terça-feira, 26 de novembro de 2013

Assim como quem não quer a coisa…


…vos digo, sem referir-me a qualquer nação em concreto, que cada vez menos acho realista uma sociedade comunista.

Dito isto, reafirmo o que sempre disse e que aprendi com um de meus mestres (da Universidade e do partido): entendo que há ideais do comunismo que permanecem válidos. Creio ademais que o mundo seria um sítio melhor se não fosse utópica a construção marxista. Todavia, o leninismo e maoísmo provaram à saciedade que o filósofo se esquecera de uma pequenina variável que faz o projecto social entrar em modo de suicídio: o ser humano, com a sua imprevisibilidade, o seu anseio de liberdade – fora das baias de qualquer materialismo dialéctico – a sua inteligência e até mesmo a não subestimável estupidez humana (lição de outro mestre, este de Lisboa).

Reconheço que nada disto acrescenta algo ao que já disse vezes sem conta. O prego que, na minha mente, faltava ao féretro onde deixo jazer o comunismo é dado pelas novas tecnologias.

Continuando a omitir referências a qualquer caso concreto, dei comigo a pensar por que não – a mais da objecção primeira – haveria um projecto colectivista de resultar no século corrente. Pois bem; partamos de um cenário hipotético de um país industrializado, no qual os centros urbanos concentram o grosso da coluna de uma população proletarizada ou dedicada ao chamado sector dos serviços.

Imagine-se que, em seguida, começa a “clássica” reforma agrária e que se colectivizam as terras. Tenho para mim que até meados do século transacto poderiam “convidar-se” compulsivamente franjas da sociedade a trabalhar as terras “de todos”, que mais não fosse, deslocando força braçal de lugares remotos para os campos a cultivar (imagino que ainda haja quem acredite que não foi assim…). Deste modo, a coisa lá ia correndo mais ou menos (mais para menos, diria, passando o jogo de palavras), sem grande consciência geral, sem muita margem para contestação dos “alegres” agricultores e, sobretudo, sem informação sobre “outras vidas”…

Tentar um projecto agrícola colectivista nos dias de hoje seria remotamente possível (embora por aproximação, como na lotaria) num país com tecnologia de ponta em qualidade e quantidade suficientes. Talvez nos países de primeiríssima linha; ou seja, precisamente os que se não metem nessas andanças.

De outro modo, com a transformação das sociedades – designadamente com o seu cosmopolitismo generalizado – sem a possibilidade de usar os meios repressivos de outrora (com a excepção de Estados párias como a Coreia do Norte), e sobretudo com uma organização que já não se compadece com a cadeia de mando vertical, antes se organizando em rede(s), está condenada ao fracasso essa utopia, por exemplo, no caso destacado.

Hoje em dia, a Internet e os canais transmitidos por satélite permitem, se outros meios de informação livres não houver, ver o que se passa “lá fora” e exigir padrões de autodeterminação adequados ao contexto nacional vivido.

sábado, 9 de novembro de 2013

Como ilustrar uma notícia


«Passos Coelho reúne na próxima semana com parceiros sociais», diz-nos o jornal i, via Agência Lusa. Parece que vai ser uma reunião animada. 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Uma descarrilada e bárbara novela

Esperei, esperei e esperei… Li, li e li… Escutei, escutei e escutei… E, por pouco, não vomitei, vomitei e vomitei…
A história que envolve o divórcio de Manuel Maria Carrilho e Bárbara Guimarães já motivou dezenas de reportagens vampirescas, centenas de crónicas presunçosas e milhares de piadas de hilaridade variável.
Pois bem: não podendo vencê-los, junto-me a eles, procurando um ângulo pessoal, depois de deixar a questão marinar e, praticamente, sair da agenda.
Assim e em primeiro lugar, devo dizer que sou um fanático da privacidade. Ora, sobre o caso que hoje nos ocupa, a vertente “nacionalizadora” desta íntima propriedade privada tem três perspectivas que vale a pena explorar: por um lado, o meu eventual pesar é amplamente diminuído pelo facto de terem sido os próprios visados a aproveitar o lado cor-de-rosa da mediatização. Enquanto as reportagens foram elogiosas e peças de um puzzle que compunha a imagem de uma família de sonho, não se ouviu murmúrio de pranto ou cautela (antecipadas desculpas se me equivoco).
Por outro lado, foram os órgãos de comunicação social que criaram o “monstro”. Manuel Maria Carrilho mais não é que uma personagem cuja voz foi amplificada por media sequiosos de uma audiência que, cada vez mais, se alimenta de emoção e não de informação. Eram os enxovalhos a outros políticos (relembro as nojentas referências a um momento passado que o, então, ministro Morais Sarmento corajosa e aprioristicamente assumira), as crónicas e intervenções que denegriam quem lhe dava palco (foi com base numa delas que pude contrariar num debate o seu correligionário Augusto Santos Silva), os textos a construir uma imagem de intelectualidade, mesmo que, aposto, quem lhe desse projecção não entendesse uma vírgula (e logo não conhecesse o mérito académico daquilo que lia) da sua obra filosófica, e todo um percurso de candidaturas e nomeações comodamente toleradas em homenagem ao manancial de notícias que sempre se esperaram de Carrilho…
Por fim, importa reconhecer, a contrario e embora mantenha o que vai dito supra, que tratando-se de duas figuras que desempenham tarefas de alta exposição e possuem perfis de alto coturno, parte da publicidade do caso não deve espantar ou motivar crónicas moralistas.
Creio, em suma e não entrando nas entranhas de um caso que fede por si só, que podemos nele sublinhar dois erros de tomo: em primeiro lugar, o de Carrilho que, por muito que pudesse ter algum capital de queixa, já converteu Bárbara em mártir (se calhar, merecidamente). Em segundo lugar, o da jornalista do Correio da Manhã (e/ou da sua televisão) que tinha o dever ético de recusar a pergunta sobre as tentativas de violação alegadamente perpetradas pelo padrasto daquela, ainda que tal pudesse ter consequências profissionais; há barreiras de humanidade que não se cruzam.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Valores decotados - Parte I


Há umas semanas, vejo no noticiário da RTP e, subsequentemente, leio na imprensa que o Agrupamento de Escolas de Valadares proibiu, através do seu regulamento interno, o uso de “decotes ‘excessivos’, calças ‘excessivamente descidas’ ou ‘saias demasiado curtas’" (cito, na circunstância, o “Sol”).
Começando pela abordagem política, relembra o semanário citado que, em 2009 e por ocasião de evento similar em Pinhal Novo, o Bloco de Esquerda terá declarado tratar-se de "inusitado atentado à liberdade individual, expressando "o mais profundo repúdio" pelo seu "cujo cariz autoritário" (idem). Ora bem, o mesmo partido que quer proibir “piropos” rejeitava aqui uma clara tentativa de defender a dignidade das jovens mulheres, evitando uma excessiva sexualização e a automática sujeição (não é preciso estudar em Coimbra para somar dois mais dois) aos ditos e aparentemente gravíssimos piropos… Mais uma vez se vislumbram as contradições evidentes de um fenómeno partidário cuja notória decadência só espanta por ser tardia.
Aliás, a propósito do episódio mais recente, o sítio/blogue afecto ao BE (ESQUERDA.NET) reconhece e relembra as posições de 2009, associando o raciocínio ao caso de 2013; ou seja, como eu próprio disse nos meus tempos parlamentares, a conveniência e o lucro eleitoral são o único fio condutor de uma agremiação que foge da responsabilidade institucional como o diabo da cruz.
Contudo, não contornaremos a questão em apreço, dizendo que, mais uma vez, se encontram em jogo as questões de saber de distinguimos, sem maniqueísmos, o certo do errado e o mundo ideal do mundo real. Começando pela última, diria que num mundo ideal, cada um usaria (ou não) o que muito bem entendesse, sem que isso pudesse trazer consequências nefastas, fosse no plano do assédio, fosse no domínio da ofensa à moral pública, fosse ainda na estruturação de um personalidade que entenda e respeite regras de conduta. Sucede que entra aqui a mesma variável de que Marx (o Karl e não qualquer dos irmãos homónimos) se olvidou: o ser humano, a sua imprevisibilidade e o seu egoísmo inato (parto, claro, de um certo pessimismo antropológico), coisas que explicam a necessidade de regular a não menos necessária convivência social.
Depois, temos que perceber se ainda acreditamos que há coisas que estão certas e outras que estão erradas. Tenho escrito que entendo que a civilização ocidental me parece ter entrado numa deriva relativista em que qualquer opinião é válida por ser emitida por um sujeito determinado e em que os valores perdem a essência de marcas de sinalização do comportamento, porquanto valem o que cada nação, organização ou sujeito entender que elas valem.
Como explicarei na próxima semana, sou dos que entende que ainda há referências inegociáveis. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Culpa e independência


          Procurando fugir à repetição do que outros fizeram com uma qualidade que não poderia alcançar, sobre as eleições autárquicas procurarei, desde logo, transmitir sensações que me foram percorrendo ao longo de uma jornada feita de RTP Internacional e outras fontes na Internet.

Desde logo, sobretudo do lado do PSD pareceu-me, embora digno individualmente, colectivamente “de faca e alguidar” o afã de muitos derrotados em assumirem a título pessoal as respectivas desfeitas… Não só era evidente o castigo ao Governo (o Primeiro-Ministro reconheceu-o, com a sua honestidade habitual) – assim tornando, no mínimo, os oradores em maus analistas políticos – como o rasgar de vestes faria sentido em muitas outras coisas erradas que há na política hodierna, categoria em que uma derrota democrática, seguramente, não cabe.

Aliás, creio que algumas vitórias independentes também têm a ver com essa decadência ética da vida pública, sobre a qual venho falando. Creio, porém, que o fenómeno de rejeição partidária não explicará tudo sobre o crescimento de listas independentes; entendo que “a coisa” se não faria sem que houvesse uma clara apreciação das propostas e dos candidatos em casos como Matosinhos, Portalegre ou Porto. Já no caso de Oeiras, como o vencedor com a humildade que devem ter os que ganham reconheceu, terá havido um interessante fenómeno de vitória por procuração, o que também diz bastante sobre a apreciação da obra feita e sobre a lealdade do eleitorado aos que sente como seus.

Dentro da latitude de opinião que posso ter, diria sobre a vertente partidária e em primeiro lugar, que houve, mormente no PSD, cuja realidade ainda vou conhecendo, e sobretudo ao nível local, uma caça aos que pensavam por si próprios e que não dependiam de qualquer aparelho para ter uma carreira profissional. Consequentemente, pese embora se tenham partidos mais tranquilos, o debate de ideias está empobrecido, como o está a auscultação fidedigna do que pensam as nossas gentes.

Depois, creio que a tal culpa voltará a ser coisa em estado gasoso que se esfumará em pouco tempo. Sem ponta de comoção assisti a muitos discursos de derrota que sei que vão pertencendo a muitos que lá continuarão a carregar com essa cruz que é estar no Parlamento ou outros lugares políticos, continuando a impedir o rejuvenescimento de protagonistas.

No distrito de Coimbra, a evidência falará por mim, excepto, creio, numa verdade que tenho como tal, mas a que muitos se encarregarão de fazer vista grossa: creio que, daqui a quatro anos, o candidato à capital de distrito já está no terreno de jogo e que é chegada a sua hora (com o meu aplauso frenético); assim o próprio tenha método, paciência e ambição, já que a devoção a Coimbra ninguém pode negar-lhe.

sábado, 28 de setembro de 2013

Câmara, mesa e roupa lavada



Em semana de eleições autárquicas é duplo o meu martírio: não posso votar (estando a viver fora de Portugal) e não posso lançar chamas sobre muito do que tenho lido e visto… Quem se deu ao trabalho de me ler aos tempos em que outra cor governava o município de Coimbra, saberá o muito que eu tinha a dizer sobre um putativo regresso…

Cônscio, porém, das minhas limitações presentes ao nível da opinião política, dei comigo a pensar no que queria para a minha eterna cidade.

Desde logo, emprego qualificado. Um dos grilhões que sempre carreguei – eu e tantos outros da minha geração – foi ter que sair de Coimbra para encontrar um emprego adequado a qualificações superiores ou, por vezes, um emprego em termos puros e simples. Não sendo professor ou médico (e mesmo aqui adivinho já dificuldades crescentes), não resta outra alternativa a um indefectível da Lusa Atenas que não a de respeitar o padrão algo subdesenvolvido de um País que torna a sua capital no único pólo real de emprego.

Depois – já o disse várias vezes – creio que os elos de efectiva e afectiva ligação entre os motores que ainda funcionam há muito foram levadas pela corrente de um rio de indiferença e ensimesmamento. Tenho para mim que se a Universidade e a Câmara falassem mais amiúde e mais informalmente, muitas ideias brilhantes poderiam ser aproveitadas para encontrar uma diferença que torne Coimbra apetecível não apenas como centro de saber académico (a lembrar um pouco a Academia do Sporting que, antes do actual presidente, formava grandes valores para outros clubes), de saúde de excelência ou de património único, mas também como destino de investimentos reprodutivos, já que tem recursos altamente preparados, centralidade e acessibilidade e, diga-se, muita qualidade de vida para quem dela possa usufruir, quedando-se à beira Mondego. Acresce que envolvendo na equação, ainda que em fase ulterior, a A.A.C./O.A.F. se acrescentaria, a mais de um elemento de auto-estima, um poderoso meio de promoção da Cidade.

Entendo, sobretudo e em suma, que importa recuperar para a política uma elite e um pensamento ideológico que já lhe deram credenciais no país de outros anos. Falando do PSD (a realidade que conheço), lembro-me de ainda jovem não perder pitada das discussões travadas nas assembleias concelhias e distritais, tal o gabarito da maioria dos oradores e tal o requintado jaez da quase totalidade das intervenções. Sem qualquer desprimor para os dirigentes de tempos recentes, Coimbra só dará cartas no plano nacional (seja no PSD, no PS ou na política em geral) se apostar na riqueza do pensamento e no carisma de quem o expressa.

É também disto que se fará o próximo acto eleitoral.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Deixem-nos sonhar e usufruir deste belo País


Será que os políticos ainda não perceberam que o cidadão comum está de férias, pouco preocupado e cada vez mais alheado com o que se passa em Lisboa?

Como já perceberam escrevo estes linhas a partir do Algarve e pela primeira vez desde alguns anos, sinto-me cansado da política. Não me engano se disser, que nesta matéria sinto-me acompanhado pela maioria do Portugueses, também eles de férias e igualmente fartos de tanto ruído, no fundo tanta esquizofrenia protagonizada por políticos e comentadores.

Neste capitulo, a mediocridade é transversal, atravessa todos os partidos políticos, televisões e jornais. Nos partidos, porque a moda deste verão dá pelo nome de "swaps" e segundo as mais recentes teorias de comunicação de massas, quando um palavrão entra na moda, há que aproveitar e repeti-lo à exaustão. Poucos sabem o que é um swap, mas todos opinam sobre o tema. Outros, ainda menos esclarecidos, como ouviram dizer que é algo terrível, pensam até que é uma doença contagiosa e incurável. No meio disto tudo, poucos tem coragem de dizer, que comprar acções em bolsa pode ser mais arriscado e ruinoso que fazer um swap.
Claro está, que não me refiro aos swaps tóxicos, subscritos por alguns gestores públicos, com graves prejuízos para os contribuintes Portugueses.

Mas a desonestidade é de tal forma transversal, que salvo raras excepções em que não estão incluídos os partidos políticos, poucos foram os que defenderam que o governo em defesa dos contribuintes Portugueses, já devia ter feito uma queixa na procuradoria geral da republica contra todos os gestores envolvidos em swaps tóxicos, como que a deixar bem claro, "quem não deve não teme".

Quanto às televisões e jornais a mediocridade é ainda mais gritante, porque se no primeiro caso os políticos temem a verdade, neste caso, não sei se por agenda ou se por motivos mais obscuros em tudo contrários ao dever de isenção a que estão obrigados por lei, somos obrigados a ouvir e ler artigos, comentários e analises pouco representativas do eleitorado Português.

Alias, não é de agora, que conhecidos membros e simpatizantes da nossa esquerda caviar, tomaram de assalto os meios de comunicação social e com isso têm transmitido a ideia, de que representam a opinião da maioria dos Portugueses, quando na verdade e nas ultimas legislativas nem chegaram aos 290.000 votos. Isto não é democracia representativa, é um logro, é uma mentira.

 Mas voltemos então às férias e a aquilo que considero serem os temas mais importantes, não só por serem positivos para o País e logo para os Portugueses, num claro sinal de que os sacrifícios feitos nos últimos 3 anos, não esqueçamos que começaram com os famosos PEC's, poderão não ter sido em vão.

- a economia Portuguesa cresceu 0,4% no ultimo trimestre, contra as previsões que indicavam um crescimento negativo de 3%
- O desemprego diminuiu 1%, é certo que há aqui algum efeito de sazonalidade, mas no ano passado também tivemos o mesmo efeito e o desemprego não parou de aumentar
- défice publico encontra-se dentro dos limites acordados com a troika
- as exportações voltaram a crescer, depois de um período de estagnação
- a balança de pagamentos está positiva como já não há memória
- o índice de confiança de investidores e consumidores melhorou
- temos um governo remodelado que elegeu como prioridades, o crescimento económico e a renegociação do memorando negociado pelo partido socialista com a troika
-temos uma nova lei laboral, mais amiga do investimento e menos incentivadora do laxismo
- está em fase final, a lei que vai de uma vez por todas introduzir a equidade nas reformas, aproximando o sector público com o sector privado e desta vez não venha o tribunal constitucional substituir-se ao governo e defender o indefensável
 - Portugal foi eleito um dos melhores destinos de férias do mundo, com algumas praias a ocuparem o "top ten"
- a hotelaria tem este ano taxas de ocupação só comparáveis com o ano de 2007, ano de referência pela positiva
- Portugal tornou-se num País de recrutamento de quadros qualificados, já não emigra só mão-de-obra não qualificada

Estes são apenas alguns exemplos muito positivos e sinais prometedores, de que o futuro poderá ser melhor, mais justo e mais solidário. Sou daqueles que sempre defendeu que não se pode distribuir o que não se tem, mas pelo contrário, devemos criar as bases para atingir de uma vez por todas um desenvolvimento sustentável.

Por tudo isto, dêm-nos férias no que respeita ao bota abaixo, à mediocridade e à maledicência, valorizem os aspectos positivos, as conquistas já conseguidas e os sucessos já consolidados.
 Deixem-nos sonhar e usufruir deste belo País, tão elogiado lá fora e tão desprezado e maltratado cá dentro

 Boas férias

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Leitura recomendada


Portugal tem excelentes escritores e José Rodrigues dos Santos (JRS) está na linha da frente. “A Mão do Diabo”, o romance ilustrado na fotografia é um belo exemplo. 

Bem escrito, escorreito, é aquele tipo de leitura de que se gostaria ainda mais, não fosse a temática em torno da Segunda Grande Depressão, ou se preferirem, crise das dívidas soberanas.

JRS entretém e informa, apresentando-nos uma descrição pormenorizada sobre a forma como o euro e os países chamado periféricos (ou Club Med) aqui chegaram. Melhor ainda, é ideologicamente transversal, fugindo ao esquerdismo irresponsável por um lado, e ao neoliberalismo radical pelo outro.

 As respostas a muitas das perguntas que hoje fazemos sobre a crise e cenários futuros estão bem descritas nas cerca de 600 páginas do calhamaço.

Aparte as teorias económicas e respetivo enquadramento, que são reais, o resto é ficção. Mesmo assim, sendo “ficção” (entre aspas, com o autor o afirma), o retrato que faz dos políticos europeus é avassalador. Para a narrativa, (repito narrativa e não autor) são todos corruptos, não tendo descortinado uma única personagem da história ligada à política que fosse honesta ou que mostrasse preocupação com a “massa do povo”!

Os políticos que se defendem, se assim o entenderem. Quanto à prosa, é leitura recomendada. Para não fugir à temática, sigo para Madrugada Suja.

sábado, 3 de agosto de 2013

Os cinco


Embora pareça uma evocação de Enid Blyton (saudades desses tempos…), falo-vos, hoje, sobre os cinco milhões (número estimado) de portugueses que residem fora de Portugal.

Com algum dever de reserva imposto pelas funções desempenhadas, começo pelo lado onomástico do fenómeno: se, antigamente, eram designados por “emigrantes” todos os portugueses que ganhavam a sua vida “lá fora” (“aqui fora”, digo eu), há aqueles que, hoje em dia, se abespinham com o estilo clássico, preferindo a designação pós-modernista de “portugueses residentes no estrangeiro”. Se pensarmos bem, faz até sentido em casos como os quadros das empresas que passam fora de portas tempo limitado (os famosos “expatriados”) e para aqueles que, tendo a nacionalidade, já nasceram fora do País.

Do que conheço, continuaria por destacar uma imensa virtude dos nossos concidadãos emigrados: demonstram, todos os dias, que nada se consegue sem imenso trabalho. Enquanto segue a polémica caseira sobre horas semanais para a função pública, por exemplo, na África do Sul era comum encontrar empresários portugueses a trabalhar às cinco da manhã, terminando apenas quando pudessem faze-lo. No caso dos exemplos de sucesso, que olhamos, por vezes, com uma pontinha de inveja, raros serão os percursos de vida que não estejam respaldados por momentos de privação e dúvida, e mesmo por noites ao relento.

Claro está, diga-se, que as nossas Comunidades estão longe de ser todas elas constituídas por exemplos de abastança – ideia que temos tendência a nutrir. Há casos de emergência social a que as autoridades portuguesas tentam acudir, com as limitações conhecidas de todos.

Em segundo lugar, creio ser de sublinhar a generosidade como traço forte de um qualquer retrato dos portugueses emigrados. Se é certo que alguns acumularam fortunas consideráveis, não é menos verdadeiro dizer-se que o que têm lhes pertence e assim poderia continuar a ser, legitimamente. Todavia, e apenas a título ilustrativo, basta dizer que em Joanesburgo e perto de Caracas existem dois enormes lares de terceira idade – qual deles o mais bem equipado – fundados e mantidos pela boa vontade das respectivas comunidades. Ademais, à parte das infra-estruturas, são diversas as ocasiões em que iniciativas destinadas a compatriotas carenciados ou em situações de emergência se tornam possíveis por via desse sentimento de partilha e redistribuição que, no fundo, sempre está no coração dos portugueses.

Se tivesse que apontar traços de apreensão no curto espaço e com a rédea curta que me tutelam, apontaria, mormente no exemplo africano, os atritos e envelhecimento daquela Comunidade que ainda alimenta a tradição associativa. De igual modo, creio que os números de participação eleitoral não fazem, nem de perto nem de longe, jus à relevância dos nossos portugueses da diáspora.

terça-feira, 30 de julho de 2013

CASINO “ROYAL”

As finanças públicas sempre foram geridas como se de um casino se tratasse, nós é que só nos apercebemos há pouco tempo. 

Vem isto a propósito da horda que andou a fazer SWAPS. O país está (e bem) escandalizado com a quadrilha que resolveu ir ao Casino jogar com as nossas fichas.

Mas também devia estar e responsabilizar todos aqueles que andaram a endividar gerações futuras como se não houvesse amanhã, no Estado, nas Câmaras, nas Empresas Públicas e afins…

Mas isto de andar a brincar à “banca francesa” com a massa do povo não é de agora e se estivéssemos num país a sério, onde todos os gestores públicos fossem criaturas responsáveis, a primeira consequência seria correr do Estado com esta quadrilha do Excel com fórmulas erradas.

Para efeitos de enquadramento do leitor face à temática e para que possa suportar a tese: imagine-se dono de uma empresa onde o diretor financeiro andava a brincar às “fichinhas” com o seu dinheiro! O que faria a tal espécimen? Promovia-o? Não me parece…

Diria porventura que as perdas eram responsabilidade do diretor que sucedesse ao “Victor Constâncio” lá da sua empresa? Também não me parece…

Ok, agora que estamos de acordo voltemos aos SWAPS.

Enquanto se anda a discutir o acessório e a espuma dos dias esquece-se que os SWAPS foram feitos no tempo do PS, era Teixeira dos Santos ministro das finanças e José Sócrates primeiro-ministro.

O PSD terá muitas culpas na forma como está a gerir a sua governação, com muita gente impreparada e sem unhas para as guitarras que lhes colocaram à frente… mas convenhamos e citemos os evangelhos sinóticos: “a César o que é de César”.

sábado, 6 de julho de 2013

Ficamos assim...

Embora com a devida moderação, não havia como não romper o silêncio sobre a vida política portuguesa.
Estando ainda “a bola a correr”, o que aqui se diga pode ficar desactualizado ao minuto. Todavia, algumas observações (repito, não tão acutilantes como desejaria) posso já fazer:
1 – À distância, fico com a impressão de que nunca se criou uma relação de confiança pessoal ou sequer de empatia entre Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Se é certo, como dizia um rival que tive na JSD, que “não precisamos de ser amigos para trabalharmos juntos”, a verdade é que, em não raras ocasiões, um bom entendimento ajuda.
Na minha modesta opinião, havia que ter posto em lugares charneira pessoas que pudessem fazer pontes e limar arestas entre os dois partidos. Fico, ao invés, com a sensação de que cada uma das forças coligadas nomeou os seus como se de uma sociedade por acções se tratasse.
Talvez Mourinho pudesse, melhor que eu, falar sobre a importância do espírito de equipa, mesmo pelo lado negativo da sua ausência, se pensarmos na experiência em Madrid…
Em todo o caso, a ser verdade o que se ouve, mais vale tarde do que nunca.
2 – Dizem as “últimas” que o CDS poderá negociar a manutenção na coligação, com alterações no elenco. A esse respeito, admitamos que o seu líder podia ter razão ao desejar maior grau de informação sobre as nomeações para a equipa. Todavia, voltamos ao mesmo ponto: será que o mesmo grau de consulta existiu nas nomeações dos titulares das pastas que cabiam àquele partido (para além da necessária e constitucional informação ao Primeiro-Ministro)?
O que foi mal calculado – beneficio da dúvida concedido, sem o que as palavras teriam que ser mais amargas – foi o efeito de uma decisão que, ainda que eventualmente profícua na defesa da auto-estima pessoal e colectiva (CDS), teve uma série de efeitos imediatos devastadores, com consequências que chegaram ao plano internacional.
“Que farias tu?” – perguntariam alguns leitores. Nestas coisas da política, creio que o País está sempre primeiro. Por muitas eventuais tropelias com que nos dificultem a vida, os objectivos do mandato conferido têm que estar primeiro (a uma escala ínfima, sei o que é ter um grupo interno a sabotar – e estou certo que nem por sombras se passou algo assim na coligação – e não desmobilizar até completar a missão). Por outras palavras, mesmo que admitamos que Portas tinha razões de queixa, creio que, inquestionável patriota que é e sempre foi, deveria ter sopesado melhor os resultados da sua consternação e, talvez, aumentado a sua capacidade de sofrimento ou, em alternativa, lograr os mesmos resultados através de uma negociação discreta.
Em suma e em matéria de cenários, creio que a manutenção renegociada da coligação é o cenário preferível (tacticamente, até para António José Seguro), seguindo-se nas opções defensáveis um eventual elenco resultante de esforços presidenciais (os governos de iniciativa presidencial estão fora do seu alcance), embora não acredite que tal encaixe no perfil do nosso Presidente. Os custos de um acto eleitoral iriam muito além da organização do escrutínio.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Conflito intergeracional

Longe de mim dar início a uma contenda intergeracional, mas não posso deixar passar ao lado, ou branquear, acusações mais ou menos veladas à nova geração de políticos/governantes, só porque vieram das jotas e porque segundo alguns destes dinossauros da política, tiraram licenciaturas sabe-se lá como.

Para quem não me conhece, tenho 50 anos, pertenço a actual geração de políticos/governantes e portanto segundo os iluminados deste Pais, pertenço à geração responsável por tudo o que de mau acontece em Portugal.

Então vamos por partes e nada como uma abordagem cronológica:

- Foi esta geração que aprovou a constituição em 1976, ideológica, estática, caduca e restritiva em termos de futuro. Recordo, que passadas quase 4 décadas, pouco ou nada foi alterado na sua génese e que depois de 1976, já caiu o muro de Berlim, já não existe União Soviética, a China é tudo menos comunista, a globalização veio para ficar, não temos fronteiras na Europa e finalmente os jovens de hoje são cidadãos do mundo e não deste pequeno rectângulo, porém temos a mesma constituição.

- foi esta geração que fez uma descolonização vergonhosa, ignorando e menosprezando Portugueses? De um momento para o outro, famílias inteiras chegaram a Portugal, com a promessa de que as poupanças amealhadas ao longo de uma vida de trabalho seriam convertidas e disponibilizadas pelos bancos em Portugal. Mentira, a maioria delas foi espoliada, tiveram que começar do zero, outras enlouqueceram como alguns casos que conheci de perto

- foi esta geração que nacionalizou o tecido empresarial Português e assim condenou o País e os Portugueses a um retrocesso de mais de 3 décadas?

- foi esta geração que esteve envolvida nos escândalos de Macau, nas verbas do Fundo Social Europeu ou até nos fundos de coesão colocados à nossa disposição pela então pela CEE? Não foi, pois não? 

- foi esta geração que atribuiu a si própria reformas e pensões vitalícias depois de 8 anos de descontos, mais tarde corrigida para 12, como é o caso dos deputados, autarcas e afins, quando o comum dos trabalhadores necessita de 40 anos de descontos?

- foi esta geração que criou as regras de supervisão bancaria, que supervisionou e que permitiu que casos como o BPN e BPP acontecessem?

- foi esta geração que tomou a decisão de nacionalizar estes banco se com isso se tivessem salvaguardado os interesses das grandes fortunas, fazendo o Povo Português pagar por erros que não cometeu?

- foi esta geração que criou este sistema de justiça, que deixa impunes todos os crimes de colarinho branco, típicos de quem ocupou cargos de decisão ao longo destes anos?

Não, não foi esta geração que cometeu estas barbaridades e outras que me dispenso recordar, mas que está bem presente na memória dos Portugueses.

Agora, tenho que ser honesto e dizer com toda a clareza, que a actual geração que começou com Pedro Santana Lopes na governação, teve o seu epilogo com Sócrates também prevaricou e porquê? Porque os ensinamentos, os maus exemplos e as más praticas ficaram e quando se critica esta geração por ser o resultado de jotas mal preparados, mais uma vez, o exemplo veio de cima, dos mais velhos, da geração que hoje se auto-intitula, iluminada e responsável.

Como já vem sendo prática nos meus artigos, tento ser imparcial e não poderia deixar passar aqui alguns aspectos positivos da geração dos iluminados:
Fez o 25A e devolveu-nos a liberdade. Desenvolveu um sistema de saúde, de educação, um estado social e uma rede rodoviária de que nos podemos orgulhar, mas mesmo aqui, foram cometidos excessos, que a actual e próximas gerações vão ter que pagar

Mais uma vez, não fui eu que dei inicio a um conflito intergeracional, ele existe e foi iniciado pelos tais iluminados, personificada por Mário Soares, Freitas do Amaral, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Bagão Felix, só para citar alguns, porque a lista é interminável. E porquê?

Porque habituados a viver a conta do estado Português directa ou indirectamente, pela primeira vez, estão a ser chamados a contribuir tal como os restantes cidadãos para salvar o nosso rectângulo de um descalabro muito provável. Pois é, é que um amigo meu, lembrou-me um máxima que era repetida muitas vezes por alguns destes Senhores em tom jocoso:
Perante uma manifestação em que se gritava, "os ricos que paguem a crise", o comentário não era nem mais nem menos do que, "Então eles não sabem, que são sempre os pobres que pagam a crise?"

Não tem esta geração o direito de dizer "BASTA":  não queremos a constituição que vocês escreveram, não queremos a justiça que vocês criaram, não queremos certos vícios e certas práticas. Queremos manter e melhorar o que  foi bem feito e corrigir o que foi mal feito.

Finalmente e só porque discordamos em algumas matérias, não queremos ser apelidados de irresponsáveis e mal preparados, mas sim e em conjunto, corrigir excessos, garantindo a sustentabilidade e o futuro das próximas gerações.

terça-feira, 2 de julho de 2013

A minha audiência com o Don

Embora o título tenha uma insinuação de idiossincrasia mafiosa, o conteúdo visa desmistificar uma ideia pré-concebida e ratificar uma ideia que há muito nutro: a de que não podemos deixar-nos conquistar pelos medos.

Vem isto a propósito de mais uma experiência vivida na Venezuela e que continua a manter viva na minha cronologia uma certeza objectiva que mostra que, conhecido quase meio mundo, o único assalto de que fui alvo foi há 27 anos, em Lisboa, e o único furto em residência que sofri foi há 3, em Coimbra. Sorte?! Pois, com certeza. Nada se faz sem ela… Tarimba?! Quiçá… Porém, os anos e os quilómetros percorridos reforçam a minha determinação de, observadas as cautelas elementares, não “dar a rua aos criminosos” e não tomar o todo pela parte; nem mesmo as cidades ditas perigosas conseguem ter um malfeitor em cada esquina.

Dito isto, vamos à ordem do dia – isto lembra-me as batalhas parlamentares e as saudades que por vezes tenho dos tempos de combate político (ao mesmo tempo que me lembro, diga-se, da iniquidade que também vi) – começando pelo deslindar do mistério maior: no último sábado, contra todas as advertências dos amigos venezuelanos com quem ia falando, mas precatando-me razoavelmente, resolvi ir ao “Festival Movistar de Reggaeton”. Cumpre, então, dissecar o objecto de anunciado delito.


Em primeiro lugar, o evento decorreu no Poliedro de Caracas, local circundado por vários barrios (aquilo que chamamos favelas, no Brasil), e parece que muitos venezuelanos de outra condição passaram a evitar o local. A esse respeito, a primeira absolvição: a segurança abundava, as entradas e as tiendas de comida estavam muito bem organizadas, os sectores eram estanques e tudo prometia um meio-dia e uma meia noite de festa.

Depois cifravam-se os medos e pesadelos em torno do estilo musical que é muito conotado com escalões sociais de mais baixos rendimentos e mesmo com franjas marginais da sociedade. O reggaeton surgiu de uma mescla da chamada música latina com os sons do Caribe – com evidente destaque para o reggae – comportando ainda tonalidades do hip hop. Segundo a maioria das fontes, tem as suas origens em Porto Rico e no Panamá, espalhando-se por toda a América Latina (hoje, um dos bastiões é também a República Dominicana) e, mais tarde, por todo o Mundo, o que, a meu ver e como explicarei, teve o efeito de atenuar a causa de muitos dos medos alheios que fui destilando.

O caminho deste género musical foi sendo feito muito próximo das classes trabalhadoras e dos circuitos juvenis underground, aproveitando os mais jovens – quiçá como sempre sucedeu – a arte para contestar as convenções. Como era de esperar, o reggaeton foi rotulado de obsceno e marginal (falava de drogas, crime e outros problemas dos sectores mais desamparados das cidades), e, reconheça-se especialmente quanto ao primeiro epíteto, com alguma razão quer pelo erotismo a roçar a pornografia de algumas letras iniciais, quer pelo modo de dança que o acompanhava, que era, mais uma vez com predominância nos seus alvores, uma versão hardcore da lambada.

Tendo começado por uma amadora caracterização do género, deixo agora uma breve ideia do que foi o festival organizado pela Movistar, num Poliedro de Caracas (o recinto) que não encheu, ao invés do esperado, quer pela fama de insegurança – pelo menos neste caso, imerecida – quer pela crise que começa a afectar seriamente os venezuelanos (a moeda desvaloriza, os preços sobem, mas os salários não acompanham).

A tarde fez o seu caminho para noite com notas dos artistas locais. A seu tempo, passaram pelo enorme palco montado no estacionamento do Poliedro (onde está prevista a actuação dos norte-americanos Aerosmith, em Setembro – por cá, referirmo-nos aos cidadãos dos EUA como “americanos” ofende os locais, que também reclamam a filiação continental) Manu y Jota,



Oscarcito – o autor de um eloquente “Reggaeton con Gusto” –


e Los Cadillac’s, mais um duo do panorama “reggaetonesco” venezuelano, que decidiu aquecer o ambiente (de forma surpreendentemente eficaz) com temas como “bon bon”.



Contudo, ninguém tenha ilusões, todo este som era apenas a escadaria de pano vermelho por onde haveria de descer “El Rey”, Don Omar, que, aliás, parece ter encarnado o título ao aparecer impecavelmente trajado com fato e gravata (sublinho que não há nada menos usual no mundo do reggaeton, mais conhecido pelas fatiotas berrantes e pelo “desleixo” calculado tributário do Hip Hop e do Rap).



Ante o êxtase generalizado, começou o rol de êxitos do cantor porto-riquenho: “Dale Don Dale”, “Virtual Diva” (celebrizada pelo refrão de que consta o sonoro “Ooh, chequea como se menea”), “Taboo” (a versão “régia” da brasileira “Lambada”) e, entre outros, o apoteótico “Danza Kuduro” que chama a atenção pela participação (que não no concerto) de Lucenzo. Ora bem, sendo que o dito colaborador e autor da versão inicial da música canta coisas como “Mexe Kuduro/ Balança que é uma loucura/ Morena vem ao meu lado/ Ninguém vai ficar parado”, mesmo antes do festival, importava ver quem era o rapaz que tão bem se expressa na língua de Camões, ao lado de El Rey…


O nosso Lucenzo é, nada mais, nada menos, o cidadão Luís Filipe Oliveira, nascido em Bragança e que, ignorado por muitos compatriotas, gravou com nomes grandes da música dançável como Don Omar, Pitbull e Sean Paul. A música mais conhecida na versão gravada com El Rey liderou a prestigiada tabela Billboard Latin Songs. Ou seja, goste-se ou não do estilo, há portugueses capazes de fazer tão bem como os outros…

Retomando e finalizando a narrativa, haveria a minha passagem pelo género de terminar com o dominicano Arcángel (leia-se “La Maravilla”), culpado pelos ensurdecedores gritos das adolescentes. Percebe-se que estamos perante um Justin Bieber do reggaeton, quer pela excitação causada, quer pelas letras.




Em suma, pode dizer-se que se presenciou um mundo à parte, com música muito mais audível do que o esperado e, sobretudo, com uma influência positiva derivada da sua globalização: as letras e a encenação estão hoje muito despojados do seu conteúdo sexual inicial, tendo sido aligeirados para melhor.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Lado Negro do Comunismo


Mário Nogueira, o eterno líder sindical da FENPROF é um autêntico poeta cuja prosa devia estar nas prateleiras das mais conceituadas bibliotecas mundiais.

Passe a hipérbole, convenhamos, o tipo não se manca.


Falemos então de “formação democrática”. 

Ao contrário do “Camarada Mário”, os “jovenzinhos” nunca precisaram de votações de braço no ar para serem eleitos para o que quer que fosse, ao contrário do próprio, que passeou pela passerelle comunista (vulgo Politburo português, ou Comité Central, como lhe queiram chamar…) através dessa metodologia eleitoral.

Considerará este comunista de Coimbra, candidato a deputado pelo PCP pelo menos umas 3 vezes, felizmente sempre sem sucesso eleitoral… que o voto de braço no ar é o que melhor se coaduna com o espírito de frontalidade que prevalece no PCP! Se assim não fosse, não teria aceite integrar o Politburo Comunista em tempos…

Mas continuemos a falar de liberdade. Esta malta é a favor da limitação de mandatos para os políticos… mas para os sindicalistas não!

Esta malta entende que os políticos devem ter vida para além da política… mas pelo contrário, os sindicalistas não podem ter vida (profissional, entenda-se) para além dos sindicatos.

Depois, como se não bastasse, escondem-se atrás de foices e martelos para dizerem os mais inimagináveis disparates, sem contudo se preocuparem com um conjunto de valores que lhes permite essa maneira livre de olhar o mundo.

Façamos uma pausa… e imaginemos o projeto de liberdade desta gente.

sábado, 15 de junho de 2013

Brasil: das Mulheres de Areia às Mulheres de Aço



O Brasil está a mudar e uma das faces da mudança faz-se no feminino. As mulheres, que compõem mais de metade da população brasileira, logram cada vez mais papéis de destaque no campo empresarial e noutros campos de decisão. A propósito disso, vale a pena ler este artigo (The Economist) que divulga dados muito interessantes sobre essa emancipação profissional.  

Efectivamente, aquela ideia que as telenovelas nos passavam de que as mulheres brasileiras estavam divididas em apenas dois mundos - o das dondocas frívolas por oposição às criadas de serviço e babás - cai por terra numa altura em que a participação das mulheres no mercado de trabalho assume enorme relevância. Terá sido assim noutros tempos, como em 1960, quando apenas 17% das brasileiras trabalhavam fora de casa. Na sociedade patriarcal de então, as mulheres estavam confinadas às quatro paredes e Chico Buarque cantava, em tom de alerta, as «Mulheres de Atenas» - subservientes, passivas e rendidas a uma vivência sem grandes metas pessoais e profissionais.

As mudanças ao longo das últimas décadas são notórias e, além de Dilma Roussef ao comando do país na busca de Ordem e Progresso, há outros exemplos de mulheres em posição de destaque. Como o de Maria Silvia Bastos Marques, que está à frente do Comité de Organização dos próximos Jogos Olímpicos. Ou o da presidente da Petrobras, a única mulher que se conhece à frente de uma empresa petrolífera. 

Porém, o caminho de ascensão ainda é longo. Se é um facto que na sociedade brasileira as mulheres representam mais de metade da população e do eleitorado e são as que possuem mais estudos, não atingem, contudo, mais de 20% no que respeita a cargos de maior grau hierárquico. No entanto, não lhes parece faltar ambição. Segundo um estudo, 80% das brasileiras que completam o seu percurso académico aspiram a cargos de topo. Uma percentagem significativa, se tivermos em conta que apenas 52% das norte-americanas partilham da mesma ambição. Almejar chegar mais longe é já um grande passo. Veremos até onde chegarão.  

* quanto ao título deste texto, cumpre lembrar que «Mulheres de Areia» foi uma produção brasileira de enorme sucesso na década de 90 e que «Mulheres de Aço» é uma recente série do canal GNT que acompanha o trabalho de quatro delegadas da polícia civil do Rio de Janeiro; 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

O País da palhaçada

Vivemos tempos de incertezas e de surpresas em que nem os ditados Portugueses sobrevivem. Todos se recordarão do velho ditado Português “Não há dinheiro não há palhaços”, pois é, mais aqui nosso Burgo, até esta máxima conseguimos destruir, o País não tem dinheiro, as famílias não têm dinheiro, mas há palhaços todos os dias.

Digo isto a propósito da abertura de quase todos os telejornais de há uns meses para cá. É raro não haver abertura em que não apareçam uma vintena de arruaceiros, orquestrados pelas centrais sindicais, pela CDU e pelo BE, com cartazes, com insultos e com os respectivos impropérios, que tão bem caracterizam a postura desta esquerdalha caduca.

Já aqui fiz referência também à baixa qualidade dos nossos jornalistas, não sei se porque os testes de admissão são pouco exigentes como é tudo no nosso País, mas se por uma linha editorial a que eu já chamei de ditadura invisível.

Ontem em directo, um grupo de jornalistas entrevistava António José Seguro à saída de uma reunião com o CDS/PP e pasme-se, todas as questões sem excepção, eram em torno de um suposto piscar de olhos do PS à direita e à esquerda e nem uma e repito, nem uma, relativamente à suposta questão central, medidas de combate ao desemprego e crescimento económico. Já não há pachorra, porque na minha mais pura ingenuidade, sempre achei que o principal papel da comunicação social e dos jornalistas seria o de informar e novamente falharam, resta saber se deliberadamente ou por pura incompetência. Uma certeza eu tenho, a questão não poderia ser colocada, porque António José Seguro não saberia responder, porque tudo isto não passa de uma encenação e de um show-off. E assim se promove um político, na esperança de que ele quando chegar ao poder, esqueça as reformas e mantenha o status quo.

Mas os palhaços não se esgotam aqui, desde ex-Presidentes da Republica com Mário Soares a liderar, acabando nos partidos que compõem o governo, podemos encontrar mais alguns, com uma característica adicional, são palhaços desonestos.

Hoje e porque estou com uma especial disposição, vou aqui dedicar algumas linhas a este novo tipo de palhaços:
Ou eu estou senil ou o País sofre em uníssono de Alzheimer. Então Manuela Ferreira Leite, não foi a tal que afirmou e  que transcrevo para que não haja dúvidas,  «Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia...», e continuou com, «Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se» e terminou com, «E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia».

Hoje é uma referência é um ícone Nacional na oposição ao actual governo, vá-se lá saber porquê. É esta característica, a desonestidade, que se tornou quase transversal à sociedade Portuguesa que eu tanto critico, que me dá náuseas e que faz tantos Portugueses desistirem do nosso País, por já não acreditarem em nada nem em ninguém. Mais uma vez, a comunicação social é conivente com esta desonestidade, porque bastariam duas perguntas para calar esta Senhora durante uns meses, “A que reformas se referia ela” e “Se ela defende a ditadura como o melhor dos regimes políticos”. A desonestidade e incoerência desta Senhora é tal, que numa das últimas intervenções defendia que alterar o estatuto dos funcionários públicos só iria gerar mais corrupção. Pergunto eu, mais do que aquela que já existe?

Para compor a mediocridade em que estamos mergulhados, não me poderia esquecer do trotskista disfarçado de democrata, o mais desonesto da quadratura do círculo, Pacheco Pereira.
Não esqueço da purga ao estilo trotskista que fez no PSD sob a batuta de Manuela Ferreira Leite, quando afastou das listas a deputados alguns sociais-democratas, que mais tarde viriam a ganhar em eleições internas e democráticas à liderança do partido. Pois é, a democracia tem destes problemas, as purgas não são eternas, isso é apanágio das ditaduras.

Finalmente, alguém que era uma referência para mim e que nos últimos tempos também virou desilusão, Bagão Félix. Nas suas últimas intervenções, têm-se esforçado por defender o indefensável, manipulando números, recorrendo ao populismo, branqueando situações e períodos da história recente, em que tinha o poder de corrigir injustiças e reformar o estado e não o fez, mas não se coíbe de criticar as reformas em curso, só porque elas o afectarão directamente, refiro-me à reforma que usufrui.

Relativamente a esta matéria, não poderia deixar de fazer referência a duas pessoas que muito estimo pela sua verticalidade e honestidade, Silva Lopes e João César das Neves. Mais uma vez, transcrevo um parágrafo de um entrevista, que ilustra tão bem o incómodo que deverão sentir as 3 personagens que citei anteriormente. «Quando uma geração concede a si própria benesses superiores ao que pôs de parte, não se deve admirar que mais tarde isso seja cortado, por falta de dinheiro. Se alguém pode dizer-se roubado, não são os actuais pensionistas, mas os nossos filhos e netos, que suportarão as enormes dívidas dos últimos 20 anos, e não apenas na segurança social»

Para terminar, algo que hoje não me deixou surpreendido, mas que tenho a certeza não terá a divulgação que merece: Segundo um estudo publicado no jornal I, 55,3% dos Portugueses querem este governo até 2015, mas acrescenta, sem Gaspar.
Será que neste País da palhaçada, o palhaço mor Mário Soares, não ignora este estudo e se cala de uma vez por todas?

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Fim de estação – os chumbos

Para tentar evitar a pasmaceira inerente ao final das ligas sem que haja um torneio europeu ou mundial, e enquanto os jornais desportivos não “desembestam” com milhares de transferências que não vão passar do papel, chegou a altura de debatermos alguns apontamentos relativos à época futebolística ora encerrada.

Desde logo, por motivos diferentes, sublinho três casos de destaque pela negativa: assim, começando a jogar em casa, lamento que Pedro Emanuel não tenha tido mais sucesso. Escrevi-o: entendia que, havia muito, a paleta de recursos tácticos do nosso “mister” estava esgotada. Comandar homens (ou mulheres) exige carisma, mas também sabedoria; ora, o antigo defesa boavisteiro e portista está naquele momento da vida em que pode fazer o esforço humilde de ir estudar mais um pouco com os mestres de referência, ou esperar, simplesmente, que surja um novo contrato e uma época feliz – como a de 2011/12, em que levou a Briosa a um dia de glória no Jamor – algo a que não auguro contornos de carreira brilhante.

Em segundo lugar, Jorge Jesus. Eu que nem sou de querer mal às pessoas, sempre achei que este arremedo de cidadão merecia sair pela porta pequena, mormente depois da grosseria com Édinho, no final da partida com a Académica. Os seus prognósticos saíram gorados, já que a nossa Briosa assegurou o seu lugar na divisão principal, e o inenarrável e histriónico técnico encarnado perdeu tudo o que tinha a perder. Creio, aliás, que um título nacional em quatro anos, olhando à inegável e superior valia dos jogadores que teve à disposição, diz bem do quanto este indivíduo é um verbo-de-encher. Sempre entendi, diga-se, que a sua falta de preceito era uma barreira para que se fizesse respeitar pelos próprios jogadores, já que se é verdade que o balneário tem códigos próprios, jamais um carroceiro impôs respeito nos circuitos hípicos (passo a comparação).

Por fim, uma nota negativa para José Mourinho. Sou dos que vê o treinador sadino como um dos melhores do Mundo e um dos que se compraz com a forma irreverente como eleva bem alto o nome de Portugal. Contudo, a mais de achar que por vezes se excede, entendo que o seu estilo acutilante e até mesmo arrogante só pode manter-se sem censura se os resultados o respalderem; isto é, embora não aprecie quem exiba constantemente as suas medalhas, sou mais tolerante com aqueles que, não obstante a soberba, as têm de facto ao peito.

Podemos, no caso vertente, encontrar explicações de variada sorte: seja por uma alegada conspiração anti-lusa, na capital espanhola, seja porque as vedetas madrilenas não suportam uma autoridade maior na cabine, ou até porque a equipa não jogou como tal na maioria dos desafios. Inelutável é o que rezará a história, e essa mostrará zero títulos para o Special One.

Havemos de voltar ao assunto.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Emitimos a 10 anos!

Os companheiros que praticam masturbação mental com o "regresso aos mercados" proclamado semanalmente pela secretaria de estado das finanças têm de parar para pensar. Ou mostrar alguma decência intelectual. A capacidade de financiamento de um país a taxas de juro competitivas só é possível quando esse demonstra poder de gerar riqueza. Leia-se, quando este tem uma economia mais ou menos pujante, quando o tecido empresarial está de boa saúde. As notícias sobre a colocação de dívida só serão positivas quando tal acontecer em Portugal, quando os impostos praticados deixarem de roçar o soviético e quando o peso do Estado na economia baixar consideravelmente. Mas como a famigerada reforma do Estado só começa a ser pensada lá para 2014, como bem disse o Sr. Ministro que não foi eleito coisíssima nenhuma, os foguetinhos lançados como se estivéssemos no início do Portugal do Homem Novo não passam de uma tentativa frustrada de atirar poeira para os olhos de quem não lê. E isso não vos fica bem.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O regresso do cavalo do inglês

Vejo o estóico exercício de amputação realizado pelo Conselho de Ministros e relembro a troca de mensagens de correio electrónico com um amigo que é membro do Governo, que à minha frase de felicitação respondia com um “isto está difícil”.

Não me passa pela cabeça duvidar do esforço que é pertencer a um governo que tem que combater uma crise que parece insuplantável e que, seguramente, o é a solo por Portugal.

Como já disse, creio que, à parte de um ou outro carreirista que consegue furar as malhas do mérito, as pessoas que hoje aceitam ir para funções de Estado são cidadãos que me merecem todo o respeito; estarão, seguramente, sujeitas à permanente insatisfação de grande parte dos concidadãos, não verão as coisas boas que fazem aplaudidas ou sequer com o devido destaque mediático, não enriquecerão com o ordenado que vão receber e, de certeza absoluta, vão envelhecer bem mais depressa. Claro está que, assim o creio, servir a Pátria é uma honra, mas esta honra vem sem honrarias e apenas - para os que são sérios – com “ferimentos de guerra” e com uma quase pornográfica renúncia à esfera privada.

Penso, em conformidade, que o muito vituperado Víctor Gaspar não estará em funções porque o ordenado é soberbo – como académico e consultor ganharia “n” vezes mais – ou porque aprecia o estrelato, posto o que teria que lhe ser diagnosticado um masoquismo de proporções patológicas.

Tudo isto para dizer que o que podemos discutir é a forma de tentar amortecer o impacto da crise, que, repito, não resolveremos com mais ou menos cortes dado o cariz internacional dos problemas.

Aqui chegados, devo dizer-vos que valia a pena que os três partidos com propostas realistas de governação (PSD, PS e CDS) procurassem mais entendimentos em nome de Portugal, até para que haja a mesma obrigação moral quando a alternância democrática chegar. A lógica de deixar a batata quente nas mãos de outrém sempre acabará por escaldar as nossas, sobretudo quando o forno que é a economia está para lá de quente…

O entendimento é tão mais importante quando me parecem de levar em conta avisos como os que escutei a um economista (Arroja, creio), dizendo que não poderia haver mais cortes sem abdicar de funções do Estado. Achando a ideia tétrica e um recuo civilizacional, relembro as palavras de um ilustre académico de Coimbra que, há meses, me dizia que “não conseguimos pagar esta dívida em menos de 30 anos”. Isto para não evocar as muito criticadas declarações de José Sócrates, quando afirmou que estas dívidas não eram para se pagar (veja-se a Grécia…); concordamos que o rei vai nú, mas criticamos quem o diz…

Há, por isso, que pôr travão na dieta para que não resulte em anorexia ou, dito de outra maneira, para que não acabemos como o cavalo do inglês, que morreu quando estava quase a aprender a deixar de comer, como escrevi, há anos.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Longe do fim do Mundo

Nos últimos dias, tenho recebido por várias vias a pergunta “está tudo bem por aí?”. Sensiblizado pelas inquirições, sigo frustrado por não poder escrever livremente sobre este e outros temas (voltaremos ao estilo antigo, quando as funções terminarem…)…

Porém, cumpre chancelar a primeira crónica enviada da terra de Bolívar, Chavez “y” outros, dizendo que as notícias sobre o país são manifestamente exageradas.

Convém, no entanto, encontrar o ponto de equilíbrio para que se não pense no paraíso quando falo na Venezuela. Assim sendo, cumpre começar por reconhecer que a sua capital é, efectivamente, uma das cidades mais violentas do Mundo; Maduro e Capriles – os candidatos que dividiram o eleitorado ao meio nas eleições presidenciais de 14 de Abril – reconheceram-no durante a campanha eleitoral, inclusive com marchas gigantescas em evocação do tema. O maior drama, a mais do número de mortes, é o dos sequestros, que nada têm de amador; falamos de uma “indústria” muito bem montada e organizada.

Dito isto, é também dever desdramatizar o assunto. É necessário viver numa redoma e nunca por o pé na rua?! De todo!... Sente-se até muito mais a vida de uma verdadeira cidade do que em paragens como, designadamente, Joanesburgo. É mais do que possível ir ao “temido” centro e visitar a Praça Bolívar, as casas onde nasceu e viveu o “Libertador”, a Catedral e, noutras zonas, os museus e parques de Caracas. Sublinho mesmo que, pelas descrições, nos últimos anos, abnegado tem sido o esforço das autoridades para tornar as áreas em causa transitáveis, ao menos durante o dia. Em abono da oposição se diga de igual modo – não subscreverei maniqueísmos – que o Estado que Henrique Capriles (o grande contendor de Chavez e Maduro) governou até há pouco (que inclui as zonas “nobres” de Caracas) está classificado como zona segura para se andar (literalmente falando), embora com o relativismo que o termo impõe nesta urbe.

Por outro lado, mesmo o período pré e pós-eleitoral não foi o “faroeste” que me pareceu retratado na terra de Camões (a minha, por sinal…). Claro que mortes e grupos armados “em campanha” não cabem num duelo entre PSD e PS… Todavia, também será impossível, hoje em dia, ver por aí marchas e comícios com centenas de milhares de pessoas, com o condimento extra de uma cortante e inconciliável fractura ideológica entre “socialismo do século XXI” e liberalismo (não sei se Capriles aceitaria a etiqueta, mas foi a que me pareceu mais adequada para o fato que usou…), e sem esquecer a elevada temperatura do sangue latino-americano.

Tudo isto, em suma, para dizer que este é um País que vale a pena para trabalhar e visitar, desde que o leitor tome consciência de que as suas “calles” são um “bocadinho” mais agitadas do que a nossa Rua Ferreira Borges ou qualquer avenida lisboeta e tome as providências adequadas, mormente no que toca à simplicidade na aparência e à renúncia a qualquer acto de heroísmo em caso de infortúnio.