sexta-feira, 6 de outubro de 2006

The "Collor" of money

A somar às notícias mais debatidas, designadamente sobre a realização de uma segunda volta para escolher o Chefe de Estado, outro escrutínio simultâneo, além-mar, trouxe uma novidade de monta: Fernando Collor de Mello, ex-Presidente do Brasil (1990-92), voltou à política activa, eleito que foi senador por Alagoas, de onde partira do cargo de governador à conquista do Planalto, numa campanha entusiasmante e mediática.

Refrescando a memória, Collor viu o seu mandato como alvo de cassação pelas duas câmaras do Congresso, na sequência de um escândalo de corrupção que atingiu toda a sua esfera próxima, Primeira Dama e secretária incluídas. Na altura, ficou célebre o empresário PC (Paulo César) Farias que, ao que se demonstrou, financiava aquele por intermédio de depósitos em contas abertas para o efeito pela colaboradora presidencial.

O caso ganha ainda mais interesse ao recuperarmos uma das bandeiras eleitorais que levaram o político neoliberal a Brasília: a moralização da vida política (além do controlo da, então, galopante inflação).

Aliás, numa campanha magistralmente orientada para os media, ficaram célebres tiradas como o "vamos caçar marajás", que simbolizava uma guerra sem quartel aos privilégios injustificados da minoria abastada. Houve mesmo quem dissesse que a Rede Globo teve um papel de patrocínio oficioso da bem sucedida candidatura, que chegou a incluir momentos épicos como uma marcha debaixo de chuva abundante, que Collor insistiu em fazer, apesar de desaconselhado, e à qual viriam a juntar-se centenas de pessoas, à medida que a caminhada progredia.

O outro extremo do populismo de Fernando Collor é, como está bem de ver, o autismo dos conselheiros de Lula da Silva, que o afastaram dos debates televisivos, na recente primeira volta da campanha presidencial, facto que é, agora, reconhecido como eventual causa da necessidade de uma segunda volta.

Retomando o fio à meada, e provando que a memória pode ser curta (não é só por lá…), e embora modesto, eis um regresso de um ícone político brasileiro da década de noventa. E vendo bem, não é caso único, pois também Paulo Maluf (ex-mayor de São Paulo), já previamente detido e indiciado, foi eleito para a Câmara dos Deputados.

Por outro lado, o próprio Lula da Silva viu o seu staff encolher como camisola de algodão em máquina com programa de temperatura elevada, precisamente por casos sortidos de escandaleira.

Contudo, mais do que pensarmos que se trata de uma moda brasileira, devemos apenas sublinhar que, se já hoje é uma das economias potencialmente mais pujantes do mundo, o Brasil só terá a ganhar se eliminar esta chaga da sua vida pública.

Por cá* , preocupa-me que o "pacto para a justiça" não tenha abordado o tema. É certo, como li, que mais do que legislar, há que aplicar o normativo já existente (pena é que a preocupação de eficácia normativa se não estenda a outras leis feitas ou a fazer), mas também ninguém me convence de que o aspecto simbólico não é muito relevante; contam os sinais que o poder político envia, no caso, aos prevaricadores. Ter escolhido um lugar de destaque para a nossa "caça aos marajás" seria bom, sobretudo num meio político-empresarial-futebolístico em que me parece que nem toda a gente (aprecie o eufemismo, por favor) consegue explicar tudo o que tem, à luz dos rendimentos declarados.

Sem caça às bruxas, também aqui seria pedagógico dar à justiça gente que responda a algumas das perguntas que a vox populi faz, há muito tempo...

*Sem querer acusar o Presidente da República de plágio :) e sem desejar provar o que quer que seja, sublinho que este post corresponde a um artigo publicado no Diário "As Beiras" (Coimbra), a 4 de Outubro.

1 comentário:

Luis Cirilo disse...

Só um comentariozinho,meu caro Gonçalo,a proposito dos assessores de Lula que nao o deixaram ir a debates televisivos.
Lá, como cá,maus assessores não faltam,mas o Lula para a segunda volta sempre podia contratar aqueles brasileiritos que andaram pelo PSD e que inventaram tacticas geniais como a de esconder Durao Barroso em 2002 na ultima semana de campanha ou,requinte dos requintes,que puseram o país,deleitado,a cantar a musica do "guerreiro,menino".
com eles a a assessorar Lula dar-se-ia,seguramente,um grande passo na moraliaçao da politica brasileira.
Amen !