quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A f(r)esta da música

A nossa cultura vai de vento em proa; ou seja, isto não corre nada bem…
Depois do fim das capitais nacionais da cultura e da desorçamentação brutal, temos o fim da “Festa da Música”, que ocorria, anualmente, no Centro Cultural de Belém. Basta recordar o último evento para perceber que era um êxito e uma aposta ganha na “democratização” da música clássica. Porém, a espada de Dâmocles pendia há muito, e caiu agora, pelas razões do costume: cortes orçamentais.

Isto já não falando no calvário que vai ser quando, ao fim dos dez anos (creio eu) contratualizados, o Estado for chamado a dizer se compra ou não a Colecção Berardo, visto que se antevêem valores exorbitantes. Se os ciclos se mantiverem, será o PSD a descalçar a bota (o que nem é tão injusto quanto isso, já que, em matéria cultural, também tem incontáveis culpas no cartório)...
O problema preocupa-me mais quando penso que é pela cultura que Portugal poderá manter a sua individualidade na torrente da globalização, como tenho escrito.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Café em chávena quente

Há coisas que não podem deixar de se rasgar. Uma delas foi esta página da revista "Pública" *, de 19 de Novembro.
Têm as simpáticas senhoras a missão de servir à mesa, num café de Santiago do Chile e, ao que li, nada de mais sério, descontada a caridosa tarefa de escutar desabafos de homens sózinhos, quando não é hora de ponta (salvo-seja).
O facto é que este género de estabelecimentos tem clientela, mesmo os que, como o da fotografia, não há serviços extra, na ementa.
Algumas ilações são, por isso, possíveis:
1. Os homens (mea culpa, com certeza) são mesmo fáceis de levar.

2. Andamos mesmo loucos da cabeça.

3. Não nos respeitamos suficientemente.

4. A Dulce e os que com ela abraçam causas (justas) em defesa das mulheres ainda têm muito a fazer.

De qualquer modo, o café sul-americano é bom, apesar de custar o dobro, nestes locais, dada a servidão de vistas.

* Que nos emprestou a fotografia, pese embora sem saber...

sábado, 25 de novembro de 2006

Tolerância ZERO

O título deste post pode parecer um contra-senso para os leitores mais atentos deste blog, que ainda há poucos dias me viram focar aqui o Dia Internacional da Tolerância. Abordou-se, na altura, o facto de ainda fazer sentido designar determinadas datas para sensibilizar a opinião pública acerca de problemáticas tão graves quanto preocupantes.

Fazendo então a ponte da ‘tolerância’ para o que deve ser intolerável:

Hoje, 25 de Novembro, assinala-se o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

E mais uma vez senti necessidade de focar uma data; a de hoje para para relembrar que em pleno séc. XXI, por esse Mundo fora, as mulheres ainda são vítimas de discriminações de toda a ordem e de actos de violência de toda a espécie.

Lembrar que a violência sobre a mulher é um fenómeno mundial, que ocorre numa variedade de contextos - não só nos países ditos subdesenvolvidos - atravessa fronteiras, religiões, classes sociais e que não se restringe à violência doméstica. A realidade é muito mais ampla – tráfico humano, violação sexual, discriminação laboral... enfim, uma lista (lamentavelmente) infindável...
Lembrar também que os dados ‘falam’ por si. Aqui ficam alguns mais recentes:

*Nos EUA uma mulher é violada a cada 90 segundos;
*Em 28 países de África a mutilação genital ainda é praticada;
*80% dos refugiados de conflitos comunitários, étnicos ou políticos são do sexo feminino;
*A cada três dias morre uma mulher vítima de maus tratos em França (dados revelados esta semana por uma ministra francesa);
*Em Portugal, 50 casos diários de violência doméstica chegam à PSP/GNR;

(Ver mais dados aqui)

Não foi por acaso que a ONU, em 1999, resolveu dedicar este dia como dia oficial do combate a uma das muitas violências que teimam em proliferar.
Um dia para lembrar, meditar e pensar de que forma nos podemos mobilizar contra uma das mais vastas e persistentes violações de Direitos Humanos.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

My name is Craig, Daniel Craig...

Aí está “Casino Royale”, a vigésima primeira aventura de James Bond.

Muitas críticas depois, dois dentes partidos, dias a fio no ginásio, alguns enjoos no barco e até queimaduras solares...
...aí está Daniel Craig reencarnando o espião mais sexy do cinema.

Efeminado, demasiado louro, parecido com um operário de Leste, pouco sofisticado, pouco bonito, pouco carisma... o rol de críticas era interminável quando o sucessor de Pierce Brosnan foi anunciado.

Contudo, hoje reúne elogios por parte da crítica cinematográfica. Foi ovacionado na ante estreia no Reino Unido e, imagine-se, até teve direito a um cumprimento da Rainha Isabel II, que fez questão de lhe falar pessoalmente!

Quem já viu diz que o sexto actor a interpretar James Bond não destruiu essa imagem de marca que Ian Fleming criou. E acrescenta que veste e despe muito bem o smoking...
Coisas sobre as quais de momento não posso opinar... só mesmo depois de ver o filme...

Mas uma coisa é certa: agrade ou não aos fiéis de 007, Craig retomará o papel do agente secreto mais famoso do Mundo já em 2008.

Francamente II

Sua excelência, o primeiro-ministro, quer aumentar o ordenado mínimo nacional para 400 €. Com 400€ por mês, depois de se pagar uma renda, a água, a luz e o gás quanto é que sobra para comida? Já nao pergunto pela roupa, pelos medicamentos nem, ousadia das ousadias, pelos livros!!!
Digam-me vocês onde é que vamos parar!

domingo, 19 de novembro de 2006

Francamente!...

A propósito de um motim numa prisão mexicana e da ulterior intervenção policial para lhe pôr cobro, acabo de escutar mais uma pérola jornalística, no noticiário vespertino da RTP1.

Dizia o relato da jornalista portuguesa que o ambiente ficou tenso assim que surgiram helicópteros com "franco-atiradores da polícia"...

Ora, passando a publicidade, o bom serviço do dicionário "Priberam" ajuda-nos, dizendo que um franco-atirador é "aquele que faz parte de um corpo irregular de tropas ou combate, por iniciativa própria, sem estar ligado ao exército legalmente constituído; guerrilheiro; membro de certas associações que têm escolas de tiro".


Quereria a jornalista dizer, por exemplo, atirador de elite ?! Nunca o saberemos, receio bem...

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Homens de saias

Na Conferência Episcopal Portuguesa, os nossos Bispos resolveram "comer a Dama" e pôr em xeque o régio direito a ter uma família.
Dir-se-ía que foi a coice de cavalo que nos fizeram cair da torre do progresso científico, convertendo-nos em peões de uma doutrina, cada vez mais, desfazada do que deveria ser uma moral prática para a pós-modernidade.
Em boa verdade sou dos que simpatiza com muitos postulados da ética católica-apostólica-romana, mas também não deixo de entender que não é com uma resistência cega às alterações (algumas para pior, concordo) que trouxeram os tempos que correm que se cativam as pessoas para seguir aquele que dizem ser o caminho do Senhor.
Casos como o do aborto seriam mais eficazmente tratados pela Igreja, se adequasse a forma de expressão e o modo de condenação. Porém, este é um dos casos em que mais facilmente entendo o irredentismo episcopal.
O mesmo se não passa com o facto de relativamente à procriação medicamente assistida os Bispos terem afirmado que utiliza métodos (legalmente permitidos, sublinha-se) que "constituem uma infidelidade, ainda que consentida" *. Falam suas eminências, como está bem de ver, da fecundação heteróloga (aquela em que, face à infertilidade, se recorre a óvulos ou espermatezóides de uma terceira pessoa). Confesso que há muito tempo não ouvia algo tão retrógado no mundo ocidental...
E depois sobra uma contradição lógica: não são estes os mesmos Bispos que entendem que uma mulher não deve abortar, pois sempre haverá carinho e dignidade para o nascituro?!
Ou seja, o importante é o resultado final e um ser humano em crescimento, certo?!
Sendo assim , o que os detém, neste caso? O simples facto de se usarem gâmetas alheios com o acordo de ambos os membros de um casal que querem trazer uma criança ao mundo e, deduzo, dar-lhe aquele mesmo carinho que devia (como um dos argumentos "contra"), dizem eles, banir o aborto?
Em bom rigor, o assunto em apreço não me levanta nem dúvidas, nem especial entusiasmo, mas não podia deixar de registar o quão moderno anda o mundo da sotaina e do paramento.
* Fonte: Diário de Notícias, de hoje.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Porque hoje é...

...o Dia Internacional da Tolerância, essa atitude/capacidade/virtude que é fácil de aplaudir, difícil de explicar e ainda mais dífícil de pôr em prática...
... fica aqui uma citação de Gandhi para reflectir:

"A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos"

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

"Percepções e Realidade"… by PSL

Foi apresentado, no passado dia 13 de Novembro, o livro por muitos esperado: "Percepções e Realidade". Este livro de Pedro Santana Lopes (PSL) vem certamente dar uma visão pessoal dos desenvolvimentos histórico-políticos que resultaram na dissolução do Parlamento, em 2004…
Claro está que não deixa de ser a sua visão pessoal, mas, mesmo assim, julgo ser importante, para quem acompanha de perto estes assuntos, reter esta opinião!!!

Eu sou da opinião de que o período de 2002 a 2006 da política portuguesa será alvo de um “Case Study” para quem se dedicar à ciência política, no futuro…

Mesmo para os menos atentos, é fácil perceber que não é normal que se agendem eleições antecipadas num país com uma maioria parlamentar e com uma grave situação económica em resolução…
Mesmo justificando esta atitude do Presidente Sampaio com a crítica fácil de caracterizar o Governo de PSL com “falta de competência”, isso torna-a ainda mais complexa. Senão vejamos:


Quais foram os critérios de avaliação de competência utilizado pelo presidente Sampaio ao primeiro-ministro em 2004, tendo este apenas um mandato de 4 meses??? Mandato esse confiado, por esse mesmo presidente…
Será que foram os mesmos critérios que o presidente Sampaio utilizou para avaliar, entre 1996 e 2001, os governos do engenheiro Guterres??? Parece-me que não…

NOTA: a referência anterior ao período do “case study” de 2002 a 2006, não é um erro!!! As medidas do actual Governo são idênticas a muitas das medidas anunciadas pelo Governo de PSL em 2004… O que, realmente, difere é actual Presidente da Republica…

Sobre este assunto, não tenho mais nada a acrescentar, a não ser após a leitura do livro!!!
Confesso que também estou curioso por saber quais os comentários do Professor Marcelo no próximo Domingo, relativamente a este “relato” de PSL…

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Cala-te boca

Neste fim-de-semana, uma das reportagens realizadas por uma das estações televisivas glosava à saciedade o facto de José Sócrates se ter recusado a prestar declarações à comunicação social, fora dos momentos especificamente agendados para o efeito. Se calhar, fez bem...
Já há alguns dias, um jornal diário de referência abordava este género de atitude, informando que cresce o número de vezes em que as figuras públicas convocam os media para declarações sem direito a perguntas posteriores.
O interessante da coisa é que o jornalista que assinou a peça televisiva não parou para pensar nas eventuais motivações do Secretário-Geral do PS.
Ora, não conhecendo as socráticas razões, mas especulando com o auxílio da notícia mencionada, não me parece difícil de cogitar que tal pode ficar a dever-se à necessidade de auto-defesa dos titulares de cargos públicos que, cada vez mais, se vêem acossados por jornalístas que se acham investidos de um papel de contra-poder, para o qual ninguém os mandatou.
Pensando a contrario, basta lembrar a chacota e o massacre a que é sujeita qualquer figura pública que, aceitando colaborar, naquele momento, comete um lapso.
No dia em que os jornalístas fizerem auto-crítica verdadeira, talvez possa procurar-se o equilíbrio necessário entre a vontade de falar e o dever de informar.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Favores em cadeia

Por mais filmes que veja poucos me tocam como este. Em jeito de confessionário tenho de admitir que este filme apela às minhas lágrimas com convicção :.(

Sei que não é a última novidade do cinema, mas recomendo!

(Inspirada pelos mais recentes posts cinematográficos :)

Um ombro cheio de qualidades

Que publicações virtuais como o "lodo" aviem uns valentes pontapés na gramática ainda vá, mas o Expresso...
O erro foi já alvo de denúncia no programa televisivo de Diogo Infante, mas foi daquelas calinadas que saltou à vista dos mais atentos, logo no dia 4 de Novembro.
A propósito da notícia ao redor de uma denúncia de Agostinho Branquinho (deputado do PSD) sobre a alegada manipulação de um noticiário da RTP pelo Governo, o político é citado pelo semanário como tendo salvaguardado a "ombridade" do jornalista que teria sido alvo daquela pressão.
Ora, salta à memória o Congresso da JSD realizado em 1998, na Figueira da Foz, no qual o meu correlegionário Pinto Lobão exaltava a "hombridade do Pedro Duarte", explicando aos circunstantes que falava de "hombridade com 'h' porque era uma qualidade do homem e não do ombro"...
Embora cite de cor (já lá vão 8 anos...), nunca mais me esqueci de como um, então, jovem da JSD prevenia um erro algo grosseiro, mas usual.
Claro que também teremos de admitir que, mesmo em jornais ditos de referência, os lapsos sucedem. Porém, não só a revisão de textos (mais a mais na 1ª página, como foi o caso) deve ser rigorosíssima, como se me apoquenta o espírito sobre a formação de quem, por sua vez, forma a mente de muitos cidadãos.
Como no ensino em relação a novos professores, preocupa a suspeita de perda de qualidade e de "escola" no jornalismo, com a correlativa adopção de uma táctica de afrontamento do poder, que acaba, possivelmente, por encobrir algumas insuficiências próprias, como já se debateu por aqui.

Prémio "Splendor"

Na edição de 4 de Novembro do Expresso podia ler-se, a propósito do número de filiados nos diversos partidos (presumo que visassem apenas os que têm mais de dez militantes, assim se explicando a omissão de "Os Verdes") que, para o PSD, "em 2005, o panorama foi ainda melhor: 8793 filiações, metade verificada entre jovens até aos 30 anos. Miguel Macedo, secretário-geral do PSD, atribui o 'fenómeno' à ' dinâmica gerada pela eleição de Marques Mendes como líder do partido, em Abril de 2005' ".
Vinda de uma pessoa que considero bastante, não deixa de ser uma tirada deliciosa...

Naaaaaaaaaaaaa

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Já vi bem pior...

É fruta ou chocolate!...

Tenho escrito inúmeras vezes sobre os problemas cívicos que, a meu ver, explicam muito do nosso atraso.

De facto, olhando outras nações que progridem, mesmo não detendo riquezas naturais de vulto (como sucede connosco), tenho vindo a afirmar que valores e atitudes como o mérito, a honestidade, a lealdade, o esforço, o estudo, entre outros, podiam fazer-nos, atendendo às imensas qualidades de que também somos fieis depositários, estar na liderança dos países desenvolvidos, em não muito tempo.

Em quatro andamentos (quatro singelas e reais situações que me sucederam) abordo a ideia pelo lado comercial, em torno do qual gira muito do que é a maneira de agir de um povo, nas economias de mercado.

Dispenso-me de gastar o meu latim com o lado da procura, já que, também em mais do que uma ocasião, me debrucei sobre o fenómeno do sobreendividamento e a histeria actual pelo supérfluo.
Resta-nos, assim, olhar a oferta e tentar ilustrar as razões pelas quais, mesmo nos actos comerciais mais simples, começa a ser interessante deixar o seu dinheiro e pagar os seus impostos associados ao consumo noutros países, sempre que possível. É neste âmbito que caiem as duas primeiras situações, que relato esta semana.

Assim, e pegando na deixa, começo pelos casos em que isso foi possível, recentemente. Opto por situações comuns do dia-a-dia, já que são aquelas que mais me interessaria perceber, visto que começa a avolumar-se em mim a ideia de que, sendo verdade que, em média, recebemos menos a título de remuneração e consumimos bens mais caros (o exemplo mais célebre é o dos carros, mas, neste caso, com uma explicação tributária óbvia), é duvidoso sonhar com o ideal de equalização que preside ao chavão da “coesão”, tão apreciado pelos que vêem em Bruxelas o paraíso.

Exemplificando, posso dizer-vos que, num sítio da Internet dedicado à electrónica e baseado em Espanha é possível comprar, por exemplo, um telemóvel que custe cerca de 280€, na loja do fabricante (Nokia), em Portugal, por menos de 230€ com portes e comissão do revendedor incluídos, economizando aproximadamente 18%, sem sair de casa.

Mas, mudando a agulha, também em bens culturais pode evitar os comerciantes com sede ou filiais em Portugal, com vantagens notórias. Aponto o caso de um livro que aborda a cultura ocidental dos últimos dois séculos, que pode adquirir por mais de 53€, na FNAC, em Lisboa. Com meia dúzia de toques no rato do seu computador, câmbio efectuado e impostos liquidados, a Amazon do Reino Unido envia-lhe a mesmíssima obra, no mesmíssimo idioma (inglês), por 40€, números redondos, posto o que também reteve no mealheiro cerca de 25% do que lhe pediram na capital portuguesa.

Ou seja, torna-se fácil optar pelo estrangeiro, numa altura em que a retoma precisa de nós. A verdade, porém, é que termos como “retoma”, “crude”, “OPA” e afins não satisfazem as nossas necessidades de consumo, pelo que haveria que repensar a competitividade da nossa economia, refrescando (eufemismo deliberado) a atitude de Estado, trabalhadores e empresários.
No próximo post, voltaremos ao tema com dois outros exemplos que ilustram o défice de competitividade, desde logo, da nossa atitude.

Numa altura de personalização da procura, a nossa oferta continua a tratar o assunto a granel, digo eu…

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Os amigos de Drácula

O Governo (e bem, tenho que reconhecer) pretende limitar os arredondamentos da taxa de juro do crédito à habitação, sempre que há uma revisão da taxa euribor.

João Salgueiro, que não sei se ainda se diz social-democrata (relembro que chegou a concorrer à presidência do PSD contra Cavaco Silva, em 1985), em nome dos bancos (é presidente da associação do sector), declarou que a banca não ficaria a perder, já que sempre restará a possibilidade de castigar os portugueses, aumentando o spread (a margem de lucro assumida dos bancos).
Indiferentes a qualquer consciência social, e resistindo à tentação de implantar dentes de vampiro, os nossos banqueiros mostram bem o grau de consideração que têm para com a situação actual do País.
Seria bom para os nossos banqueiros fazer o mesmo que eu, a seguir ao jantar de ontem, para os lados da Rua Jardim do Regedor, nos Restauradores, subindo a pé por esse lado da Avenida da Liberdade; veriam mais de uma dezena de pessoas dormindo na rua, embrulhadas em mantas e cartão.
Creio que o fenómeno humano da miséria implícita neste caso ainda tem uma dimensão que permite a sua resolução, não falando já na questão social e turística de se tratar de uma artéria que é um cartão de visita da capital portuguesa.
Bastariam umas milésimas dos ditos spreads, tornando-se, pelo menos, compreensível a sua existência e os sucessivos aumentos...
Contudo, aposto que os motoristas dos banqueiros são velozes ao passar na Avenida, que os restaurantes a que estes vão não são tão plebeus (apesar de tudo, ao Gambrinus pode ir-se pelo Rossio) ou que preferem o outro lado da rua...

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

O estado do "Quarto Poder" e... o Estado e o "Quarto Poder"

Parece inevitável.
Sempre que se fazem rankings mundiais sobre o que quer que seja, estamos confinados a figurar nos piores lugares.
Seja qual for o assunto, lá estamos nós, portugueses, na lista negra, habituadissímos aos lugares mais vergonhosos.

Mas diz o povo que “não há regra sem excepção”...
Na passada semana, a ONG “Repórteres sem Fronteiras” divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no Mundo referente a 2006.
E eis que Portugal “arrecada” a 10ª posição entre 168 países.
Esta posição talvez não nos surpreenda assim tanto, uma vez que longe vão os tempos das comissões de censura e do lápis azul.

Porém, desenganem-se os que julgam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são “dados mais que adquiridos” quer em terras lusas, quer por esse Mundo fora.
Mediáticos casos como o dos cartoons dinamarqueses – país que outrora figurava no primeirissímo lugar deste ranking... - ou a mais recente morte da jornalista russa fazem-nos repensar o conceito de liberdade de expressão no mundo de hoje.
Até porque os atentados à liberdade de imprensa não se confinam somente a actos graves e mediáticos como estes...

A liberdade de imprensa e a inerente liberdade de expressão estão consagradas em quase todas as Constituições por esse Mundo fora. Trata-se de um princípio cuja importância, à partida, ninguém questiona.
E que na prática parece estar assegurado: afinal, vão surgindo novas formas de pôr em prática a nossa liberdade de expressão – como o é aqui o caso da blogosfera!
E todos os dias nascem novas publicações e revistas. (Por terras lusas, a morte do "Independente" e o nascimento do novato “Sol”, cujo grau de isenção eu não questiono, vieram relançar esta discussão da isenção jornalística...)

Contudo, a maioria de nós mal se apercebe de que diariamente este princípio se vê limitado um pouco por todo o lado, mesmo diante dos nossos olhos. A forma mais subtil de limitar a liberdade de imprensa nos nossos dias é controlar a informação, controlar criteriosamente e rigorosamente aquilo que é passível de ser notícia.
A questão hoje para o editor parece ser: «o que há de novo no mundo de hoje que mereça destaque no meu jornal, que conquiste leitores e que não se confronte com os que o sustentam economicamente?»
E assim se faz jornalismo dito “livre”...

Esta é, ainda que não queiramos assim ver, uma nova forma de censura. Não a do lápis azul, mas talvez a do “toque no ombro”, a do telefonema em tom de aviso.
Apesar de estarmos no “top ten” da liberdade de imprensa, a verdade é que nem o nosso jornalismo é impermeável às influências do poder político e económico...
Nem nós, nem a espanhola Prisa do PSOE, nem a Fox dos Conservadores... tantos (maus) exemplos de como a concentração do poder mediático em quem tem poder económico, pode deturpar o conceito de liberdade de expressão.

Ou seja, legalmente, a censura há muito que acabou.
Em Portugal, do ponto de vista formal, há liberdade de imprensa desde a Revolução dos Cravos. Contudo, volvidas mais de três décadas, não podemos falar de uma imprensa totalmente livre. Aliás, o mais provável é que nunca chegue o dia em que possamos falar dela.
Afinal, trata-se do Quarto Poder, e como Poder que é... há-de sempre ser “controlado”.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Music Hall


Na 3ª feira, os GNR comemoraram 25 anos de carreira, no Coliseu de Lisboa.

Sei que sou suspeito, uma vez que se trata do meu grupo favorito, mas arrisco dizer que foi uma performance notável de um conjunto que tem no seu vocalista, mais do que um cantor, um artista.

E, permitindo uma audição meramente pop ou a degustação de letras com conteúdo social (conforme o gosto de quem ouve), lá desfilaram Piloto Automático, Hardcore 1º escalão, Dunas, Valsa dos Detectives, Efectivamente, Morte ao Sol, Sangue Oculto, Sexta-Feira (um seu criado), Quero que vá tudo pró Inferno e por aí fora, em duas horas de boa música, com bons convidados (Legendary Tigerman, NBC e Sónia Tavares dos The Gift).
Aguardo com expectativa o próximo quarto de século do Rei Ninho...