quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A razão pela qual nada aprenderemos com a crise – Parte II

Retomando a análise sobre a aquilo que julgo ser a explicação do facto de qualquer crise se sentir com mais profundidade em Portugal, repito o que já disse noutros textos: não havendo homens providenciais, acho comodista e algo hipócrita que se culpem apenas os políticos.

Se é certo que muitos deles são movidos pela sedução do poder, pela ambição ou pela perspectiva de “dinheiro fácil”, também é verdade que muitos não são desonestos (seja por serem íntegros ou por não terem “categoria” para roubar). O problema é que os políticos saem do meio do povo que os elege. Por muito desfasados que, por vezes, pareçam, não são extra-terrestres vindos de outro planeta… Reflectem as nossas virtudes, mas, igualmente, os nossos defeitos. Também eles têm um ar pesado e vivem num mundo que já não existe (começa pela retórica parlamentar, onde ainda ouvimos “vossa excelência” seguida de pontapés na gramática e de enxovalhos pouco dignificantes).

Acresce que também os políticos se tornam mais básicos e previsíveis à medida que os padrões de exigência do ensino se degradam e que as próprias mentes das novas gerações sofrem o empobrecimento ditado pelo progressivo abandono da cultura escrita, em detrimento da ruminação de conteúdos de televisivos e da exposição sem coordenadas éticas a tudo o que pode ver-se na Internet.

Colhe, por isso, sentido a frase de Maistre: “cada povo tem o governo que merece”!...
Dito isto, que fazer?

Com franqueza, esvai-se me a esperança. Para sairmos da crise permanente em que, com altinhos e fundões, vamos vivendo, era preciso que ganhássemos consciência colectiva, que abraçássemos o desígnio de sermos dos melhores países da Europa, que não buscássemos o suborno em lugar do cumprimento dos trâmites da lei, que não nos limitássemos a obedecer a esta por medo da punição, que tentássemos ser melhores em vez de invejarmos o sucesso alheio, que não favorecêssemos os graxistas e lacaios em vez dos críticos leais, que percebêssemos que o dinheiro deve advir do talento e da ética, que, em suma, fossemos decentes, trabalhadores e solidários…

Só se atingíssemos este “minus” da essência de uma nação, poderíamos ombrear com gente que se aplica, que tem orgulho na sua bandeira para além do futebol e que não aldraba ou que, quando o faz, tem a cadeia como destino certo.

Até lá merecemos alguns dos seguidores de Sócrates e Passos Coelho (ambos culpados menores de tudo isto). É uma pena justíssima!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Previsões do Lodo

Agora que as negociações com o Governo fracassaram, eis as previsões do blogue que nunca vos abandona:
  1. PSD "aprova" orçamento com uma abstenção, explicando que o faz em nome de Portugal.
  2. Em Março (quando o Presidente puder convocar eleições) apresenta moção de censura.

Classificados no Lodo: negócios

Em tempos de crise há sempre oportunidades.
Concretamente, o futuro sorri aos produtores de coletes reflectores, se a moda de uma localidade catalã pegar. Assim, parece que as prostitutas de rua serão obrigadas a utilizar mais este acessório de segurança para que o embate frontal envolva apenas o condutor e não o veículo...
Embora o mercado de trabalho português seja menor, fica o alerta aos munícipios, fabricantes e retalhistas.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

"Um vintém é um vintém"

Tenho para mim que Jorge Jesus é dos melhores treinadores intuitivos do futebol português e é o homem certo para pôr em extâse 90% dos adeptos benfiquistas.
Porém, a modalidade evoluiu e, hoje em dia, muito se passa no plano táctico e nas metodologias de treino e observação de jogadores e adversários.
Ora, creio que o treinador do Benfica é pobre nestes aspectos. O jogo com o Lyon foi mais uma sucessão de equívocos e uma mostra de pouca bagagem teórica....

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Na semana passada...

Na semana passada, duas declarações mereceram a minha atenção. Partilho-as, agora:

a) Carlos Queiroz: ao culpar (novamente) Laurentino Dias pelo seu despedimento, Queiroz responsabilizou-o pela situação difícil em que se encontrava (está melhor, por estes dias) a Selecção. Disse mesmo que com ele no banco frente ao Chipre e à Noruega "nada disto aconteceria" (cito de cor). Haverá declaração mais assassina e ingrata para o companheiro e colaborador de há anos, Agostinho Oliveira? Isto só prova que, podendo ser bom teórico, Carlos Queiroz tem muito a aprender sobre a natureza humana.

b) Paulo Bento: dias mais tarde, o actual seleccionador deu uma prova de humildade notável. Confrontado com a sondagem a José Mourinho, antes da sua contratação, Bento disse que estava orgulhoso pelo facto de a Federação ter ponderado apenas duas hipóteses: " o melhor treinador do mundo e o Paulo Bento". Ao contrário do que previ, pode ser que tenha pé para a dança!...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Revendo a lição do Professor "Mamede"

Pioneiro que é, o nosso "Mamede" já tinha visto este filme, há algum tempo. Sucede que lhe conferiu uma nota sofrível, ponto em que, com a devida vénia, estamos em desacordo com este monstro sagrado do "ver cinema", capaz de tornar insignificante o parecer avisado de homens como "Lauro Dérmio"...

Aplaudido o humor insíto no título da crítica do Prof. "Mamede", atribui-se o nariz torcido à sua relativa juventude, pois, a nosso ver, o filme vale pelo desfile de notáveis da "porrada à antiga"!

Começa pelo maravilhoso regresso da dupla Stallone - Lundgren que entusiasmou a adolescência dos moços da minha idade, num dos mais tolos e ao mesmo tempo aclamados filmes de propaganda do tempo da guerra fria: "Rocky IV". Da morte de Apollo Creed ao improvável triunfo e propagandístico discurso de Rocky Balboa, após a vitória sobre Ivan Drago, em Moscovo, é um sem-fim de cenas irrepetíveis.

Depois, é ver o imenso Mickey Rourke, que precisou de bem mais do que "9 semanas e meia" para voltar a esta forma de "wrestler"...

Há espaço ainda para Bruce Willis, mesmo que não salte nem assalte um arranha-céus, e para a genial aparição do Governador da Califórnia, Schwarzenegger, que, em poucos minutos, revê a antiga rivalidade com Stallone, que ainda o acusa de ter ambições presidenciais!...

Por fim, mesmo a "II Liga" está em bom nível com nomes como Jet Li e Jason Statham.

É por tudo isto que temos que votar contra um cândido mas injusto parecer do mais famoso cinéfilo da Solum!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A razão pela qual nada aprenderemos com a crise – Parte I

À guisa de prelúdio, diria que as linhas que se seguem não devem ser vistas à luz de qualquer forma de autoflagelação; não considero que tenhamos que andar com a corda ao pescoço, qual Egas Moniz, ou de nos chicotearmos, enquanto gritamos kyrie eleison… Temos, isso sim, enquanto povo, de reflectir sobre a explicação profunda do estado de “crise permanente” em que vivemos, pois, mesmo antes desta marretada valente dos mercados internacionais, fica a sensação de que sempre viemos a afundar-nos alegremente.

Creio mesmo que o mais escandaloso neste luso atavismo e nesta nacional “choraminguice” é olharmos os países do antigo Bloco de Leste que, sujeitos a décadas de opressão soviética ou pró-soviética e muito mais recentes nas andanças da União Europeia, em menos de um fósforo, se colocaram ao nosso nível, quando não nos passaram mesmo nos números do desenvolvimento… Dou, assim, de barato exemplos repetidos à saciedade, como o caso da Finlândia que, mesmo sem os recursos naturais que nos queixamos de não ter (e até temos alguns que os finlandeses não têm, como sejam praias infindáveis e clima “para turistas” todo o ano), se guindou ao patamar cimeiro em que permanece, desde que me lembro.

Tudo isto para dizer algo simples: enquanto povo temos muita responsabilidade no estado de coisas a que chegámos, sendo os cortes nos vencimentos e pensões dos funcionários públicos, o aumento do IVA e todos os demais instrumentos de tortura que nos fustigarão a partir de 2011 consequências da insalubridade ética em que sempre apreciámos chafurdar. Em vez de produzirmos mais e melhor, sempre preferimos empurrar o destino para a frente com a barriga; em vez de contestarmos solidariamente o que está errado, calámo-nos, esperando que a régua não açoite a nossa mão e que a promoção chegue a nós, mesmo que outros se quedem na injustiça; em vez de acharmos que houve um colega que mereceu mais do que nós “aquele lugar ou aumento”, logo congeminamos as razões do favoritismo (amizade, partido ou caso amoroso) e, o que é pior, por vezes, com razão…

Somos, por isso, tendencialmente invejosos, em vez de cultores de uma lógica de mérito. Mesmo muitos dos que nas autarquias, gabinetes de estudos e assessorias procuram mascarar a coisa com o uso de Powerpoint, ecrãs de LED com produções bonitas e, em suma, embalagens tecnologicamente atractivas e uma imagem de suposta competência desprovida de emoção (um subtil renascimento da propaganda totalitária), na verdade, continuam a alimentar “o grupo”, a dar oportunidades de negócios aos amigos e a executar sumariamente qualquer tolinho que sonhe com independência de espírito. Somos, também, fracos de alma…


Post- Scriptum
(não é altura de escrever P.S…): Interrompo a prosa (a continuar) para garantir que Pedro Passos Coelho é um líder genuíno. Espero, consequentemente, que não se deixe levar pelos jovens profissionais da política que, sob o escudo de muitos PDF e slideshows, tentam disfarçar a sede de poder instantâneo, colocando entraves à passagem do Orçamento, no PSD. Podem até regurgitar sobre o documento, em directo, mas não é à toa nem pode ser conspiração o facto de três antigos Presidentes da República e de três ex-líderes do partido (Marcelo, Ferreira Leite e Mendes) recomendarem, a bem de Portugal, a viabilização do documento. Creio que Passos Coelho levará a indignação até à última, fechando os olhos ao horror orçamental, à última da hora. Só pode ser assim…

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Finalmente, um adversário para Cavaco!

Sempre achei a contra-cultura de Vieira genial. Pelo absurdo põe-se em causa muito da nossa sociedade da crise contínua.
É ver para deixar de crer e passar a querer :)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Momento alto dos U2 em Coimbra! É a partir do minuto 1:21

Jogar futebol com prazer

O País do Carnaval


Acabo de ler o primeiro romance de Jorge Amado, escrito quando tinha 18 anos, publicado em 1931 e, infelizmente, ainda hoje muito actual. O País do Carnaval é um olhar, sem rodeios, sobre o Brasil e o seu povo. Um retrato de uma geração de brasileiros conformados, adormecidos, cuja única aspiração parece ser a velhice. A personagem principal, Paulo Rigger, saiu do Brasil para se formar em França e, uma vez de volta, bem procura o sentido da vida, da pátria, da terra. Porém, acaba sempre por esbarrar nos cépticos e cedo percebe que não é fácil escapar à «mediocridade perpétua em que a nação se encontra».

Jorge Amado não tem pudor em afirmar, no prefácio, que a obra tem um cenário triste: o Brasil, «natureza grandiosa que faz o homem de uma pequenez clássica». E é essa antítese que percorre todo o livro, a grandeza de um país que asfixia, quase esmaga, os seus pequenos homens. A certa altura, o autor chega a comparar a nação a uma mulata desconhecida:

«(…) é entre as suas coxas sadias
Que repousa o futuro da Pátria.
Daí sairá uma raça forte,
Triste,
Burra,
Indomável,
Mas profundamente grande,
Porque é grandemente natural,
Toda da sensualidade.

Por isso, cheirosa mulata
Do meu Brasil africano
(o Brasil é um pedaço d’África
Que imigrou para a América),
Nunca deixes de abrir as coxas
No instinto insatisfeito
Dos poetas pobres
E dos estudantes vagabundos,
Nessas noites mornas do Brasil,
Quando há muitas estrelas no céu
E muito desejo na terra.»

Haverá quem considere que tal metáfora ofende a moral brasileira. Eu considero que Jorge Amado quis, tão só, abanar a consciência dos seus pares. E não será despropositado considerar que ainda hoje, quase um século depois, o Brasil continua a precisar de uns «abanões». É que ainda há dias vimos as carnavalescas eleições que por lá tiveram lugar, onde até palhaços iletrados são eleitos deputados federais. «E fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias», como bem escreveu o autor.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bom, ao estilo dos irmãos Cohen

Baseado no conto homónimo de José Saramago, este filme só é recomendável a quem goste de comédia negra e tenha capacidade para apreciar filmes portugueses que não se fiquem pelo eixo sexo-droga-corrupção.

O fim de um clube


Se está tão incrédulo como eu, veja aqui... Aprígio deve ter-se fartado de ser presidente...

U2 - Coimbra



Clique nas imagens para ver melhor.

“There isn’t a good weather in the economy of our countries, but that is not going to stop us from being who we are.”


Bono Vox, no Estádio Cidade de Coimbra - 3 de Outubro de 2010


Nota: a qualidade das fotos é pouca (ou nenhuma!) mas foi o que se arranjou!

Tão bom quanto difícil

Recomendo-o apenas para incondicionais do (de um dos) mestre (s) russo (s). A teia de valores, personalidades e pensamentos é magistral, mas exige concentração apurada. Definitivamente, não é leitura de café ou de praia e nem dá para fazer figura de intelectual, como gostam de fazer alguns leitores do também soberbo "Irmãos Karamázov"...