sábado, 30 de agosto de 2008

Decision 2008


O candidato à Casa Branca, Barack Obama, tem sido frequentemente acusado de ser um político vazio e sem ideias que baseia toda a sua estratégia num discurso emotivo, onde não se podem captar quaisquer indícios de um programa político.
Ora, Barack Obama veio provar precisamente o contrário no seu último discurso na convenção democrática de Denver. Quem teve a oportunidade de assistir ao mesmo, pode reparar que este apresenta propostas bem definidas para diversas áreas, que de resto o diferenciam bastante de John Mccain.
No que diz respeito à dependência energética este propõe uma clara aposta nas energias renováveis (ao invés de explorar, por exemplo, recursos que se encontram em áreas naturais protegidas), propõe também uma série de medidas que visam colmatar as falhas geradas por um sistema de saúde que se baseia exclusivamente em contratos com seguradoras (demonstrando uma coragem que poucos teriam, para enfrentar um dos mais poderosos lobby’s dos E.U.A.), ao mesmo tempo que sugere um apoio mais abrangente às famílias para que os mais jovens possam aceder às universidades sem que estas tenham de contrair empréstimos que esmagam o orçamento familiar. Se isto não bastasse, Obama, supostamente um homem fraco no plano da política externa, parece querer renegar à política belicista e à arrogância que marcaram a administração Bush, para dar primazia à diplomacia, evitando conflitos desnecessários, vejam-se os casos do Irão e do recente dejá vu da guerra-fria.
É claro que podemos encontrar alguns traços de demagogia no discurso do candidato democrata, quando este repete incessantemente o seu mítico slogan Yes, We Can, ou quando tenta demonstrar em plena convenção as suas qualidades de pai de família (respeitando o bom velho american dream), mas que atire a primeira pedra quem encontrar um politico americano que não possua esses traços.
Com todas estas propostas (e só citei algumas) não se pode dizer que Barack Obama tenha um discurso vazio e ainda que possamos questionar a sua capacidade para atingir as metas que estabelece, todos temos de concordar, como relembrou o sociólogo americano, Alvin Tofler, aquando da sua última visita ao nosso país, que a eleição deste homem seria um marco importantíssimo não só para ultrapassar as barreiras existentes face às comunidades negras de diversos países ocidentais, como face a todas as outras minorias vítimas de discriminação.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Os novos doutores

Ao ler a última edição do “Expresso”, fica-se-me parva a alma…

Leio um artigo sobre Educação e, entre outras pérolas, vejo que um aluno do 6º ano (se me não falham as contas, do 2º ano do ciclo preparatório, no meu tempo) passou de ano com nota negativa a oito das nove disciplinas que tinha (isso mesmo: 8 negativas em 9 cadeiras)!!!...

Segundo os sábios que, com teorias de pouco resultado prático, ganham a vida no Ministério da 5 de Outubro, a ideia (expressa pelo dito “Expresso”) é evitar o abandono escolar antes de cumprida a escolaridade obrigatória e, além disso, conceder aos alunos o mínimo de competências para terem uma profissão. Parece que, segundo o mesmo semanário, citando elementos do conselho executivo da escola de Odivelas, o aluno aguardava, pese embora sem garantia, o ingresso num Curso de Educação-Formação (um curso técnico).

Não subestimando este último dado, queimam-se-me os neurónios perante alguns problemas que a minha burrice não me permite resolver; a saber: garantir o mínimo de competências?! Para um aluno que reprova a cerca de 89% das disciplinas?! Quem garante que mudá-lo de ano sem ter entendido peva do que tentaram ensinar-lhe vai fazer dele um cidadão competente para o que quer que seja?!

Depois, pergunto: que ideia é essa de que um mau aluno do ensino “clássico” vai interessar-se por aprender num curso técnico?! A menos que haja a convicção de que o ensino técnico é bom para retirar os menos “capazes” da escola dos meninos inteligentes… Não me espantava, já que foi essa esperteza saloia e esse novo-riquismo que fizeram com que ganhássemos a mania dos “doutores e engenheiros”, destruíssemos a nossa malha social de quadros técnicos qualificados (fechando o ensino técnico institucionalizado) e nos tornássemos num dos mais atrasados países europeus!

Como se tal não bastasse, o prevaricador-mor gaba-se da façanha; Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação, declarou àquele jornal que “temos a pior taxa de repetência e de abandono escolar da OCDE”. Ou seja, segundo este iluminado da política nacional, o que importa é maquilhar a estatística europeia, já que não demonstra (missão impossível, digo eu) que as suas medidas qualifiquem melhor os nossos estudantes!...

Que há uma certa propensão da equipa ministrial para a farsa com os números já se sabia; o que nos faltava era uma confissão!...

Mas não me entenda mal o amigo leitor: não sou a favor de que se abandonem os jovens com menor aproveitamento. Porém, no que também não alinho é na passagem para europeu ver ou na assunção dos cursos técnicos ou profissionalizantes como refugo, antes defendendo que a sua opção seja, cada vez mais, a escolha primeira de muitos jovens.

O problema da cosmética do Ministério é que formamos gente que sabe cada vez menos (qualidade do saber) de cada vez mais (informação disponível) e daí sairão, entre outros, os futuros professores e os novos governantes.

Pobre País o nosso que chumba o seu próprio futuro!

Mal e porcamente

Que as operadores de televisão por cabo antendem mal e porcamente já sabia.
No que diz respeito à minha maison de Coimbra, foi o péssimo serviço da TV-Cabo (hoje ZON TV-Cabo) que me levou a mudar para o único operador concorrente.

Todavia, acabo de ligar para o atendimento a clientes, onde o jovem que "arremessaram" para o dito serviço estava tão bem formado (falo de formação profissional, algo que incumbe à entidade patronal) que não soube responder às seguintes perguntas (dificílimas, como verão):
  1. Há ou não a possibilidade de ir buscar um descodificador à loja da empresa?
  2. Qual o telefone da loja de Coimbra? Aqui, limitou-se a papaguear o que todos podemos ver na página que a empresa tem na Internet: morada e horário de funcionamento...

Quando é para subscrever coisas, é tudo fácil! Para cancelar é preciso quase que ressuscitar o papel selado (os mais jovens que perguntem aos paizinhos...).

Resta agora a peregrinação, para ver se fazem o favor de me informar pessoalmente.

É também na forma como servimos que se vê a pequenez do nosso povo e o atraso do nosso País!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Sócrates com saudades de Santos Silva

Já que comemoramos o texto nº 1000, que maneira mais digna do que dedicá-lo ao nosso Primeiro-Ministro e ao Ministro dos Assuntos Parlamentares?!...

No Colombo não há só fadas...

A nova campanha do Colombo apela ao fantástico e com razão!!! Eles até têm "logistas"!!!

O que tu queres sei eu!...

Vicente Moura cobriu-se de ridículo com a novela sobre a sua continuidade à frente do Comité Olímpico Português.

Porém, ou me engano muito ou Rosa Mota tem procurado cobrir-se de ambição, pois não me parecem ao acaso as críticas ao ainda Presidente do COP e as aparições ao lado do Secretário de Estado do Desporto, conhecida que é, aliás, a sua preferência pelo cor-de-rosa...
A nova maratona da nossa campeã começa com pêlo na venta (é "venta" que se diz?!)!...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Como o ridículo não mata...

Vicente Moura, Presidente do Comité Olímpico Português, disse, quando tudo nos corria mal em Pequim, que não se recandidataria ao cargo que ocupa quase desde a I República.

O momento era péssimo, mas sempre achei que as pessoas não deviam eternizar-se nos cargos (descansem alguns deputados do PSD, pois não é nada com eles...).

Todavia, após Vanessa Fernandes e Nelsón Évora ganharem as suas medalhas, Vicente de Moura admitiu recandidatar-se, se houvesse uma vaga de fundo das federações...

Hoje, ouvi no noticiário matutino que se recandidata mesmo...

É bonito ver um tipo tão altruísta e solidário!

Preferia ser órfão

Lendo o "Público" vejo que:

"Robert Mugabe chegou ao edifício parlamentar num Rolls Royce, onde foi recebido por partidários que entoaram 'ele é o nosso pai, ele é o nosso líder", ao mesmo tempo que a polícia detinha vários parlamentares da oposição"
(...)
"Os deputados são acusados do crime de homicídio, fogo posto e um mesmo de violação (...)"
  1. Rolls Royce?! Com 165.000% de inflação, em Fevereiro (há notas de 100 e 250 milhões de dólares zimbabueanos)? Com desemprego na casa dos 80%? Com fome?
  2. Deputados da oposição?! Não será o inverso?...

O que vale é que mesmo os lacaios de Mugabe começam a cansar-se e a revolta de alguns permitiu eleger um deputado da oposição "genuina" para presidente do parlamento...

Beleza cinematográfica em ponto de rebuçado

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Isn't she lovely?

Para quem ainda não a ouviu penso que vale a pena.
I'm a believer..."yes we can" ;)

35 mílimetros de filosofia

O Cinema "Nimas" decidiu, e bem, promover uma retrospectiva de alguns filmes marcantes de 2007.

Ontem foi a vez de "Uma Segunda Juventude" ("Youth Without Youth", no original), o primeiro filme de Francis Ford Coppola, em dez anos.

A película tem base na obra homónima ("Tinereţe fără tinereţe", em bom romeno) do filósofo das religiões e romancista Mircea Eliade e, como tal, aborda problemas que vão da decadência cronológica do ser à busca da juventude eterna, passando pela questão do uso egoísta dos dons e pela busca do início de tudo o que existe. Pelo meio, alguma especulação sobre problemas éticos contemporâneos como o uso do poder nuclear e as sempre polémicas relações entre a moral e a ciência (João Paulo II escreveu uma encíclica sobre o tema).

Não é um filme acessível, mas é muito interessante. A ver como convite à reflexão.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Zapping, para quê?!



À estreia da novela juvenil da SIC "Rebelde Way", responde a TVI com seis horas (seis!) de "Morangada". Assim vai a televisão portuguesa.

"Alte" e pára o baile!

Sábado à noite, Jardim de Alte (Loulé)... Temperatura amena, cenário natural fantástico...
Catherine Deneuve, Dulce Alves, Gonçalo Capitão e outras celebridades assistiram, em cenário edénico, à apresentação do percurso a solo de Rui Reininho, que, aliás, segue a linha do projecto "Vinte Canções de Amor e um Poema Desesperado", apresentado no São Luiz.
Gostei... A "Catarina" não sei... Pode ser que comente este texto.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Diz-me onde vais às compras e dir-te-ei quem és...

Monção, Julho 2008

Gajo de gabarito III

Enquanto alguns atletas portugueses (e não só) foram fazendo cenas estúpidas e declarações infelizes, como fomos dizendo, histórias como a que o "Público" hoje conta fazem brotar o lado bonito do desporto e a sua potência enquanto veículo de mensagens positivas.

O senhor da fotografia é austríaco, chama-se Matthias Steiner e acabara de ganhar a medalha de ouro, em halterofilia. Subindo ao pódio, puxa da fotografia da mulher e beija-a...

Até aqui, nada de novo, excepto se vos disser que a mulher de Steiner morrera num acidente, pouquíssimo tempo antes dos Jogos Olímpicos e que o atleta prometera ganhar o ouro em sua homenagem. Mais disse que iria visitar a sua campa, mal regressasse.


Sei que Steiner nunca lerá o Lodo, mas o abraço cá fica.

Nota: a fotografia foi retirada do "Público".

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Reles ou rasca, eis a questão!

Ontem, aceitando um apelo da meninice e dando ouvidos a um canto de sereia, fui a Alcobaça ver um concerto de José Cid, recuando cerca de 20 anos no tempo.

A coisa corria bem, com os carrosséis a iluminarem o recinto da feira e o dito Zé a tocar músicas que só o surdo desconhece...

Todavia, a caminhar para o final do espectáculo, José Cid decide prestar homenagem ao adágio popular "quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão" e dedica-se a algo para que não tem a menor queda: humor.

Primeiro, na canção "A pouco e pouco" (a das "favas com chouriço"), a mais de simular a relação de um industrial do Norte (mal vestido, na descrição) com uma brasileira muito mais nova (resisto a falar em preconceito, bastando-me com o mau gosto), altera a letra na parte "Faz-me favas com chouriço/O meu prato favorito/Quando chego para jantar/Quase nem acredito!", para que a última parte seja, sucessivamente, "estás a lavar ou a coçar o pit..."...

Depois, usa o seu êxito "A Anita não é bonita" para parodiar dois casos amorosos com raparigas feias (as que sobravam, na sua ficção, depois de os demais membros da banda fazerem as suas escolhas) de nome Anita, que comparou a Odete Santos e Manuela Ferreira Leite... Deixando de lado a questão de saber se José Cid é a pessoa indicada para o fazer, devo dizer que sempre rejeitei humor (ou tentativa) feito à custa de defeitos ou características físicas e/ou íntimas de outrem.

Não sei se é senilidade, mas José Cid devia ater-se à cantoria, não fazendo piadas fáceis e brejeiras.

E lá se vão as tristezas e as dívidas ao padeiro!


Depois da tempestade que se abateu sobre os atletas portugueses a representar Portugal em Pequim, eis a bonança: finalmente a nossa bandeira chega ao topo do pódio do Jogos Olímpicos.

Nélson Évora acaba de confirmar o seu talento ao arrecadar com um magnânimo salto de 17,67m a Medalha de Ouro no Triplo Salto.

Depois de prestações medíocres e das (muitas) tolices proferidas por alguns atletas lusos, depois do desaire de Naide Gomes, depois da pobre (mas digna) despedida de Obikwelu, depois da honra do convento salva pela imparável Vanessa Fernandes, ouso dizer que o ouro era merecido.

Qual bálsamo, a desejada medalha conforta agora esta nação que nos últimos dias se vê envolta em assaltos, tiros, mortes e outras misérias que começam a tornar-se o pão nosso de cada dia. Esperemos que a glória hoje alcançada não sirva aos políticos para falar do grande País que somos, esquecendo a pequenez que fica para lá do biombo olímpico.


Todavia, esqueçamos as tristezas, pois hoje é dia de festa!


* a aparatosa epígrafe deve-se à extravagância do Administrador do Lodo, SAD, que colaborou na redacção deste parecer.

Lê-se

"Por vezes, as grandes revelações vêm de onde menos se espera. No caso, o presidente da Venezuela decidiu dar aos cidadãos portugueses a oportunidade de ficarem a saber o que José Sócrates pensa, em privado, sobre o estado da economia portuguesa. Segundo Hugo Chávez, José Sócrates ter-lhe-á confidenciado que o país está 'estancado' , acreditando-se que quereria dizer estagnado . Sócrates pode queixar-se. Com amigos destes, não precisa de ter inimigos."
João Cândido Silva in Jornal de Negócios, edição de hoje

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Calcados no Cáucaso

Que Mikhail Saakashvili, Presidente da Geórgia tem queda para a aventura, eu já sabia, dadas as declarações nacionalistas e pró-ocidentais e o feitio com genética soviética (demonstrado na supressão de manifestações avessas), numa espécie de cocktail Este-Oeste em formato indigente.

O que desconhecia era que o Presidente georgiano somava a tudo isso ingenuidade, pois não vejo o assalto militar à Ossétia do Sul se não como uma idiota crença de que o “amigo americano” viria em auxílio da mocinha Geórgia, como nos filmes de Cowboys, ou de que a “Mãe Rússia” passara a ter medo da diplomacia ocidental e dos media.

Vamos por partes: se olharmos, de forma pura e simples, para o Direito, a Ossétia do Sul – tal como a Abecásia – são regiões da Geórgia. Porém, olhando à realidade (ou, se preferirmos, à Ciência Política), limamos conceitos e chegamos à ideia de quase-Estados ou Estados de facto.
Se o Estado é algo que se alicerça em elementos físicos (território, população e governo) e jurídicos (a soberania e a personalidade jurídica), aqueles que a ele aspiram contam, quase sempre, com o apoio de países vizinhos nas suas aspirações e assim vão ganhando personificação.

Indo a casos concretos, por volta de 2004 estive, entre outras paragens da linda Geórgia (recomendo um périplo pelo país, da paisagem à gastronomia, sem esquecer a hospitalidade, que é do melhor que já vi nas 46 bandeiras que já olhei), na cidade de Gori (a cidade natal de Estaline e agora ocupada pelos militares russos) e já daí não passavam as forças armadas georgianas. Dito de outro modo, na cidade que ainda tem a Avenida Estaline, uma gigante estátua do “Zé dos Bigodes” e um museu a ele consagrado (inclusive com a carruagem de comboio que o terá levado a Potsdam) terminava a soberania efectiva da Geórgia. Em Tskhinvali (Ossétia do Sul) como em Soukhoumi (capital da Abecásia), o desejo de ver os georgianos a milhas é o mesmo, aliás. E nem se arrisca muito se apostarmos que também em Moscovo o “tiro” ao georgiano (ao menos, em termos de discriminação) seja modalidade quase olímpica, já que os media russos alinham na diabolização dos ex-camaradas caucasianos e as autoridades iniciaram a deportação daqueles que não tenham a “papelada” em ordem…

De igual modo, em 2007, na Transnístria (caso idêntico, mas sito na Moldávia), pude ver que existiam forças armadas, governo e moeda (rublo da Transnístria) próprios e uma população que, maioritariamente, se recusava a ser moldava (optando pelas nacionalidades ucraniana e russa). E, também nesse Estado de facto – que ainda usa a foice e o martelo e espalha pelas ruas estátuas de Lenine – os blindados russos estão nas pontes, suponho, como “forças de manutenção da paz”…

Ou seja, na Ossétia do Sul – como na Abecásia, na Transnístria, em Nagorno-Karabagh (no Azerbeijão) e na Somalilândia (Somália) – há realidades que, há muito, vão além do simples “copy/paste” dos manuais e sebentas de Direito Internacional. Nos Estados de facto apenas falta sobretudo o elemento formal (e essencial) do reconhecimento internacional.

Acresce que os países ocidentais tiveram, a meu ver, a chamada “ideia de jerico” ao tolerarem os entusiasmos albaneses no Kosovo. Era de prever que se abrisse um precedente (disse-o, na altura) e que fossemos confrontados com a nossa hipocrisia, tendo que andar com meias tintas em casos que não favoreçam o eixo euro-atlântico, como sucede no espaço da ex-URSS. Aquele território sérvio reclama identidade étnica divergente. Pois bem, e que dizer da Ossétia do Sul e da Transnístria?! A ver vamos, se o reconhecimento formal crismar o Estado kosovar.

Houve massacres no Kosovo?! No início da década de 90, os blindados de Chisinau (capital moldava) entraram em Bendery (Tighina para os moldavos) e abriram fogo, causando muitas vítimas… O que muda?!...

Mais era de prever o apoio da Rússia, ante a ânsia de George W. Bush em expandir a NATO para as fronteiras daquele país. A ideia do escudo anti-míssil na Polónia e na República Checa e de alargar a NATO à Geórgia e à Ucrânia (embora os apoios em Kiev diminuam de dia para dia, deixando o Presidente Iuschenko em lençóis cada vez menos aprazíveis) pode ser muito simpática para os aliados do Uncle Sam, mas só cegueira política é que pode fazer pensar que, em termos geoestratégicos, é ilegítima ou surpreendente uma resposta do país dos czares.

Sem ânsia imperial – apenas, isso sim, visando recuperar a solidez interna e o orgulho externo dos russos – a Rússia de hoje recupera músculo (voltando a fortalecer as suas forças armadas, a autoridade do Estado face a oligarcas e cidadãos comuns) e mostra energia (os vastos recursos naturais dão-lhe apreciável vantagem diplomática, numa altura de alta dos preços do gás e do petróleo), permitindo ao seu Presidente, Dmitry Medvedev, anunciar uma “resposta esmagadora” a quem tentar outra vez matar cidadãos russos ou ameaçar os seus interesses.

Claro que, de permeio, está a questão dos oleodutos que visam contornar o território e a soberania russos, como é o caso do Oleoduto BTC [Baku (Azerbeijão) – Tbilissi (Geórgia) – Ceyhan (Turquia)]… É óbvio que o atoleiro em que os EUA estão no Iraque ajuda ao “cantar de galo” russo… Parece lógico que EUA e Rússia venham a ceder reciprocamente, se virmos que em cima da mesa estão questões como o Irão (onde os russos poupam Ahmadinejad, a troco de venda de equipamento nuclear) e o Paquistão (agora sem o amigo de Washington, Pervez Musharraf, que se demitiu da presidência)… Não é difícil de crer que os russos também não floreiem muito mais a retórica, dado que atrás da Abecácia, da Ossétia do Sul e da Transnístria pode vir a Chechénia…

No meio de tudo isto, todavia, a Rússia já não age com a pose de urso desajeitado que ainda marcou a era Ieltsin. Desde Putin que tomadas de posse, hinos e paradas militares voltaram a servir para unir vontades e catalisar emoções e, assim, não espanta que, enquanto o Presidente (também ele apenas “de Direito”, ousaria dizer) Medvedev aquecia as orelhas a Ocidente, no Cáucaso, o Primeiro-Ministro Putin confortava as vítimas da agressão vinda de Tbilissi… Enquanto isso, os media russos comparavam Saakashvili a Hitler, tal como o faziam cibernautas que arrasaram sítios virtuais das entidades oficiais georgianas, como aquele que o parlamento tinha na Internet.

Idiotas dos que julgarem que a mão do mágico que mais importa é a que está à vista… Sem Rússia forte é manco o tabuleiro do xadrez internacional.

A novela caucasiana segue dentro de momentos…


Nota: a fotografia é da praça central de Gori, o tipo da estátua é essa estimável criatura que se dava pelo nome de Estaline, e foi tirada aqui pelo "Zézinho"

terça-feira, 19 de agosto de 2008

À atenção de António Costa

O Mayor de Mount Isa (cidade mineira da Austrália), procurou combater a falta de mulheres jovens (apenas 819, numa população de mais de 21.000 almas) dizendo que "com cinco tipos para cada rapariga, sugiro que mulheres com défice de beleza venham até Mount Isa"!...

Confrontado com acusações de vários tipos, o carinhoso autarca manteve a oferta!


Fonte: "Público", de hoje.

Como curar insónias em 109 minutos


Se, há tempos, fustiguei os lamentáveis críticos de cinema que, regra geral, temos, o filme que me convidaram a ver ontem agrava o meu parecer (é, aliás, com experiências destas que se testa a solidez dos laços que nos unem a outrém).

De facto, "Os amores de Astrea e de Celadon" explicam do que carece um filme para receber o aplauso dos nossos intelectuais de serviço à crítica cinematográfica:
  1. Serem quase desprovidos de acção e/ou efeitos especiais.

  2. As falas serem cheias de metáforas, lentas e declamadas como no teatro clássico.No caso deste filme, mesmo um interessante discurso de um druida sobre o monoteísmo gaulês e o politeísmo romano se perde em falas demoradas e pouco naturais.

  3. Serem falados num idioma de Leste ou em francês.

  4. Terem um guarda-roupa indigente ou étnico.

  5. Um elenco pouco vasto e cenários o mais "à borla" possível.

  6. Sexo explícito ou uma alusão a uma união entre pessoas do mesmo sexo (é o caso).

  7. Se forem sobre acontecimentos recentes, serem anti-capitalistas ou sobre minorias (não é o caso).

Todavia, guardado estava o bocado: basta abrir o "Público" para ver a classificação dos "especialistas":

  • Jorge Mourinha, Luís M. Oliveira e Mário J. Torres: "Muito Bom"!!!

  • Vasco Câmara: "Bom"!!!

Além disso, um recorte afixado no cinema, mostra que mesmo João Lopes (o respeito que eu tinha por si...) viu o filme como o contecimento cinematográfico do ano" (cito de cor).

Ou seja, eu devo ser mesmo inculto!... Se for burro como eu, não veja este filme!

"Foice" a razão, leva-se com o martelo

Por causa disto, cumpre reconhecer isto! Avante, camaradas!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Palavras (e medalhas!) leva-as o vento...


Perdoem-me os mais susceptíveis a estas coisas do desporto, mas mais do que a escassez de medalhas olímpicas, preocupa-me a escassez de brio (e de vocabulário) de alguns dos nossos atletas em Pequim.

Já não basta a conversa do costume, com os bodes expiatórios do costume: árbitros, falta de apoios, clima, poluição, blá blá blá, agora ainda proferem barbaridades como a abaixo aludida, digna de envergonhar Portugal e os portugueses.

Acresce a isto a pobreza de português de que padecem muitos deles. (As senhoras do atletismo, então.... Deus lhes valha!) Bem sei que se dedicam de corpo e alma ao desporto, mas não lhes custa nada ter um pouco de prudência na linguagem e no uso do português quando prestam declarações a propósito de um evento que é tão importante para eles como para o país que neles deposita fé (e numerário!).
Ousarão achar que a representação da pátria nesta competição mundial se restringe apenas às provas de competição?!... Certo, é que a coisa tem sido tão grave que veio hoje o Presidente do Comité Olímpico Português solicitar-lhes um pouco mais de brio e de bom senso. Em boa hora!

Aqui, quem muito surpreendeu foi o luso-nigeriano Francis Obikwelu. Se por um lado nos frustou as expectativas, por outro foi brilhante nas humildes declarações que fez:

"Quero agradecer aos portugueses, porque toda a gente vê as minhas provas e quero pedir desculpa, porque estão a pagar para eu estar aqui e não consegui chegar à final. É um momento mau, porque esse é o meu trabalho. Queria dar pelo menos a final. Sinto-me na obrigação de pedir desculpas, porque esse é o meu trabalho e pagam-me para fazer isto. Deixei o meu país ficar mal."

Quem também surpreendeu, mas desta feita pela negativa, foi Gustavo Lima. Desairoso nas declarações que fez a propósito do "bocadinho assim" que lhe faltou para arrecadar a medalha de bronze, vingou-se no país que representa com o cliché da falta de apoios. Grave, tendo em conta que é dos poucos atletas em Pequim que, além dos apoios ordinários, conta com generosos apoios do Município de onde (creio) é natural...

*texto editado a 19 de Agosto

Prémio "Ca'ganda Lata"

Confesso que me sinto dividido face às declarações de Marco Fortes, após o seu fracasso no lançamento do peso!
Não sei se hei-de insultar um tipo que foi para Pequim à Pato (ou será ao contrário?!...) e fez dois lançamentos nulos e um abaixo da sua melhor marca pessoal ou se, ao invés, devo tirar o chapéu a um sujeito que se dá à facécia de, perante um péssimo resultado, declarar que "Cheguei à conclusão que de manhã só estou bem na 'caminha'."...
Ficando por saber se este Marco do nosso atletismo prefere solidão ou companhia (algo de que me auto-excluo, note-se), temo que a ideia alastre, se todos lhe acharem piada.
Em suma, cada um que lance os seus pesos quando muito bem entender!...

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sol no Verão da Universidade do dito

Há cerca de dois anos, o meu querido amigo Luís Cirilo, a mais do defeito de ser vitoriano, acreditou que o PSD vivia em clima de liberdade de opinião e deu o seu parecer sobre a Universidade de Verão.

Eu associei-me, reproduzindo méritos e reparos que assinalara previamente, nas reuniões de balanço que houvera, após as primeiras edições (tive o prazer de integrar a organização, a convite do Deputado e amigo Carlos Coelho). Sempre vivi bem com o facto de pertencer a correntes minoritárias do Partido ao futebol, mas nunca achei que amizade ou lealdade tivessem a ver com mordaças.

Ora, na altura, gente a soldo (o "chefe da banda" chegou a criar um pseudónimo e a instigar as hostes, esquecendo uma amizade de mais de uma década) à mistura com gente ingénua e outra que, legitimamente, discordava, eu e o Luís ouvimos o que nem Maomé disse da iguaria da Mealhada.

Sempre cavalheiro, Carlos Coelho manteve-se à parte do lamaçal e ouviu pessoalmente o que tinha para dizer (a única coisa nova foi a muito normal cessação automática da minha colaboração, algo que eu faria na posição inversa, reconheço) e é por isso que, a serem verdadeiras as notícias, hoje lhe reconheço, a mais do mérito óbvio da U.V. do PSD (nunca negado por mim ou pelo Luís) e a ser verdadeiro o que li, um avanço muito positivo: haverá estágios no Parlamento Europeu, para os mais bem classificados.

Sempre achei que faltavam duas coisas essenciais para que o PSD não desbaratasse os jovens talentos que a cantera da "Jota" ia revelando: formações intermédias e periódicas (tipo "Escola de Inverno") para, por exemplo, as duas dezenas de jovens que revelassem mais talento e estágios no Parlamento Europeu, na Assembleia da República, nas Câmaras Municipais e no Governo (nos dois últimos casos, quando, evidentemente, forem de maioria laranja). Assim, o PSD manteria "debaixo de olho" os seus valores emergentes e propiciaria treino e uma experiência de vida aos mesmos, sem cair no erro da "profissionalização" sem contacto com a "vida real".

Este ano, A Universidade de Verão da JSD, a mais da qualidade habitual dos oradores e das "produções" C.C., terá dado um passo em frente. Fico contente!...

Em breve, num cinema perto de si


Na silly season as notícias de jornal (que valham a pena) escasseiam. Não sei se por falta de acontecimentos, se pelo excesso de jornalistas a veranear. O certo é que se não fosse o sequestro, a Ossétia do sul e o jogos olímpicos (bóias de salvação dos media) não havia telejornal que sobrevivesse, a menos que fosse rebuscar uma qualquer reportagem sobre as abóboras que crescem com forma de elefante na Quinta do Comichão (localidade ali para os lados da Guarda) ou a família de cangurus que um palerma qualquer da Islândia adoptou.
Quanto à imprensa escrita - mesmo aquela que nós supomos ser de alguma qualidade - esta arranja com que (se) entreter, relatando casos da vida que não lembram, nem interessam a ninguém. Hoje - pelo menos no JN e no SOL online- a protagonista volta a ser a afamada Carolina Salgado. À moça não bastou o sucesso de vendas do seu livro nem o avultado número de espectadores do filme que a sua vida já deu. Lá vem ela - e, por arrasto, o último presumível ex-namorado (sic) - alegando-se (de novo!) vítima de violência doméstica (só falta dizer que ao lado deste o Pinto da Costa era um ursinho de peluche), com armas ilegais à mistura, uma estalagem, cocaína, GNR's, Instituto de Medicina Legal e eu sei lá que mais. A vida de Carolina está prestes a dar outro filme. E nós, portugueses, sempre sequiosos da miséria alheia, lá rumaremos de novo à sala de cinema mais próxima.

Adenda: Perdoem-me os colaboradores (particularmente o visado) e leitores da Lodo, SAD. por me debruçar sobre tão indecoroso tema depois de uma redacção tão melíflua como a que se encontra infra. São, com certeza, efeitos secundários desta silly season....

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A ler é que a gente se entende

Deixando de lado a carga sobre os georgianos, as munições russas também passam muito por uma cultura vibrante, de que conhecemos sobretudo os clássicos.
Ora, na "primeira liga" dos monstros sagrados da esgrima com pena, são sobejamente conhecidos, Dostoiévski, Tolstói e Tchékhov. Porém, na mesma liça entra com facilidade Turguénev (1818-1883) que se celebrizou (a mais de uma vida pessoal conturbada com uma cantora lírica e a cumplicidade do marido desta) por romances fecundos de emoções e interessantes descrições.
O mais famoso é "Pais e Filhos" (1862), mas, para este fim de semana, sugiro a suavidade e beleza de "O Primeiro Amor" (1869) (Lisboa, Relógio D'Água Editores, Abril de 2008). É ligeiro, mas denso no sentimento.
Se bem que não faria mal começar por uma das magníficas traduções que Nina e Filipe Guerra (os mesmos que traduzem esta obra) para as obras de Dostoiévski, editadas pela Presença, pelo simples facto de as notabilíssimas notas de rodapé contextualizarem o leitor com a realidade russa do século XIX, algo que não sucede neste caso...

Obrigatório!

Já só está em cena até dia 16 a peça "Sonho de Uma Noite de Verão", no Teatro Nacional D. Maria II, que continua a oferecer excelentes produções.

Baseada na obra homónima de William Shakespeare, a adaptação cria uma espécie de musical trepidante e colorido, mesmo à medida para refrescar as noites de verão.

Boas interpretações, animadas canções e um cenário fabuloso, no pátio do Palácio da Independência, ao Rossio.

Se tem 10€ (bem gastos), tem 3 dias!

Coiro Olímpico

Sem futebol "a doer", os portugueses canalizaram atenções e esperança para os jogos olímpicos, nos quais, cada vez menos, o importante não é só competir, dados os astronómicos contratos publicitários dos atletas, as receitas televisivas (que exigem espectáculo), a contabilidade do orgulho pátrio em medalhas e questões políticas, como as que, hoje, opôs Rússia e Geórgia no voleibol feminino de praia (contando já com o bom exemplo prévio de duas atiradoras de ambas as nações que resolveram disparar um forte abraço, no pódio, as jogadoras georgianas - brasileiras de nascença!!! - abraçaram as opositoras russas) ou as que puseram Estados Unidos e China a ver quem atirava melhor ao cesto (descansem os amantes do eixo atlântico, pois foram os moços do Uncle Sam).

E, por falar em política, já aqui mencionei, que, ao que leio e ouço, a China usará estes jogos, mais do que para montra da sua superioridade atlética, como balão de ensaio de um novo modelo de desenvolvimento que corrija os defeitos gritantes da abertura encetada, designadamente ao nível ambiental, cuja má prestação faz com que se abata sobre o colosso asiático uma indesejável atenção mundial e uma comprometedora desvalorização do alegado milagre económico.

Mais ainda, há que conter o consumismo desenfreado (próprio de quem viveu uma vida sem “ter”, no sentido lato da posse) e a inflação que dispara, num clima em que se tolera que se comprem produtos Armani ou BMW (atiro à sorte), mas em que se restringe o acesso à Internet e a liberdade de informação, em geral, e a liberdade de movimentos de chineses e estrangeiros.

E, depois, há o Tibete, a Formosa (Taiwan), a zona muçulmana (junto ao Tajiquistão, ex-república da URSS), a amizade com Mugabe e um série de outros assuntos que fazem com que as atenções se dispersem muito além das pistas, das piscinas e dos tapetes…

Voltando ao início e deixando de lado o aspecto negocial que sempre envolve as grandes competições desportivas da actualidade, olho à questão contabilística e vejo que, à primeira adversidade, lá vai o orgulho nacional. Se o balão do EURO 2008 esvaziou rápido, o dos Jogos Olímpicos de Pequim parece ter rebentado ao encher, com os resultados sofríveis de Telma Monteiro e João Neto (Judo), João Costa e Manuel Silva (Tiro) e Débora Nogueira (Esgrima).

Ora, a mais de se não esperar pelos demais atletas que ainda podem alegrar-nos o mês de Agosto, fica por perceber o grau de exigência que, sem aumentarmos a nossa produtividade laboral para parâmetros de liderança europeia, pomos na vertente desportiva de um País que, ao contrário de outros e como dizia Scolari, tem um espectro de recrutamento de pouco mais de 10 milhões de pessoas (o Brasil e a Rússia, por exemplo, têm quase 20 vezes isso). Dito de outro modo, entendo que o laxismo que preside ao dia-a-dia de muito português se transveste de exigência espartana com os desportistas e os políticos (sendo que estes últimos são apenas lente de aumento das insuficiências do seu povo, já que dele emergem).

E depois ficam por pensar as duas chagas que mais me preocupam: uma é o facto de termos ficado de fora de todos os desportos colectivos olímpicos, com tudo o que isso possa trazer sobre falta de condições de treino e sobre a nossa mentalidade típica.

A outra tem a ver com a circunstância de os analistas a soldo não dizem que o insucesso é a marca mais genuína do País que ainda somos: mandrião, egoísta, invejoso, cinzento e preguiçoso. Dito de outro modo, os sucessos que vamos tendo devem-se em grande parte aos talentos que sempre brotaram erraticamente, ao longo da nossa História.
Nota: a caricatura é daqui.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Ainda bem que há água em Marte

Definitivamente, creio que o Mundo está louco…
Folheio um diário nacional, há dois ou três dias, e leio coisas que só vira em filmes de ficção (Mad Max e afins...), já com uns bons anos.

Desde logo que, em Itália e por alegada insegurança, atribuída prima facie aos imigrantes ilegais, o exército patrulha cidades como Roma, Milão, Turim e Palermo. Confesso que fui eu quem ficou palerma não só porque, a ser verdade o argumento do Governo, um dos países mais ricos do Mundo e membro do G8 confessa o descontrolo da criminalidade urbana e o assalto dos povos desesperados à fortaleza europeia, como pelo facto de ser de gravame não despiciendo encontrar um ramo das forças armadas a complementar o trabalho policial; é, no mínimo, uma interpelação aos direitos constitucionais dos cidadãos.

Podia ainda ler-se que há habitantes da Cisjordânia que alegam que, ao tentarem passar a fronteira com Israel para receberem tratamento médico, terão sido confrontados com uma “taxa moderadora” muito peculiar: tornarem-se informadores dos serviços de segurança israelitas. Ora, se resisto a tomar a parte pelo todo, também não é menos verdade que falamos de um povo que, não poucas vezes, envia ao país vizinho cidadãos envoltos em explosivos e mísseis que não escolhem alvos exclusivamente militares, pelo que sou um pouco céptico no que toca a crer que se trata de uma política instituída pelo Governo judaico, antes julgando que pode, a ser verdade, ser excesso de alguns militares. De todo o modo, convirão que é estranho.

Acelerando o passo, corramos para o anfitrião das olimpíadas, a China, onde a explosão de novo-riquismo convive com um seríssimo problema de sustentabilidade ambiental, um grosseiro agravamento das desigualdades sociais e um abandono perigoso do mundo rural. Se a isso somarmos restrições à liberdade de expressão, dos budas do Tibete aos jornalistas em Pequim, e violentas convulsões (não são novas) na China muçulmana, podemos perceber o quão preocupante para o Mundo é a evolução próxima do Império do Meio, cujo modelo, ao que sei, está a ser testado nos Jogos Olímpicos.

Como tapete de saída, um entrelaçado persa: no Irão, só um tolo é que acredita que Ahmadinejad não tem intenções de criar uma arma nuclear ou de, em alternativa, nos levar couro e cabelo para dela abdicar, estribado na esperança de não ver a antiga Pérsia atacada, dado o efeito perverso nos preços do petróleo. Diz-se que os ayatollahs, por um lado, e os estudantes, por outro, já se cansaram do populismo do presidente (e a sociedade civil iraniana existe e é forte, anoto), mas o povo anónimo, julga-se, tem hoje muito mais acesso aos mínimos existenciais do que jamais teve… Do que não duvido é que, também aqui, há pólvora.

Ainda bem que há água em Marte…

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Filha de Lynch sabe linchar! É bom...

Escusado, pois até o Rocky Balboa já se reformou!

Uma couve, um livro e dois tampões

Terça-feira, desgraçadamente fui a uma grande superfície comercial fazer compras, abandonado que estava para esse efeito (isto da igualdade de direitos e de deveres...).
Ora, para meu espanto, entre brinquedos, livros e produtos de higiene, vi uma "piquena" (sim, eu sou um militante do PSD cumpridor, mesmo no jargão) mesa com uns tipos à espera que alguém pedisse um autógrafo.
Vista a obra exposta - “A Verdade da Mentira”, sobre o desaparecimento de Maddie - voltei a fitar os entediandos circunstantes e lá estava o Inspector Gonçalo Amaral...
Se este tipo de livros (como os de Carlos Cruz e afins) já me inspira desconfiança e me parece explorar emoções momentâneas, a sua promoção como se de papel hiegiénico se tratasse mais me faz chorar pelas árvores abatidas...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"Mao", Maria!...

Passando em Santos, poderá apreciar uma imagem genial: o bar chama-se "Mao" e está para trespasse...
Olhando, por outro lado, para a evolução da China, a sensação é idêntica!...
No "Império do Meio" a proliferação de marcas ocidentais, os gasto sumptuários em automóveis e apartamentos e o mimetismo cultural começam a subverter de vez os ditames de Mao Tsé Tung...

Os problemas são, desde logo, três: por um lado, agrava-se violenta e subitamente o fosso social entre ricos e pobres, por muito que se disfarce o facto com o surgimento de uma, até agora, desconhecida classe média.

Em segundo lugar, este novíssimo "grande salto em frente" estriba-se num modelo de industrialização inimigo do desenvolvimento sustentável do Planeta.

Por fim, a abertura económica não tem sequer aroma de democracia e de respeito pelos direitos humanos, tal como os entendemos no mundo ocidental do século XXI. Ficaria por saber se, reformando o lado político, o gigante não ficaria descontrolado e se as tendências centrífugas não despontariam, com dezenas de ingovernáveis repúblicas a baralharem mais a nossa conturbada geopolítica. A URSS começou pelo lado político e deu-se mal...

Quem tem piada, tem piada...

Entretenimento com qualidade

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Esperança, dizem eles

Em relação ao tema há umas horas abordado pela Dulce, o MEP – Movimento Esperança Portugal, agora reconhecido como partido político, terá sido uma iniciativa que procura refrescar afirmando-se contra um país monolítico e, assim sendo, o projecto é sempre de saudar, ainda para mais com o envolvimento de jovens e mulheres já referido. Não deixa, porém, de se apresentar susceptível a muitas questões. A primeira refere-se ao espaço político que ocupa e às ideias pouco claras – e até que ponto proveitosas para o eleitorado português – de uma estrutura situada no centro dos centros. O MEP vem assim parar a um sítio que não é sítio, onde as poucas dúvidas acerca de um vazio que a ideologia podia originar se dissiparam, ao longo dos tempos, com acção dos sucessivos governos. Mas, voltando à ideologia, torna-se difícil entender o que representa o MEP. A modos que despojado da matriz política do pós-Revolução Industrial, Rui Marques, o médico jornalista [na foto] que dá a cara pelo movimento, diz, em entrevista a um semanário da região de Leiria [24.07.08] quando questionado sobre este assunto, que faltava uma voz que afirmasse a Esperança. Que proclamasse ‘melhor é possível’ mobilizando os portugueses para vencerem a crise. Por isso o MEP surge como uma alternativa clara, quer ao PS quer ao PSD. A primeira questão é onde é que está a clareza disto. Depois onde estão as ideias e qual é o caminho?
Rui Marques tem-se ainda afirmado contra os debates partidários com as estruturas a apresentarem-se como donos da verdade. Concordo com ele. Mas o que procura o líder com estas declarações: Não comento sondagens, nem líderes de outros partidos. A nossa posição é a de respeito [por] quem se disponibiliza para contribuir para a política do país às vezes melhor, outras vezes pior. Há gente a exercer poderes com diponibilidade para muitas coisas... Mas afinal, quais são as ideias e as esperanças? o que traz de novo o MEP para os portugueses é a questão a que gostava que me respondessem.