quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Uma aspirina para o Senhor Engenheiro


Creio que o resultado de Alegre vai dar-nos motivos para muitas pilhérias.
Vaidoso como parece ser, no que aos seus galões políticos respeita (já não havia paciência para o missal anti-fascista e resistente), a bagunça no PS – em nome do milhão e cem mil eleitores que já foi lembrando, em dois ou três dias – rebentará à primeira discordância de fundo sobre um tema magno.
Manuel Alegre fará multiplicar o som da sua voz por um milhão, e Sócrates que se arranje. Vêm aí dores de cabeça...

terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A média dos media

Com franqueza, entendo que a vitória de Cavaco Silva, à primeira volta, e contra 5 candidatos de esquerda (cujo objectivo era, assumidamente, a derrota daquele), é um feito notabilíssimo na história do sistema político português.

Todavia, tudo foi dito por algumas vozes dos media e da política para que se diminuísse o facto de um só homem, em seis, ter cativado mais de metade dos mais de 60% de eleitores recenseados que decidiram votar.

Não generalizando, diria que entre os grandes derrotados se contam os media. Quem viu a ligeireza com que passaram as asneiras de Soares e vacuidade de Alegre, e a exploração quase sádica com que, por exemplo, publicaram e republicaram a “caraça” de espanto de Cavaco Silva, quando confrontado, a frio, com as impróprias declarações de Santana Lopes, proferidas na véspera, só pode concluir que Cavaco era o candidato não desejado.

Vejo-me forçado a sublinhar, designadamente, a cobertura que uma das principais repórteres da SIC fez da campanha do novo Presidente: salas que eu vi a abarrotar, eram salas meio cheias ou com clareiras, multidões de centenas passavam a dezenas, e daí em diante…

Em alternativa, nos festejos da vitória, no Centro Cultural de Belém, bastava sintonizar a TSF para ouvir um jornalista dizer que um urso de peluche era um símbolo pouco próprio de um Presidente, ao ver que Cavaco segurava um. Não sou jornalista, mas sempre pensei que importava averiguar “quem”, “como” e “porquê”… Felizmente, uma repórter entrou na linha para explicar (terá sido despedida?) que havia sido uma oferta do neto, assim se entendendo que o recém-escolhido Chefe de Estado tenha segurado, por instantes, o dito brinquedo.

E no dia seguinte à eleição, que podíamos ouvir?! Que, afinal, Cavaco não era de família humilde, como escrevera e dissera, porque uma estação radiofónica colhera depoimentos que diziam que o pai tinha camiões e o mais não sei o quê…

Depois queixam-se das tiragens e das audiências, e chocam-se com a preferência dada ao futebol, às novelas e aos tablóides!...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Lata em poesia é melhor do que lata em prosa

Manuel Alegre é, de facto, um homem da arte ou, dito de outro modo, um (verdadeiro) artista.
Ontem, declarou que com a vitória de Cavaco Silva, "ao fim de seis meses vamos ter uma crise política a partir da Presidência da República para que se cumpra o velho sonho da direita - um Governo, uma maioria, um Presidente." (in "Diário de Notícias", de hoje).
O que espanta é a desfaçatez do Poeta!!!
O alegado sonho da direita (algo que Sá Carneiro, num dado contexto histórico e político, considerou importante para desenvolver Portugal) foi concretizado pelo seu PS.
E sobre o assunto nunca se lhe ouviu dizer que era perigoso ou rejeitável, antes se vendo o alegre Alegre a continuar a ser alegremente eleito para cargos públicos, proposto por esse ser dúbio (a julgar pelo que tem dito) que é o aparelho partidário (no caso, do PS).
Como diz o nosso povo, "já cheira mal"!

Uma boa resposta

Ao que acabo de ouvir, na "Antena 2", José Amaral Lopes, Vereador da Cultura da Câmara de Lisboa e ex-Secretário de Estado do pelouro, chegou a acordo para preservar a fachada da casa onde viveu Almeida Garrett.
Assim sendo, eis uma superior resposta aos que costumavam apoucá-lo.
Em tempo, insurgi-me.
Agora, congratulo.

Onde?!

No sábado, vi Manuel Alegre, em Évora, dizendo que estava numa terra que significava "liberdade" e "25 de Abril".
Salvo o devido respeito pelos eborenses, eu diria que referir o 25 de Abril, no Alentejo, seria significar. no contexto histórico, algo mais parecido com a URSS do que com a liberdade, tal qual a entendemos hoje.
Respeito os marxistas-leninistas de gema, e compreendo as circunstâncias em que, a sul de Rio Maior, e no Alentejo mais notoriamente, se defendeu outro sistema político.
O que aceito pior é o oportunismo de quem passa a vida a bradar contra os pragmáticos aparelhos partidários (ainda que passando uma vida a ser indicado por um deles para funções públicas remuneradas), procurando refazer um projecto de potencial direcção centralizada numa ode à liberdade.
Não vale tudo, sobretudo para os moralistas de turno, como Alegre e Louçã.

sábado, 14 de janeiro de 2006

Alarve

Na 5ª feira, à noite, Mário Soares atingiu o alcantil da grosseria de que tem dado provas, num comício em Portalegre.

Na circunstância, afirmou que Cavaco Silva nunca reconhecera os seus antecessores na presidência do PSD (Sá Carneiro incluído), e que Marques Mendes só fora autorizado a entrar na campanha (num jantar, em Pombal) porque, como era "pequenino", poucos haviam reparado nele.

Ora bem, para quem, como Soares, se queixa dos media, basta imaginarmos o que se diria se fosse Cavaco a gracejar sobre as características físicas, por exemplo, de Soares... Com certeza que seria sugerida a sua apresentação ao Tribunal de Haia.

Sabem o que disse a estação televisiva, onde vi a notícia? Que era o "humor" de Soares...

Que se diria se outro candidato brincasse, supondo que o PS escolheu Soares por ser muito gordo, e assim se fazer notar melhor?

Depois, comprova-se que Soares já não tem, no seu íntimo, a menor esperança de ganhar as eleições. Se a tivesse, não se atreveria a menorizar o líder da oposição (e eventual Primeiro-Ministro), com quem teria de trabalhar, enquanto Chefe de Estado.

Parecer-lhe-ia bem que Marques Mendes insinuasse que o Sócrates só o apoiava porque o candidato já está pouco capaz, o que faria com que, na remota hipótese de vencer, incomodasse pouco o Governo?!

Não sou um mendista, mas sempre aprendi que não se usam características físicas para apoucar, ainda que brincando, um adversário.

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Mundo imperfeito

Com franqueza, e numa abordagem pragmática da política, no lugar do engº Sócrates, estaria contente.
Depois de derrotar João Soares e Manuel Alegre, no PS, depois de ver o primeiro a perder Lisboa e Sintra, em eleições sucessivas, a seguir à derrota clamorosa e por indecente e má figura daquele que Carmona Rodrigues designou por "grande ordinário" (leia-se, Manuel Maria Carrilho), qual o último foco de autoridade interna que podia causar turbulência, durante 3 anos sem eleições e com fundos comunitários?
A meu ver só a figura senatorial do dr. Soares.
E não é que eu perfilhe a tese algo lírica de que José Sócrates deseja Cavaco Silva em Belém - por muito que, de facto, os seus conhecimentos de Economia e da governação possam ajudar a entender melhor as medidas a tomar - mas entendo que a derrota de Mário Soares deixará ao nível da insignificância eventuais bolsas de resistência que, sabe-se que é assim no interior dos partidos, são já de si diminutas, quando se detém uma maioria absoluta.
Por isso, creio que Sócrates assumirá, como homem de palavra, a derrota de Soares, mas 3 anos chegam e sobram para fazer esquecer a mesma (quem fala ainda das autárquicas, 3 meses depois?!), ainda para mais quando Soares torna o resultado altamente "pessoalizável".
Numa abordagem mefistofélica, eu, no lugar do nosso Premier escolheria Soares no 2º lugar, à 2ª volta.
Porém, como a sorte também se acaba, creio que falhará a última cereja (a da 2ª volta), sem que com isso se estrague o bolo.

Idade Média

Há pouco tempo, em viagem, falava com um amigo que se queixava do panorama de Coimbra, no plano da política, da cultura, da comunicação social, do futebol, e por aí fora...

E a verdade é que, sendo Coimbra uma cidade com altos padrões de qualidade de vida, é-o apesar de muitos dos supostos timoneiros da nossa barca (permita-se o registo intimista ou unplugged, para usar a terminologia MTV), que é como quem diz que as elites da cidade se arredaram ou foram arredadas do comando dos nossos destinos.

Em ocasiões anteriores já falei e escrevi sobre o PSD, referindo a curiosidade que representa a distância do meio universitário, dos médicos e advogados e outros profissionais liberais prestigiados (muitos dos quais aceitam ser mandatários e afins, quando vislumbram prestígio suficiente na missão), dos agentes sindicais e patronais, em relação à sede do Partido. Não que os aspirantes a "jovens turcos" (apesar de tudo, os originais deixaram marca perene) não tenham a legitimidade, ao menos, formal: ganharam eleições internas pelo voto, eliminaram a competição e espraiaram os seus braços (não contem comigo para escrever "tentáculos"). O facto é que devemos retornar à essência do fim do sistema partidário.

A meu modesto ver, um partido político democrático deve, em primeiro lugar, oferecer um ideal social, aos mais diversos níveis geopolíticos e aos vários escalões etários. Os cidadãos devem perceber, no plano nacional, distrital ou concelhio, que modelo de sociedade resultará de uma prolongada governação daquela agremiação, e como se concatenam as medidas avulsas para o construir dessa sociedade nova.

Entenderá diferente quem tiver vistas curtas, falta de estudo ou oportunismo mediático (como bem percebeu, por exemplo, o Bloco de Esquerda).

Em segundo lugar, um partido deve estimular a divergência interna de opiniões e tolerar o debate externo. Quem discorda deve ser convidado a colaborar e a enriquecer a posição comum, sendo até uma boa maneira de responsabilizar a possível oposição pelos destinos comuns. Parece óbvio?! Acredite que não é, em muitos estádios da vida de um partido.

Depois, entendo que as pessoas devem evitar a inveja. A atitude persecutória das elites é típica dos períodos pós-revolucionários, mas não de democracias maduras. Só mentes pouco brilhantes e com o civismo a terminar na carteira ou no umbigo podem entender que é pendão a ostentar a expulsão das figuras de relevo ou, no limite, a sua não sedução para aderirem à vida partidária.
Fala-vos um tipo que, não se considerando parte da elite, tem pena que se não guarde para ela um lugar de relevo, já que entendo que um catch-all party (um partido consociativo de massas) deve ser verdadeiramente pluralista, se ambiciona espelhar a vida social que procura servir. Não defendendo qualquer teoria elitista (embora saiba o que dizem Paretto e Mosca), creio que as elites ajudam a manter o dinamismo do debate, num dado meio.

Um périplo pelos cabeças de lista de Coimbra de três dos grandes partidos às últimas eleições legislativas é elucidativo: respeito as figuras (nem poderia ser de outro modo), e não sou provinciano ao ponto de entender que só "nados e criados" podem fazer caminho nas respectivas circunscrições, mas a "importação" de facto (apesar dos laços que sempre conseguem estabelecer-se com as terras de recepção) das figuras de proa pode atestar ou a dormência cívica ou a "limpeza étnica".

Não se geraram líderes locais? Se sim, por que não assumem os focos de poder político social e político do Concelho? Se não, por que razão secou a fonte? Por que não entram nas sedes dos partidos, dos clubes e associações e por que não encimam projectos culturais que escapem à marginalidade do "alternativo" ou à facilidade do "pimba"?

Creio que poucos me subscreverão, mas acreditem, pelo menos, que escrevo sem ressentimento ou com outra pretensão que não seja a de tentar encetar um debate sobre a liderança que se foi perdendo, em Coimbra, como em tantas terras. Por cá, faz-me mais confusão, já que temos condições e mole humana para ser um pólo de excelência não apenas na Ciência, na Educação e nas profissões liberais – onde temos feito boa figura – mas também na vitalidade cívica e na influência política, que já tivemos.

Coimbra já deu ao País gente que pôde ser, com mérito, Primeiro-Ministro, Presidente da Assembleia da República, Ministro, e por aí fora… E agora?...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Agri Cultura

Anda amarga a vida cultural e, pelos vistos, nem Coimbra escapa.
Li no "Beiras" que a Câmara de Coimbra vai reduzir o financiamento a algumas actividades culturais, tendo o Edil convidado as pessoas a expressar igual indignação para com alegados incumprimentos do Governo, na área da Cultura.
Concordando com esta última proposta (os apoios culturais, em Portugal, são tão miseráveis e, por vezes, tão mal atribuídos, que toda a indignação é pouca), e confessando que, não estando na CMC desconheço a qualidade dos "apoiados", creio que, se enveredamos pela lógica do embargo (até que os outros cumpram), o que já é pobre (a actividade cultural de Coimbra) pode morrer à míngua. A actividade cultural não pode encarar-se como a prestação do condomínio, que alguns não pagam como retaliação para como o vizinho incumpridor.
Repito: não conheço o fundamento para a redução dos apoios, mas se apenas se diz o que li, parece-me uma má decisão.
P.S.(salvo seja): se com o que disse, há cerca de 7 anos, terminou a minha carreira na Assembleia Municipal e começou um embargo não assumido, no PSD de Coimbra, creio que, depois deste post, é até ao ano 3000. Bem, tanto pior...

Viagens na terra deles

A polémica em torno da demolição da casa onde Almeida Garrett habitou os últimos anos da sua vida tornou-se verdadeiramente estúpida.
Há que acertar alguns pontos:
  1. A casa tinha ou não interesse patrimonial, de um ponto de vista cultural e/ou arquitéctónico? Se tem, não se compreende como deixou a Câmara de Lisboa chegar a este ponto, sendo, na altura do licenciamento, presidida por um ex-titular da pasta da Cultura. Também espantará que, sendo assim, não houvesse quem, no Estado, exercesse o poder de expropriar por utilidade pública, tomando a posição da CML que, emitida a licença, disse não ter dinheiro para adquirir a casa.
  2. Havendo o tal interesse, e estando o edifício degradado ao ponto de fazer presumir um longo abandono, cumpriria perceber a razão de só agora ouvirmos falar dos movimentos cívicos que se opõem à demolição. Os media não davam espaço, enquanto o proprietário não se tornou Ministro (da Economia)? Até pode ser, mas importa perceber...
  3. A haver interesse cultural, e tendo nós em jogo um membro do Governo, eis um conflito de interesses que valia a pena ter resolvido, não se negando a legitimidade de Pinho proprietário para construir, mas também não olvidando a responsabilidade de Pinho governante para com o interesse público.
  4. Se a casa tinha escasso interesse, e embora a tutela fosse camarária, a Ministra da Cultura poderia intervir para o dizer, pondo ponto final na "novela".
  5. Caso contrário, deveria ter intervindo em sentido contrário, fazendo actuar os mecanismos adequados, sob pena de se acentuar (como se ainda fosse preciso...) o nosso terceiro mundismo cultural, em que o dinheiro do betão será sempre um universo, e o dinheiro para a Cultura um grão de poeira cósmica.

Estranham-se os silêncios e entranham-se as dúvidas. Ministro da Economia, Ministra da Cultura, Presidente da Câmara de Lisboa e ex-Presidente da edilidade deveriam, separadamente ou em conjunto, ter falado sobre o assunto, e não "deixar suceder", como é vulgar por cá...

Ataques de lucidez

Mário Soares declarou ao "Expresso" que "arrancou tarde" para a candidatura.
Concordo: trinta ou quarenta anos!...