domingo, 6 de janeiro de 2008

Quem ganhou o Lisboa-Dakar?



A edição deste ano do mítico rally nem sequer teve início, mas houve claros vencedores.
Razões de índole política, de segurança, de patrocínios e afins ditaram o cancelamento da prova.
Uma vitória, inequívoca, do terrorismo.
E um precedente que poderá ter as piores consequências, mormente, em vésperas do Mundial de Futebol, pela primeira vez, a ter lugar no continente africano.
A mim, confesso, o cancelamento do evento (perdoem-me o tom popularucho) não me aquece, nem me arrefece.
Contudo, soa-me a qualquer coisa estilo “se não os podes vencer, junta-te a eles”.
E se há coisa que me perturba, isso sim, é ver o Ocidente a ser conivente com o terrorismo, como que a agraciá-los com o primeiríssimo lugar no pódio.
Citando um habitué deste blog: "Depois falamos"...

8 comentários:

Gonçalo Capitão disse...

Concordo plenamente contigo, Dulce. Como diria o, na altura, Deputado Henrique Chaves: "estamos de cócoras" ante o terrorismo.

Já isso de citares um adepto do Vitória de Guimarães nesta "casa" de bem vai valer-te um processo disciplinar. És o nosso Katsouranis...

Dulce disse...

Bem, se me comparas ao grego... deduzo que "estou de abalada".. (!!)
Por esta não esperava, Digmo Administrador do LODO, SAD!! ;)

Gonçalo Capitão disse...

Basta que moderes qualquer apreço por vitorianos, leirienses ou figueirenses e continuarás no merecido lugar de estrela da companhia! ;)

Como viste, o meu modelo democrático foi bebido no daquele moço russo... Vladimir, acho eu...

freitas pereira disse...

A anulação do Lisboa-Dakar pode ser analisada sob prismas diversos : o poder do dinheiro corruptor que permite de fazer passar a caravana pertardarante e poluidora no meio de paisagens grandiosas, atravessando aldeias e países de um outro mundo, polvilhando –os de esmolas neocolonialistas, que só dispõem das armas para se opor a um modelo de civilização completamente embrutecido pela publicidade e o circo; ou que os tempos que passam já não estão para desperdiçar o petróleo em futilidades e que por conseguinte as gerações futuras serão muito criticas para connosco por termos esbanjado uma energia tão rara para nos distrairmos. Ou ainda que assistimos neste caso a vagos rancores post-colonialistas.

Tudo isto pode ser considerado e mesmo o facto que quando se corre um Paris-Dakar se correm riscos que ninguém ignora ou não pode ignorar. Noutros tempos, o Paris-Pequim assim era, os riscos eram de varias ordens nos países instáveis, alguns, que a caravana Citroen atravessava.

O que podemos lamentar, realmente, é que esta anulação fez uma publicidade extraordinária à Al Qaida, e que esta decisão isola cada vez mais a África maioritariamente muçulmana, com tudo o que isso implica como represália sobre populações que não o são e isto com o fim de provocar o choque das civilizações que reclamam os extremistas religiosos.
Mesmo se não se gosta do Paris-Dakar, como é o meu caso, de que direito se deixa uma organização criminosa fazer a chuva e o ...mau tempo sobre a terra !

Freitas Pereira

Gonçalo Capitão disse...

Amigo Freitas Pereira:

Enquanto não nos reencontramos, vamos pondo a conversa em dia por aqui e quase sempre com a gostosa mediação da Dulce.

Concordo com o final do que diz.
Porém, no que toca à futilidade da prova e às esmolas a África, nem tanto.

Para começar, eu, que nem aprecio desporto automobilístico, entendo que uma competição desportiva mediatizada não é em si fútil. Não é pecado entreter e o combustível que se gasta pode bem ser poupado com o aumento de eficiência energética em alguns lares ou meia-dúzia de grandes fábricas. Ou seja, até pode ter razão, mas acha mesmo que é por aí?!

Quanto à esmola colonialista, a dança é outra... A verdade é que não podemos andar até ao ano 3000 a rasgar as vestes em sinal de indignação. É certo que o "fardo do homem branco" deixou feridas profundas no continente africano, mas que dizer dos tiranetes que se apropriam da ajuda internacional e das divisões étnicas artificialmente estimuladas pelo "dividir para reinar"?!

O que quero dizer é que temos ajudado muito e que podemos ajudar muito mais, mas que, na minha opinião e nos dias de hoje, a culpa já não é assim tão nossa...

GC

Gonçalo Capitão disse...

Ó Dulce, por que é que tiraste a foto da muçulmana fundamentalista com que, inicialmente, ilustraste o texto?

Achei genial...

Ou estarei a delirar???...

Dulce disse...

Não, Gonçalo, (ainda) não estás 'cheché' ;)))
Por razões puramente estéticas decidi retirá-la, mas acabei de repôr a imagem - qual súbdita diligente - agora que o Sr. Administrador me instou a tal. ;)

Também subscrevo inteiramente o último parágrafo do comentário do Sr. Freitas Pereira.
Quantos aos demais, parece-me exagerado considerar a competição uma afronta ao continente africano. Não se lhe acrescenta nada de muito valioso - talvez ganhem uns cobres, se deliciem com a caravana a passar e, quando muito, beneficiem de alguma promoção turística - mas creio que também não se lhes retira nada. Não são mais pobres e mais subdesenvolvidos por um rally usar como cenário um continente pobre, mas com o qual a mãe natureza foi generosa.
E quanto à natureza, não sou perita, mas parece-me igualmente exagerado considerar que um rally é uma atentado àquela.

freitas pereira disse...

A Dulce e ao Amigo Gonçalo ( o sitio onde devíamos ir comer as tartes aux mirtilles está coberto de um manto de neve de 2,5 metros. Temos que adiar...)

Os dois aspectos do meu comentário que mereceram a vossa análise são evidentemente diferentes.
A poluição do Parris-Dakar é um problema mais vasto que aquele que os média indicam. Não são só as 22.000 toneladas de Co2 em quinze dias, porque na realidade Sarkozy “exportou” para a atmosfera a mesma quantidade num fim de semana de férias com a Carla no Egipto (três aviões), ida e volta. E é a mesma quantidade para um Formula 1 em Mónaco!

Mas são os poços de agua contaminados por aqueles que fazem arrefecer os motores com este precioso liquido, deixando à passagem óleo e amianto nos poços, que existem todos os x quilómetros que podem ser centenas.
São os destroços abandonados no deserto, quando corre mal. São a lixeira nos campos. Como nos campos de base do Himalaia! Este género de atitude não é imaginável na Europa. Poluir na África parece normal para muita gente.
Claro que, como escreveu a Dulce, as crianças e os adultos apreciam esse turbilhão colorido que atravessa as aldeias a grande velocidade( mas que custa caro à população, porque em trinta anos = 53 mortos, sobretudo crianças (dois no ano passado).Sem contar os 17 participantes que também ai deixaram a pele , incluindo o primeiro organizador da prova (Roger Sabine).
Eu tive a sorte de ver passar a caravana em Agades há uns vinte anos. Mas era ainda o tempo dos “mordidos” das Yamaha 500, dos monocilindros que se reparavam quase sem nada. Eram todos uns “potes” amigos, sem pretensão. Com orçamentos pessoais muito reduzidos.

Com a princesa de Mónaco, Johnny Halliday, Claude Brasseur e outras estrelas do show-bizz gente de bem da sociedade europeia, o mundo do Dakar transformou-se.
A maquinaria também mudou. Hoje é um pouco de tudo, mas sobretudo potentes máquinas e monstros absurdos, camiões, helicópteros e hospitais de campanha. Um grande circo, em suma. Cheio de dinheiro, atravessando países miseráveis; e a Mauritânia está na cauda precisamente.
Claro que as crianças recebem alguns stylos, cadernos e rebuçados à passagem. Mas nem uma escola ou dispensário foram construídos pela organização, embora algumas bombas de água tivessem sido distribuídas.
"Amaury Sport Organisation não é uma organização humanitária ou ecologista, mas uma empresa com obrigação de resultado financeiro .Portanto tem de ser rentável.
Por isso nenhuma escola ou dispensário foram construídos .

Este quadro traz-nos ao segundo ponto: o da influência do islamismo nestes países muçulmanos da África. Já o dissemos varias vezes, os “tiranetes”, os mestres corrompidos (corrompidos por quem?) que esbanjam o dinheiro que lhes damos e o que roubam ao próprio pais são os verdadeiros culpados da influência da Al Qaeda. Para o verificar é só ir muito pertinho daqui, a Tanger e Melila, é ver os bairros miseráveis que servem de base ao terrorismo e à emigração para a Europa. A terra da miséria é fértil para Al Qaeda. E se um emissário desta explica aos miseráveis da Mauritânia que o orçamento do Lisboa-Dakar é o equivalente do orçamento “anual” do ministério da saúde no Mali, é fácil de adivinhar o resultado desta explicação.
A fibra do anti-colonialismo vibra fortemente. E creio, Caro Amigo Gonçalo, que não é realmente a farda do “homem branco” que excita esta gente, mas sim a sensação que esta pobre humanidade não tem futuro. Ao verem passar toda esta coorte de aventureiros ricos , até talvez não sintam mais que admiração . Mas alguém se encarregará de lhes dizer que tudo isso não é normal. Foi na Mauritânia onde eu vi as cabras comerem papel e ...folhas de alumínio!