quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Tourear a crise com o regresso aos mercados e Leonardo Jardim



Duas notícias marcam a atualidade: o regresso aos mercados e as informações vindas de Atenas sobre Jardim - o conquistador madeirense (não confundir com o Alberto).

Enquanto a primeira se revela pela importância nacional que evidencia, a segunda também tem merecido destaque jornalístico, é que apesar de não ser o campeonato grego não deixa de ser uma conquista portuguesa.

Mas comecemos pelo regresso aos mercados. Mais paulada menos paulada nunca tive grandes dúvidas que iríamos regressar. E desde já vos digo que também não duvido que o ajustamento orçamental será feito. Agora, tenho dúvidas é em saber que país teremos depois de todo este processo.

O regresso, antes do previsto e quando poucos o previam não deixa de ser uma vitória dos portugueses que têm vindo a fazer um esforço desmesurado para endireitar um país que foi deixado em estado comatoso. É verdade que não terá repercussões na carteira dos portugueses a curto prazo, mas o caminho faz-se caminhando e ontem foi dado um passo importante no sentido certo.

É que apesar de todas as virtudes técnicas que a operação acarreta para o financiamento da nossa economia, há outro aspeto muito positivo a realçar, que é o acrescento motivacional que expeliu a um povo descrente, cético e a poucos dias de aferir o real impacto “do brutal aumento de impostos” que as novas tabelas de IRS acarretam.

Quanto a Leonardo Jardim, decidiu viajar para Grécia e dedicar-se à tauromaquia, confiando no que vem sendo dito e escrito. Diz-se que a esposa do chairman do clube grego que paga o ordenado ao Conquistador não terá resistido à farta e esbelta cabeleira do coach insular.

Aparte a estupidez de estragar uma carreira que até prometia sucessos maiores, todo este enredo (acrescentando a crise cravada em todos nós) recorda-me uma história (com algumas adaptações deste vosso criado) de dois amigos, um português e um grego, que foram largados em plena arena numa praça de touros.

Depois, é solto um touro com 500Kg de porte que começa desde logo a correr em direção aos dois aliados, que se põem em fuga pela arena. Pelo caminho surge uma voz vinda do além que consegue perguntar ao português se está a tentar correr mais que o touro, ao que o “portuga” responde que quer é "correr mais que o grego”.

sábado, 19 de janeiro de 2013

As Idades do Mar ::: Gulbenkian



Antes mesmo que o IVA sobre a Cultura aumente - o relatório do FMI que saiu ontem dá indicações para que o imposto sobre eventos culturais seja de 23%, pois considera tratar-se de «bens que não satisfazem as necessidades básicas» -, ide ver, enquanto é tempo, a soberba exposição que está (até dia 27) na Galeria de Exposições Temporárias da Gulbenkian.

Intitulada «As Idades do Mar», esta exposição conta com mais de uma centena de obras de artistas como Monet, Manet, Turner, Paul Klee, Paul Signac, Gustave Courbet, e também de portugueses como José Malhoa, João Vaz, Vieira da Silva e Amadeo Souza-Cardozo. 


É uma espécie de viagem marítima pelos tempos, pois todas as obras que ali se reúnem têm o Mar como elemento fundamental. Estão expostas de acordo com um critério temporal/temático, dividas por isso em vários núcleos: «A Idade dos Mitos» é dedicada às maravilhas e aos demónios do mar, enquanto «A Idade do Poder» retrata o mar como palco de grandes batalhas económicas e políticas, com as potências marítimas europeias em destaque nas telas. Holanda, Inglaterra, França e Portugal à conquista do mar, levando mercadorias, ideias e modos de vida para outras terras.

Por sua vez, «A Idade do Trabalho» desvela-nos representações de cidades portuárias, locais onde a relação mar-homem/trabalho é inevitável.  Já a fúria do Mar e as perdas que encerra encontram-se retratadas nas obras reunidas sob o subtítulo de «A Idade das Tormentas». Por fim, «Da Idade Efémera à Idade Infinita» é composta por telas que se enchem de banhos, pores do sol, pescadores, viagens e todo um quotidiano em redor da paisagem marítima.

Em suma, por apenas 5€ - ou menos se aproveitarem o cupão que vem no jornal Público com a edição de quarta a sábado - podem ver uma das melhores exposições que se tem visto em solo português.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A dinâmica temporal tem destas coisas



Esta imagem das antigas piscinas municipais de Coimbra circula pelo facebook há algumas semanas, somando milhares de likes e centenasde partilhas, tornando-se num verdadeiro caso de sucesso na rede de Zuckerberg.

Aquela zona da cidade sofreu profundas alterações no âmbito da participação no Euro 2004. Presentemente, lá convive o Dolce Vitta com uma zona residencial, estando mais abaixo o novo estádio municipal, que nos endividou por gerações.

Felizmente, os dirigentes políticos da altura tiveram a visão e a inteligência em não cometer o erro de deslocalizar o estádio para a periferia, como fizeram outras cidades, encontrando-se agora a braços com os financiamentos bancários a pagar por um lado, e com a necessidade de alimentar os “elefantes brancos” por outro. Estádios com “rodinhas” ainda não foram engendrados, por isso, esta era das tais decisões onde era imperativo acertar. Não podiam falhar.

Mas a estratégia de rentabilização da zona envolvente também merece realce. Valorizou-se o lazer, promoveu-se a formação e a prática do exercício físico, com boas taxas de ocupação. Foram facultadas novas oportunidades de negócio, constituindo uma ação socio-cultural relevante e atrativa.

Mais importante ainda, deu uma caráter hedonista ao desporto na cidade. Não são distantes os tempos em que para se fazer desporto era preciso pertencer ou estar federado num clube. Presentemente, e particularmente devido ao esforço feitos pelas câmaras municipais (com a comparticipação de fundos comunitários, é certo), a prática do desporto, em várias modalidades, simplesmente pelo lazer ou pelo bem-estar físico tornou-se uma possibilidade ao alcance de todos, em vários municípios.

Mas voltando às antigas piscinas municipais que a fotografia ilustra.

Era muito forte a ligação entre a cidade e aquele espaço, quiçá esteja aí a explicação do “sucesso facebookiano”.

Até há cerca de uma década atrás, altura em que foram demolidas, a cidade toda por lá passou! Julgo não exagerar se disser que meia urbe terá aprendido a nadar naquelas piscinas.

Mas não foi só o aprender a nadar. Ali aconteceram amizades e “paixonetas” de verão. Motivou gazetas à escola para ir dar umas braçadas na piscina olímpica. Foram muitas e para muitos as “tardadas” ao sol e à conversa nas “míticas” bancadas, ou na relva do outro lado. Foram gastos muitos escudos em gelados no bar, ou na “ficha” que nos era dada sempre que guardávamos a roupa nos balneários.

Aquelas piscinas escondiam muita juventude desbravada, daí a nostalgia evidenciada não me surpreender.

Porventura terei ficado surpreendido com alguns comentários à fotografia, especialmente aqueles que aportaram a qualidade do caminho entretanto tomado pela cidade neste domínio.

O caminho, esse, estará ligado à dinâmica temporal, que tem destas coisas.

Mas a saudade será porventura mais acentuada ainda porque há época, tínhamos apenas as antigas piscinas municipais e uma piscina coberta em Celas, com uma capacidade limitada para as necessidades de uma cidade como Coimbra.

De lá para cá houve um caminho que foi trilhado. Atualmente, ao nível de infraestruturas cobertas: continuamos com a piscina de Celas, mas passámos também a ter os Complexos: Olímpico (COP), Rui Abreu (RA) e Luís Lopes daConceição (LLC).

Quanto a piscinas descobertas, construiu-se a da margem esquerda do Mondego. Mas também a do Parque de Campismo e da Quinta de S. Jerónimo, todas espaços públicos de acesso geral.

A nostalgia será natural e confesso ser mais um que a partilha.

Agora, acompanhado o percurso feito nestes últimos 12 anos,queria fazer uma pergunta muito simples ao caro leitor: Ainda quer as antigas piscinas de volta?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Três momentos

Não sei se o ano (20)13 é de azar, mas será, com certeza, de mal-estar.

Depois de, na minha mais recente deambulação lusa, ter aproveitado para beber sabedoria das palavras de alguns dos mais ilustres e habilitados dos meus amigos, creio que posso sintetizar em três momentos o pensamento daí construído relativamente às apreensões que tenho para 2013.

Assim, o primeiro momento poderá ser denominado como social e situa-se entre o final de Janeiro e o final de Fevereiro, prendendo-se, claro está, com a real percepção que vamos ter do que significa em dinheiro a mudança de escalões do IRS e a sobretaxa a pagar. Curiosa foi a opinião de um dos citados interlocutores que me dizia que a diferença do valor recebido seria, em muitos casos, de poucas dezenas de euros, se tanto. Não fora o lado trágico e até teria achado alguma piada à observação; todavia, o facto é que vinte euros podem significar algumas refeições para pessoas que, em não raros lares, esticam o que não é elástico para pagar dívidas elementares, como são as que dizem respeito a água, luz e gás.

Num segundo momento, não muito mais adiante, este de cariz político e económico, saberemos o que tem a dizer o Tribunal Constitucional sobre a conformidade do Orçamento do Estado ao nosso texto fundamental. E o problema nem será uma eventual discordância jurídica dos Juízes – algo que, a acontecer, tem bastos apoios na comunidade académica, pelo que se lê e ouve – mas sim o que significará um possível “chumbo” em termos políticos – a oposição não deixará passar o ensejo de capitalizar o momento – e, ainda mais, em matéria económica. Quero com isto dizer que se aquele ditar a inconstitucionalidade de alguma ou algumas das questões sub júdice, será mais do que certo que será a já exaurida bolsa dos portugueses a coutada de caça dos milhões que ficarem a faltar.

Aos protestos usuais haverá a somar o facto de o futuro líder da UGT, Carlos Silva, ter já defendido o fim dos acordos com o Governo e patrões, prometendo poucas possibilidades de concertação social, ao invés do que, apesar dos dissensos, tem sucedido com João Proença, o actual Secretário-Geral. Seja ou não desta vez que se juntam CGTP e UGT, o termómetro social vai subir no registo da contestação.

Por fim, aguarda-se com incerteza o momento partidário que se situará, como está bem de ver, nas eleições autárquicas de 2013. Será um eventual desejo de castigar os partidos da maioria (a que não escaparão muitos, apesar das sucessivas demonstrações de que não há, de momento, alternativa à austeridade) mais forte do que o valor dos candidatos? Cá para mim tenho como quase certo uma abstenção enorme, independentemente dos desfechos dos vários sufrágios.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Quanto vai custar o medo em 2013?


Portugal precisa dar uma grande volta, a começar pelo medo instalado, que é transversal e nos leva ao insucesso nacional. No meio de tantas variáveis, estudos e relatórios que ouvimos falar ainda está para vir alguém explicar quanto custa o medo em economia? Uma sociedade dominada pelo medo não investe, não aposta, não se desenvolve.

Todos nós quereríamos governantes do tipo Macgyver, que conseguissem transformar caixões em jet-skis. Porém, à falta deles, era só o que faltava termos políticos que cultivem o medo e provoquem sucessivas avalanches. Isso seria a subversão completa do papel do Estado, onde o sinal que se transmitia era que não valia a pena investir em Portugal.

Vem isto a propósito do polémico relatório do FMI sobre a reorganização do Estado. Pedro Mota Soares, ministro indicado pelo CDS foi dos primeiros a colocar em causa a credibilidade do estudo. António Capucho escreveu no seu facebook que ficou “indignado com o teor”. Carlos Carreiras, alcaide de Cascais veio defender a demissão do Secretário de Estado Carlos Moedas, que entendeu dizer com toda a propriedade que era um trabalho “muito bem feito”.

Já percebemos que o coro de críticas irá muito além. À esquerda haverá naturalmente demagogia política escondida atrás de blocos, de foices e martelos. Mas também falta de comparência do PS, partido que nos levou ao estado caótico em que nos encontramos, naquele que será, porventura, o debate mais importante alguma vez feito na nossa história democrática.

A procissão vai no Adro, ainda muito será escrito e dito, mas desconfio que a montanha voltará a parir um rato. Ninguém quer cortes, está certo! Mas então não podemos ser contraditórios e há que reconhecer que o Estado como o conhecemos está excelente. É o chamado custo de oportunidade, com tudo o que daí advirá.

Até lá, não tenhamos medo de 2013! Sucesso e bom ano a todos.