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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Valores decotados - Parte I


Há umas semanas, vejo no noticiário da RTP e, subsequentemente, leio na imprensa que o Agrupamento de Escolas de Valadares proibiu, através do seu regulamento interno, o uso de “decotes ‘excessivos’, calças ‘excessivamente descidas’ ou ‘saias demasiado curtas’" (cito, na circunstância, o “Sol”).
Começando pela abordagem política, relembra o semanário citado que, em 2009 e por ocasião de evento similar em Pinhal Novo, o Bloco de Esquerda terá declarado tratar-se de "inusitado atentado à liberdade individual, expressando "o mais profundo repúdio" pelo seu "cujo cariz autoritário" (idem). Ora bem, o mesmo partido que quer proibir “piropos” rejeitava aqui uma clara tentativa de defender a dignidade das jovens mulheres, evitando uma excessiva sexualização e a automática sujeição (não é preciso estudar em Coimbra para somar dois mais dois) aos ditos e aparentemente gravíssimos piropos… Mais uma vez se vislumbram as contradições evidentes de um fenómeno partidário cuja notória decadência só espanta por ser tardia.
Aliás, a propósito do episódio mais recente, o sítio/blogue afecto ao BE (ESQUERDA.NET) reconhece e relembra as posições de 2009, associando o raciocínio ao caso de 2013; ou seja, como eu próprio disse nos meus tempos parlamentares, a conveniência e o lucro eleitoral são o único fio condutor de uma agremiação que foge da responsabilidade institucional como o diabo da cruz.
Contudo, não contornaremos a questão em apreço, dizendo que, mais uma vez, se encontram em jogo as questões de saber de distinguimos, sem maniqueísmos, o certo do errado e o mundo ideal do mundo real. Começando pela última, diria que num mundo ideal, cada um usaria (ou não) o que muito bem entendesse, sem que isso pudesse trazer consequências nefastas, fosse no plano do assédio, fosse no domínio da ofensa à moral pública, fosse ainda na estruturação de um personalidade que entenda e respeite regras de conduta. Sucede que entra aqui a mesma variável de que Marx (o Karl e não qualquer dos irmãos homónimos) se olvidou: o ser humano, a sua imprevisibilidade e o seu egoísmo inato (parto, claro, de um certo pessimismo antropológico), coisas que explicam a necessidade de regular a não menos necessária convivência social.
Depois, temos que perceber se ainda acreditamos que há coisas que estão certas e outras que estão erradas. Tenho escrito que entendo que a civilização ocidental me parece ter entrado numa deriva relativista em que qualquer opinião é válida por ser emitida por um sujeito determinado e em que os valores perdem a essência de marcas de sinalização do comportamento, porquanto valem o que cada nação, organização ou sujeito entender que elas valem.
Como explicarei na próxima semana, sou dos que entende que ainda há referências inegociáveis. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Traição

Continuo esta série de títulos mono-conceptuais com uma palavra forte que me ocorreu ao assistir ao noticiário de um dos canais informativos portugueses. Falo da necessidade de emigrar sentida por muitos jovens qualificados.

Sei bem que já falei disto por estas páginas e também estou cônscio de que não vale a pena dar proporções bíblicas a algo que, infelizmente e com uma ou duas décadas de excepção, foi sempre a sina de um povo pobre e acabrunhado.

Todavia, creio que o fenómeno cobra a sua novidade na natureza da emigração actual, pois falamos de jovens altamente qualificados e a quem foram criadas expectativas por um sistema de ensino gerido pelo Estado.

Bem sei, igualmente, que a expectativa jurídica já não é o que era. Desconhecendo se é por fraca qualidade de alguma legislação, se pela absoluta prevalência da economia sobre a ética política, se por ambas, o facto é que hoje se põe em causa o que ontem era dado como certo. E nem se veja aqui uma crítica encapotada ao Governo a propósito de salários e afins. As medidas têm sido dolorosas, mas acredito no patriotismo que lhes subjaz, quer de quem legisla, quer de quem (os portugueses) as sofre. Falo, isso sim, a título genérico de outras coisas menores, mas que vão polvilhando alguns diplomas.

Não espanta por isso, e eis a razão do interlúdio, que o “contrato social” (também ele uma legítima expectativa) celebrado há décadas com quem estuda no ensino superior esteja em causa num mundo global em que a lógica da grande finança oblitera qualquer desígnio individual e mesmo, não virá o longe o dia, atinente ao ser humano em si considerado (ou seja, para lá da lógica contabilística). A nova religião é o “Excel”, coisa a que, como também já disse e redisse, mesmo os berços dos ideiais da era contemporânea (os partidos) prestam culto.

Se nunca se pôde pedir que um curso universitário garantisse um emprego e se, há muito, sou dos que diz que o numerus clausus deveria ser estratégico, orientando para cursos com saída, a verdade é que quem tirou ou está a tirar um curso superior (por vezes indo à pós-graduação, mestrado ou mesmo doutoramento) tem toda a legitimidade para esperar uma vida profissional adequada às suas habilitações, obviamente, sem desmerecer quem se quedou, por razões diversas, noutros níveis de ensino.

Contudo, estamos já abaixo disto. Quem tem um curso pode não ter emprego sequer num centro de atendimento telefónico (os chamados call centers), como ouvi um jovem testemunhar na referida peça jornalística… E afunda-se-me a alma e quebra-se-me o ânimo quando vejo outra jovem ponderar um lugar de empregada de balcão na Suiça (sem questionar a dignidade do emprego), onde diz poder ganhar mais do que como psicóloga em Portugal.

Sinto que os políticos – mea culpa com certeza, durante o tempo que o fui – não estiveram à altura dos seus jovens, que hoje se dizem traídos…

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

publicidade descarada, ou outra perspectiva sobre as jotas

Decorre amanhã e Domingo a II Academia Política promovida pela regional de Setúbal da JSD à qual tenho o orgulho de pertencer. É um evento preparado por jovens com gosto pela política, naturalmente ligados ao PSD, para outros jovens militantes e independentes.

Vamos estar na pousada da juventude de Almada reunidos durante dois dias em que são promovidas conferências, debates e simulações que visam, este ano, dar aos participantes uma perspectiva mais clara do funcionamento dos executivos e assembleias municipais do nosso país e assim incentivar a participação cívica de todos os que consideram que o seu papel na sociedade tem mais importância do que o depósito do voto a cada 4 anos. Serão abordados temas prementes na nossa sociedade, tais como os investimentos públicos, a reforma da administração local, o desemprego ou a necessidade de contratação de polícias municipais e partilhadas algumas perspectivas sobre os vectores de desenvolvimento da região.

O painel de oradores está já completo, e composto por Carlos Coelho, Luís Rodrigues, Miguel Salvado, Nuno Matias (mentor da I Academia Política) e Bruno Vitorino.

Recebemos este ano também Macário Correia, que nos trará a sua experiência na autarquia de Faro e Alexandre Picoto que abordará a preparação de campanhas autárquicas e divulgação da mensagem política.

E para quem no alto da sua sapiência arrota postas sobre as jotinhas, fica feito o convite a participar no jantar de Sábado com o Paulo Colaço, que virá partilhar a história da JSD, ou na sessão de encerramento dos trabalhos que contará com a presença de Duarte Marques, actual líder da estrutura e de Maria Luís Albuquerque, secretária de estado do tesouro.
Claro que aprendemos a cacicar e a agitar bandeiras, mas sabemos fazer bem mais do que isso ; )

Nota: A LODO SAD está maravilhosamente representada nesta iniciativa pela Rita Matos Oliveira


terça-feira, 5 de abril de 2011

A galinha da vizinha nem sempre é melhor que a minha


No dia em que saiu um estudo que assegura que 46% dos portugueses são favoráveis a uma união entre Portugal e Espanha, chega também a notícia de que no país vizinho os jovens sentem-se, à semelhança dos portugueses, «à rasca». E estão já reunidos numa plataforma designada ‘Juventud sin futuro’, a qual tem agendada para esta semana uma grande manifestação em Madrid.

Ou seja, deixem-se de utópicas crenças quanto ao lado de lá da fronteira, pois a vizinha Espanha também está em maus lençóis. Não só não escapou à crise económica ocidental, como conta com a mais alta taxa de desemprego da Europa (mais de 1100 pessoas ficam diariamente desempregadas) e enfrenta ainda uma crise imobiliária sem precedentes.

A única crise que bateu à porta por cá e ainda não dá sinais por lá é a crise política. Fora isso, Espanha está longe de ser uma galinha de ovos d’ouro, pelo que é pura perda de tempo acreditar que podemos resolver os nossos problemas com uma união ibérica.


*a fotografia foi tirada numa loja no Chiado, em Lisboa e ilustra bem a «pequenez» de algumas mentalidades lusas...

sábado, 12 de março de 2011

Dou a mão à palmatória

As manifestações de hoje atingiram números surpreendentes, que eu, crente na apatia dos portugueses, nunca julguei possíveis. Claro está que o tempo ajudou – como disse alguém, os revoltosos ficam menos revoltosos se tiverem de sair de um ambiente confortável -; claro que muitos dos que marcaram presença já há muito passaram os vinte (eu bem disse aqui que os jovens estavam a ser narcisistas); claro que havia várias causas à mistura, desvirtuando o movimento inicial; claro que houve muito de partidário nisto (do Bloco à JSD, passando por dinossauros políticos como Garcia Pereira); claro que a coisa foi abrilhantada por uns quantos deputados da esquerda, uma dúzia de cantores ditos de intervenção e resquícios do Carnaval (máscaras, vassouras e muitos óculos fantasiosos).

Porém, reconheça-se, foi um interessante exercício de cidadania, sobretudo por ter sido pacífico e não tomar contornos como noutros países, provando que a democracia está bem e recomenda-se, mesmo quando tudo o resto vai mal. O povo levantou o rabo do sofá, saiu à rua e chamou à atenção para os seus muitos e variados problemas.

Porém, era bom que não se ficassem por aqui, era bom que à semelhança de hoje fossem à procura de soluções e não ficassem a choramingar por melhores dias. O país está a atravessar uma crise grave, é certo, mas os jovens também estão acomodados (a própria música que inspirou o movimento dita que «sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição (…) sou da geração ‘casinha dos pais’, se já tenho tudo p’ra quê querer mais?»). Querem tudo à mão de semear e esquecem-se que têm que levantar o rabinho (perdoem-me a expressão, mas acho-a oportuna) para outras coisas, como procurar emprego noutras frentes.

A propósito, aqui ficam três exemplos desse conformismo e de como há mais alternativas do que possa parecer:

* Hoje mesmo passou na rtp uma reportagem sobre uma empresa no concelho de Viseu que não consegue contratar pessoal especializado (engenheiros para ordenados médios superiores a 1000€) e que por causa disso diminui a sua produção e perspectivas de melhorar a sua qualidade;

* A Alemanha tem um tecido empresarial tal, que absorve todos os seus jovens qualificados e, ainda assim, precisa de muitos mais, pelo que tem requerido aos demais países da Europa (sobretudo Espanha) que lhes enviem jovens de áreas várias (engenheiros, médicos, enfermeiros e até cozinheiros!);

* Na Suíça e na África do Sul, bem como noutras comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo, muitas vagas de professores de Português não são preenchidas, ano após ano, deixando os lusodescendentes sem direito a aprender a língua de Camões. Isto, enquanto passamos a vida a ouvir falar de professores desempregados – não digo que mudar de país seja fácil, mas para os mais novos, que não estabeleceram ainda família, não é propriamente insustentável!

Em suma, dá-me ideia que ao contrário dos nossos pais e avós, que outrora partiram (embora em condições inferiores, pois não tiveram oportunidade de ter a formação que actualmente temos), à procura de alternativas fora do seu casulo, as novas gerações estão à espera que a sorte esteja à sua espera na porta do lado.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mobilizar [via Facebook] é o que está a dar

As redes sociais têm tido um papel fulcral nos protestos que grassam pelo Médio Oriente e Norte de África, o que chega a ser um bocadinho assustador. Através do Facebook, Twitter e semelhantes, a capacidade de mobilização da sociedade é tal, que acaba por estar na origem da queda de regimes no Egipto e Tunísia. No caso do Egipto houve quem, para comemorar o feito, baptizasse a filha com o nome Facebook, dado o relevo desta rede social naquele acontecimento. Por cá, e embora estejamos a falar de situações políticas diferentes, a mobilização via redes sociais também vai dando que falar. O Protesto Geração à Rasca, que terá lugar no Porto e em Lisboa a 12 de Março próximo, já conta com quase 19 mil pessoas «confirmadas» na página do Facebook criada para o evento. Resta saber se essas pessoas se mobilizam mesmo e aderem, ou se apenas se contentam em gostar da iniciativa, com a facilidade de um clic.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Começamos mal...




Este fim de semana o XXI Congresso da JSD elegeu, em Coimbra, o seu novo líder. À distância, parece-me que a mudança de rostos não significa necessariamente uma mudança na estrutura, pelo menos no que ao Presidente toca, uma vez que foi vice da comissão política cessante. No mandato que ora tem início, espera-se (eu, pelo menos, espero...) que a dinâmica da jota não se cinja, como nos últimos anos, a outdoors e campanhas anti-sócrates, excepção feita ao notório trabalho - cumpre reconhecer - quanto ao Porta 65. Isto, porque a JSD tem gente com capacidade para muito mais, tem credibilidade junto da juventude portuguesa que não convém deitar por terra e tem uma imensidão de bandeiras para hastear, haja visão e sentido de oportunidade. Contudo, a julgar pela imprensa de hoje, dá ideia de que as batalhas que a jsd quer travar em defesa dos jovens portugueses escasseiam. É que no pós-congresso, o destaque vai sobretudo para o direito de voto aos 16 anos, uma bandeira cheia de remendos que, ainda para mais, aproxima a estrutura do... Bloco de Esquerda! É caso para dizer que... começamos mal.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O prazer de votar

No âmbito das eleições ao parlamento da Catalunha, no próximo dia 28, há campanhas que têm dado que falar, mercê dos meios propaganda utilizados. Uma delas, lançada pelo Partido Popular, consiste num jogo de computador em que o jogador está encarregado de uma missão, a de eliminar imigantes; naturalmente, a brincadeira já deu muito que falar. A outra, que não fica atrás em popularidade e polémica, é de apoio ao candidato José Montilla, pelo Partit des Socialistes de Catalunya (PSC) e incita os jovens ao voto, comparando-o a um meio de obter prazer:

A ideia é da juventude do PSC, que teve a intenção de captar as atenções (não só dos jovens...) e usar um dos mais vulgares iscos de comunicação: o conteúdo sexual, ainda que não explícito. E quanto ao conteúdo político? Absolutamente nenhum. Tenho, por esse e por outros motivos, as maiores dúvidas quanto à eficácia deste vídeo. É primário e desvirtua aquilo que subjaz ao voto eleitoral. Votar é um sentido de cidadania que não toca a todos e a solução não passa, certamente, por incitar a que, qual rebanho, as multidões acorram às urnas. Votar «por votar» não nos leva a lado algum. O voto deve ser consciente, voluntário e lúcido. E para que o seja, o desejável é informar cabalmente os cidadãos das suas opções e não propriamente socorrer-nos de mensagens libidinosas.

A propósito, votar não tem nada que se assemelhe a prazer. Há uma imensidão de coisas que se podem fazer num domingo mais entusiasmantes que desencantar o cartão de eleitor no fundo de uma qualquer gaveta, locomovermo-nos até à escola primária do sítio, esperar sossegadinhos nas filas, reencontrar gente que não víamos há séculos e com quem não temos vontade de falar e, posto isto, despejar o voto na urna. Que entusiasmante.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

David vs. Golias

Em Junho passado denunciei por aqui os repugnantes e preocupantes conteúdos da novela juvenil da SIC, "Rebelde Way", tendo depois disso optado por fazer queixa junto da ERC. Ao que parece, não fui a única a insurgir-me e ainda bem que assim foi.

Face às participações, aquele organismo visionou os episódios, analisou os quatro eixos problemáticos da série que foram expostos pelos denunciantes - Linguagem, Sexualidade, Consumo de Álcool e Violência - apreciou-os à luz da Lei da Televisão e considerou que "foram recolhidos elementos suficientes para sustentar que o denunciado ultrapassou os limites à liberdade de programação, por terem sido transmitidos conteúdos que são susceptíveis de influir negativamente na formação da personalidade de crianças e adolescentes".

O resultado? A 16 de Setembro passado, a ERC deliberou instar o terceiro canal a abster-se de promover representações da adolescência relativamente a questões fracturantes sem a devida problematização e enquadramento pedagógico e instaurou-lhe um processo contra-ordenacional, que pode culminar numa coima entre 20 mil a 150 mil euros.

Eis a prova de que pugnar por uma causa está ao alcance de qualquer um de nós. E a prova de que mesmo um grande operador de televisão não é grande o suficiente para poder esmagar os limites de programação, numa ânsia desenfreada por conquistar a audiência juvenil, sem que seja punido por isso.

Felizmente, tendem a proliferar organismos junto dos quais podemos recorrer quando nos deparamos com situações que nos indignam, mesmo quando não nos tocam directamente, como era o caso. É, sobretudo, uma questão de consciência. Uma opção entre encolher os ombros e conformarmo-nos com o que nos impingem ou usar dos meios que temos à disposição - à semelhança de David e da sua fisga - para pôr na ordem os gigantes que julgamos invencíveis.

*Ler Deliberação 28-CONT-TV/2009 na íntegra, na Secção "Conteúdos";

terça-feira, 23 de junho de 2009

Onde pára a ERC?

Uma tarde destas dei-me ao luxo de consumir lixo televisivo, sem dó nem piedade. Das tertúlias cor de rosa às madrugadoras televendas e dos talk shows deprimentes aos concursos fora de horas, em que umas moças curvílineas instam os noctívagos a telefonar para linhas de valor acrescentado, derretendo a mísera pensão em menos de nada... Porém, se pensam que isto é o pior que passa na televisão portuguesa, desenganem-se. Experimentem sintonizar na SIC às cinco da tarde. Vi um episódio da telenovela "Rebelde Way" e, neste preciso momento, ainda me encontro em estado de choque.

Para quem desconhece, faço o enquadramento: trata-se de uma novela juvenil que passa à hora do lanche, horário ideal (leia-se aqui ironia), já que a esta hora a criançada já chegou a casa e pode deliciar-se com a tv, enquanto os progenitores ainda não estão por perto. A trama desenrola-se num colégio interno que se vangloria de ter um enorme prestígio. No episódio que visionei, o número 181, a coisa começava com um adolescente imberbe a envolver-se sexualmente com a sua professora de Química numa bancada do laboratório, com direito a algemas e outros acessórios equiparados. Até um tipo com um coeficiente inferior a 20 percebeu o que se passou a seguir, mas os argumentistas não acharam suficiente. Mais tarde, o rapaz passeava-se feliz pelo colégio e, quando abordado pelos colegas, não teve papas na língua - "Dei uma queca na professora Irene" (ipsis verbis).

Entretanto, situação idêntica desenrolava-se entre um docente e uma aluna que conduziu aquele até ao seu quarto, onde dois colegas espreitavam e fotografavam o momento, com o expresso consentimento da menina. Se acham que a coisa ficou por aqui, atentem ao que se segue: numa outra cena, um grupo preparava-se para dar uma festa com álcool e tudo o mais a que julgam ter direito, até que chegam as atracções principais: duas strippers contratadas que, afinal, acabam por não actuar (deu-lhes - aos argumentistas - um repentino rasgo de bom senso!).

Mas se aqui não houve strip, o mesmo não pode dizer-se quanto a um outro quarto, onde uma aluna festejava a sua despedida de solteira com um stripper masculino, numa cena que só parou quando a tanga voou direitinha à sua face... Enfim, para terminar estes sessenta minutos de conteúdos pedagógicos, dois jovens do sexo masculino beijam-se e de seguida discutem entre si. Um deles sai do quarto e resolve (não alcançei a ligação...) fazer uma aluna refém, barricando-se numa sala de aula, onde lhe encosta uma navalha ao pescoço, ao mesmo tempo que recita mórbidas passagens biblícas. E pronto, amanhã há mais... Sendo que, entretanto, as criancinhas ainda podem deglutir os resumos dos episódios na página oficial dedicada à novela - aqui, onde podem confirmar o episódio que acima relatei.

Sim, já fui adolescente e sei como são os adolescente de hoje. Tenho noção de que, para muitos deles, alguns dos comportamentos acima descritos são encarados com relativa normalidade. Contudo, numa telenovela, tolero cenas de envolvimento entre jovens, desde que não explícitas e desde que o recurso às mesma tenha uma razão pedagógica - por exemplo, uma cena em que os intervenientes fomentem o uso de preservativo e de alguma forma passem a mensagem de incentivo a uma vida sexual saudável.

Sucede que, além da leviandade com recorrem a cenas de sexo (ou a circunstâncias que a elas se reportam, como o é a contratação de profissionais da área...), é incompreensível que em momento algum haja o mais leve sinal de pedagogia... No caso do envolvimento entre docentes e alunos, sabemos que haverá casos reais, mas o que ali é por demais reprovável é que não se tenha mostrado uma pontinha de sentimento de erro por parte dos personagens, passando-se assim uma mensagem de que este tipo de envolvimento é permissível e até natural.

A isto acresce a linguagem usada, o álcool sempre presente (ao menos punham os míudos a beber umas cervejas sem álcool, ou isso já não é cool?!), a referência a seitas religiosas, o fomento ao voyerismo, a violência como meio para atingir fins, as constantes cenas de índole sexual, enfim, tudo vale para tornar a série mais cativante ao olhar ingénuo das crianças e néscio dos adolescentes.

Pergunto-me onde raio pára a Entidade Reguladora para a Comunicação, a tal que "figura como um dos garantes do respeito e protecção do público, em particular o mais jovem e sensível, dos direitos, liberdades e garantias pessoais", como pomposamente anuncia na sua página de internet. Que se saiba, este mecanismo tem funções de fiscalização que não dependem de queixa apresentada pelo telespectador (embora este sempre o possa fazer e eu muito tentada me sinto a fazê-lo). Pelo menos da leitura aos Estatutos daquela entidade não vislumbrei que a sua actividade esteja circunscrita a esse ponto, i.e., que em face de conteúdos televisivos chocantes - mormente, para o público-alvo em apreço - e na ausência de queixa contra eles, a ERC não possa actuar...

Compreende-se que os trejeitos de Manuela Moura Guedes e o jornalismo a que nos habituou sejam alvo de crítica e levem à reprovação da ERC ao Jornal da Noite das sexta-feiras, mas convenhamos: aí, sempre podemos mudar de canal e "calar" a senhora. No presente caso, não só a maioria dos pais está (física ou mentalmente) ausente quando as crianças visionam estes programas - que os pais julgam vocacionados para aquele target - como muitos deles desconhecem os meios de que dispõem para alertar quem de direito.

Precisamente por isso e, sobretudo, porque não quero nem imaginar que a minha sobrinha algum dia possa vir a absorver conteúdos desta espécie, deixo aqui a minha indignação. A televisão está a passar dos limites e nós... nós continuamos a fingir que isso não é connosco.

sábado, 6 de junho de 2009

Perdoai-lhes Senhor...


... que eles não sabem o que dizem.

Num programa sobre juventudes partidárias, um dos jovens representantes do Bloco de Esquerda, com mais piercings que juízo, diz que "a política não deve ser deixada a essa gente" [aos políticos]. A jovem ao lado, colega de militância, brada que "o BE é um partido de Poder!". E pensar que este pseudo-partido pode vir a tornar-se a terceira força partidária...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Heróis cor-de-laranja?... Não, obrigado..!

No final deste mês decorre em Penafiel o XX Congresso da JSD e, num ano em que é impossível ignorar que a crise bateu à porta, terá ocorrido a alguém da organização aproveitar esta reunião bienal de centenas de jovens para reunir esforços em torno de uma causa: a pobreza que prolifera pelo país fora.

A ideia é (ou era...) pedir aos congressistas e observadores que levem um pequeno contributo, o qual pode chegar - segundo as estimativas - às duas toneladas de alimentos. Pois bem, encetaram-se contactos com o Banco Alimentar contra a Fome, distinta Instituição que opera nesta área, a qual se deu ao luxo de recusar - sim, RECUSAR! - a ajuda, recorrendo a um argumento tão primitivo quanto descabido.

Isabel Jonet, Presidente do BA, rejeitou a ajuda vinda dos jovens social democratas invocando tratar-se de uma instituição apartidária. Alguém explica à senhora que ninguém põe isso em causa?! Alguém que lhe lembre que o que está em causa é ajudar quem mais precisa e que quem mais precisa não olha a cores partidárias quando a fome ataca? Melhor, alguém que lhe lembre todos os portugueses que o têm feito ao longo dos anos provavelmente também terão uma inclinação partidária, factor que em tempo algum se ouviu dizer que prejudicava as pessoas que recebem ajuda?!...
E por que não perguntar-lhe sobre a sua posição se a Casa do Benfica de Freixo de Espada-à-Cinta fizer o mesmo?! Será que vai negar à ajuda, receosa da sensibilidade dos adeptos portistas?... ... Por favor, alguém que lhe explique que os alimentos com que os militantes da JSD possam contribuir também matam a fome...

Em suma, num Portugal em que existem mais de dois milhões de pobres e face a uma realidade que se teima em ignorar - os "novos pobres" - o Banco Alimentar dá-se ao luxo de rejeitar ajudas, dada a militância partidária dos ajudantes. Não é dificil de perceber que a acção, a mais de consciencializar os jovens para um problema grave que grassa no nosso país, pretende aproveitar a logística de um evento onde se reúnem mais de um milhar de pessoas para fazer um contributo que seria impensável se 'obrigasse' os militantes a deslocarem-se ao armazém do BA em Lisboa para o fazer...

E mesmo que alguns aqui vejam populismo ou aproveitamento político, é bom lembrar que nestas coisas "valores mais altos se alevantam" e que a maledicência face às juventudes partidárias já enjoa. Se fazemos é porque fazemos, se não fazemos é porque não fazemos... Decidam-se!

domingo, 12 de outubro de 2008

Já que se gosta de falar sobre Hipotecas

Entre as questões que marcam a agenda política que mais devem importar à juventude portuguesa destaca-se o desemprego.
Diariamente assistimos ao aumento do número de desempregados, em especial de jovens, muitos deles com qualificações acima da média, sendo este um problema transversal a toda a sociedade e quase caracterizado como uma nova questão de cariz estruturante de Portugal. Por isso tem vindo a ser defendido pela JSD um compromisso social. Um compromisso que envolva o Governo, as Câmaras Municipais e todas as entidades ligadas ao sector público, mas que também deverá incluir o tecido empresarial. Trata-se de uma questão de justiça social, mas também de rentabilização de recursos. É necessário que existam empresas envolvidas no esforço de inovação, fomentação de criação de postos de trabalho, num esforço que passa pela capacidade de cada município oferecer formação articulada com as especificidades e potencialidades económicas da região em que se insere, pela formação de qualidade em contraponto à actual política perversa de enviesamento das estatísticas e num compromisso entre escolas e o sector económico.
Quando a política local se pratica em mera gestão, tendo em consideração apenas o status quo geral e os governantes se deixam mediatizar, praticando a política imediata de contorno por decreto, é a juventude que se deixa esquecer e vê as suas prioridades remetidas não para segundo plano, mas tão somente para a última das preocupações do estado geral acenando-nos com vãs promessas de “sucesso” pensará Sócrates em novas inaugurações de fantásticos call-centers que em nada beneficiam a já chamada geração recibo verde? Há que questionar, puxar aos jovens a responsabilidade de defender o dia de amanhã e aquela que deverá ser uma das suas principais questões. 150000 postos de trabalho não criados, ênfase na contratação sazonal - 2.33€ à hora para telemarketing (e já mais de 50000 nesta carreira promissora!!)? Ai tadinho, é da crise internacional. Isto parece um filme.
Hipotecam o nosso futuro na formação desadequada, esquecendo que se hipoteca assim também o futuro de Portugal.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

JS caladinha que nem um.. cordeiro!

Esta manhã a JSD pronunciou-se, pela voz do seu presidente e a convite de uma rádio, sobre os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, temática cujo debate o PS adiou para a próxima legislatura. Relativamente a isto, pode ler-se na edição online do Público o seguinte: "Contactado também pelo Rádio Clube o líder da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro, não quis fazer nenhum comentário." Curioso, ainda há uns meses andavam por aí a bradar aos céus pelos direitos LGBT (confirme-se aqui) e agora, que são chamados a falar aos portugueses sobre a sua posição, encolhem-se... Com jovens destemidos, coerentes e convictos como estes, não há dúvida que a próxima geração de políticos oriundos da ala socialista será do melhor!!...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Diz que é um raio de sol

Os enviados da Lodo, S.A.D. à Universidade de Verão 2008 vêm comunicar que o Administrador da casa não consegue deixar de estar presente nesta iniciativa, nem que seja virtualmente. Não deixa também de despoletar os aplausos da plateia! Gonçalo Capitão figurou nos vídeos que ilustraram a conferência de Rodrigo Moita de Deus e Carlos Coelho, Falar Claro.

Há um ponto consensual – a UV é um exemplo na motivação para a participação juvenil e honra a juventude como parte reformista da sociedade. Os jovens sentem-se ouvidos. As conferências e os oradores são, na generalidade, de uma significativa qualidade. Tudo o que se discute aqui é pertinente. A exigência adquire aqui o melhor significado. Porém, esta estabelece uma pressão de tal ordem sobre os alunos, que os obriga a praticarem níveis de trabalho desmesurados, tornando-se dificil gerir o cansaço. Ainda assim, tudo o que existe em exagero na UV é, precisamente, o que falta às políticas da Milú.

Quanto ao motivo pelo qual a UV foi notícia nos últimos tempos – a sua escolha enquanto rentreé política de Manuela Ferreira Leite – não podemos deixar de demonstrar a concordância com a escolha: há muito que a Festa do Pontal perdeu a sua relevância nesta matéria.

Temos as maiores dúvidas se a sua intervenção de Domingo justifica um tão longo período de silêncio. Reconhecendo, no entanto, o benefício da dúvida, que tem sido renegado pelos opinion makers. A UV é, acima de tudo, uma escola de ideias, propostas e contributos. Quando deixarão os dirigentes de ser acusados de virar as costas às bases por evitarem conjugar as suas propostas com os garrafões 5L?

PS.: Assinam João Morgado e Diogo N. Gaspar, quinze minutos depois do fim dos trabalhos e a duas horas do reinício.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Zapping, para quê?!



À estreia da novela juvenil da SIC "Rebelde Way", responde a TVI com seis horas (seis!) de "Morangada". Assim vai a televisão portuguesa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

A JS e o pecado da heterossexualidade

Legalização da prostituição, casamento e adopção por homossexuais, quadro legal para os transsexuais e direitos LGBT (seja lá o que isso signifique...). Eis os temas que dominaram o XVI Congresso da JS, que elegeu este fim de semana novo líder. Sintomático? Muito.

As jotas são frequentemente criticadas por andar a reboque dos partidos, sem marcar posição. E vai daí, a JS quis agarrar uma mão cheia de bandeiras, considerando que quanto mais polémicas, melhor. Atentando ao conclave dos jovens socialistas e à sua actuação nos últimos tempos - desde a participação em marchas LGBT às conferências sobre casamentos homossexuais - concluo que as prioridades da JS estão longe de respeitar as verdadeiras preocupações que atemorizam os jovens portugueses.

Quando uma juventude partidária relega para segundo plano a própria juventude e a igualdade e dignidade daquela em matéria de Educação, Emprego, Habitação, Saúde, Cultura, Cidadania, Associativismo, etc, é grave. Quando uma juventude partidária cinge a sua agenda política em função da mediatização que determinadas tomadas de posição possam dar, é muito grave. É porque não está convicta do alcance que a sua voz e a sua actuação podem ter na sociedade. É porque é movida a coisa diversa do interesse dos jovens, é porque aprecia mais a política de show-off que a defesa das verdadeiras políticas de juventude. Gravíssimo, digo eu!...
Em nome da igualdade - porventura o suprasumo dos princípios - a JS dedica-se a assuntos respeitantes a minorias, não se dando conta de que menospreza a maioria dos portugueses e as suas desigualdades (bem mais graves) que à mercê do Governo socialista grassam neste país.