segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Continente Devastado

Dei um salto a Paris há dias. Três horas de TGV, é fácil! Mais uma vez, talvez porque o inverno precoce em França aperta, constatei um maior numero de pessoas à porta do albergue de Aubervilliers. E mais uma vez, constatei o numero crescente de homens, mulheres e crianças africanas na bicha.
 
Em tempos que já lá vão, andei pela África, em missão comercial. Na Portuguesa e na África do Sul. E na Rodésia! A África é um continente que me fascinou. Nunca o poderei mais esquecer. Mas hoje, sangra-me o coração perante o espectáculo desta terra tão rica e tão miserável.
 
Porque é que as metrópoles europeias estão cheias de africanos, com o olhar perdido, sorriso contrito, desamparados , mendigando pobremente, vendendo à escapada, trabalhando duramente, vassoura na mão, pá em punho, remexendo o contentor do lixo por trás do restaurante? Que desespero incomensurável conseguiu expulsar estes seres admiráveis fora da pátria soalheira - que eles tanto apreciam e empurrá-los assim para os caminhos do exílio plenos de perigos, para acabar tristemente sob a ponte Mirabeau, na grande Place, por trás do Partenon, à volta do Coliseu de Roma, em Picadilly Circus e face ao Reijks Museum? Porquê?
 
O êxodo arriscado começou há alguns anos no Senegal, na Costa do Marfim, na RD do Congo, no Burkina, no Quénia, na Somália, no Mali ou no Ruanda, pouco importa; foi sempre lá que começou, lá onde a vida estava ameaçada, e depois, por montes e vales, a pé, em camioneta, de comboio ou de barco, a longa caravana dos deserdados pôs-se em marcha, deixando pelo caminho o seu tributo de estropiados, de famintos, de extenuados, de mortos vivos, no grande deserto escaldante, nos caminhos do mato mal afamado, no oceano furioso até Ceuta a insolente, Tripoli a decadente, Alexandria a enigmática ou Tunis a trágica.. Aqui, os últimos escapados destes caminhos de sofrimento vão ver-se oferecer, (como noutros tempos os Portugueses na passagem dos Pirenéus !), a alto preço, por um passador bandido ,de completar a travessia do continente da fome - para um outro, onde a fome também existe.
 
Sim, porque é que tantos emigrantes africanos afrontam o deserto, o oceano e o mar, os guarda-costas e os passadores assassinos, para migrar para esta Europa miragem!
 
Simplesmente, porque nos países africanos de miséria, onde as companhias mineiras pilham o minério precioso e caro, e que estas não deixam quase nada aos que os enriquecem, os filhos da África, depois de terem trabalhado por quase nada em minas do inferno, se ali não morreram, preferem sucumbir à miragem do norte, afim de ganhar alguns cobres para enviar à família ( como os Portugueses outrora).
 
Os exemplos são legião. Mas existe um, mais recente, que é simbólico: O "Coltan", (metal raro, indispensável para a fabricação dos telefones celulares e de televisores) é extraído dos poços de minas artesanais na Republica do Congo , no Kivu, mais exactamente ( 80% das reservas mundiais), após o que, é imediatamente expropriado e exportado para as fábricas de transformação da Europa, América e sobretudo da Ásia.
 
A transformação industrial do minério cria o valor e a mais valia, donde os capitalistas retiram os benefícios industriais e mercantis, e o Estado os seus impostos e as suas taxas. Basta saber que o quilo de Coltan se vende a 500$ no mercado! Mas a extracção do Coltan rende pouco : entre 10 e 50$ por semana, para um mineiro da morte; o que é o quadruplo do salário dum congolês "médio"! Um mineiro extraindo em média 1 quilo de Coltan por dia, 7 dias da semana, recebe um salário semanal médio de 35$, em contrapartida de 7 quilosx500 $ = 3 500 para o valor da mercadoria. Não podemos dizer que a África recebe a justa parte da riqueza que se lhe rouba!
 
Cessemos, portanto, de distribuir a caridade aos africanos. Cessemos de lhes emprestar dinheiro para se endividarem para a eternidade e deixemo-los beneficiar das riquezas continentais e assim eles serão prósperos! Não acham ? Mas talvez não!, evidentemente! E porquê ? Porque tudo depende de qual classe social se apropria estas riquezas privadas ou colectivas.
 
Mas saibamos que cada quilo de Coltan, custa a vida de dois menores africanos nas minas do Kivu, mortos nos desmoronamentos das minas artesanais sem segurança nenhuma.
 
Mortos para que Apple, Nikon, Sony, Nokya, Ericsson e tantos outros monopólios ocidentais possam continuar a oferecer dividendos chorudos aos seus accionistas! Merci!
 
Uma vintena de aviões carregados de minério descolam todos os dias para o Ruanda (que recolhe à passagem 250 milhões de dólares pela venda do Coltan) . Que importa as crianças raptadas à saída da escola para ir trabalhar nas minas da morte! Toda a gente o sabe, mas ninguém diz nada, nem mesmo as Nações Unidas!
 
Há uns meses atrás, foi na África do Sul onde 34 mineiros, enfim libertados do Apartheid, foram assassinados pela policia sul-africana por causa de greve mineira, visando um salário de 400 euros por mês!
 
A África foi sempre, desde o dia em que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, um fornecedor de matérias primas. No início, a matéria prima foram os escravos, valendo menos que o peso em cereais, depois a madeira exótica preciosa, depois os produtos alimentares, espoliados nas plantações expropriadas aos autóctones contando por menos que nada neste mercado. Hoje, assistimos à espoliação dos minérios raros, das pedras preciosas e do petróleo, das quais os povos locais não retiram nenhum benefício.
 
Não resta praticamente nada para a sobrevivência destes países. Assim, em vez de se deixarem morrer os Africanos seguem a pista das suas riquezas, roubadas, até ao norte do Mediterrâneo. Eu vi-os na bicha para ir comer a sopa no albergue de Aubervilliers, no Paris Ville Lumière!
 
Freitas Pereira

sábado, 27 de outubro de 2012

Fim do Grande Bolo

Muitos são aqueles que descobrem, há uns meses para cá, o impacto mortífero do imperialismo financeiro sobre a vida dos cidadãos de todos os países.

Até aqui, falava-se do capitalismo, como poder económico do qual dependia o nível de vida dos povos, segundo o bom prazer dos que possuíam este poder. Enquanto este distribuía algumas migalhas do imenso bolo, que os outros produziam, as coisas lá iam mais ou menos, e antes menos que mais, sem choques violentos, porque era necessário, por um lado, manter em "vida" os obreiros do bolo, na paz e no sossego que convinha aos que possuíam tudo, e que, por outro lado, os que recebiam as migalhas contentavam-se do pouco porque nem sabiam que tinham direito a mais. O emprego existia, a miséria era contida dentro dos limites do terço mundo. Todos pareciam satisfeitos da vida, excepto para aqueles que tinham ousado ir ver mais longe e que não voltaram mais.

 E isto assim foi durante décadas, até que a marcha do mundo se acelerou. A invenção perniciosa do capitalismo, a do crédito fácil para todos, já e agora, permitiu a expansão do MERCADO e, com ele, a explosão das dívidas: a dos particulares e a do Estado. Os particulares, a quem os promotores do GRANDE BOLO prometiam fatias mais suculentas e variadas, do automóvel à casa, do passeio ao estrangeiro às férias a crédito, tudo o que se sonhava era transformado, como por encanto, em realidade!

A dívida do Estado, a quem os autores do grande MERCADO prometiam rendas fiscais extraordinárias, porque, diziam eles, com o pleno emprego, quanto mais se consome mais taxas se pagam, isto é, os produtores e os consumidores, as rendas e os salários, sem falar das benesses de vária ordem de que os políticos iriam beneficiar (e nas quais estes se fartaram até à indigestão!) se as leis conviessem ao grande MERCADO.

Os boys da escola de Chicago, os apóstolos do MERCADO auto regulável, tinham ganho a partida Como se a ganância, a cupidez e o ... apetite e as necessidades ainda não satisfeitas, podiam auto regular-se!

Entretanto, novos actores apareceram, entre os quais os países ditos emergentes, saídos da letargia e do colonialismo, que mais não eram que imensos reservatórios de forças humanas desocupadas, prontas a servirem em não importa quais condições, mesmo esclavagistas, desde que os arrancassem à vida miserável na qual vegetavam. Por muito pouco que lhes dessem, em troca de trabalho sem conta, era sempre melhor que o nada com que sobreviviam.

Foi o caso dos dois grandes reservatórios da Índia e da China, e de todos os países asiáticos.

A emergência da filosofia dos dois sistemas, capitalista e comunista, no mesmo regime político, inaugurada por Deng Chiao Ping, na China, foi o sinal da mais formidável corrida ao lucro fácil na qual o capitalismo mundial sonhava desde há muito, de facto desde os primeiros passos da industrialização dos dois últimos séculos.

Escapar às leis impostas pela democracia e à decência do tratamento devido àqueles que trabalham, era exactamente o que desejava a ganância mórbida dos detentores de capitais, sequiosos de rentabilidade financeira, de dividendos e bónus chorudos para os accionistas.

Ah, que grandes países estes onde não existiam sindicatos para combater a exploração desenfreada e onde o regime político envia os carros de assalto contra aqueles que reclamam os direitos humanos mais elementares.

Esta abertura sobre um mundo do trabalho, vasto e inesgotável, iria fornecer aos detentores de capitais um poder extraordinário que, pela sua dimensão, vai pôr em cheque o poder mesmo dos Estados. Adeus o pleno emprego, as fatias do GRANDE BOLO de outrora, as rendas fiscais e a paz social. O GRANDE BOLO será confeccionado fora das fronteiras, o resultado aferrolhado nos paraísos fiscais, fora do alcance do Estado, que deverá "inventar" o dinheiro para sobreviver ele mesmo.

Assim reflectia, quando, na semana passada, em França, um gigante do aço, a sociedade Mittal, liderada por um Indiano, conseguiu impor a sua lei ao Estado Francês, ordenando o encerramento duma grande siderúrgica, a sociedade Arcelor, na Lorraine, outrora grande fornecedor da industria automóvel, adquirida aquando duma O.P.A. (oferta pública de compra) na bolsa.

O problema é que esta firma indiana possui dois terços do mercado do aço mundial, e que, tendo adquirido a firma francesa e encerrando-a agora, eliminou desta maneira um concorrente, e beneficiou assim as outras firmas do mesmo grupo que produzem o mesmo aço a preços mais reduzidos, graças aos salários mais baixos praticados em países mais "competitivos" ! Isto é, onde se trabalha por menos! O quase monopólio do aço permitiu-lhe agir assim, e o Estado Francês nada pôde para o evitar, porque assim vai a lei do comércio internacional e a lei do MERCADO!

Este é o grande problema dos monopólios, autênticos Estados dentro dos Estados, fenómeno recente da economia capitalista.

O monopólio é um produto da concentração da produção a um nível muito elevado que pode tomar a forma de cartéis, trusts ou sindicatos patronais da indústria. Fundidos com grandes bancos, constituem o capitalismo financeiro, interpenetração do capital industrial e do capital bancário. Ora, como vimos no caso que citei da firma francesa, a criação de monopólios visa a substituir-se à livre concorrência. E na realidade, não é só na indústria: existe o caso da Monsanto americana, quase monopólio mundial das sementes ou ainda certos laboratórios farmacêuticos.

A predominância do capital bancário faz com que uma parte cada vez mais importante do capital industrial não pertença aos industriais mas aos bancos que são os verdadeiros proprietários.

De intermediários nos pagamentos, os bancos converteram-se em fornecedores essenciais do capital. E a vergonha suprema é quando após terem jogado com o nosso dinheiro no casino dos "hedge funds" vêm pedir aos contribuintes para os salvarem da falência!

Mesmo se, à primeira vista, parece não ter nada a ver com o que precede, esta história do monopólio, levou-me a reler certos aspectos da nossa história colonial, que também teve noutros tempos os seus monopólios. E, à passagem, os investimentos/ aquisições que certos antigos colonizados fazem actualmente em Portugal.

Na partilha territorial do planeta entre as grandes potências capitalistas no termo duma colonização violenta da África e da Ásia, a possessão das fontes de matérias-primas foi uma das motivações maiores desta politica de agressão e de dominação.

Ao mesmo tempo, a acumulação de capital-dinheiro tinha atingido tais proporções nos países "avançados" que estes, se esforçaram para exportar o excedente em direcção aos países colonizados e dependentes afim de os rentabilizar. Ontem, a CUF, empresa monopolística, e o Banco Nacional Ultramarino, entre outros, proprietários de grandes territórios no ultramar, onde investiam, enquanto o território metropolitano tanto carecia de investimentos e o povo vivia pobremente.

E hoje, o mesmo movimento, desta vez dos antigos colonizados, agora grandes capitalistas, fazendo parte do cartel do petróleo e dos diamantes, que, pelas mesmas razões, mas em sentido contrário, exportam capitais, enquanto lá em casa, milhões de cidadãos sobrevivem em condições indignas. O que prova bem que o capitalismo, ligado à ganância e à cupidez, é uma enfermidade que se apanha facilmente, qualquer que seja a origem social dos doentes, mesmo saídos das revoluções.

O capital financeiro cria uma "oligarquia financeira", insaciável e mundializada, que consegue envolver todas as instituições económicas e politicas, sem que a situação miserável e desesperada dos povos a preocupe. Esta é a marca do capitalismo selvagem, que tem os seus servidores na governação da Europa e na OMC (Organização Mundial do Comércio), e os seus lacaios nos políticos dos Estados.

Freitas Pereira

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Há Lodo no Facebook


Com o advento do Facebook os blogues perderam alguma dinâmica e visibilidade, porventura porque através daquela rede social torna-se mais acessível escrever o que nos vai na cabeça no nosso próprio Mural e comentar as reflexões dos outros que vêm ao nosso encontro. Porém, a blogosfera permanece firme e, com mais ou menos leitores/comentadores/resistentes, cá vamos mantendo o Ainda há lodo no cais - em cena desde 2005! Mas como é impossível ignorar o poder do Facebook, ocorreu-nos criar por lá uma página que serve somente para divulgação do blogue e dos seus textos. Podemos agora dizer que «já há Lodo no Facebook»

A verdade de hoje pode ser a mentira de amanhã


Penso em concreto no enredo em torno da cláusula de salvaguarda do IMI. Cedo se percebeu que teria o mesmo epílogo que a TSU, porque era impraticável, os incumprimentos iam ser elevados (logo, a receita não ia ser a esperada) e era a subversão completa do papel do Estado, onde o sinal que se dava era o de que não valia a pena investir em Portugal.

O mundo mudou de uma maneira avassaladora. Não são distantes os tempos em que se julgava o património imobiliário um investimento seguro. Hoje, quem o tem vê-se a braços com uma empreitada difícil de resolver: primeiro para o vender, depois a carga fiscal dos chamados impostos sobre o património, com o “mediático” IMI na linha da frente.

É certo que se construiu demais em Portugal. Mas a dinâmica inerente à “nova construção” também teve as suas virtudes: empregou muita gente e de várias áreas do conhecimento e o Estado teve retorno através dos impostos que a atividade ia gerando, fosse IMT, IMI, IRC, taxas urbanísticas ou nos rendimentos sobre o trabalho que proporcionava.

Mas veio a recessão, a procura abrandou, as habitações desvalorizaram e as pessoas, em muitos casos, passaram a dever mais aos bancos do que o valor de mercado atual das suas casas.

O mundo mudou, os impostos também e o IMI mesmo com o regresso das cláusulas de salvaguarda vai ser uma desgraça para muitas famílias. O agravamento deste imposto (mesmo limitado a 1/3 do valor do aumento) atingirá em muitos casos dimensões pornográficas. Sem esquecer, claro, que dentro de 3 anos o imposto será pago na totalidade.

A conjuntura fez com que os preços de mercado das casas baixassem, a banca está a subavaliá-las, mas finanças estão a sobrevalorizar! E tudo devido às regras de avaliação do Código do IMI, definidas em 2003 (ie, muito anteriores à crise). E não vale a pena virem dizer que há coeficientes anuais de valorização na fórmula porque na prática o seu impacto nunca reflete a conjuntura atual.

Perante isto, não será preciso ser muito perspicaz para percebermos que haverá casos onde irá ser pago imposto sobre um bem que as pessoas não têm.

Para finalizar, realço um breve apontamento: como é sabido, o IMI reverte a favor das autarquias. Como decerto também saberão, está em estudo uma nova Lei das Finanças Locais. Portanto, o caro leitor não estranhe que esteja a ser preparado o caminho de uma redução significativa das transferências financeiras para os municípios via Orçamento de Estado por contrapartida do aumento do IMI. Se isso será bom? Vamos ver...

As Rosas também têm espinhos

Muitos como eu, têm estranhado os sucessivos sucessos eleitorais do CDS de Paulo Portas, porque num País que não cresce decentemente há mais de uma década e em que a contestação social vem em crescendo, como é possível o CDS valer mais do que PCP ou BE principais instigadores da contestação social. 

Ora, a arte de ser oposição, prometendo o impossível  principalmente em sectores muito fustigados, como tem sido por exemplo a agricultura, tem dado o retorno eleitoral que se tem visto. Chegada a hora da verdade, quando o PSD ganhou as últimas legislativas, e o CDS aceitou a coligar-se, seria de esperar que Paulo Portas tivesse assumido pessoalmente a pasta da agricultura, a grande bandeira na campanha eleitoral. 

Mas como todos sabemos isso não aconteceu e optou sabiamente pelo Ministério Cor de Rosa, assenta-lhe que nem uma luva em todos os aspectos e por sinal, parece-me até ser um dos Ministérios mais activos e com uma das melhores performances. 

Mas o problema surge, porque as rosas para além de serem bonitas e populares também têm espinhos ou dito de outra forma e recorrendo a um ditado popular, não é possível ter “sol na eira e chuva no nabeiro”. 

A acrescer a isto, está o facto de que o CDS estar minado de jotas, miúdos sem qualquer preparação politica ou intelectual, que vendo o lugar de deputado em causa, esquecem o sentido de estado, o patriotismo e o espírito de missão, “resgatar o país desta difícil situação”, colocando assim novamente o populismo e o interesse pessoal à frente de qualquer outro. Aliás e só para recordar os mais distraídos, já tínhamos tido alguns sinais desta conduta, quando o deputado João Almeida se candidatou a Presidente do Belenenses, supostamente para salvar o clube e à primeira dificuldade, abandonou o barco. Alguma admiração? 

Para mim o problema principal, está no facto do chefe da orquestra querer tocar várias músicas ao mesmo tempo, a banda segue-lhe as pisadas e o resultado é um conjunto de acordos sem sentido. O que me veio à memória, foi a recordação daqueles conjuntos de garagem quando se encontravam pela primeira vez, em que o baralho e o incómodo que provocavam na vizinhança era maior do que a musica que conseguiam produzir.

É este o parceiro de coligação de um governo, que tem como principal responsabilidade, tirar Portugal da bancarrota e coloca-lo na rota do crescimento económico.

Os casos em que esta ambiguidade se tem manifestado são muitos e com graves consequências para o País e para a imagem de Portugal no exterior. 

Como é que o Povo pode acreditar no futuro, se os exemplos que têm vindo do CDS são ambíguos  confusos, tardios e sem sentido de estado. O episódio desta semana, é mais um a somar a muitos outros, numa altura em que o mínimo exigido seria uma posição inequívoca e construtiva. Goste-se ou não deste orçamento e estou à vontade porque sou daqueles que não gosta, mas até me explicarem e provarem, que conseguimos conciliar os acordos e os objectivos que assinámos com com crescimento económico e emprego, não tenho dúvidas em afirmar, que este orçamento é a única opção que nos resta. 

Sou apologista e é uma das poucas críticas que faço ao actual Ministro das Finanças, é que deveríamos ser um pouco mais incisivos junto da Troika, no sentido de podermos dar prioridade à redução da dívida e não tanto ao défice, as duas não são conciliáveis em tão curto espaço de tempo. 

Como é lógico, não vou perder tempo a comentar as posições ou supostos caminhos preconizados pelo PCP ou BE, porque isso seria uma total perda de tempo. Já a posição do PS e de António José Seguro deixa-me perplexo, porque perante a clarificação e quantificação dos impactos e resultados do “tal caminho alternativo”, as respostas são vagas, imprecisas e sempre envolvendo a União Europeia como a chave de todas as soluções. 

Sejamos sérios, no memorando de entendimento assinado pelo Partido Socialista, não há duplas interpretações, não há dois caminhos, não há escolhas, há sim, objectivos reais, traduzidos em números e limitados no tempo. Vir dizer que a solução, é renegociar mais tempo e mais dinheiro, é uma não solução, recordo-me que na última avaliação da Troika, António José Seguro teve a oportunidade de salvar o Povo Português deste orçamento e não conseguiu, mas continua a vender o oásis. Mais uma vez o paralelo com Paulo Portas pode muito bem ser estabelecido  porque as condições e limites em que o orçamento foi elaborado não se alteraram e se dúvidas houvesse, hoje Selassie responsável do FMI dissipou-as. Azar António José Seguro, afinal não há outro caminho e talvez agora entendamos, porque é que Paulo Portas se apressou esta manhã a anunciar o voto favorável do CDS ao orçamento.

Todos sabemos que há outras opções para obter os mesmos resultados e quiçá mais sustentáveis e com mais futuro, mas ninguém tem coragem nem para as anunciar nem tão pouco as defender. Refiro-me a uma discussão que tem décadas e que se resume ao excesso de funcionários públicos. 

Quem tem a coragem de anunciar a rescisão ou a não renovação de contratos de trabalho a termo ou a prazo de 100.000 funcionários públicos? Simplificando algo muito complicado do ponto de vista social, doloroso e penalizante para quem se veja envolvido neste processo, esta medida poderia representar uma redução directa no défice, num montante muito próximo de 2.000 milhões de euros ano. 

A vida é feita de opções e os remendos e a cosmética a que se tem recorrido sistematicamente ao longo deste anos não têm resultado, não são sustentáveis e apenas têm disfarçado o indisfarçável.

Apesar de não ser um fã nem do actual Presidente da Republica nem de Mira Amaral, as palavras deste último foram sábias, quando referiu que Cavaco Silva não tinha sido eleito para ser o Paizinho desta coligação. Pelas razões que enumerei, creio que o recado foi dirigido essencialmente ao CDS, no sentido de se assumirem como homenzinhos de uma vez por todas.

O caminho das pedras

Ver notícias da manifestação de segunda-feira em frente ao Parlamento, definitivamente, aparta-me de quaisquer preocupações de cuidado na expressão. Se os demais protestos revelaram alto teor de civismo e constituíram democráticos e saudáveis exercícios de dissenso democrático, este grupo constituindo em medida não desprezível por delinquentes de cara tapada a recolherem pedras para atingirem a PSP, jovens em topless (embora a rapaziada agradeça, juro que continuo sem perceber a mensagem…) e autênticos “garotos” com lenços “à Arafat” e cabeleiras infindas – dizia eu –esta gente mais não comete do que crimes contra a ordem pública, desprestigiando os milhares e milhares de concidadãos que, com elevação e com igual veemência (embora do tipo saudável), encheram ruas para gritar a sua dor.

Dito de outro modo, quero deixar claro que não serão quaisquer manipulações de movimentos anarquistas ou blocos extremistas que porão em causa a democracia ou a genuinidade dos milhares que clamam por um rumo diferente; o que se viu, há dois dias, foi apenas pouca vergonha e uma polícia com movimentos algemados por ordens superiores. O que é arruaça deve ser tratado como tal, mas a política ocidental recuou perante os media e os movimentos políticos radicais, conduzindo a uma perigosa inacção em casos de tumultos incentivados por alguns agentes provocadores, sujeitando os bravíssimos e dignos homens e mulheres das forças de segurança pública a actos de resistência espúria e a humilhações públicas, em lugar de poderem, com o equilíbrio que sabemos terem no caso português, a sua missão de reposição da ordem pública e de defesa da democracia.

No meio de tudo isto, subsiste a dita crise e teme-se um orçamento “de corda ao pescoço”. Não percebo como é que tomamos medidas para agradar a credores - designadamente, FMI e União Europeia – que asfixiam o devedor… A menos que os Países em crise possam ser vendidos como salvados, não entendo como posso continuar a fazer omeletas se corto o pescoço à galinha poedeira…

Aliás, a minha evidente burrice começa há muitos anos, pois nunca percebi uma construção política que, durante anos, pagou para arrancarmos vinha e olival, deixarmos de plantar cereais, abatermos barcos de pesca e limitou a quantidade de leite produzido (que perdoem os entendidos se alguma das premissas não for exacta). Resistindo à tentação de ver proximidade entre isto e os falhados planos quinquenais soviéticos, estou quiçá num limbo de ingenuidade tecido que faz supor que, outra fora a nossa vontade de agradar como bons alunos (a França tem o escândalo de lucrar milhões com a Política Agrícola Comum e a Espanha, ao que sei, nunca foi tão obediente como nós), estaríamos em condições de muito maior suficiência produtiva para, pelo menos, atenuar a crise e matar a fome.

Seja como for, Nação velha e independente de quase novecentos anos que somos, trilharemos mais este caminhos das pedras, de preferência sem as atirarmos…

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Nobel da discórdia


Esta manhã a academia sueca anunciou o Nobel da Literatura de 2012: Mo Yan, um aclamado autor para uns, um perfeito desconhecido para outros (como eu). Em Portugal há apenas um livro traduzido do escritor chinês e, ao que parece, está fora de circulação. É por isso compreensível que este nome cause, entre nós, alguma estranheza. Porém, mais que estranheza, é discórdia o que a atribuição do prémio a Mo Yan está a provocar. 

O descontentamento com o novo Nobel parte sobretudo de observadores de direitos humanos e de escritores chineses. Isto porque o autor é acusado de ser conivente com o regime da República Popular da China. A esse propósito, o artista plástico e mais mediático dissidente chinês da actualidade, Ai Weiwei, disse ao Público que «dar este prémio a um escritor que conscientemente se dissociou das lutas políticas da China de hoje é quase intolerável». Consta que são evidentes os laços estreitos de Mo Yan com o Partido Comunista e que na sua obra o autor espelha uma China desfasada da realidade. Talvez a excepção tenha sido a obra "Peito Grande, Ancas Largas", censurada pelo governo chinês e retirada de circulação, por iniciativa do próprio autor, corria o ano de 1995.   

Curiosamente, Mo Yan é na verdade o pseudónimo do autor e significa «o que não fala». E os que agora consideram imerecida esta nomeação lembram, a propósito do outro Nobel (da Paz) chinês, Liu Xiaobo, que Mo Yan nunca se pronunciou sobre o cativeiro deste seu colega que nunca chegou a receber o prémio, anunciado em 2010. O escritor Liu Xiaobo cumpre pena até 2020 por «subversão contra o poder de Estado», ainda que reconhecido pela Academia Sueca por ser «um lutador não violento pelos direitos humanos fundamentais da China»

Bem ao contrário da recepção pela China quanto ao laureado Liu Xiaobo, Mo Yan foi hoje agraciado pelos media chineses e por muitos dos seus conterrâneos pelo galardão obtido.   

A discussão que se levanta em torno deste Nobel não é, de facto, simples. Se por um lado é compreensível que nos repulse a cumplicidade de um homem letrado, um intelectual moderno, com o regime de Pequim, que todos os dias é notícia pelos piores motivos, por outro há margem para compreender que a forma de luta de Mo Yan pode bem ser outra: «Some may want to shout on the street, but we should tolerate those who hide in their rooms and use literature to voice their opinions» - disse.

Além disso, o escritor parece não ter muita margem de manobra, e é o primeiro a reconhecer isso, quando falou  sobre um episódio na Feira do Livro de Frankfurt, da qual se ausentou juntamente com a delegação oficial chinesa ao constatar que ali marcavam presença dois escritores dissidentes: "Eu não tinha escolha. Recebo um vencimento do Instituto de Investigação para os Artistas do Ministério da Cultura e tenho aí a minha segurança social e o meu seguro de doença. Esta é a realidade na China. No estrangeiro toda a gente tem os seus próprios seguros. Mas na China, se não me puser na fila, não posso dar-me ao luxo de ficar doente".

Sem dúvida, um Nobel cuja justeza é difícil de ajuizar, a menos que se consiga dissociar a qualidade literária do autor - que não ponho em causa - da sua atitude e responsabilidade para com o mundo que o rodeia. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Diz que é uma espécie de despesa pública

No seguimento do post anterior, chega-nos hoje a notícia de que a contenção orçamental para a cultura obrigará a Cinemateca a suspender as legendas dos seus próximos ciclos. Fosse a medida exibir as legendas sem o filme e João César Monteiro seria um modelo para o ministro Vítor Gaspar.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cultura ao quilo

Nos últimos dias, aquela que suponho ser a maior cadeia de livrarias da África do Sul, a Exclusive Books, repetiu nos seus armazéns de Randburg uma curiosa iniciativa: livros ao quilo!

E se o leitor pensa que estamos a falar de livros com trinta anos ou em mau estado, muito se engana. Claro está que também não encontra os sucessos do momento, mas em dezenas de gigantescas mesas (por cima e por baixo das mesmas) podia encontrar excelentes álbuns (refiro-me, não sei se com propriedade terminológica, aos livros de capa dura, edição de qualidade e soberba ilustração fotográfica), romances (em inglês e africânder), boa banda desenhada, livros infantis e leitura “utilitária” (cozinha e afins).

Trago a iniciativa à colação para dizer que muito me impressionou uma acção de promoção cultural de cariz exclusivamente privado e que democratizou a Cultura de forma evidente. Basta dizer que, nas duas ocasiões em que ali me desloquei, constatei o jaez pluriétnico e interclassista da frequência.

Fica, por isso, uma anotação para a FNAC, a Bertrand e quem mais por aí opere em larga escala para que reparem que, independentemente de medidas fiscais e programas governamentais para o sector, as empresas podem lançar os seus próprios incentivos, sem necessidade de cartões de fidelização ou sem limitar os descontos a meia dúzia de produtos ou a percentagens irrisórias.

Com o que fica dito, não olvido (de modo algum!!!) aquela que, como já escrevi vezes sem conta, deveria ser uma aposta magna do Estado.

Sei bem que vivemos tempos de crise e que o raciocínio mais imediato será no sentido de dizer que há outras prioridades. Se não me é difícil concordar com a asserção prévia, também afirmo que será um erro subestimar a hierarquia da importância da Cultura, nesta mesma época.

Desde logo, falamos de uma área em que o elemento económico já é tudo menos despiciendo; ou seja, seria um bom motivo para estimular parte da economia, criando ou mantendo empregos.

Mais importante ainda, falamos de uma área que contribui de modo indiscutível para o bem-estar do ser humano, algo de que bem andamos carenciados.

Encurtando os argumentos, creio ainda que, quando a produção é de qualidade, qualquer associação estatal ou mecenática grava o nome de quem a apoia nas mentes de quem a vê, lê ou ouve.

Entendo, por isso, que privados e Estado deveriam, mesmo nos dias de hoje, apoiar a Cultura com veemência, dado que com gastos pequenos ou diminutos lucros cessantes conseguiriam aprovação, melhorias económicas e acréscimo da qualidade de vida dos cidadãos. Pensar de outra ver maneira é, salvo melhor opinião, “não ver bem o filme” ou “ler o livro errado”…

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Opinião Isenta sobre Portugal

Um artigo de Jacques Amaury, sociólogo e filósofo francês, professor na Universidade de Estrasburgo. 


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Portugal atravessa um dos momentos mais difíceis da sua história que terá que resolver com urgência, sob o perigo de deflagrar crescentes tensões e consequentes convulsões sociais. Importa em primeiro lugar averiguar as causas. Devem-se sobretudo à má aplicação dos dinheiros emprestados pela CE para o esforço de adesão e adaptação às exigências da união. Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito retirou

Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na qualidade da educação, vendeu ou privatizou mesmo actividades primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo. Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas, fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça, frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre

A política lusa é um campo escorregadio onde os mais hábeis e corajosos penetram, já que os partidos cada vez mais desacreditados, funcionam essencialmente como agências de emprego que admitem os mais corruptos e incapazes, permitindo que com as alterações governativas permaneçam, transformando-se num enorme peso bruto e parasitário. 

Assim, a monstruosa Função Publica, ao lado da classe dos professores, assessoradas por sindicatos aguerridos, de umas Forças Armadas dispendiosas e caducas, tornaram-se não uma solução, mas um factor de peso nos problemas do país. 

Não existe partido de centro já que as diferenças são apenas de retórica, entre o PS (Partido Socialista) e o PSD (Partido Social Democrata), de direita, agora mais conservador ainda, com a inclusão de um novo líder, que tem um suporte estratégico no PR e no tecido empresarial abastado. 

Mais à direita, o CDS (Partido Popular), com uma actividade assinalável, mas com telhados de vidro e linguagem pública, diametralmente oposta ao que os seus princípios recomendam e praticarão na primeira oportunidade. 

À esquerda, o BE (Bloco de Esquerda), com tantos adeptos como o anterior, mas igualmente com uma linguagem difícil de se encaixar nas recomendações ao Governo, que manifesta um horror atávico à esquerda, tal como a população em geral, laboriosamente formatada para o mesmo receio. 

Mais à esquerda, o PC (Partido comunista) menosprezado pela comunicação social, que o coloca sempre como um perigo latente e uma extensão inspirada na União Soviética, oportunamente extinta, e portanto longe das realidades actuais. 

Assim, não se encontrando forças capazes de alterar o status, parece que a democracia pré-fabricada não encontra novos instrumentos. 

Contudo, na génese deste beco sem aparente saída, está a impreparação, ou melhor, a ignorância de uma população deixada ao abandono, nesse fulcral e determinante aspecto. Mal preparada nos bancos das escolas, no secundário e nas faculdades, não tem capacidade de decisão, a não ser a que lhe é oferecida pelos órgãos de Comunicação. 

Ora e aqui está o grande problema deste pequeno país; as TVs as Rádios e os Jornais, são na sua totalidade, pertença de privados ligados à alta finança, à industria e comercio, à banca e com infiltrações accionistas de vários países. Ora, é bem de ver que com este caldo, não se pode cozinhar uma alimentação saudável, mas apenas os pratos que o "chefe" recomenda. Daí a estagnação que tem sido cómoda para a crescente distância entre ricos e pobres. 

A RTP, a estação que agora engloba a Rádio e TV oficiais, está dominada por elementos dos dois partidos principais, com notório assento dos sociais-democratas, especialistas em silenciar posições esclarecedoras e calar quem levanta o mínimo problema ou dúvida. A selecção dos gestores, dos directores e dos principais jornalistas é feita exclusivamente por via partidária. Os jovens jornalistas, são condicionados pelos problemas já descritos e ainda pelos contratos a prazo determinantes para o posto de trabalho enquanto, o afastamento dos jornalistas seniores, a quem é mais difícil formatar o processo a pôr em prática, está a chegar ao fim. A deserção destes, foi notória. 

Não há um único meio ao alcance das pessoas mais esclarecidas e por isso, "non gratas" pelo establishment, onde possam dar luz a novas ideias e à realidade do seu país, envolto no conveniente manto diáfano que apenas deixa ver os vendedores de ideias já feitas e as cenas recomendáveis para a manutenção da sensação de liberdade e da prática da apregoada democracia. 

Só uma comunicação não vendida e alienante, pode ajudar a população, a fugir da banca, o cancro endémico de que padece, a exigir uma justiça mais célere e justa, umas finanças atentas e cumpridoras, enfim, a ganhar consciência e lucidez sobre os seus desígnios.

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Questão de Coragem Política

Enquanto que Pedro Passos Coelho foi a Bruxelas, pedir a autorização para saquear os Portugueses doutra maneira,  com uma nova versão da TSU, uma mulher, a Presidente da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, demonstrou um carácter diferente num discurso que pronunciou na tribuna da ONU, ao responder ao chefe do FMI, outra mulher, Francesa, Christine Lagarde, pequena burguesa, conhecida, quando ministra das finanças de Sarkozy, pelo desprezo com que tratava os contribuintes franceses, que: "a FIFA teve mais sucesso na  organização do Campeonato do Mundo, que o FMI para reorganizar a economia mundial nestes últimos vinte anos"!

Foi uma resposta a Lagarde que tinha utilizado o termo "cartão vermelho" à Argentina , ameaçando-a de a "expulsar do campo", enquanto que muitos consideram que a Argentina foi e é um modelo para sair da crise sem passar nas garras do FMI.

Cristina Kirchner acrescentou que: "não somos uma equipa de futebol. Somos uma Nação soberana. E a crise económica não é um jogo. Mas sim a pior crise desde os anos 30."

Caso raro na ONU, Cristina Kirchner foi longamente ovacionada.  

"Para muitos", prosseguiu, "seriamos um mau exemplo, mas é bom de notar que a Argentina pagou os accionistas melhor que Emron, nos Estados Unidos (Empresa americana, que especulou no mercado da electricidade, faliu, e arrastou com ela a firma de auditoria Arthur Andersen. Milhares de milhões de dollars evaporados!) ." Para cada fatia de 100 dólares da dívida, Emron pagou 1 dólar, e a Argentina pagou 20" disse!
 
"Aqueles que pensavam sarar os problemas do mundo com as receitas que os geriram, tratam-nos de proteccionistas, enquanto que na realidade fomos vítimas do ultraliberalismo que devastou as nossas economias lançando para a miséria milhões dos nossos cidadãos"!
 
Creio que foi o seu marido, Nestor Kirchner, que disse um dia aos americanos: "Nunca mais aceitaremos de voltar a ser capachos de ninguém"!
 
No dia em que Portugal tiver politicos desta têmpera, ver-se-à uma luz no tunel!
 
Freitas Pereira