quinta-feira, 30 de junho de 2005

O rei está a despir-se

Tenho resistido a escrever sobre a tonteria que sempre me pareceu dar 2 lugares de deputados ao PPM e 2 ao MPT.
E se o tenho feito é porque receio que os especialistas da intriga, que abundam no PSD, digam que o faço por ressentimento, uma vez que sem a inserção dos dois free-riders da lista de Lisboa (um de cada), teria ido em 15º lugar (o mesmo de 2002), e estaria pela Assembleia, a estas horas.
Mesmo correndo o risco de me chegarem rumores sobre palermices de tipos e senhoras que são pais e mães de família (e gostam de parecer sérios quando estão nessas vestes), a verdade é que nunca concordei porque a representatividade social de ambos é quase nula, desmotivaria muito do partido (que tem o hábito de lutar, mesmo quando sabe que está em dificuldade) num combate que só o exército de guerreiros em volta do "Menino" acreditava poder vencer, e por não se perceber sequer o acrescento que trariam, já que se uns (MPT) têm um passado de ataques ao PSD, aos outros desde Ribeiro Telles que se lhes não vê um ideal social.
Acresce - afastando as suspeitas de ressentimento - que a intenção do Presidente do PSD era mesmo "deixar-me caír"; nem de outra forma se explica que tenha ficado de fora no conselho nacional, e que, mesmo depois, apesar de haver outras hipóteses, o 17º da capital tenha sido o destino. Ou seja, PPM e MPT acabaram por não me prejudicar, já que os seus lugares nunca seriam meus...
O facto é que, agora, as razões se agravam, quando o PPM admite a candidatura de Elsa Raposo à Câmara de Cascais. Não vou ofender a senhora, nem preciso de comentar a atitude do PPM (membros e ex-membros de prestígio, como Augusto Ferreira do Amaral, Sousa-Cardoso, Ricardo Abranches e Ribeiro Telles, já o fizeram a contento). Basta-me transcrever parte da edição de hoje do DN, que relata a orientação da família regente do partido:
"Está curada da depressão". Sobre a escolha de Elsa Raposo, conhecida figura das revistas de social e concorrente da Quinta das Celebridades, para candidata à Câmara de Cascais, Nuno da Câmara Pereira é cauteloso "Não conheço a pessoa, e primeiro tenho que saber quais as vantagens e desvantagens dessa pessoa: idoneidade, inteligência, respeitabilidade, pensamento político, prestígio que tem na sociedade e vontade de prestação humilde em relação à sociedade e ao partido". Para o líder do PPM, não é indispensável que os candidatos sejam monárquicos, nem que tenham experiência política. "À partida, não há ninguém que esteja fora de hipótese de ser candidato" pelo partido: "Queremos pessoas comuns, com defeitos e com virtudes. O PPM quer renovar a classe política e aproximar os cidadãos da política".Foi Gonçalo da Câmara Pereira, líder da distrital de Lisboa e vice-presidente do PPM, quem convidou Elsa Raposo para ser candidata. Ontem à noite, já depois do fecho desta edição, ia defender a sua escolha no "directório" do partido. Também ele ex-concorrente da Quinta das Celebridades, explicou ao DN as razões do convite "Convivi com a rapariga todos os dias durante mês e meio. Embora ela tenha saído da Quinta com uma depressão, se me dizem que ela está curada, está curada. Também já houve ministros ex-toxicodependentes e não veio daí mal ao País". Gonçalo "acha" que a putativa candidata não é monárquica, o que não o preocupa: "É uma mulher independente, que não precisa de macho, que se preocupa muito com as questões sociais e que é uma visitadora nata." Terá perfil para o cargo? "Quem decide isso é o voto popular, não é meia dúzia de bombocas que andam por aí."
O rei pode ainda não estar nú, mas já vai perdendo algum resguardo...

quarta-feira, 29 de junho de 2005

A fase da sesta

Eis um assunto - o chamado estatuto do artista - que aqueceu o debate sobre cultura, na última legislatura.
Na altura, não foi apreciado o facto de um deputado (não era eu) ter tomado a iniciativa, e de o Bloco de Esquerda ter aparecido com um documento estilo "copy-paste", uns tempos mais tarde.
O facto é que com a mudança de Governo e a posterior dissolução nada sucedeu. Ficou, porém, o know-how.
Qual não é o meu espanto quando, no DN de hoje, leio:

"Artistas CDS/PP defende regime especial
O CDS/PP apresentou ontem, na Assembleia da República, um projecto de resolução que recomenda ao Governo a criação de um regime especial que enquadre os profissionais das artes e espectáculos a nível laboral, fiscal e de protecção social. Os democratas-cristãos defendem que as alterações devem estar implementadas até ao final desta legislatura."

Que é feito de ti PSD da cultura?

Um olho no burro, outro no...

Fala-se agora em contratar abortos no sector privado, em face da objecção de consciência de muitos médicos do sector público.
Até aí, sem problema, já que, muitas vezes, o sector público não é o que mais bem acautela o bem comum...
Porém, é, obviamente, de esperar que haja rigoroso controlo pelo Estado e pela Ordem dos Médicos para que um objector público jamais seja sequer sócio de uma clínica privada onde se pratique a IVG.
Cá estou para ver.

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Em sentido figurado

A Ministra da Educação separou os Açores da República, e foi um lapso...
O Ministro da Defesa (sublinho que não de outra pasta, mas sim da Defesa!) disse que a independência nacional estava em perigo, mas foi em sentido figurado...
O Ministro das Finanças entregou um orçamento rectificativo, mas os números não batem certo com o pacto de estabilidade e crescimento e com a retórica eleitoral (se calhar com menos dois terços de um dos proventos, a produtividade caiu), mas também deve ter sido por engano...
E voltamos à mesma: se fosse com Santana, media e oposição já clamariam por dissoluções ou mesmo reedições do tribunal de Nuremberga, tal o estardalhaço que adquiriam as desafinições, naquela era.
Eu aprecio a cruzada do engº Sócrates - com excepções como as SCUT, que acho uma tremenda teimosia - mas penso que ou a orquestra afina, ou as medidas impopulares tornam-se insuportáveis Quando se pedem sacrifícios e se dispara sobre antecessores é preciso, à maneira hípica, um percurso limpo (ou sem toques).
No meio disto tudo, já de si bem elucidativo sobre a era dos media (eu ando a avisar...), lamento apenas que tenha sido um jornal (Diário Económico) e não um partido a descobrir o "frango" dado pelo guardião das Finanças.
Dir-me-ão que o Orçamento entrou às 23h00 de 6ª feira na Assembleia da República. Porém, se um jornal fez trabalho no fim-de-semana, sendo uma ocasião excepcional (não há "rectificativos" todas as semanas), por que é que os deputados não fizeram? Será que ainda estarão demasiadamente bem pagos?
Mais atenção, para que também a oposição não o seja "em sentido figurado"!...

terça-feira, 21 de junho de 2005

É tudo a mesma fruta

Lá computadores a malta já vai tendo, agora perceber para que servem as novas tecnologias e como se deve actuar na era da imagem e das relações públicas é outra loiça...
Penso que o utente/consumidor, que já parte e reparte os tostões com arte, e sem nunca ficar com a melhor parte, tem de revoltar-se!
Estou há mais de uma hora a tentar ligar para os números disponibilizados pela Internet pela Ordem dos Engenheiro e pela Repsol e... nada!
Acresce que o assunto tem a ver com o facto de há mais de um ano andar a devolver~lhes cartas (e de ter escrito uma a alertar), uma vez que recebo cartas que não são para mim e que, pelos vistos, não fazem falta ao anterior morador que não actualizou a morada.
Ricos funcionários os que que se borrifam nas devoluções e continuam a pensar que a despesa do correio é insignificante. E pagam-lhes, ao fim do mês?!
Ironia à parte, deveriamos perceber que não é só reivindicar aumentos e progressões na carreira, quando, por cá, nem moradas nos damos ao trabalho de actualizar. É sintomático de um País sem brio e sem noção do bem comum.

domingo, 19 de junho de 2005

Vampiros

Aí está a caça ao político.
Alguns jornalistas não abandonam a lógica de contra-poder e organizam listas de políticos que, legitimamente, beneficiam de regalias ainda em vigor.
E se por um lado concordo inteiramente com as medidas do engº Sócrates - há que dar o exemplo - por outro lado, entendo que o risco é o do progressivo apoucamento de uma classe política (que também se degrada a si própria, de dia para dia, perpetuando uma elevada dose de mediocres e caciques em lugares importantes), designadamente por parte de jornalistas que, desprezando os políticos, querem pautar o que se discute e a opinião geral sobre isso mesmo (à maneira de quem geria um circo romano).
Veja-se o caso do meu ex-colega Cruz Silva que, segundo notícias de hoje (SIC - N), teria pedido o subsídio de reintegração, a que tem todo o direito. Não sei se é culpado ou não (e os jornalistas também não, espero), mas também valeria a pena, antes de enxovalhar, saberem se a situação pessoal o justifica ou não.
O "sangue" é mesmo o mais importante, para alguma comunicação social.

Heil

Tenho para mim que à extrema direita falta uma liderança carismática e com pose de Estado, e dou graças a Deus por isso.
Se alguém dessa ala imitasse a inteligência de Louçã no que diz respeito à extrema esquerda (adocicou o discurso, deixou de ameaçar o grande capital e aparenta aceitar de bom grado as regras democráticas liberais) os problemas podiam ser maiores.
Não sendo assim, temos mais tempo para resolver com urbanidade os crimes grupais. É preciso é que se actue, antes que algum oportunista veja o filão eleitoral.

quarta-feira, 15 de junho de 2005

Little China Girl

Aludo ao tema de David Bowie para recordar uma pequena notícia da "Focus" de 16 de Março, onde podia ler-se que o governo chinês proíbiu os concursos de "misses", para salvaguarda da imagem da mulher e porque muitas das concorrentes, em idade escolar, confessavam querer largar os livros e adquirir fama.
Se acreditarmos que foram estes os motivos, devemos pensar que nem tudo é mau nos regimes que não subscrevemos e nem tudo é bom naqueles que aplaudimos.
Por outro lado, há que admitir que os regimes não são exportáveis sem mais, devendo olhar-se às soluções que melhor se adequam a cada caso.
Há valores absolutos, mas as obras humanas terão de ser sempre relativas.
O que me faz pensar que, um dia destes, alguém devia analisar objectivamente o século XX português...

Eu não disse?!

Realmente, não é preciso ser bruxo...
Escrevi eu o post anterior e, poucos dias depois, soube que a extrema-direita convocou uma manifestação "contra o aumento da criminalidade" (como se diz no site da Frente Nacional), para o Martim Moniz.
Os propósitos dos extremistas são claros, já que o sítio do protesto (um local de paragem habitual de dezenas de imigrantes estrangeiros) é eloquente, e a solução do problema também não é dificil e está na Constituição. A nossa Lei Fundamental, embora desiquilibradamente (já que também devia conter salvaguardas contra os que defendem totalitarismos de esquerda), proíbe o género de ideologia claramente subjacente ao evento, e tal permite ao Governo Civil inviabilizar o mesmo.
De sinal contrário, outra maneira de desacreditar este assunto e de ir ao encontro do problema está exemplificada na conduta do Presidente da República que, no mesmo dia, vai à Cova da Moura realizar uma acção pedagógica e julgo que apadrinhar um jogo de futebol entra polícias e jovens locais. Assim, sim!...
Mas o registo anterior sobre a emergência de fenómenos de racismo permanece. A mais da manifestação, atente-se ao evoluir da opinião pública.
Um exemplo?! "É que é já a seguir!". Ainda hoje, numa papelaria de Lisboa, registava eu os jogos da Santa Casa (isto está mau para todos!) e a conversa entre a senhora que atendia e aquele que percebi ser um cliente habitual, depois de algum sarcasmo sobre o desaparecimento de Álvaro Cunhal, culminava com a dita cidadã, reagindo à menção da manifestação do Martim Moniz, a dizer que "se pudesse, a essa é que eu gostava de ir"...
Eu não disse?!

sexta-feira, 10 de junho de 2005

Rica praia...

Hoje, em Carcavelos, um bando estimado em 500 pessoas (ao que se sabe, de raça negra) varreu bens e pessoas que, pacificamente, aproveitavam uma praia muito procurada.
As consequências adivinham-se...
Em primeiro lugar, pelo pecador pagará o justo; ou seja, os fenómenos de racismo podem recrudescer.
Depois, pode haver a tentação oportunista por parte de alguns políticos de colocar pressão para medidas imediatas do Ministério da Administração Interna, quando as medidas imediatas são aquelas com as quais, aposto, qualquer oposição jamais quererá solidarizar-se.
Por fim, se algum agente policial, ainda que em inferioridade numérica, "acertar o passo" a alguém, o dr. Louçã e os amigos serão os primeiros a menorizar e baixar o moral da forçaz envolvida, independentemente da circunstância concreta. É o hábito...
Independentemente da cor da pele, um dia que se queira fazer algo sem política táctica, importa atacar os problemas sociais que dão corpo a culturas de rejeição, em muitos bairros problemáticos.
Por fim, a filosofia que enforma o código penal, apesar de nobre e fundamentada, parece-me algo impotente para fazer face aos problemas de hoje. A ressocialização deve ser acarinhada, mas a punição exemplar, numa altura em que os comportamentos criminais são adoptados em grande medida por imitação de condutas mediatizadas, também é um imperativo.
Qualquer cidadão - de qualquer nacionalidade (incluindo a nossa) ou raça - deve saber que se puser em causa a nossa liberdade verá a sua clara e fortemente limitada.