terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O consumidor é quem mais ordena

À semelhança do que sucedeu com os Radiohead, o grupo português The Gift, que está prestes a lançar mais um álbum, entendeu deixar ao critério dos consumidores o preço a pagar pelo mesmo. Antes do lançamento oficial do álbum, e através do site do grupo, as onze músicas do novo disco estão disponíveis ao preço que achar justo (mesmo que seja zero...).
A estratégia tem implícita o combate ao download ilegal e aos riscos que este coloca à indústria musical. Muitos grupos musicais cada vez menos lucram com os discos, «sobrevivendo» com espectáculos e merchandising. Em Portugal, o consumo de música vê-se ainda prejudicado com o imposto de 21% que lhe confere estatuto de «produto de luxo». Para contornar isso, em 2008 o grupo nortenho apadrinhado por Rui Veloso, Os Azeitonas, lançou um cd revestido de livro, pois este último é fiscalmente mais leve. Não faltam razões para que os músicos comecem a pensar em alternativas ao modelo de negócio tradicional e alguns grupos portugueses já se vão dando conta disso, como é o caso dos The Gift, cuja audácia é de aplaudir.

Transiberiano – etapa moscovita (III)

Como o PSD optou pela sensatez face à moção/número de circo do Bloco de esquerda e a Académica me deixa amuado, posso continuar com o relato da viagem recente entre Moscovo e Vladivostok.


E retomo o relato, precisamente, pela capital russa, que é, hoje, uma cidade onde de tudo se encontra, desde que se tenha uma bolsa (muito) bem recheada. Bem dizem os russos que, face ao custo de vida, Moscovo e São Petersburgo “não são Rússia”, diferença que pude constatar, dado o imediato estancar da hemorragia de rublos, assim que se alcançou a segunda etapa e seguintes.



Tirando isso, lá se alcançaram as vistas obrigatórias (Kremlin e seus obrigatórios museus,




mausoléu de Lenine,



Igreja de S. Basílio,


Museu Pushkin,



algumas da monumentais estações de Metro,




Catedral de Cristo Salvador, etc…),


depois de algo que jamais pensava suceder-me, por muito que visse na televisão: dormir pelos cantos e chão de um aeroporto, depois de sucessivos (creio que quatro) adiamentos da hora do voo da Aeroflot, dado que o aeroporto Sheremetyevo não possuía provisão de produto para descongelar a pista (algo que motivou a ira de Putin e Medvedev).


Felizmente, o aeroporto Schipol (Amesterdão) é exemplar, possuindo mesmo um pólo do Museu Rijks, e os bravos pilotos russos lá chegaram com o dito avião, 17 horas depois, para êxtase dos seus desesperados compatriotas que pulavam de alegria frente à janela da qual se avistava a aeronave (alguns esperavam há 2 dias).

Porque o primeiro desejo era um belo banho, calhou bem a pequena extravagância (devida a oportuna promoção) de repousar os ossos no Hotel Metropol (experiência recomendada). É colado à Praça Vermelha e ao Bolshoi (infelizmente ainda encerrado à data) e é um edifício clássico de exteriores e interiores de se lhes tirar o chapéu.


Como retratos rápidos, destaca-se a segurança rigorosíssima no acesso à Praça Vermelha, para as celebrações da passagem de ano, como se houvesse já noção do atentado de 24 de Janeiro, num dos aeroportos moscovitas. Naquela noite havia detectores de metais, centenas de polícias, proibição de bebidas alcoólicas e palco arredado na direcção do rio. Muitos cidadãos (presume-se que ébrios ou sem papéis um ordem) foram convidados para as dezenas de “city tours” organizados pela polícia russa, presume-se, com visita a uma cela incluída.


Já no mausoléu de Lenine, assaltou-me a ideia de que, apesar da permanente guarda de honra a cada mudança de direcção no seu interior, a solenidade dos militares é cada vez menor (foi a quarta vez que visitei o “camarada”), dando corpo aos rumores antigos de que, um destes dias, fecham as portas, como fizeram com o imenso Museu Lenine, encerrado em 1993. Não sei, por isso, que teria sucedido se o telemóvel (que me esqueci de entregar à entrada) tivesse tocado... Talvez já não fosse a crise de outrora, mormente porque a melodia de toque que tinha era o hino da URSS...

Quanto ao resto, os moscovitas estão mais cosmopolitas e dados a cada ano que passa (um funcionário que me vendia um cachecol da Selecção do País dos Czares, inclusive, “arranhava” o idioma de Camões, galhardete a que respondi, como pude, com a língua de Dostoiévski). Porém, não se engane: simpatia eslava jamais terá o calor latino!...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Mobilizar [via Facebook] é o que está a dar

As redes sociais têm tido um papel fulcral nos protestos que grassam pelo Médio Oriente e Norte de África, o que chega a ser um bocadinho assustador. Através do Facebook, Twitter e semelhantes, a capacidade de mobilização da sociedade é tal, que acaba por estar na origem da queda de regimes no Egipto e Tunísia. No caso do Egipto houve quem, para comemorar o feito, baptizasse a filha com o nome Facebook, dado o relevo desta rede social naquele acontecimento. Por cá, e embora estejamos a falar de situações políticas diferentes, a mobilização via redes sociais também vai dando que falar. O Protesto Geração à Rasca, que terá lugar no Porto e em Lisboa a 12 de Março próximo, já conta com quase 19 mil pessoas «confirmadas» na página do Facebook criada para o evento. Resta saber se essas pessoas se mobilizam mesmo e aderem, ou se apenas se contentam em gostar da iniciativa, com a facilidade de um clic.

O Professor de Ética ficou sem ela...


Há tempos aqui fiz notar a minha admiração pelo escritor e filósofo Fernando Savater, não só pela sua obra, cujo fio condutor é a Ética, mas também pela sua coragem, na frente de combate ao terrorismo no país Basco, mesmo quando ameaçado de morte, inúmeras vezes, pela ETA. Porém, hoje o meu encanto por Savater desvaneceu, ao ler as declarações descabidas que fez à cadeia televisiva do país vizinho, a Telecinco, dizendo-se agradecido àquele grupo terrorista, que o fez sentir "vivo, activo, metido en política y haciendo cosas de joven". Mais disse que a ele o terrorismo lhe deu "quince o veinte años más de juventud", concluindo que "me he divertido mucho".

Ora, embora facilmente se perceba que o que Savater quis dizer foi que, face ao terrorismo da ETA, dedicou-se à actividade política e não se restringiu à vida catedrática, haveria com certeza outras formas de se manifestar, mais comedidas e com um critério na escolha de vocabulário um pouco mais rigoroso, uma vez que estamos a falar de um grupo terrorista cuja actividade tem feito inúmeras vitímas ao longo dos anos e não propriamente de uma companhia de circo. É caso para dizer que até ao Professor de Ética, a ética falha.
*imagem de Miguel Herranz

O triste curso do mercado de arrendamento

Com franqueza, creio que só faltava mais esta...

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Blogosfera para que te quero...

Depois da Direcção Geral de Impostos ter elaborado uma lista pública de devedores, agora é a vez da Polícia Segurança Pública tomar a mesma medida, através de um blog gerido pelo presidente do respectivo Sindicato, cujo nome é bastante esclarecedor: Entidades Caloteiras. Como o procedimento da Administração Fiscal teve sucesso, levando muitos dos contribuintes a regularizar de forma célere as suas dívidas assim que se viam identificados na lista, os polícias seguiram a moda e têm vindo a denunciar ali as dívidas por saldar. A julgar pela actualização de alguns dos textos com a palavra Regularizado, a medida tem sido eficaz. Só o Ministério da Administração Interna é que ainda não se deve ter apercebido da lista, pois mantém-se o maior devedor da PSP.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Nos carris do Transiberiano II

Retomo o relato resumido de uma viagem que, de Dezembro a Janeiro, nos levou de Moscovo a Vladivostok, na mítica rota do Transiberiano.
Assim, munido de boa leitura (Dostoiévski, pois claro), lá começou uma aventura que haveria de levar-nos da estação de Yaroslav (tem marco do quilómetro 0) em Moscovo,
até à de Vladivostok, onde, com sete horas de diferença para a Capital, “amanhecemos” com a visão do marco do quilómetro 9288 e com uma emblemática locomotiva a vapor, exibida na gare.


Antes do embarque, uma nota de cunho histórico: ali mesmo, à entrada da estação, está o nosso camarada Vladimir Ilyitch Ulianov (vulgo, Lenine), representado numa das múltiplas estátuas espalhadas por toda a Rússia.


“Matámos saudades” em Nizhny Novgorod (estátua apontando para o Hotel Central),

Ekaterinburgo (na praça central, rodeado de esculturas de gelo e quiosques que o deveriam ter horrorizado, outrora),


Irkutsk (no cruzamento da Rua Lenine com a Rua Karl Marx!!!...),


Ulan Ude (escondido, não muito longe da estação ferroviária, mas de inusitada cor dourada, que parece pouco adequada aos ditames ideológicos do senhor)


e em Vladivostok (mais uma vez, em frente à gare).


Destaques especiais, desde logo para o próprio (se forem infundados os rumores de que a sua múmia foi substituída por um manequim) em exposição, ainda e sempre (???) na Praça Vermelha


e para a macrocefalia do camarada em Ulan Ude, onde, na praça principal (onde mais?!...), se encontra aquela que se diz ser a maior cabeça de Lenine do Mundo (não custa acreditar…).


Por fim, um sublinhado para a ausência da sua representação em Kazan (a mesma que nem em Kaliningrado verificáramos, em Março), onde, paradoxalmente, fica a universidade que, ainda hoje, é conhecida pelo seu nome (já não o ostenta, mas conservou o nome popular e a efígie do "rapaz").


Numa pura conjectura, creio poder explicar-se a falta de comparência pelo tradicional sentimento arreigado de autonomia da Republica do Tataristão, onde os tátares (assim mesmo e não “tártaros”) sempre gostaram de uma boa refrega com os eslavos.
No meio de tudo isto, o que quero sublinhar é que, além das estátuas, muitas das principais avenidas (Ekaterinburgo) e ruas (exemplo, Ulan Ude) ou Praças (veja-se Nizhny Novgorod) têm ainda o nome maior do executante mor do marxismo por aqueles lados.


Aliás, Irkutsk, além da rua e da estátua com o nome de Lenine, tem, como referi, mesmo uma rua Karl Marx.

Conclusão deste vosso criado: enquanto nós ainda vivemos mergulhados em complexos de esquerda herdados do 25 de Abril e que tanto nos tornam retrógrados e politicamente enfezados, os russos aprenderam, com mérito evidente de Putin, a lidar com o passado, tentando casar a idiossincrasia de ontem com o pragmatismo de hoje e com o potencial de amanhã. Eis como se forja uma potência: mobilizando a sociedade…


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sem pipocas...

Voto de vencido (filme escolhido por 3 contra 1...)Não gostando do género, revi Cher...


De depenar a alma
Perturba e interroga. Vale bem a melhor actriz.


Um real filme
Cativantes desempenhos a quem, facilmente, daria o prémio de melhor actor e melhor actor secundário. O entrecho também é interessante.


Uma das poucas aventuras que podemos ter com ela...
Filme de acção que diverte e fornece boas vistas (é em Veneza... :)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Transiberiano I

O Transiberiano visto da cama...

Depois de anos a puxar pela imaginação e de mais de 50 países “investigados” (entre os quais a própria “Mãe Rússia”), eis que se bateram os 9288 quilómetros do famoso comboio russo que liga a Europa ao Extremo Oriente e, ainda por cima, no seu trajecto “puro”, Moscovo – Vladivostok, cuja construção aconteceu entre 1891 a 1904 (ou 1916, se considerarmos o trajecto actual).

O impulso partiu do Czar Alexandre III, homem bem mais reaccionário que o seu reformista progenitor, que decidiu libertar as suas tendências imperialistas congeminando este meio de fixar mais vincadamente a presença russa na Sibéria e no Extremo Oriente, em possessões que já eram suas.



Czar Alexandre III - Irkutsk

A construção passou por fases de tal modo difíceis, que atravessa uma terra onde a própria rede de estradas acaba (apenas sendo retomada na fronteira com a última região: Amazar.


Comecemos, aliás, pela noção de Transiberiano: havendo um comboio (o n.º 1 ou 2, consoante a direcção) que liga Moscovo a Vladivostok, o que normalmente pode e deve fazer-se (a menos que queira fazer 7 dias consecutivos de comboio) é visitas no trajecto, o que levará a que, na realidade, acabe por tomar não um, mas sim diversos serviços ferroviários.


As primeiras indicações sobre o embarque nesta aventura sobre carris são as seguintes: por um lado, quanto mais baixo o número do comboio, maior a sua qualidade (o 41, entre Nizhny Novgorod e Kazan, fazia lembrar os antigos inter-regionais da CP). Por outro lado, dependendo do gosto, há primeira e segunda classe, sendo que aquela, custando muitíssimo mais, tem como diferença o facto de ter 2 e não 4 camas.


O comboio n.º 8 - Sibir ou Sibiriak (a dourina divide-se...)

Por fim, ler os bilhetes (hora de partida e de chegada, vagão, cama, etc…) tem que se lhe diga, desde logo porque as horas (mesmo no itinerário afixado em cada carruagem) são sempre as de Moscovo. De todo o modo, o único problema pode aparecer em Kaliningrado, já que, andando para Leste, o pior que pode acontecer é chegar adiantado para o seu compromisso com os surpreendentemente pontuais caminhos-de-ferro russos.


O início da aventura: Estação de Yaroslav, Moscovo


A escolha do tempo para agir foi outra questão magna, tendo a opção recaído pelo período compreendido entre 28 de Dezembro e 23 de Janeiro. Que diabo! A Rússia dos livros, dos filmes e dos grandes momentos da História é branca e não verde! E, depois, havia que provar que os portugueses “não são de capinar sentados”, sobrevivendo no Verão do Algarve ou no Inverno da Sibéria… Acresce que o charme é outro: os melhores casacos de peles saem à rua, os teatros, as óperas


Ópera de Ekaterinburgo


e os circos

Circo Estatal de Moscovo (vulgo, Circo Novo)


apresentam os seus melhores espectáculos e o clima de festa é generalizado, já que depois do Ano Novo,


"The midnight hour", na Praça Vermelha


segue-se o Natal Ortodoxo (7 de Janeiro),



"Palácio do Gelo", em Ekaterinburgo


permanecendo os enfeites citadinos e as exposições de esculturas de gelo até aos finais de Janeiro.



Voltaremos ao relato…

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Da cegueira social

A notícia que hoje é capa por toda a imprensa e que dá conta de uma idosa que morreu há nove anos e só agora foi encontrada na sua casa, é o reflexo da indiferença e irresponsabilidade social que se vive em Portugal. Como é possível que uma pessoa deixe de aparecer no seu círculo social e/ou familiar e só uma vizinha dê por isso? Não levanta a pensão vitalícia e a Segurança Social parece ignorar o assunto. Não paga as contas de casa e cortam a luz, água e afins. E como se isto já não bastasse, o imóvel vai a hasta pública sem que ninguém o visite e se dê conta do sucedido. Pior, o alerta de uma vizinha foi ridicularizado e ignorado pelas autoridades locais. Família, Segurança Social, Finanças, Autoridades e, por fim, a própria sociedade: eis os responsáveis pela situação.

A cegueira em que vivemos nestes tempos é preocupante, sobretudo, porque passámos a considerar que os idosos, uma vez sujeitos não activos e de diminuto peso social, não são dignos de um investimento político e social por parte da sociedade, instituições e do próprio Estado.

Longe vão os tempos em que um idoso era visto como um sábio, cujas número de rugas se traduzia no seu conhecimento e experiência de vida, atractivo aos olhos dos mais jovens. Mas na sociedade actual, que deifica a juventude, o idoso é agora dado como um inválido e um empecilho no seio familiar. A discriminação surge no círculo familiar e, não raras vezes, desemboca em violência doméstica. Noutros casos a família descarta-se do problema, ou seja, os idosos são votados ao esquecimento e vivem sós, amparados por uma irrisória pensão do Estado. Quando isto se passa nos grandes centros urbanos a situação ainda é mais preocupante, pois as relações de proximidade não são as mesmas que nas pequenas localidades.

Claro que o primeiro responsável pela situação é a família, que mesmo perante as adversidades do quotidiano não deve negligenciar um membro seu apenas porque já não tem as mesmas capacidades de outrora. Mas também as instituições e o próprio Estado têm a sua quota-parte de responsabilidade, cabendo-lhes, no mínimo, estarem atentas a sinais que indiquem maus tratos e/ou solidão. E se puderem elaborar programas de protecção, melhor. Como neste notável exemplo, em Alfândega da Fé. Começar por ajudar os jovens a desmascarar os preconceitos contra a chamada terceira idade é, sem dúvida, um grande passo. Oxalá venham outros...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Porca miséria!

A fotografia é de Janeiro de 2011 e mostra um mural com o rosto de Karl Marx, ao lado de uma caixa multibanco... Isso mesmo; no Metro de Moscovo, estação de Maiakovskaya, convivem proximamente dois ícones de mundos opostos. Eis uma legenda da Rússia moderna...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

CR7 na Sibéria


Em Irkustk, denominada de Paris da Sibéria, cruzámo-nos com esta publicidade a uma loja de desporto. Caso para dizer que até na Sibéria este moço dá cartas!! E o melhor de tudo, é que não se apresenta com o equipamento do clube madrileño, mas sim com o da nossa selecção.