sexta-feira, 30 de março de 2007

Sai Azar (III) - Salazar fashion

Deve sublinhar-se, a meu ver, que não foi o concurso que trouxe Salazar de volta ao nosso imaginário colectivo.

A mais da tradicional lamúria de povo pobre e mandrião – ao estilo “o que nós precisávamos era de outro Salazar” – a verdadeira moda em torno da evocação da sua memória está, de há muito a esta parte, bem patente em capas de revista, na profusão de livros sobre ou em torno da sua personagem (sendo que até as memórias de Marcello Caetano sobre o seu antecessor voltaram a aparecer nos escaparates) e até em debates públicos como o que se tem gerado em torno da eventual reposição da sua estátua, em Santa Comba Dão (mais concretamente, no Vimieiro) ou da criação de um museu alusivo á sua vida, na mesma localidade (este último assunto, diga-se, tem sido mal tratado pelo Edil local, que já possibilitou à cinzenta Ministra da Cultura fazer um brilharete na esquerda empedernida, dada a inconsistência do processo que lhe foi submetido).

Bem vistas as coisas que ocorreram no pós concurso, vejo-me forçado a concluir, todavia, que o grande impulso para o ressurgimento da figura maior do Estado Novo também vem das reacções histéricas de alguns sectores sócio-políticos.

Comportamentos histriónicos como o de Odete Santos não só criam rejeição pelo anti-salazarismo, como obnubilam o sofrimento daqueles, e sabemos que existiram, que, efectivamente, viram o lado nefasto da II República.

O mesmo pode dizer-se de gente que se acha dona da verdade e da liberdade (não, desta vez não falo de Louçã…), como Vasco Lourenço. O facto de ter contribuído activamente para o 25 de Abril não apaga a especulação sobre a nova Albânia que seríamos se o tivessem deixar levar a dele avante (salvo-seja, quando ao avante…), nem lhe dá o direito de pautar a melodia da vida social do século XXI. O seu tom troglodita ficou bem patente em declarações ao “Público” de 27 de Março, onde pode ler-se que o nosso Coronel entende que os alegados fascistas nunca deixaram de existir (ou seja, reconhece que o apreço por Salazar não é efeito do concurso) e, vendo bem, “nunca de cá saíram. Têm é estado debaixo das secretárias e pensam que neste momento têm condições para pôr as orelhas em pé”. Orelhas em pé?! E não é que o nosso Presidente da Associação 25 de Abril se habilita a conseguir o efeito contrário?!...

Mas entremos numa hipótese menos despeitada: seria bom se Cunhal tivesse governado (isto para pegar no segundo grande português, embora a 22% do primeiro classificado)?

No programa da Antena 1, que já mencionei, escutei um ouvinte dizer que Álvaro Cunhal lutara pela liberdade de expressão. Para não desatar a rir, visto que o Dr. Cunhal me merece respeito intelectual, resta-me concluir que deveremos estar a pensar em Álvaros diferentes, já que é mais provável que isso pudesse ter acontecido com o senhor Álvaro das farturas, que tinha, vai para muito tempo, uma barraquinha em Armação de Pêra, do que com Álvaro Cunhal que, se tivesse sido mandatado para tal, ter-nos-ia convertido num satélite da URSS, o regime que mais gente matou, a par do nacional-socialismo, no século XX. Já lembrei, noutra sede, o exemplo do PCP, que foi dos raros partidos comunistas do mundo que, em 1991, apoiou o golpe de Ianaev que depôs Gorbatchev.

Mesmo o actual PCP é de um anacronismo tamanho que me vem à memória o espanto dos deputados dos parlamentos de Estónia, Letónia e Lituânia que, há menos de 5 anos, durante uma visita oficial, se espantavam por Portugal ainda ter comunistas no Parlamento (apesar do representante do PCP ser um cidadão adorável e um democrata, atesto-o), eles que conheceram bem a força trituradora de Moscovo…

E mais se deve olhar com humildade a evocação pública do Ditador, se pensarmos que os “seus” 41% não se apoiam numa estrutura partidária organizada como se apoiaram os 19% “de” Cunhal, já que não há dúvida de que o Partido Comunista se mobilizou seriamente.

Em suma: estou em crer que não foram “Os Grandes Portugueses” que “acordaram” Salazar, da mesma maneira que acredito que a agressividade caceteira da nossa extrema-esquerda apenas serve para acirrar ressentimentos e não para esclarecer as pessoas sobre o tempo que não volta mais.

Como disse, penso ainda que ignorar o fenómeno torna pior a emenda do que o soneto…

quinta-feira, 29 de março de 2007

Sai Azar (II) - O Concurso e o Método

É opinião quase unânime que a eleição de Salazar como o maior dos "Grandes Portugueses" se tratou de um programa de entretenimento, sem preocupação de fornecer uma amostragem rigorosa. Era, contudo e concomitantemente, um acto de participação volitiva, pelo que não deve ser desprezado, como me parece que aconteceu por parte de conceituados sociólogos consultados pelo “Público”.

Entendo ainda que é capcioso procurar desautorizar o valor que possa haver em “Os Grandes Portugueses” com base, por exemplo, no estudo da opinião da Eurosondagem, que colocava Oliveira Salazar em sétimo lugar . A verdade é que, pelo que ouvi da ficha técnica (na Antena 1), as entrevistas foram pessoais e directas, não valendo a pena escamotear o facto de haver, dada a carga de cavalaria do politicamente correcto made in 25 de Abril, algum pudor em assumir qualquer espécie de apreço por qualquer reminiscência do Estado Novo, algo que mais se sentirá se falarmos do seu mentor.

Dito de outro modo, qualquer pessoa com preocupação de objectividade reconhecerá que não é com facilidade que se admite, mesmo que o entrevistador garanta confidencialidade, que se nutre simpatia pela figura de um ditador. Como exemplo prosaico posso contar uma experiência pessoal em torno da aquisição da magnífica fotobiografia do Professor, organizada por Fernando Dacosta, um homem insuspeito de ser salazarista, mas que nem por isso deixou de investigar com qualidade e rigor. A dita história conta-se a dois tempos: o primeiro prende-se com a aquisição da obra, na Feira do Livro de Lisboa, durante a qual, já nem sei a que propósito, a senhora que me vendeu o livro, sendo ainda jovem, não perdeu o ensejo para sublinhar a falta que, em seu entender, fazia alguém como Salazar, para nos governar.

O segundo andamento tem a ver com o comentário de um amigo e colega deputado (na altura eu também o era) que reconhecia com alguma inveja que também pensara em adquirir o livro, mas que o não fizera por ter vergonha. Ou seja, quando gente esclarecida (e não excessivamente conhecida, já que não era dos mais expostos aos holofotes) ainda nutre receios deste jaez, que esperar do cidadão que se vê apelidado de fascista quando, mesmo conservando as opiniões no seu íntimo, ouve a esquerda portuguesa, com destaque para o sítio arqueológico comunista e o circo bloquista, produzir, diariamente, o diktat do politicamente correcto?! É óbvio que Salazar já mais ganhará, nos tempos mais próximos, uma consulta pessoal e directa. Para o perceber não é preciso estudar em Coimbra…

Depois, há que enfrentar outra consideração metodológica: o resultado, segundo algumas opiniões, não merece crédito, porquanto existiu a possibilidade de a mesma pessoa votar várias vezes, bastando que usasse um telefone diferente.

Pois bem, eis algo bem dito. O problema é que o mesmo dogma vale para a votação de Cunhal, Afonso Henriques, Pessoa, e por aí fora…

Sabemos que este género de consultas televisivas se presta a resultados inauditos e a perguntas surrealistas, caindo mal pudores tardios. Durante as minhas investigações académicas deparei, aliás, com exemplos que o atestam, quase que folcloricamente: é o caso, designadamente, da consulta que o programa Saturday Night Live da cadeia norte-americana ABC promoveu, a 11 de Abril de 1982, no sentido de saber se a personagem ficcionada Larry, "The Lobster" devia sobreviver ou morrer. Veja-se, portanto, o assunto que, naquela ocasião, atraiu 240.215 tele-votantes…

Por sua vez, a mesma cadeia televisiva promoveria, dois anos volvidos, uma consulta para conhecer as preferências dos telespectadores para a nomeação do candidato democrata à Casa Branca. Em cerca de 90 minutos de programa, mais de 250.000 almas votaram, conferindo, durante grande parte do tempo, uma liderança ao Reverendo Jess Jackson, o que, à data, nem surpreendia. O problema é que o Reverendo foi ultrapassado por um contendor de última hora: o grupo rock ZZ Top!...

Aqui chegados, um pedido: resistam à tentação de achar que a década de oitenta foi particularmente psicadélica ou que os americanos são especialmente estúpidos. Nem uma nem outra são verdadeiras, a meu ver.

Ou seja, e em suma, havendo que dar a “Os Grandes Portugueses” a importância própria de um concurso televisivo, penso que é tão errado endeusar o resultado do mesmo como desvalorizá-lo por arrogância, ignorância ou ditadura de opinião (aquela que faz as delícias, nomeadamente, do PCP e do BE).

Sai Azar - Preâmbulo

Entrando na análise ao lugar cimeiro que o Presidente do Conselho obteve no pódio do mais falado concurso da RTP, com certeza por arrogância minha, entendo que pouca coisa acertada tem sido dita.

Todavia, e em jeito de prolegómenos, devo sublinhar que o que me anima não é qualquer apologia de António de Oliveira Salazar, mas sim a busca de algum distanciamento que penso faltar na análise da História Contemporânea de Portugal. Mais de trinta anos volvidos sobre o 25 de Abril, já tínhamos idade para ter juízo...

Penso, assim, que há que reconhecer que – e tenho escrito nesse sentido , em diversas ocasiões – há factos positivos na II República, como há consequências nefastas do 25 de Abril. Não tem sido essa a visão das sumidades que os media portugueses gostam de ouvir e que os portugueses se habituaram a eleger para cargos públicos. Olha-se para o rol de opiniões, estudos e soundbytes e parece que o Doutor Salazar é primo direito de Drácula, ao passo que a gente que saqueou e saneou a seguir à Revolução dos Cravos merece um lugar na varanda de um qualquer Kremlin celestial.

Entre falta de qualidade e parcialidade intelectual, poucos foram os analistas que, sob o meu modesto prisma, procuraram descortinar um veredicto ponderado sobre “Os Grandes Portugueses. Sem predicados próprios para textos de referência, cá deixo, em capítulos (este e mais cinco), a minha ideia sobre o assunto…

terça-feira, 27 de março de 2007

Gostei


Não gostei


Então é assim, Dulce

Dulce:

Em resposta ao teu repto, eis que começo a explicar pelo lado cómico (desdramatizemos...), mas nem por isso menos verdadeiro. A extrema-esquerda, com as palhaçadas que organiza, explica muito do ressurgimento dos compinchas de sinal contrário.

Fotografia conservadoramente furtada ao Paulo Pinto Mascarenhas, no 31 da Armada, onde, by the way, detenho uma modestíssima mas honrosa colaboração.

segunda-feira, 26 de março de 2007

domingo, 25 de março de 2007

50 anos de União Europeia


Sob o lema "Unidade na Diversidade" nasceu há precisamente meio século a Comunidade Económica Europeia, hoje designada simplesmente de União Europeia.

Porque é disso que se trata - de uma união voluntária dos povos europeus que tem a missão de superar os conflitos do passado e pensar conjuntamente o futuro do Velho Continente.
Após meio século, a pergunta que se impõe é se esta missão está a ser cumprida.
Afinal, que feitos se podem atribuir a esta UE de várias facetas?

No plano político e social, assegurou o mais importante: a PAZ.
Depois, ao nível económico, o mercado comum e a moeda única são palavras-chave do desenvolvimento e crescimento desta Europa.
Outro valor europeu conquistado que há que salientar é a LIBERDADE - de circulação de pessoas, de serviços, de mercadorias e de capitais.
Podia relevar um sem número de feitos cuja responsabilidade se deve a esta confederação...
A lista é exaustiva.
Mas um passo extremamente importante na integração europeia que quero aqui destacar foi o "programa Erasmus" (que assinala agora 20 anos) , responsável pela mobilidade de estudantes e que veio aproximar diferentes culturas, saberes e quotidianos.

Enfim, ninguém questiona que a UE teve um papel preponderante na prosperidade e sustentabilidade do nosso continente, pese embora algumas falhas ou até megalomanias.
Contudo, a verdade é que passo a passo a UE foi-se consolidando e até os mais cépticos reconhecem que os sucessos desta união são mais que muitos - vale a pena confirmar aqui.

Agora, volvidos 50 anos, que caminho deve trilhar esta Europa que hoje já conta com 27 membros?
Deve ressuscitar a malograda questão da Constituição Europeia? Que alternativas?

Neste sentido, poder-se-á falar numa crise institucional?

E que desafios encontra a futura presidência portuguesa, já no segundo semestre deste ano?
São mais as dúvidas que as certezas, bem sei.
E não se adivinham fáceis os tempos que aí vêm...
Já muito foi conquistado com esta Europa 'cinquentona' e há que preservar essas conquistas, mas os desafios do futuro obrigam-nos, inevitavelmente, a repensar esta União...

quarta-feira, 21 de março de 2007

Há tipos que nem cornos merecem ter...

Estupefacto, leio no Record de hoje que "Stijn Stijnen, deu uma entrevista ao jornal 'Gazeta de Antuérpia', onde disse qualquer coisa como isto, quando lhe perguntaram sobre as preocupações com Cristiano Ronaldo para o jogo de Alvalade: 'Depois de dois minutos, normalmente já o teremos massacrado tanto, que ele já terá sido retirado do relvado. O que precisamos de fazer mais? Portugal tem maior qualidade, e por isso temos de fazer as coisas à nossa maneira. Se tentarmos jogar como eles, vamos perder de certeza'. ".

Stijnen é guarda-redes do Brugge e da selecção belga que, no sábado, defronta a congénere portuguesa.
Numa altura em que a FIFA e a UEFA andam tão afoitas (e bem) contra o racismo, a violência e a falta de fair-play, não se apropriaria um processo a este cabeça de porco? Lá é maneira de de preconizar a prática de um desporto visto por milhões de pessoas?!
Veremos se a justiça desportiva é mesmo cega (ou seja, geral) ou apenas ceguinha...

Pretensioso

Se quiser mesmo ver, tente pesquisar a obra de Diane Airbus, primeiro. De outro modo, Dali e Kandinsky serão sempre melhores...

terça-feira, 20 de março de 2007

O CDS é para meninos

Afinal, o campeonato de luta livre organizado pelos conselheiros nacionais do CDS é sessão de massagens, quando comparado com a refrega que vai ocorrendo na Universidade Independente, onde, depois de deposto à força pelo Reitor Luís Arouca, o Vice-Reitor, Rui Verde depôs, hoje, o primeiro.

Pelo meio, seguranças, polícia e sabe Deus que mais.
Se não fosse um retrato do estado miserável da vida pública do nosso País e causa de dano certo para os alunos, até tinha piada...

segunda-feira, 19 de março de 2007

sexta-feira, 16 de março de 2007

Porque amanhã é sábado e depois é domingo

Mereceu a estatueta. Se há facínoras com piada (acho que não), Amin era um deles...



Para quem goste do género Marvel, é catita...
Porém a minha maior aposta continua a ser esta! Não perca!


quarta-feira, 14 de março de 2007

Ícones da sociedade de consumo imediato

A esmagadora maioria dos membros do "lodo" (aliás, aposto que todos menos eu) já não se lembrará de valentes zurrapas que se bebiam sob a designação de refrigerantes, e muito menos de como elas ficavam associadas a momentos e lugares.
Por exemplo a "Bem Boa" (sim, a das caricas que diziam "BB"), que bebia quando ía ao Jardim Zoológico (quase todos os dias, quando me obrigavam a gramar férias em Lisboa)...

Ou a "Novi Cola" e o "Frutol"... E a "Laranjina C", com a garrafa antiga?!

Ou o regresso do "Pirolito" (não sou dos tempos do original, mas assisti, na minha infãncia, a uma tentativa de regresso, com berlinde e tudo!)...

Hoje deixo-vos com a imagem de uma das últimas laranjadas verdadeiramente artificiais! Daquelas que sempre disseram que faziam mal, mas que a malta adorava.

Se quiserem marcar encontro com ela - sim, com a "Bussaco" (já em nova roupagem) - posso sugerir essa catedral da incineração avícola que dá pelo nome de "Pompeu", vulgo "Pompeu dos Frangos", na Malaposta. É já no distrito de Aveiro, mas não se pode ter tudo, quando já se pode ser de Coimbra (desculpa, Rosa, mas não resisti)...

Café da manhã II - angústias filosóficas

No seguimento do texto anterior, por que razão é que quando o jornalista de serviço no "Bom Dia, Portugal" (RTP 1) faz a ligação ao "Jornal de Negócios" diz "bom dia" e são raras as vezes em que a/o jornalista que está em directo do dito jornal tem a educação de responder?
Já agora, será que podiam dar a informação financeira sem estarem de "trombil" (é quase sempre...)?

Café da manhã

Sou dos que vê as notícias pela manhã, com a certeza de que, não raras vezes, estou com mais atenção do que nos serviços noticiosos da hora de jantar.
Não estando em causa o meritório trabalho da nossa excelente Polícia Judiciária, no caso do rapto da menina de Penafiel coube a um Director Nacional Adjunto falar aos portugueses.
Não entrando no tema da conferência de imprensa, será que alguém poderia ter a gentileza de pedir ao alto quadro da nossa polícia de investigação que, numa próxima ocasião para iluminar os portugueses, substitua o seu garboso "checar/checkar" (não percebi se o sotaque era do Brasil ou dos EUA) por conferir, verificar, cruzar informação ou até por "chiça", mas sempre por algo que seja cá da malta?!
Temos uma lingua tão rica e uma cultura que é o maior garante da nossa independência...
Checkar, mail, sms, outsourcing, post-it, post, link e linkar, fax, governance, downsizing, copy/paste, download... Escolha e esqueça...

segunda-feira, 12 de março de 2007

Santo trambolhão...

Sobre a manifestação que, há mais ou menos uma semana, teve lugar em Santa Comba Dão, apetece-me dizer que revela bem o grau de atavismo que ainda tem a nossa vida social e política.

De um lado, uns jovens palermas de braço em riste, homenageando ideologias que já não voltam, e gente com idade para ter juízo, gritando o nome do prof. Salazar, como se ele fosse candidato ao que quer que seja, tirando uma distinção televisiva.

Sobre o tema de base já escrevi em vários fora, propugnando que se percam os estúpidos complexos da esquerda “abrilista” no que à abordagem da nossa História contemporânea diz respeito. Assim como quem não viveu o 25 de Abril deve aceitar as coisas boas que dele resultaram (a começar, por exemplo, na liberdade de escrever o artigo que agora se publica) e os desvarios pós-revolucionários que, entre outras parvoíces, delapidaram as finanças públicas e humilharam gente de bem (que o digam alguns professores da Universidade de Coimbra), todos devemos viver com o que de mau e de bom (e não foi pouco, até ao final da II Guerra Mundial) o Estado Novo teve em si.

Repito, a propósito, um dos exemplos que mais me impressionou: o Museu Militar austríaco, em Viena, dedica uma secção muito bem organizada ao holocausto causado pelos nazis. Hitler, rezam as crónicas, era austríaco e deambulou por Viena, pelo que impressiona a forma como por lá se lida com um monstro que não pode dar azo sequer à menor comparação com Salazar, sem que isso torne este num santo homem.

Num plano diverso, quem vá a Kiev pode visitar o Museu de Chernobyl (embora o dito não seja fácil de encontrar, mesmo para os taxistas…) e ficar impressionado não só com a dimensão da tragédia, mas também com a forma assumida e pedagógica como os ucranianos lidam com aquilo que, já não há dúvidas, foi um erro de concepção de uma central nuclear soviética que, desde logo, não previa todos os mecanismos de segurança possíveis, por razões economicistas.

O mesmo, digo eu, pode e deve fazer-se em relação ao Estado Novo e à memória do Professor de Santa Comba: organizar um museu pedagógico (pelo que, para não ser uma coisa incipiente, devem celebra-se protocolos, por exemplo com a Universidade de Coimbra e com a Torre do Tombo) que fale do que de certo e de errado se fez naqueles tempos.

Já passaram mais de 30 anos sobre o 25 de Abril, sendo altura de vencer os complexos e a propaganda de uma esquerda incapaz de renovar as suas bandeiras, e isto sem que deva esquecer-se a memória dos que foram vitimados pelo Regime. Eu acho, bem ao contrário dos manifestantes “anti-fascistas” (já escrevi também que o que houve em Portugal só generalizando ou por ignorância pode designar-se por fascismo), que o dito museu pode, preservando património relevante, servir para relembrar os erros e as vítimas dos mesmos, a par dos sucessos e dos que julgaram servir a Pátria (acredito que, por vias erradas, tenha sido esse o desiderato do prof. Salazar, entre muitos outros dignitários da II República).

O que já me parece a raiar a palhaçada, como disse no início desta prosa, é o comportamento de parte dos manifestantes que saíram à rua, no penúltimo fim-de-semana.
Por um lado, a iniciativa não pode servir para glorificar António de Oliveira Salazar, sem discutir ambos os lados da sua actuação. Fazê-lo recorda-me da ocasião em que visitei Gori, na Geórgia. Trata-se, nem mais nem menos, da terra natal de Estaline, onde a avenida principal ainda tem o seu nome, uma praça central ostenta uma enorme estátua do cruel governante soviético (cfr. fotografia) e o museu que lhe é dedicado se limita a mostrar recordações do ditador, como as casas que habitou na infância (transladadas) e a carruagem de comboio que o levou a Potsdam. Creio que é nesta falta de espírito crítico que não podemos incorrer, em Santa Comba Dão, sem que, mais uma vez, veja a menor possibilidade de comparar Salazar, neste caso, a Estaline.

Pelo lado dos manifestantes que desfilaram de cravo em punho, descontada a provocação descarada às gentes locais (que, aliás, entendo que só funcionou contra os primeiros, se a ideia era que se não fizesse o museu) e eventuais casos de sofrimento pessoal ou familiar, parece-me que a tentativa de branquear a História recente denota, ela sim, tiques de estalinismo serôdio e saudosismo do sonho pós-Abril de instaurar uma ditadura marxista-leninista em Portugal, que o PCP alimentou (antes de começarem com as aleivosias contra o que digo, recordo apenas aos mais fanáticos que, já em 1991, os comunistas portugueses foram dos poucos que se solidarizaram com o golpe que visava depor Gorbatchev, e que foi encabeçado por Ghennadi Ianaev, com a oposição bem sucedida de Ieltsin).Nisto como noutros assuntos sensiveis, há que defender a objectividade e o rigor cientifico, vogando para o futuro, em vez de regressar ao passado...

sexta-feira, 9 de março de 2007

Um ano de cooperação estratégica

Cavaco Silva celebra hoje um ano como Presidente da República.
A prestação é claramente positiva, tendo sido criado um clima de confiança em torno do Presidente da República, que é a figura máxima do Estado.
As decisões estratégicas, regra geral, não devem ser analisadas no curto prazo.
Não se pense que foi um ano fácil, com a lei das finanças locais e regionais, IVG, e com a demissão de Alberto João Jardim.
No entanto, Cavaco Silva continua no auge, com uma performance que corresponde claramente às expectativas por si criadas.


MARQUES MENDES

«Faço um balanço positivo do primeiro ano de mandato presidencial. Acho que o Presidente da República tem sido factor de estabilidade, de esperança e de coesão nacional. Tem sabido agir de acordo com os compromissos que assumiu com os eleitores e em consonância com as exigências e expectativas dos Portugueses. E isso é muito importante para a credibilidade da vida nacional.»

FRANCISCO LOUÇÃ

«Só posso fazer uma breve avaliação porque o primeiro ano é o mais incaracterístico. Foi um ano de grande cooperação com o Governo: na lei das finanças locais e regionais, na agenda social. A direita, de que Cavaco é líder histórico, tem dois dogmas culturais: um é a liberalização e o outro a visão conservadora sobre os direitos das mulheres. E por isso é que só em 2007 é que se conseguiu resolver a questão da criminalização do aborto e a da Lei da Paridade. Considero natural que o eleitorado socialista que se identifica com o Governo apoie o Presidente da República».

JERÓNIMO DE SOUSA

«Este primeiro ano de exercício tem sido marcado pela flagrante contradição entre a 'cooperação estratégica' com o Governo, apoiando e estimulando políticas de direita que geram exclusões e injustiças, e a manifestação de preocupações sociais com a promoção de roteiros de inclusão, no País da União Europeia com menos justiça social e menos justiça na repartição do rendimento! No entanto, sabendo-se do seu pensamento neoliberal e daqueles que o rodeiam, era importante a clarificação do seu entendimento quanto às reformas na economia, nos direitos sociais e laborais ou relativas à configuração do Estado.»

MANUEL ALEGRE

«Como estamos numa situação de crise económica, o País entendeu que era preciso em PR que percebesse de Finanças. O que eu acho é que, independentemente disso, a nossa maior força são os valores históricos e culturais. Essa dimensão é necessária na Presidência. Um PR tem de ter uma visão estratégica do País e tem de perceber que a afirmação desses valores é importante, até para a Economia. E para a auto-estima.»

terça-feira, 6 de março de 2007

Atenção ao cachopo


Cá para mim, boa pop...

Avestruz banida do Chile

A notícia tem, mais ou menos, um mês, mas é de referir, agora que parece que o aborto é coisa do passado, com as águas apenas agitadas pelo processo legislativo e pela questão de saber se a consulta de dissuasão será ou não compulsiva.

Sempre disse e repito que, sendo favorável à despenalização, sê-lo-ia como plano de contingência, havendo que apostar massivamente na prevenção da gravidez indesejada, designadamente na adolescência, em que os nossos números (a par dos das teenagers de Sua Majestade) puxam para o terceiro-mundismo...
Ora bem a notícia de que falo tem a ver com a decisão política da Presidente do Chile, Michelle Bachelet, de, mesmo contrariando o Tribunal Constitucional, permitir às adolescentes a partir dos 14 anos aceder à contracepção de emergência (leia-se, pílula do dia seguinte), sem autorização dos pais. O requisito a cumprir, quando o pedido é feito nos serviços públicos, é aceitar uma consulta de aconselhamento, o que me parece equilibrado e adequado.
Não vale a pena fingir: a sexualidade começa bem mais cedo do que há 20 anos atrás, cá como na América Latina!
Com um plano estruturado, há que enfrentar o problema, da mesma maneira como deve pensar-se a globalização de comportamentos, em geral; mais do que resistir serodiamente devemos aproveitar as boas oportunidades das novas formas humanas e tecnológicas de comunicar.

E para os conservadores mais autistas limito-me a sublinhar que se trata de UMA presidente, não se tratando de uma visão libertária de infrenes machos latinos. Em Santiago já não se enfia a a cabeça na areia.

domingo, 4 de março de 2007

O sonho do oriente

A “Just Leader” deste mês dá um destaque de duas páginas, lá para meio da revista, ao gigantesco crescimento da China.

Os indicadores macroeconómicos desta nova China são tão impressionantes que se torna impossível não reparar neles, com uma performance de fazer inveja a qualquer país desenvolvido, com a sua economia a crescer a dois dígitos, valorização da moeda e forte liquidez.

Obviamente que para tudo isto muito contribuíram as inúmeras privatizações em vários sectores onde o Estado era o único player e as reestruturações ao nível do tecido empresarial, empurrando o país para a integração no mercado global.
Uma qualquer primeira análise aos indicadores apresentados, diria que ali moram as melhores oportunidades de investimento estrangeiro, não estivéssemos a falar da China.

Ora, o facto é que falando da China, falamos de enormíssimas barreiras à entrada de players estrangeiros em muitos negócios, aliados a consumidores cada vez mais exigentes (fruto do seu desenvolvimento), concorrentes fortes e divergências culturais acentuadas.
Ao ler o artigo, dei comigo a pensar num conceito introduzido por um dos expoentes máximos no estudo da internacionalização das empresas na vertente comportamentalista, que é a escola de Uppsala, na Suécia.

Colocando de parte os indicadores macroeconómicos, os investigadores de Uppsala introduziram o conceito de distância psíquica/psicológica na decisão de internacionalização das empresas, em que a incerteza quanto aos mercados estrangeiros está relacionada com a distância psíquica, ou seja, quanto maior for a diferença entre o país de origem e o país estrangeiro em termos de desenvolvimento, nível e conteúdo educacional, idioma, cultura, sistema político, entre outros, maior será o grau de incerteza, e que a falta de conhecimento do mercado é um factor que pesa no processo decisório de investir no exterior. No entanto, uma das críticas à referida escola é a de há uma crescente homogeneização das culturas, gostos, instituições e padrões de vida, inerentes ao processo de globalização.

Digo isto porque, se na vertente macroeconómica a China está numa situação de pôr os olhos em bico a qualquer investidor estrangeiro, na vertente comportamentalista ainda há um longo caminho a percorrer.

sábado, 3 de março de 2007

O intento estratégico de Portas

Não sendo eu um analista político nem tendo aspirações a tal, visto que já não “brindo” o “lodo” com umas linhas há já algum tempo, porque não voltar à carga e logo com um tema actual e susceptível das mais variadas interpretações?

Sendo consensual a mais valia intelectual e política de Paulo Portas, não me parece, por muito amor que tenha à causa, que o actual estado do CDS por si só justifique o seu regresso, ainda para mais com o “positivo” passado recente.

A verdade é que Paulo Portas vê aqui uma oportunidade única de crescimento significativo do seu partido e que não há ninguém melhor do que ele para estar na linha da frente.

Muitos analistas falaram da viragem do governo socialista para o centro direita e entrada deste no eleitorado social-democrata, criando aqui um nicho de mercado a aproveitar pelo CDS que, em contraponto com uma “eventual” descida do PSD, se tornaria no único partido de direita a subir nas intenções de voto e eventualmente, com aspirações de se tornar no principal partido de oposição.

Não me parece que a visão seja assim tão linear, no entanto, importa ao PSD reflectir sobre o intento estratégico de Portas, a que infelizmente não me parece alheio.

E por aqui me fico…

sexta-feira, 2 de março de 2007

A defesa impossível

Anda a política a tons de laranja tão desinteressante que mais vale mesmo passarmos o tempo entre a arte, o desporto e os assunto sociais...
Dito isto, acrescento que não ficaria bem comigo se não deixasse uma palavra de admiração para aquele que considero o melhor e mais espectacular (desporto, para mim, também é feito disto) guarda-redes português, agora desaparecido.
Sou, sem hesitação ou dúvida, 200% da Briosa, mas não me custa confessar uma forte simpatia secundária pelo Benfica.
Andava eu na escola primária (que me desculpem os tipos que, ano após ano, desgraçam a Educação, queria dizar "primeiro ciclo do ensino básico". As palermices que se inventam para dizer que há reformas...), e jogava na luz a equipa do SLB que contava com Bento, Veloso, Bastos Lopes, Humberto Coelho, João Alves e Nené, entre outros (a que se juntariam Diamantino, Álvaro, Carlos Manuel, etc...). Os meus preferidos eram o nº1 (Bento) e o nº7 (Nené).

Lembro e guardo a edição especial da revista francesa de futebol "Onze", que foi dedicada ao Benfica e na qual aparece uma fotografia a página inteira de Bento com a legenda "o guardião espectáculo".
Mesmo quando falhava, parece que o fazia com um carisma que levava os adeptos a perdoar instantãneamente. Ele era o 1-4 frente ao Liverpool e a "joga" do outro mundo frente à França, no Euro 84, onde só um deus defenderia mais e melhor... E o contentamento que, numa entrevista recente, Bento mostrou quando, alegadamente e numa converda a dois, Manuel Fernandes lhe reconheceu que encenara o aparato da queda que levou à expulsão do keeper encarnado, num célebre jogo frente ao Sporting...
Grande figura... Grandes momentos...
Esta semana, Bento não conseguiu defender. Perdemos todos...

quinta-feira, 1 de março de 2007

Estou velho...

O que eu pensei antes de escrever este texto...
Porém, eis a primeira confissão: a coberto do relativo anonimato da sessão da meia-noite, lá fui ver o sexto filme e epílogo da saga do Italian Stallion, Rocky Balboa (iniciada em 1976).
E as memórias que são recuperadas da adolescência, altura em que, entre outras coisas, me empolgava com coisas destas... Primeira ilação: tudo tem o seu tempo certo, querendo eu crer que não entrei numa espécie de andropausa cinematográfica, mas antes tive um momento de nostalgia...
O primeiro filme da saga que vi no grande ecrã - o do desaparecido Teatro Avenida (daqueles com plateia, 1º e 2º balcão e camarotes, lembram-se do género?...), em Coimbra - foi o Rocky IV (1985), talvez a sequela que oferece um case study mais interessante.
Basicamente, a história roda à volta da decisão de Rocky Balboa (Sylvester Stallone) de, na sequência da morte no ringue do seu amigo e ex-adversário Apollo Creed (Carl Weathers), aceitar o que antes recusara: enfrentar o capitão (não eu, sublinho, posto o que o resultado seria diferente) do exército soviético Ivan Drago (Dolph Lundgren), em Moscovo, se me não falha a memória, na véspera de Natal.
Para os amantes da ciência política, embora serôdio, este exercício de propaganda não deixa de ter o seu lugar na História (relembro que viviamos os últimos anos da guerra fria), não podendo deixar de esboçar um sorriso quando lembro o palco (o coração do inimigo), o dia (basta pensar que a religião era o ópio do povo e que, mesmo que assim não fosse, o Natal russo comemora-se em Janeiro e não a 24 e 25 de Dezembro) e as condições de treino (Rocky corre nas montanhas russas e trabalha num estábulo, enquanto Drago corre em pista coberta, tem máquinas sofisiticadas, é electronicamente monitorizado e, criação do "homem novo" oblige, convenientemente injectado com esteróides).
Não obstante, guardado estava o bocado para o dia do combate, no qual as forças do bem (entenda-se, E.U.A.) vencem o império do mal (com o devido respeito pela memória do dr. Cunhal, leia-se, U.R.S.S.), já que Rocky derruba o colosso soviético, com direito a um discurso estilo catequese, no fim da refrega, no qual, entre outras pérolas, o campeão americano fala do fim do ódio e da possibilidade de mudança interior que cada individuo teria em si (liberalismo vs. socialismo, versão kitsch), com direito a aplauso da multidão, que o recebera com apupos, e do próprio politburo!!! E ainda há gente que recorre a alucinogénios...
Tudo isto orquestrado com sons épicos como Eye of the tiger (Rocky III e IV) e Burning heart dos Survivor, Living in America de James Brown e os instrumentais, para exemplificar.

Baixa qualidade?! É provável...

Propaganda descarada e "barata"?! Quase de certeza...

Marco de uma época em qua ainda se aplaudiam as vitórias dos "bons" nos cinemas e em que não tinhamos que gramar o rilhar das pipocas e a luz dos telemóveis?! Sem dúvida.

Um sorriso final de simpatia e nostalgia :)