quinta-feira, 31 de março de 2005

Façam as vossas apostas

Daqui a umas horas começa na SIC-N o debate "Mendes vs Menezes".
Antes mesmo de "abrir o melão", deixo uma prece para que haja reflexão sobre o futuro do País, mas não apenas com medidas de gestão do momento (regra geral, o inverso do que diz o Governo), e sim com algum sonho sobre o Portugal que querem legar, daqui a 10/15 anos.
É a derradeira oportunidade desta geração de políticos, e capacidade não lhes falta.
Se faltar, "Ideal Social" (1º subscritor, Bruno Vitorino) é uma moção que procura dar um modesto contributo para uma reflexão estratégica.

terça-feira, 29 de março de 2005

LACRIMOSA


Estarão ao vivo em Gaia (no Hard Club), a 14 de Maio.
Misturam o gótico com o clássico e, para quem arranhe alemão, as letras são magníficas (há sempre os cd com edição bilingue das mesmas).
Como experiência alternativa, devo dizer que adorei o concerto anterior, no Sá da Bandeira, Porto.
Arrisquem!

Cada político no seu galho

O Governo mandou parar o abate de mais de 2600 sobreiros, na zona de Benavente.

O morticínio arbóreo destinava-se a um empreendimento turístico que, estou certo, também teria as suas vantagens, e a decisão do Executivo é de revogar os despachos habilitantes, até à realização dos estudos ambientais competentes.

Com os dados de que disponho, apenas uma palavra: concordo.

Multando se faz o caminho

Tenho ouvido declarações com louvores ao efeito da entrada em vigor do novo código da estrada sobre a sinistralidade que, aparentemente, diminuiu.

Ora bem, as notícias são, de facto, soberbas. O problema é que, mais uma vez, descartamos algo que nos deveria fazer reflectir sobre o nosso modo de ser.

É que só mesmo a via repressiva parece pôr os portugueses em sentido, o que não deixa de ser lamentável.

Ideal seria que os indicadores mostrassem que as pessoas cumprem regras porque lhes descortinam alguma razoabilidade e autoridade intrínsecas, e não apenas com medo da punição, o que me parece bastante pavloviano.

A nossa vida em comum continua eticamente empobrecida e continuamos a olhar quase exclusivamente para os nossos interesses, seja na estrada, seja no dia de trabalho.

Quando percebermos isto, saberemos modernizar um País pobre na natureza e a caminho do miserável na alma. Não percamos a esperança, todavia...

Fé na Ciência

Lendo o recém editado “Anjos e Demónios” de Dan Brown (o mesmo autor do “Código Da Vinci”), reaparece um tema antigo e nunca resolvido: as relações entre ciência e religião.

O assunto motivou já uma Encíclica deste Papa e milhares de autores (a título de exemplo, o tema perpassa algumas páginas do volume II dos “Contos de Tchékhov”) e investigadores, e não terá solução.

Porém, uma reflexão é possível: concordo com os que dizem que a fé desmesurada na ciência, sem qualquer espécie de moderação espiritual, gera ansiedade e a mesma falta de explicação última, com a diferença de que construímos racionalmente até ao infinito, sem que possamos, algum dia, libertar-nos da angústia que é a falta de um dado na equação suprema.

A ciência é magnífica, mas também gera novas necessidades (até de consumo) e novas imunodeficiências, até agora desconhecidas, dada a mutação permanente do que nos vai atacando.

Não sou cientista (o meu limite científico é a ciência política), mas entendo que temos que lembrar o Príncipe de Gales, Carlos (sim, ele também acerta, de quando em vez!...), no 350º aniversário de Harvard, quando incentivava os presentes a recuperar o controlo moral sobre as coisas que se foram inventando.

segunda-feira, 28 de março de 2005

"O que eu não faço por um lugarzinho..."

Incrível!
O último livro de Manuel Maria Carrilho, "O impasse português" (que reúne as crónicas de 2004) não ataca o PS!!!
Será coincidência, ou será que tendo perdido todos os grandes combates internos (o último com Alegre), o nosso Professor percebeu que se não tem juizinho não há protagonismo para ninguém?!
Que coisa bárbara...

quarta-feira, 23 de março de 2005

Os génios de Vila Franca

Tratava-se de um "concurso externo para preenchimento de dois lugares de Técnico Superior Estagiário de Arquitecto" promovido pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Até aí, tudo bem...
E se eu disser que não houve confirmação da identidade dos candidatos à "Prova de Conhecimentos"?!
E se lhe contar que 2 pessoas entraram mais tarde e saíram mais cedo?!
E se a acta do concurso mostrar duas candidatas com 20 valores, sendo que o 3º lugar isolado é para um 14,2?!
Ou estamos à beira de encontrar os Gehrys, os Fosters e os Sizas do futuro numa Vila Franca que será a Meca da arquitectura mundial, ou permitam-me um certo cepticismo...

terça-feira, 22 de março de 2005

Tbilisi por cá

No verão passado, algo que me fez impressão foi o facto de a Galeria Nacional da Geórgia apenas ter em exibição o tesouro (excelente, diga-se), já que o resto estava encerrado por falta de dinheiro.
Pelo que me disseram, o nosso Museu Nacional de Arte Antiga tem tido salas (no caso a exposição de mobiliário) enceradas por falta de pessoal. Pelotão da frente da Europa?! Só por ser triste é que não é para rir, quando ainda subsistem símbolos tão visíveis de atraso cultural.

sexta-feira, 18 de março de 2005

Angústias que acontecem

Nota-se nas diversas sessões de esclarecimento das candidaturas à liderança do PSD uma certa angústia de viragem de ciclo.por um lado, "ratos" há que, à míngua de poder (por alguns anos, supõe-se), falam em filantrópicas travessias do deserto.
Outros há que negam Pedro, como o homónimo deste negou Cristo (geralmente os que foram Cavaquistas, Nogueiristas, Marcelistas, Barrosistas, Santanistas, e hoje se preparam para serem Mendistas, desde a "primeira hora".
Por fim, há os que genuinamente olham com angústia a dificuldade de reformar internamente um partido em que, controlado pelo jogo redundante dos crónicos detentores de poder, não se torna chamativo para quem goste de reflectir com consequência. O problema é que quem joga "à bruta" não tem interesse no esclarecimento das bases, preferindo ridicularizar e excluir quem pensa ou é competente.
Não é sempre, mas acontece...

domingo, 13 de março de 2005

Sim ou sopas

Uma boa ideia foi fazer coincidir o referendo à Constituição Europeia com outro acto eleitoral, sendo que só há a lamentar a incoerência do PS: o PSD já o propusera, inclusive pela minha voz, na legislatura anterior, e os socialistas "vetaram" a medida.
Mais vale tarde que nunca, e o benefício é óbvio: combater a abstenção que, apesar de tudo, ensombrou os dois referendos já realizados (aborto e regionalização), dignificando um instrumento que nos aproxima da democracia directa que as novas tecnologias tornarão possível.
Vou mais longe, e entendo que, para clarificar as perguntas, a nossa Constituição devia permitir referendar tratados (hoje obriga a perguntas sobre as matérias, geralmente complexas e parciais), numa lógica de "sim ou sopas".
Claro que o circo bloquista e o mausoléu comunista já se oposurem, o que ajuda a credibilizar a iniciativa.
Sobre a matéria em apreço, a seu tempo conversaremos.

O Engenheiro parvo não é...

As mulheres socialistas vociferaram contra a sua parca representação no Governo, e já ultimaram Sócrates para que se explique.
Este, por seu turno, falou na insuficiência de mulheres da área socialista bem preparadas para a governação.
Vamos por partes. O problema do PS é que instituiu o sistema de quotas que, mais uma vez, traduz uma importação insuficientemente estudada e adaptada ao caso português.
Em qualquer domínio da ciência política é preciso evitar o hábito da maioria dos constitucionalistas, que costumam olhar para a construção abstracta, mais do que para a realidade sociológica subjacente. Este é um erro a evitar, no caso de querer instituir-se os círculos uninominais.
Voltando ao caso da discriminação positiva das mulheres, Portugal não tem a realidade escandinava, pelo que receio (e dizem-me que há já exemplos disso) que as quotes possam perpetuar uma lógica que nada tenha a ver com o mérito. Nada garante que as mulheres escolhidas não o sejam em função de alianças com o "regime" masculino vigente.
Ademais, com a inveja imperante em Portugal, não sei até que ponto a discriminação positiva não servirá para lançar sobre as assim eleitas um estigma negativo.
Os mais eloquentes exemplos do PSD - Leonor Beleza, Manuela Ferreira Leite, Eduarda Azevedo, entre outra - atestam que o mérito pode vencer, e outros exemplos políticos e de gabinete mostram como, por vezes e mesmo no feminino, podem indigitar-se (mecanismo análogo ao das quotas) pessoas que osilam entre o novo-riquismo e coisas piores.
Ou seja, o problema existe e é preciso resolvê-lo. Não podemos aceitar que as mulheres recebam menos e trabalhem mais, designadamente em casa, ou sequer que sejam minoritárias na política, se desejarem participar.
Todavia, sejam homens ou mulheres, o critério deve ser sempre o do mérito, algo que quota alguma resolverá, se a sociedade não adoptar a competência como regra.
Nesse sentido, andou bem o Primeiro-Ministro ao deixar de fora Edite Estrela e Ana Gomes. Talvez esta última possa ser a primeira cliente das aspirinas de supermercado, para ver se lhe passa a dor de cabeça que insiste em pegar aos portugueses, sempre que abre a boca.

Comprimido no Pingo Doce e supositório no Continente

Medicamentos sem necessidade de receita à venda, por exemplo, em supermercados, não choca, mesmo justificado com a acessibilidade dos medicamentos. A oposição a Sócrates não deve, por isso, ser platónica...
Porém, num País em que o consumo de medicamentos e a auto-medicação sobem, por um lado, e em que os índices cívicos são baixos, por outro, deixar ao livre arbítrio do consumidor e à ética do comerciante a gestão de fármacos não sei se não será uma ideia peregrina. Convenhamos, at~e por tradição cultural, a nossa sociedade não é anglo-saxónica (nos EUA e na Grã-Bretanha aplica-se este regime) e, logo, é menos auto-regulada (atente-se nos eufemismos...).
Acresce que me parece que haveria coisas bem mais importante que falar de aspirinas e supositórios em dia de tomada de posse. Mesmo no domínio da saúde, investigação para achar curas, listas de espera, comparticipações, eutanásia e centenas de outros tópicos podiam fazer crescer a esperança no XVII Governo.
A menos que... Bem, a menos que se trate de uma discreta guerra aos lóbis e corporações. Primeiro, os media arredados da constituição do Executivo e a tomada de posse sem salamaleques e graxa dos directores-gerais e deputados de 3ª linha.
Agora, a poderosa indústria que gravita em torno da saúde?...
Se assim for, "tou nessa"!

quarta-feira, 9 de março de 2005

Campanha interna

E lá vamos tendo mais notícias do novo Governo... Cá por mim, acho que lhes deve ser dado o espaço de manobra que o PS nunca deu à coligação.
O importante é que o PSD se reorganize e reveja as suas linhas programáticas e não só. A própria estrutura partidária deverá ser repensada, sob pena de se ter de continuar a conviver com um regime de "coronéis" que podem conduzir-nos a um certo autismo social.
Sei também que não é um tema de campanha interna...
Já sobre a ideia de país e de sociedade vão surgindo declarações e publicações. Onde andámos todos?...

sexta-feira, 4 de março de 2005

Partes gagas

Se há ministros que não surpreendem ou não incomodam - e aqui incluo muitos dos partisans do elenco, pois mal andaríamos se de nada servisse ser um bom quadro partidário - há um caso de bradar aos céus: Mariano Gago de novo à frente da ciência (além do ensino superior).
Deviam os afoitos media levantar o número de processos relativos à ciência cujo financiamento de Bruxelas estava congelado por incumprimento das normas em vigor. Foi a muito custo que os ministros Pedro Lynce e Maria da Graça Carvalho conseguiram que a União Europeia não nos retirasse o apoio para a ciência.
Numa área estratégica (foi inclusive a grande bandeira das "novas fronteiras") escolher um político, ao que oiço, algo obsoleto e de incompetência comprovada, parece-me sadismo ou vistas curtas.

E boas notícias, não?!

O desemprego em Portugal aproxima-se da média europeia (6,9% face a 8,8%, salvo erro), 15% das nossas crianças são pobres, 1/3 das adolescentes portugueses já recorreu à "pílula do dia seguinte"...
Ainda acham que o discurso político comum atraí?...

Borges e o processo

António Borges, em entrevista teledifundida ontem, colocou a questão actual no ponto certo: é preciso liderança (para coordenar bons desempenhos sectoriais), arrojo (as nossas leis laborais ainda são rígidas e a estrutura produtiva de Portugal tem de passar pelo surgimento de novas empresas, e não pela manutenção do estado de coma das actuais), tem de premiar-se o desempenho político a ponto de atraír os mais qualificados e é imperioso que haja coragem e sentido de Estado para que, por exemplo, no caso da segurança social se possam vender activos estatais inúteis e assim assegurar a sua sustentabilidade.
António Borges é um homem de altíssima craveira, não tenhamos dúvidas. Porém, falta a resposta a uma pergunta processual: como se reformam os partidos a ponto de se não tornarem sociedades anónimas políticas, onde os lugares de direcção passam pelo "share" de votos em carteira?
Sem isto, pagar mais é vender mais do mesmo, só que mais caro, sôtor...

quinta-feira, 3 de março de 2005

"Wild card" para Pacheco

Na mais recente sessão do programa televisivo "Quadratura do Circulo" (SIC-N), José Pacheco Pereira, após ter reconhecido num "episódio" anterior que dificilmente seria "reciclável" internamente, afirmou que a publicidade das suas críticas se prendia com o facto de não ter sido congressista, em Barcelos, e de não ser membro do Conselho Nacional. Disse ainda que, escrevendo em jornais desde os 14 anos, não abdicará da sua tribuna pública.
Ora bem, sendo os partidos organizações colectivas, há deveres que devem cumprir-se. Desde logo, a nossa liberdade de opinião não deve fazer perigar a vontade maioritária dos militantes, adequada e democraticamente expressa.
Dito isto, algo mais há para reconhecer. Instalou-se nos ogãos colegiais do PSD (só falo do que julgo conhecer) um inominado murmúrio de fragância ligeiramente estalinista, segundo o qual é lesa-pátria discordar da liderança, qualquer que ela seja. Na melhor das hipóteses, se o estatuto pessoal não chegar para criar imunidade, ser-se-á excluído das sinecuras. É como se, por vezes, as pessoas reconhecessem interiormente que "o rei vai nú", mas optassem por chamar "malcriado" a quem o denuncia.
É necessário arranjar um equilíbrio, para que a divergência seja saudada nos orgãos partidários, e para que, em consequência, a tribuna exterior seja mais solidária.
Quanto a Pacheco Pereira, como no ténis, arranjem-lhe um "wild card" para todos os eventos do PSD, pois ao menos acaba-se a justificação maior...

quarta-feira, 2 de março de 2005

Mulher moderna

Com a qualidade que lhe é reconhecida, Maria Filomena Mónica traça na edição de hoje do "Público" um retrato sombrio da situação mulher portuguesa moderna: "nem a mais super das supermulheres pode levar as crianças à escola, atender os clientes no escritório, ir à hora de almoço ao cabeleireiro, voltar ao escritório onde a espera sempre um problema urgente, fazer compras num destes modernos supermercados decorados a néon, ler umas páginas de Kant antes de mudar as fraldas do pimpolho, dar um retoque na maquilhagem, telefonar a três 'babysitters' antes de arranjar uma, ir ao restaurante jantar com os amigos do marido, descutir a última crise governamental e satisfazer as fantasias sexuais democraticamente difundidas pelos canais de televisão. Estou a falar das, note-se, das mulheres socialmente privilegiadas. A vida das pobres é um inferno sem as consolações de que as suas irmãs de sexo, apesar de tudo, usufruem.".
Nem entro no jogo de perceber se as consoloções se fazem de Kant, ou de saber se a mulher-moderna-tipo tem mesmo que ler o filósofo, mas creio que o texto peca um pouco por generalização e por deixar água na boca quanto à solução de um problema que, reconheço existe.
Sou, todavia, contra as quotas obrigatorias. Mais adiante explicarei porquê.

"Waiting for a girl like you"

A sucessão de apelos a uma 3ª via para o congresso do PSD é legítima.
Todavia, a insistência com que tem sido feita pode ter dois efeitos perniciosos: por um lado, pode dar a ideia de que há no PSD um grupo de militantes que, não sendo particularmente escutados em qualquer das candidaturas já assumidas, quer à viva força arranjar quem os faça sentir ouvido, o que, quero crer, não sucede na realidade (e nem sequer admito a hipótese, como é óbvio, em relação aos nomes mais sonantes, que me parecem de todo insuspeitos).
Por outro lado, tudo deve ter a sua justa medida. A partir de certo grau de insistência, o único efeito que pode esperar-se da vigilia que se tem visto é o desgastar das candidaturas do dr. Marques Mendes e do dr. Menezes, pois passa-se a ideia de que nenhuma delas satisfaz o PSD.
Se houver mais nomes, veremos, mas creio que ambos os candidatos fornecem já uma panóplia de estilos e modos de pensar suficientemente sortida para que não fiquemos a dever o que quer que seja aos grandes conclaves laranjas do passado.
Por mim, nos próximos dias manisfestarei a minha preferência (já conhecida de ambos os candidatos, aliás).

P.S.(irra!): o título é de uma música de Joe Lynn Turner

terça-feira, 1 de março de 2005

Resta-nos ir para o diabo?

Consta que o próximo Governo não se te revelado tão apetecível quanto isso.
Tal pode espantar, quando, bem vistas as coisas, existe uma maioria absoluta no parlamento.
Porém, entendo que se caminha para uma margem de ingovernabilidade tal que só a um ideal social (o sonho recuperado) pode inverter, mobilizando todos os portugueses.
Ouvimos falar em endividamento das famílias a rondar os 100%, de descontrolo das contas públicas, de falências, da derrocada futura da segurança social, entre tantos outros "demónios à solta", que só vencendo a apatia egoísta em que tem vivido larga porção da nossa sociedade se pode pensar em vingar neste mundo de concorrência.
O problema da classe política - que existe - não se resolve sem reconquistar a cidadania, já que dela emergem os políticos.
É disto que devem falar as lideranças.