terça-feira, 30 de julho de 2013

CASINO “ROYAL”

As finanças públicas sempre foram geridas como se de um casino se tratasse, nós é que só nos apercebemos há pouco tempo. 

Vem isto a propósito da horda que andou a fazer SWAPS. O país está (e bem) escandalizado com a quadrilha que resolveu ir ao Casino jogar com as nossas fichas.

Mas também devia estar e responsabilizar todos aqueles que andaram a endividar gerações futuras como se não houvesse amanhã, no Estado, nas Câmaras, nas Empresas Públicas e afins…

Mas isto de andar a brincar à “banca francesa” com a massa do povo não é de agora e se estivéssemos num país a sério, onde todos os gestores públicos fossem criaturas responsáveis, a primeira consequência seria correr do Estado com esta quadrilha do Excel com fórmulas erradas.

Para efeitos de enquadramento do leitor face à temática e para que possa suportar a tese: imagine-se dono de uma empresa onde o diretor financeiro andava a brincar às “fichinhas” com o seu dinheiro! O que faria a tal espécimen? Promovia-o? Não me parece…

Diria porventura que as perdas eram responsabilidade do diretor que sucedesse ao “Victor Constâncio” lá da sua empresa? Também não me parece…

Ok, agora que estamos de acordo voltemos aos SWAPS.

Enquanto se anda a discutir o acessório e a espuma dos dias esquece-se que os SWAPS foram feitos no tempo do PS, era Teixeira dos Santos ministro das finanças e José Sócrates primeiro-ministro.

O PSD terá muitas culpas na forma como está a gerir a sua governação, com muita gente impreparada e sem unhas para as guitarras que lhes colocaram à frente… mas convenhamos e citemos os evangelhos sinóticos: “a César o que é de César”.

sábado, 6 de julho de 2013

Ficamos assim...

Embora com a devida moderação, não havia como não romper o silêncio sobre a vida política portuguesa.
Estando ainda “a bola a correr”, o que aqui se diga pode ficar desactualizado ao minuto. Todavia, algumas observações (repito, não tão acutilantes como desejaria) posso já fazer:
1 – À distância, fico com a impressão de que nunca se criou uma relação de confiança pessoal ou sequer de empatia entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Se é certo, como dizia um rival que tive na JSD, que “não precisamos de ser amigos para trabalharmos juntos”, a verdade é que, em não raras ocasiões, um bom entendimento ajuda.
Na minha modesta opinião, havia que ter posto em lugares charneira pessoas que pudessem fazer pontes e limar arestas entre os dois partidos. Fico, ao invés, com a sensação de que cada uma das forças coligadas nomeou os seus como se de uma sociedade por acções se tratasse.
Talvez Mourinho pudesse, melhor que eu, falar sobre a importância do espírito de equipa, mesmo pelo lado negativo da sua ausência, se pensarmos na experiência em Madrid…
Em todo o caso, a ser verdade o que se ouve, mais vale tarde do que nunca.
2 – Dizem as “últimas” que o CDS poderá negociar a manutenção na coligação, com alterações no elenco. A esse respeito, admitamos que o seu líder podia ter razão ao desejar maior grau de informação sobre as nomeações para a equipa. Todavia, voltamos ao mesmo ponto: será que o mesmo grau de consulta existiu nas nomeações dos titulares das pastas que cabiam àquele partido (para além da necessária e constitucional informação ao Primeiro-Ministro)?
O que foi mal calculado – beneficio da dúvida concedido, sem o que as palavras teriam que ser mais amargas – foi o efeito de uma decisão que, ainda que eventualmente profícua na defesa da auto-estima pessoal e colectiva (CDS), teve uma série de efeitos imediatos devastadores, com consequências que chegaram ao plano internacional.
“Que farias tu?” – perguntariam alguns leitores. Nestas coisas da política, creio que o País está sempre primeiro. Por muitas eventuais tropelias com que nos dificultem a vida, os objectivos do mandato conferido têm que estar primeiro (a uma escala ínfima, sei o que é ter um grupo interno a sabotar – e estou certo que nem por sombras se passou algo assim na coligação – e não desmobilizar até completar a missão). Por outras palavras, mesmo que admitamos que Portas tinha razões de queixa, creio que, inquestionável patriota que é e sempre foi, deveria ter sopesado melhor os resultados da sua consternação e, talvez, aumentado a sua capacidade de sofrimento ou, em alternativa, lograr os mesmos resultados através de uma negociação discreta.
Em suma e em matéria de cenários, creio que a manutenção renegociada da coligação é o cenário preferível (tacticamente, até para António José Seguro), seguindo-se nas opções defensáveis um eventual elenco resultante de esforços presidenciais (os governos de iniciativa presidencial estão fora do seu alcance), embora não acredite que tal encaixe no perfil do nosso Presidente. Os custos de um acto eleitoral iriam muito além da organização do escrutínio.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Conflito intergeracional

Longe de mim dar início a uma contenda intergeracional, mas não posso deixar passar ao lado, ou branquear, acusações mais ou menos veladas à nova geração de políticos/governantes, só porque vieram das jotas e porque segundo alguns destes dinossauros da política, tiraram licenciaturas sabe-se lá como.

Para quem não me conhece, tenho 50 anos, pertenço a actual geração de políticos/governantes e portanto segundo os iluminados deste Pais, pertenço à geração responsável por tudo o que de mau acontece em Portugal.

Então vamos por partes e nada como uma abordagem cronológica:

- Foi esta geração que aprovou a constituição em 1976, ideológica, estática, caduca e restritiva em termos de futuro. Recordo, que passadas quase 4 décadas, pouco ou nada foi alterado na sua génese e que depois de 1976, já caiu o muro de Berlim, já não existe União Soviética, a China é tudo menos comunista, a globalização veio para ficar, não temos fronteiras na Europa e finalmente os jovens de hoje são cidadãos do mundo e não deste pequeno rectângulo, porém temos a mesma constituição.

- foi esta geração que fez uma descolonização vergonhosa, ignorando e menosprezando Portugueses? De um momento para o outro, famílias inteiras chegaram a Portugal, com a promessa de que as poupanças amealhadas ao longo de uma vida de trabalho seriam convertidas e disponibilizadas pelos bancos em Portugal. Mentira, a maioria delas foi espoliada, tiveram que começar do zero, outras enlouqueceram como alguns casos que conheci de perto

- foi esta geração que nacionalizou o tecido empresarial Português e assim condenou o País e os Portugueses a um retrocesso de mais de 3 décadas?

- foi esta geração que esteve envolvida nos escândalos de Macau, nas verbas do Fundo Social Europeu ou até nos fundos de coesão colocados à nossa disposição pela então pela CEE? Não foi, pois não? 

- foi esta geração que atribuiu a si própria reformas e pensões vitalícias depois de 8 anos de descontos, mais tarde corrigida para 12, como é o caso dos deputados, autarcas e afins, quando o comum dos trabalhadores necessita de 40 anos de descontos?

- foi esta geração que criou as regras de supervisão bancaria, que supervisionou e que permitiu que casos como o BPN e BPP acontecessem?

- foi esta geração que tomou a decisão de nacionalizar estes banco se com isso se tivessem salvaguardado os interesses das grandes fortunas, fazendo o Povo Português pagar por erros que não cometeu?

- foi esta geração que criou este sistema de justiça, que deixa impunes todos os crimes de colarinho branco, típicos de quem ocupou cargos de decisão ao longo destes anos?

Não, não foi esta geração que cometeu estas barbaridades e outras que me dispenso recordar, mas que está bem presente na memória dos Portugueses.

Agora, tenho que ser honesto e dizer com toda a clareza, que a actual geração que começou com Pedro Santana Lopes na governação, teve o seu epilogo com Sócrates também prevaricou e porquê? Porque os ensinamentos, os maus exemplos e as más praticas ficaram e quando se critica esta geração por ser o resultado de jotas mal preparados, mais uma vez, o exemplo veio de cima, dos mais velhos, da geração que hoje se auto-intitula, iluminada e responsável.

Como já vem sendo prática nos meus artigos, tento ser imparcial e não poderia deixar passar aqui alguns aspectos positivos da geração dos iluminados:
Fez o 25A e devolveu-nos a liberdade. Desenvolveu um sistema de saúde, de educação, um estado social e uma rede rodoviária de que nos podemos orgulhar, mas mesmo aqui, foram cometidos excessos, que a actual e próximas gerações vão ter que pagar

Mais uma vez, não fui eu que dei inicio a um conflito intergeracional, ele existe e foi iniciado pelos tais iluminados, personificada por Mário Soares, Freitas do Amaral, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Bagão Felix, só para citar alguns, porque a lista é interminável. E porquê?

Porque habituados a viver a conta do estado Português directa ou indirectamente, pela primeira vez, estão a ser chamados a contribuir tal como os restantes cidadãos para salvar o nosso rectângulo de um descalabro muito provável. Pois é, é que um amigo meu, lembrou-me um máxima que era repetida muitas vezes por alguns destes Senhores em tom jocoso:
Perante uma manifestação em que se gritava, "os ricos que paguem a crise", o comentário não era nem mais nem menos do que, "Então eles não sabem, que são sempre os pobres que pagam a crise?"

Não tem esta geração o direito de dizer "BASTA":  não queremos a constituição que vocês escreveram, não queremos a justiça que vocês criaram, não queremos certos vícios e certas práticas. Queremos manter e melhorar o que  foi bem feito e corrigir o que foi mal feito.

Finalmente e só porque discordamos em algumas matérias, não queremos ser apelidados de irresponsáveis e mal preparados, mas sim e em conjunto, corrigir excessos, garantindo a sustentabilidade e o futuro das próximas gerações.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A minha audiência com o Don

Embora o título tenha uma insinuação de idiossincrasia mafiosa, o conteúdo visa desmistificar uma ideia pré-concebida e ratificar uma ideia que há muito nutro: a de que não podemos deixar-nos conquistar pelos medos.

Vem isto a propósito de mais uma experiência vivida na Venezuela e que continua a manter viva na minha cronologia uma certeza objectiva que mostra que, conhecido quase meio mundo, o único assalto de que fui alvo foi há 27 anos, em Lisboa, e o único furto em residência que sofri foi há 3, em Coimbra. Sorte?! Pois, com certeza. Nada se faz sem ela… Tarimba?! Quiçá… Porém, os anos e os quilómetros percorridos reforçam a minha determinação de, observadas as cautelas elementares, não “dar a rua aos criminosos” e não tomar o todo pela parte; nem mesmo as cidades ditas perigosas conseguem ter um malfeitor em cada esquina.

Dito isto, vamos à ordem do dia – isto lembra-me as batalhas parlamentares e as saudades que por vezes tenho dos tempos de combate político (ao mesmo tempo que me lembro, diga-se, da iniquidade que também vi) – começando pelo deslindar do mistério maior: no último sábado, contra todas as advertências dos amigos venezuelanos com quem ia falando, mas precatando-me razoavelmente, resolvi ir ao “Festival Movistar de Reggaeton”. Cumpre, então, dissecar o objecto de anunciado delito.


Em primeiro lugar, o evento decorreu no Poliedro de Caracas, local circundado por vários barrios (aquilo que chamamos favelas, no Brasil), e parece que muitos venezuelanos de outra condição passaram a evitar o local. A esse respeito, a primeira absolvição: a segurança abundava, as entradas e as tiendas de comida estavam muito bem organizadas, os sectores eram estanques e tudo prometia um meio-dia e uma meia noite de festa.

Depois cifravam-se os medos e pesadelos em torno do estilo musical que é muito conotado com escalões sociais de mais baixos rendimentos e mesmo com franjas marginais da sociedade. O reggaeton surgiu de uma mescla da chamada música latina com os sons do Caribe – com evidente destaque para o reggae – comportando ainda tonalidades do hip hop. Segundo a maioria das fontes, tem as suas origens em Porto Rico e no Panamá, espalhando-se por toda a América Latina (hoje, um dos bastiões é também a República Dominicana) e, mais tarde, por todo o Mundo, o que, a meu ver e como explicarei, teve o efeito de atenuar a causa de muitos dos medos alheios que fui destilando.

O caminho deste género musical foi sendo feito muito próximo das classes trabalhadoras e dos circuitos juvenis underground, aproveitando os mais jovens – quiçá como sempre sucedeu – a arte para contestar as convenções. Como era de esperar, o reggaeton foi rotulado de obsceno e marginal (falava de drogas, crime e outros problemas dos sectores mais desamparados das cidades), e, reconheça-se especialmente quanto ao primeiro epíteto, com alguma razão quer pelo erotismo a roçar a pornografia de algumas letras iniciais, quer pelo modo de dança que o acompanhava, que era, mais uma vez com predominância nos seus alvores, uma versão hardcore da lambada.

Tendo começado por uma amadora caracterização do género, deixo agora uma breve ideia do que foi o festival organizado pela Movistar, num Poliedro de Caracas (o recinto) que não encheu, ao invés do esperado, quer pela fama de insegurança – pelo menos neste caso, imerecida – quer pela crise que começa a afectar seriamente os venezuelanos (a moeda desvaloriza, os preços sobem, mas os salários não acompanham).

A tarde fez o seu caminho para noite com notas dos artistas locais. A seu tempo, passaram pelo enorme palco montado no estacionamento do Poliedro (onde está prevista a actuação dos norte-americanos Aerosmith, em Setembro – por cá, referirmo-nos aos cidadãos dos EUA como “americanos” ofende os locais, que também reclamam a filiação continental) Manu y Jota,



Oscarcito – o autor de um eloquente “Reggaeton con Gusto” –


e Los Cadillac’s, mais um duo do panorama “reggaetonesco” venezuelano, que decidiu aquecer o ambiente (de forma surpreendentemente eficaz) com temas como “bon bon”.



Contudo, ninguém tenha ilusões, todo este som era apenas a escadaria de pano vermelho por onde haveria de descer “El Rey”, Don Omar, que, aliás, parece ter encarnado o título ao aparecer impecavelmente trajado com fato e gravata (sublinho que não há nada menos usual no mundo do reggaeton, mais conhecido pelas fatiotas berrantes e pelo “desleixo” calculado tributário do Hip Hop e do Rap).



Ante o êxtase generalizado, começou o rol de êxitos do cantor porto-riquenho: “Dale Don Dale”, “Virtual Diva” (celebrizada pelo refrão de que consta o sonoro “Ooh, chequea como se menea”), “Taboo” (a versão “régia” da brasileira “Lambada”) e, entre outros, o apoteótico “Danza Kuduro” que chama a atenção pela participação (que não no concerto) de Lucenzo. Ora bem, sendo que o dito colaborador e autor da versão inicial da música canta coisas como “Mexe Kuduro/ Balança que é uma loucura/ Morena vem ao meu lado/ Ninguém vai ficar parado”, mesmo antes do festival, importava ver quem era o rapaz que tão bem se expressa na língua de Camões, ao lado de El Rey…


O nosso Lucenzo é, nada mais, nada menos, o cidadão Luís Filipe Oliveira, nascido em Bragança e que, ignorado por muitos compatriotas, gravou com nomes grandes da música dançável como Don Omar, Pitbull e Sean Paul. A música mais conhecida na versão gravada com El Rey liderou a prestigiada tabela Billboard Latin Songs. Ou seja, goste-se ou não do estilo, há portugueses capazes de fazer tão bem como os outros…

Retomando e finalizando a narrativa, haveria a minha passagem pelo género de terminar com o dominicano Arcángel (leia-se “La Maravilla”), culpado pelos ensurdecedores gritos das adolescentes. Percebe-se que estamos perante um Justin Bieber do reggaeton, quer pela excitação causada, quer pelas letras.




Em suma, pode dizer-se que se presenciou um mundo à parte, com música muito mais audível do que o esperado e, sobretudo, com uma influência positiva derivada da sua globalização: as letras e a encenação estão hoje muito despojados do seu conteúdo sexual inicial, tendo sido aligeirados para melhor.