel dissuasor da vinda de cidadãos ao Serviço de Urgência quando realmente não se trata de uma urgência médica… Será que ser internado ou ser submetido a uma intervenção cirúrgica é uma opção? Ou não será antes uma necessidade e, conquanto, um dever do SNS prestar este serviço ao doente? Será justo querer diminuir o valor na coluna das despesas à custa do doente que não tem outra opção senão entregar-se ao SNS?

Não tomo uma posição definitiva sobre esta matéria pois ainda não foram divulgadas os pormenores da proposta de lei, baseando-me apenas no que tem sido publicado pela comunicação social. Serve este post apenas como alerta… certamente que mais haverá a dizer sobre este tema. Até lá, opinem! Inté!

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Acabou-se o Papa doce

Quando a violência de muitos fundamentalistas se tornava sangrentamente monótona (tal era a falta de desculpas suculentas), eis que um discurso de Bento XVI é aproveitado para causa dos mais selvagens efeitos, que chegam já, alegadamente, ao assassinato de uma religiosa sexagenária, nesse santuário de moderação e tolerância que é a Somália.
Por cá, desde filmes como a “Última tentação de Cristo” (e outros mais ousados ainda) a caricaturas e anedotas, tudo pode dizer-se com a sanção máxima de ser rotulado de imbecil, desrespeitoso ou reles.

Em face disto – ou seja, desta cultura de tolerância e liberdade – bem podem chamar-me xenófobo os que entenderem como tal a minha ideia de que, de facto, a civilização ocidental está, neste aspecto, a anos-luz de muitos regimes e organizações islâmicas. Notem bem: não uso de uma sinédoque; não se trata de tomar a nuvem por Juno, mas tão só de usar termos comparativos médios.
E é por isso que, mesmo sem entrar nos significados mais recônditos do discurso papal na Universidade de Ratisbona (nem sequer me sinto habilitado, confesso), começo pela tese, em que acredito, de que, mesmo que o Papa tivesse proferido uma catilinária contra o Islão, na pior das hipóteses, isso legitimaria resposta em medida maior e recalcada, mas sempre no âmbito de protestos pacíficos.
Ora, provando que há regimes que terão como único momento digno de apontamento o dia em que forem derrubados, as reacções vão do Qatar ao Irão, onde o líder religioso supremo (falando mal e depressa, o chefe do impagável Ahmadinejad), ayatollah Ali Khamenei, aproveitou para misturar o citado discurso académico com as caricaturas de Maomé, publicadas na Dinamarca, assim incitando a mais ódio contra o Ocidente. A meu ver, tal instrumentalização só pode ter como fim em vista a justificação de regimes que, mesmo quando têm recursos naturais, preferem manter o povo de mão estendida e o menos “globalizado” possível.
Creio mesmo que a substância do discurso de Ratzinger não deveria suscitar grande apreensão: de facto, fé sem razão dá asneira (ligue a televisão…) e, efectivamente, há quadrantes do mundo muçulmano onde a fé tem sido manipulada para justificar a guerra, que tantos inocentes já ceifou, de Israel aos E.U.A., de Madrid a Londres, do Cairo a Bali, e por aí fora…
Acresce que, como escrevi anteriormente, o Islão (parte sonora dele, pelo menos) escolheu envolver-se num jihadismo redutor, que o arredou da cabeça do pelotão do progresso científico, onde foi líder, em séculos (muito) passados.
Poderia Bento XVI ter usado outra citação, que não a de Manuel II, imperador bizantino? Talvez, sobretudo se nos lembrarmos de que o Papa “não nasceu ontem” e de que está familiarizado com a sociedade mediatizada. Porém, se há coisa que temos de bom no Ocidente é o direito ao disparate, com as inerentes consequências em justa proporção, sendo que nem chego a achar que as palavras do Sumo Pontífice tenham sido disparatadas.
Quiçá pudesse ter chegado ao mesmo ponto sem acicatar gente, que bem se sabe que aproveita qualquer justificação para inflamar o ódio, como disse, com a utilização instrumental dos media, a dois níveis: por um lado, sem esforço, apoiando-se na impreparação de muitos jornalistas, já que não só o saber decai de densidade, na universidade de hoje, como os patrões da comunicação social, algumas vezes, preferem contratar barato, em vez de premiar e fidelizar o jornalismo de escola.
Por outro lado, com a noção de que a difusão da mensagem política/social/religiosa é, actualmente, global e instantânea, pelo que, não há volta a dar-lhe: há que medir bem o que se diz, mormente quando se está debaixo dos holofotes. Se até eu, confesso, na modéstia de alguns discursos que fui proferindo, ao longo de anos, percebi que era diferente o modo de expressão (não necessariamente a essência, sublinho) consoante houvesse ou não eco mediático do que havia para afirmar, que dizer de um experientíssimo Bento XVI ?…
Em suma e apesar disso, goste-se ou não de Bento XVI e dos seus discursos, está para vir quem me convença da adequação da fúria islâmica (onde ela se manifesta, já que há um Islão pacífico, que cumpre louvar, e de que é exemplo a comunidade portuguesa). No meio de tudo isto, um dado positivo: ao apelar à moderação das reacções muçulmanas, talvez a Comissão Europeia permita ter esperança de que a União tenha deixado de se envergonhar cada vez que se fala na herança judaico-cristã do projecto europeu. Tal assunção não significa que se enjeitem outras culturas, mas tão somente prestar homenagem a um legado decisivo para o que somos hoje. Wishful thinking?! Talvez…

terça-feira, 19 de setembro de 2006

Uma candidatura conveniente

Fui daqueles que, em 2000, desejei a eleição de Al Gore como Presidente dos E.U.A. (tendo, inclusive, feito downloads do seu programa eleitoral e dos seus discursos, ainda hoje actuais).
Dada a relevância daquela grande democracia, creio que o mundo seria, nos dias que correm, um lugar melhor para se viver.
Visto o filme/documentário "Uma verdade inconveniente" e os seus constantes apelos à mobilização cívica (na boa tradição anglo-saxónica), escuso-me de analisar a sua relevância, algo que foi e será muito mais bem feito por especialistas da área científica e, por que não, do sector cinematográfico.
O que queria contar-vos é que, em certas passagens biográficas, fica-nos a sensação que não estará de parte (antes pelo contrário) uma recandidatura à Casa Branca.
Seria um momento feliz para o sistema de relações internacionais, digo eu...

O nosso fatum

É assinado hoje o protocolo entre Bruce Bastin e o Ministério da Cultura e a CML que vai trazer para Portugal oito mil registos fonográficos de fado por um milhão e cem mil euros. Apesar de na colecção se encontrarem algumas raridades, a maior parte é constituída por discos vulgares. Mas como em Portugal as coisas se fazem à pressa, assim que o sr. Bastin disse que tinha a colecção o MC comprometeu-se a comprá-la, só depois foram enviadas equipas técnicas...

Sirva de consolo que efectivamente existem algumas peças preciosas que vão tornar a Portugal e que esta compra pode ter um efeito muito positivo no projecto de Candidatura do Fado à Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade (UNESCO).

O espólio vai ficar no Museu da Música, mas vai ser estudado e catalogado pelo Museu do Fado.

quinta-feira, 14 de setembro de 2006

Juntaram-se os três à esquina

Realiza-se, hoje, em Brasília, um encontro entre os Presidentes do Brasil e da África do Sul, e o Primeiro-Ministro da Índia.
À partida, parece algo banal mencionar a cimeira, que visa dar força e relevância económica a uma aliança que formaram, há três anos.
Contudo, pondo os óculos de leitura política, vários são os factos que, topicamente, podemos apontar:
  • Trata-se de três potências emergentes do mundo actual, com relevância só suplantada - para além dos crónicos E.U.A., U.E. e Japão - pela China e pela Rússia, a meu ver.
  • São países que reivindicam um lugar permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (para horror da Argentina e do Paquistão, por exemplo). Não digo que sejam os candidatos ideais, mas, de facto, fica por perceber, hoje em dia, a hegemonia das potências vencedoras da II Guerra Mundial naquele clube de elite.
  • Eis mais um eixo que se forma para contornar a antiga (já lá vão uns séculos) e decrépita supremacia ocidental (EUA & UE, entenda-se), à semelhança do regabofe que se vai instalando no resto da América Latina.
  • Quem achar que isto não é relevante, veja melhor: basta mencionar que se trata de nações riquíssimas em recursos naturais e que, por exemplo, a Índia tem a maior classe média do mundo, está no pelotão da frente de sectores como a electrónica e a informática, domina a língua inglesa e é uma democracia.
  • A África de Sul é líder, no continente africano, só se antevendo novidades adicionais, a breve trecho e por aquelas paragens, da Líbia.
  • O Brasil tem papel preponderante em iniciativas de integração na América do Sul, como o Mercosul, a que preside nesta altura.
  • É uma pena que não se lhe atribua, de uma vez por todas, a liderança de facto da CPLP, o que aumentaria geometricamente a importância da organização e, consequentemente, a nossa força junto da UE, de quem dependemos excessivamente, em meu entender.

Em suma, creio que há muitas dependências a combater em Portugal; a que nos liga quase exclusivamente à União Europeia é mais uma.

Não me entendam mal: a União Europeia foi a salvação de Portugal, que sem ela seria uma outra Albânia. Porém, fomos do oito do pós 25 de Abril ao oitenta "euro-histérico" de muita da actual (falta de) classe política.

Estou em crer que ainda seriamos mais escutados na União, se diversificássemos os nossos pólos geopolíticos.

Não ver boi disto

Cá para mim, o "Engenheiro do penta" não tem unhas para semelhante guitarra...

Fica o aviso do "lodo" à nação benfiquista.

Já ouviram falar da Pateira?


A Pateira de Fermentelos (concelho de Águeda) é simplesmente a maior lagoa natural da Península Ibérica. Carinhosamente conhecida como a «Lagoa Adormecida», a Pateira tem uma vasta riqueza de fauna e flora. Até agora parece tudo bem, mas esta pérola da natureza há muito que vem perdendo o seu brilho.

Como se não bastassem as sucessivas descargas que durante anos poluíram a Pateira (se é que não continuam a poluir), deparamo-nos agora com a praga dos jacintos que vai matando tudo o que de bom existe na lagoa. Provavelmente desconhecida para grande parte da população portuguesa, a Pateira é contudo conhecida por todos os que passaram pelos sucessivos governos deste país. De facto o actual PM José Sócrates não é excepção, mas de certo já caiu no esquecimento a visita que fez a Fermentelos enquanto Ministro do Ambiente.

Não o censuro, pois com tantos «choques tecnológicos» e «simplex» a memória não dá para tudo. Só espero que a memória do actual Presidente da Câmara de Águeda não esteja tão ocupada, pois parte da sua vitória nas últimas eleições deveu-se à grande promessa eleitoral de encontrar uma solução para a Lagoa Adormecida.

Infelizmente uma Junta de Freguesia como a de Fermentelos sente-se impotente para resolver o problema por si só, pois num país em crise o dinheiro não nasce das árvores e sem apoios não se vai a lado nenhum.

Como fermentelense, e porque a esperança é a última a morrer, quero continuar a acreditar que a Pateira não vai adormecer de vez.

quarta-feira, 13 de setembro de 2006

Mais um chumbo!




Apesar das paixões, dos empenhos e dos discursos, continuamos atrasadíssimos no que toca à educação. Segundo o relatório Education at a Glance 2006, da OCDE, somos o povo que menos tempo passa na escola. Não, não é por aprendermos mais depressa. É que, e. g., da população entre os 25 e os 34 anos só 40% acabaram o ensino secundário!



Temos de acabar com as mudanças anuais de programas, com as alterações sistemáticas dos exames e provas globais e, terminantemente, com o facilitismo que se instalou também nas nossas escolas.


Um país que não pensa é um país que não cresce!

terça-feira, 12 de setembro de 2006

O efeito da crise sobre os saldos

Alertado por um amigo, li o anexo à mensagem de correio electrónico, que visava sublinhar o quão fundo (salvo-seja) já chegou a crise, no nosso País. A notícia é do meu estimadíssimo (a final de contas, já lá vão quase 12 anos de artigos...) Diário "As Beiras", na sua edição de 7 de Setembro:

"Figueira da Foz - Crise obriga prostitutas a fazerem “saldos”
'Quando a crise chega ao prostíbulo, é porque o país está mesmo mal', fala a voz da experiência. As coisas não podiam estar pior, havendo quem já corte nas refeições e faça 'saldos'.Os anúncios publicados nos jornais diários da região são cada vez mais 'picantes' e apelativos. Porém, e não obstante a concorrência estar a diminuir - há cerca de 20 prostitutas na cidade com anúncio nos periódicos -, a clientela é cada vez menos. As representantes da profissão mais antiga do mundo na cidade apontam o dedo à crise económica.'Até ao início deste ano, bastava–me ter o anúncio num jornal. A dada altura, não sabia se havia de atender o telemóvel ou os clientes, tantas eram as solicitações. Agora, tenho anúncios em dois jornais e o telefone toca cada vez menos', conta 'Lara', vamos chamar–lhe assim, prostituta brasileira. E sintetiza: 'Quando a crise chega ao prostíbulo, é porque o país está mesmo mal'."
Rendimento social de inserção?
Subsídio de desemprego?
Programa "Convívio na hora"?
A brincar que o digamos, duas coisas são certas: por um lado, isto está mesmo mau. Por outro lado, para as profissionais em causa só não solução porque continuamos a fingir que a prostituição não existe, tal qual como ainda se faz em relação a muitas vertentes da toxicodependência.

Minaram o Obikwelu

Todos nos recordamos do candidato a candidato Presidente do PSD, Dr. José Alberto Pereira Coelho.
Relativamente à sua demissão de Presidente do Conselho de Administração do Hospital Psiquiátrico do Sobral Cid, em Coimbra, aconselho o artigo de opinião do socialista “europeu” Fausto Correia.

Apanha-bolas resolveu

Em Portugal lembro-me de pelo menos de um caso polémico em que o protagonista era um apanha-bolas e não um qualquer dirigente, comentador, jogador ou árbitro. Se a memória não me falha era um tal de “Bambo” que jogava na União de Leiria e que atirou um apanha-bolas madeirense ao chão visto que este estava a demorar em retribuir-lhe a bola de jogo. Não me recordo do desfecho, mas dizia-se que o tal “Bambo” iria ser suspenso!
Agora no nosso País irmão, relativamente a apanha-bolas, o “forrodobó” é muito mais interessante!
No Grupo 3 da Taça da Federação Paulista de Futebol, num jogo entre o Santacruzense e o Atlético de Sorocaba, após um remate às malhas laterais de um jogador do Santacruzense, o apanha-bolas “matador”, aproveitando o facto de a árbitra (olha o Petit fazer o que fez este fim de semana a uma árbitra, arriscava-se a ser acusado de assédio!), uma senhora com o nome de Sílvia Regina de Oliveira, estar de costas, empurrou a bola para dentro da baliza!
Pasme-se que o árbitro auxiliar, vulgo bandeirinha, validou o golo, induzindo a Sra. Dona Regina em erro!!!
A direcção do Sorocaba, à boa moda do Gil Vicente cá do burgo, promete ir até às últimas instâncias.
A Federação de Futebol do Estado de S. Paulo, diz que legalmente, nada pode fazer porque o golo está registado no relatório oficial entregue pela árbitra no final da partida.
De referir que o jogo acabou empatado a um golo e o Sorocaba perdeu a liderança do campeonato

Olha quem fala também

De Santana Lopes (seguimos, mais uma vez, o DN), ainda sobre pactos, lê-se que "o antigo primeiro-ministro diz que o elogio 'não é só por uma questão de coerência', mas sobretudo porque já esteve no passado empenhado num pacto do mesmo género. 'A 10 de Agosto de 2004 fiz a apresentação de um pacto na Justiça(...)' ".
Voltou...

Triste Manuel...

Que o Ricardo Leite, aqui no "lodo", se interrogue sobre a eventualidade de um bloco central é justo, e é para isso mesmo que serve este blog.
Já que Manuel Alegre, que defraudou milhares de seguidores ao provar que a aventura presidencial foi um dos seus muitos exercícios de narcisismo (veja-se a irrelevância política do seu MIC - Movimento Intervenção e Cidadania), venha vociferar contra essa hipótese, sabe a pouco, sobretudo se nos lembrarmos de que a última vez que ouvimos falar do Deputado foi a propósito de uma reforma recebida (algo de acessório, portanto).
Do Poeta de Águeda diz o DN, na sua edição de hoje, que "desagradado com a insistência de Cavaco Silva em pôr o Governo e o PSD a "fazerem a meias" a reforma da Segurança Social, Alegre dispara: 'Dá a impressão que o Presidente da República está interessado em influenciar a governação através da reconstituição do bloco central por ele inspirado e dirigido'.
Se isto não é a necessidade de fazer uma prova de vida, então mais valia remeter-se ao grau de actividade do MIC: zero!

sábado, 9 de setembro de 2006

«Bloco Central» na Justiça


"O acordo entre o PS e PSD para a Justiça, ontem assinado no Parlamento, prevê que os grupos parlamentares daqueles partidos votem favoravelmente, na generalidade, as iniciativas legislativas relativas à revisão dos Códigos Penal e do Processo Penal."
in O Primeiro de Janeiro
Será o primeiro passo no sentido do BLOCO CENTRAL em 2009?

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Os amigos e as ocasiões






O Ministro dos Negócios Estrangeiros vai, hoje, ao Parlamento, explicar os voos da CIA e da Força Aérea Israelita, que passaram pela base das Lajes.

Vejamos alguns pontos que se me oferecem comentar sobre este assunto:

O que mais me preocupa é saber até que ponto estão a fazer gato-sapato da nossa soberania; isto é, gostaria de apurar se os governos responsáveis pelos aviões que por ali passaram tinham ou não de nos passar cartucho ou se, tendo passado, é uma informação que deve ser mantida confidencial (algo que me parece razoável).


Os media actuais, achando-se mais legitimados do que o poder político, não têm a lealdade de explicar à opinião pública que a política externa e a política de defesa são áreas nas quais o segredo pode, desde que proporcional e excepcional, justificar-se.


Depois, há que optar: ou temos aliados, ou não. A verdade é que, num conflito contra movimentos terroristas que assassinam inocentes, sem qualquer respeito por qualquer princípio de humanidade, e Estados de Direito e democracias como os E.U.A. e Israel, a minha escolha é por estes últimos.


Não me parece que seja atropelo sequer comparável ao dos criminosos da Al Qaeda e do Hezbollah transportar clandestinamente prisioneiros para centros de detenção, onde, mercê da natureza quase incontrolável do fenómeno terrorista, estarão sujeitos a procedimentos menos ortodoxos, mas, ainda assim, muitíssimo mais humanos do que os que os interrogados usaram contra homens, mulheres e crianças inocentes. Como é óbvio, menos ainda me horroriza que se transporte material bélico, seja ele ofenseivo, defensivo, não ofensivo ou qualquer outra palermice que lhe queiram chamar. É para um exército democraticamente supervisionado (veja-se que Israel abriu um inquérito sobre a actuação das suas forças armadas, algo que só deve existir no Hezbollah quando o criminoso não consegue suicidar-se ou matar em número suficiente...) e não para semear o horror entre civis, como as armas que a Síria e o Irão fornecem ao chamado Partido de Deus.


Claro está que um processo como o de Guantanamo só é sustentável enquanto for excepcional, temporário e não envolva tortura ou qualquer outro apoucamento sádico do ser humano. Ainda assim, se estiver em causa salvar "n" vidas inocentes, concedo que há que admitir alguma latitude no "diálogo". Mesmo aqui, repare-se que os E.U.A. ordenaram, de imediato, inquéritos aos infames casos da prisão de Abu Grhaib, no Iraque.


Por mim, face à barbárie de certos canalhas, do Médio Oriente à Chechénia, não hesito em tomar partido.


Como não nascemos ontem, recomenda-se atenção para o previsível e apalhaçado comportamento de alguns deputados, como os do Bloco de Esquerda...

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Low Profile

Paul Cézanne (Colecção Rau)
Apesar de vivermos na era mediática ainda há quem escolha ser low profile.

É o caso de Gustav Rau, o jovem de Estugarda que além de médico foi filantropo e colecionador de obras de arte. Quando em 1970 Rau herda a fortuna do pai decide dar-lhe um destino pouco habitual: constrói um hospital em Bukavu, no Congo, onde fica a exercer medicina e passa a deslocar-se à Europa ou a New York duas vezes por ano para comprar obras de arte. Sempre discreto, poucas histórias há a contar sobre ele. Mesmo assim, em pouco mais de 30 anos adquiriu cerca de 800 peças entre pintura, escultura e mobiliário.

Quando morreu, em 2002, não deixou nenhuma fundação para perpetuar o seu nome, mas ofereceu toda a colecção à UNICEF alemã com algumas condições:
  • Devia ser feita uma selecção das peças para serem mostradas em todo o mundo
  • Ao fim de 25 anos a UNICEF alemã poderá vender a colecção, no seu todo ou em partes, para financiar o seu trabalho de assistência humanitária.

É esta selecção, cerca de 100 peças de pintura, que está à nossa disposição nas Janelas Verdes até 17 deste mês. E a colecção não desilude. Nâo tanto pelos grandes artistas: Fra Angélico, El Greco, Canaletto, Monet, Manet, Renoir, Cézanne, Degas como pela amabilidade que perpassa pela colecção. Amabilidade que espelha certamente o coração do homem que a reuniu.

The show must go on

Faria hoje 60 anos a mais notável voz da história do rock.
A opinião é pessoalíssima, mas creio que todos me acompanharão no reconhecimento de que Freddie Mercury era um cantor e uma personalidade impar.
Desde a amplitude da sua voz, às melodias que criou a solo e para os Queen, passando pela sua inegável cultura artística, e terminando no modo deliberadamente louco como decidiu viver (e deixar de viver, acrescento), recordamo-nos de uma série de pormenores que, ainda hoje, nos levam a comprar com gosto um qualquer disco com a sua voz, a menos que, como eu, já tenhamos todos na colecção...

segunda-feira, 4 de setembro de 2006

Fala quem sabe

Da "globoesfericamente" famosa Universidade de Verão do PSD retive, entre outras coisas, a interessante palestra de Miguel Monjardino que, como era de esperar, incidiu muito sobre o estado de coisas no Médio Oriente. Citando de cor e sem o mesmo engenho, há pontos que me parecem de ponderar:
  • ocorre, no Médio Oriente, a transição para líderes que exacerbam os sentimentos religiosos e que cada vez mais se comportarão como Ahmadinejad.
  • a religião será ponto determinante no choque de perspectivas (de civilizações, segundo Huntington), como provam, a contrario, os fracassos dos regimes laicos de base muçulmana (acrescento eu, a propósito, que a União Europeia devia gerir com pinças e urgência os casos da Bósnia-Herzegovina, da Albânia e da Turquia).
  • o Líbano, sendo um caso claro de actuação procuração de milícias extremistas, não terá paz a breve trecho, ficando por perceber os custos que as opiniões públicas europeias aceitam pagar (poucos, digo eu) por um protagonismo diplomático não muito lógico, na óptica muitos eleitores. Lembre-se ainda que o ocaso da influência predominante da geopolítica europeia se deu, em meados do século XX, não muito longe, no Canal de Suez.
  • o Irão e, sobretudo, o Paquistão (a chave do que se passa no Afeganistão, por exemplo) são os grandes problemas, no imediato. A lembrar que o segundo já tem armas nucleares e tem muito mais instabilidade interna do que a antiga Pérsia.
  • os Estados islâmicos (para evitar reportar-me à própria civilização), nas últimas décadas, não produziram uma só inovação (científica, cultural ou outra) de relevo para o futuro da humanidade. Relembro que, no passado, das partidas muçulmanas do globo vieram incontáveis avanços.
  • o Médio Oriente vai dar-nos muitas e grandes dores de cabeça, nos anos vindouros.

Se bem sumariei e adornei, há sempre que destacar os actores sociais que realmente acrescentam à nossa capacidade de perspectiva ou, pelo menos, de prospectiva. Miguel Monjardino é um desses casos; oxalá alguma força política consiga persuadi-lo a emprestar o seu saber à administração da res publica.

Com a endogamia partidária actual, confesso-me céptico.