quarta-feira, 25 de abril de 2012

Imbecilidades II

 

Na terça-feira dia 24 de Abril, de viagem para o Porto, dei por mim a ouvir na TSF o Coronel Vasco Lourenço a explicar a diferença entre democracia formal e legitimidade democrática. Dizia ele, que um governo mesmo que democraticamente eleito, se não cumprir as promessas eleitorais perde a legitimidade democrática. Para compor o ramalhete, Mário Soares acrescentava que a razão principal que o levava a não estar presente nas comemorações na Assembleia da Republica, residia no facto, de que este governo estava a destruir tudo o que tinha sido construído ao longo destes anos.

Ora, não é preciso ser muito inteligente para perceber, que qualquer dos dois argumentos não têm objectivamente nada que os sustente, a não ser razões ideológicas e de consumo interno, senão vejamos:
- quanto ao primeiro, ignorar que havia um compromisso dos 3 principais partidos com a Troika, para implementar um conjunto de medidas/reformas a troco de ajuda financeira evitando assim a bancarrota, tal irresponsabilidade, só pode ser comparada à afirmação de que as dívidas dos Países não se pagam, gerem-se, resta saber até quando....
- quanto à segunda razão, a resposta é simples: se a construção tivesse sido perfeita, não estariamos à beira da bancarrota, com um dívida publica superior à riqueza produzida num ano inteiro, deixando assim às gerações vindouras, um Pais hipotecado, como uma dívida astronómica para pagar e sem opções.

Já alguém se questionou, se D. Afonso Henriques depois de tanto esforço e tanto sangue derramado na conquista e construção de um território independente, concordaria com o fim da monarquia ou até com a adesão à União Europeia?
Se não, então porque havemos de nos preocupar com afirmações tão efémeras e irrelevantes...

A ler


Porque é Ibérico. Porque é contemporâneo. Porque tem o peso dos Clássicos. Porque é sucinto e com uma profundidade enorme. E porque me mostrou novas e boas perspectivas sobre a gestão do poder, não só na sua concepção e conquista, mas também na psicologia dos actores subordinados a este.

Uma sugestão para quem o quiser dedilhar na Feira do Livro, que arrancou ontem. A editora é a Esfera dos Livros.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Imbecilidades de Abril

A Associação 25 de Abril (A25A) resolveu não marcar presença nas comemorações oficiais do 38º aniversário da Revolução. Em bom rigor, não me surpreende e nem vejo razão para que queiram comemorar uma data que de há uns tempos para cá tudo fazem para denegrir.

Se a abstenção não honra a sua (A25A) história neste domínio, estas comemorações reflectem nem mais, nem menos do que a defesa de um conjunto de direitos, liberdades e garantias essenciais que até então não existiam. 

Trata-se de uma marca de solidariedade para com aqueles que não viveram a liberdade que hoje vivemos e o reafirmar de que a Democracia, mesmo com os erros inerentes (que devem ser corrigidos através dos seus próprios mecanismos) é a melhor forma de governação.

Os Capitães de Abril deram-me a possibilidade de nascer em liberdade. Mas também, reconheçamos, lhes deu direitos, nomeadamente o de dizerem e fazerem um conjunto de disparates! É assim a Democracia, e ainda bem...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Desporto e o Despotismo

Muitos “fãs” das corridas automóveis nem se aperceberão do que se está a passar no Barhreïn. E portanto, a revolta do povo deste minúsculo reino é o produto de anos e anos de injustiças, de opressão e de humilhações. Pode ser reprimido, mesmo esmagado, mas renascera como o Phénix, das suas cinzas. Porque nasceu e cresceu no solo do despotismo e do arbitrário. 

A organização do Grande Prémio de Formula 1 neste pequeno reino tem como efeito de reforçar a determinação “dos revoltosos da Pérola” a continuar o combate contra um regime ultrapassado, apoiado pelas monarquias do golfo e, claro está, pelos Estados Unidos e a Europa. 

O monumento da Pérola, símbolo da resistência à ditadura dos Al Khalifa foi destruído e substituído pelos “tanks” do exército saudita. As mesquitas e minaretes não escaparam à loucura destruidora. Os comissariados do arquipélago foram transformados em salas de tortura. Os tribunais militares julgam e condenam civis. Os feridos não são atendidos no maior desprezo das convenções internacionais. 

A dinastia dos Al Khalifa, no poder desde há séculos, o Conselho do Golfo dominado pela Arábia Saudita, os USA e a Europa estão satisfeitos. Eles pensam que as aspirações do povo de Bahrheïn à dignidade e à democracia estão, como o movimento que os caracteriza, enterrados. A ditadura, os privilégios, os interesses de uns e de outros estão salvaguardados. Pode-se anunciar agora ao mundo que a situação é normal. O espectáculo do Grand Prix de Formula 1 pode começar: “Aliás eu conheço gente pacifica que vivem sem problema no Bahreïn”, diz o organizador da corrida, Bernie Ecclestone, homem de negócios e patrão desta famosa corrida. O desporto ao serviço do despotismo!

A exploração política do desporto não data de hoje, evidentemente. A Itália fascista e a Alemanha nazi, já tinham instrumentalizado esta actividade para dar uma certa legitimidade ao poder que detinham. A Itália fascista mussoliniana (1934) e a Alemanha hitleriana ( 1936) tinham organizado respectivamente o Campeonato do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos. A FIFA, ela, tinha confiado a organização do “Mundial” de 1978 à Argentina da junta militar dirigida pelo general Videla. O grande Prémio de F1 era organizado regularmente na África do Sul durante o regime de Apartheid. Bahreïn inscreve-se por conseguinte nesta “tradição”! 

Que não venham as autoridades do Bhareïn um dia pedir a intervenção da ONU para suster a revolta do povo. Porque a Primavera vem todos os anos!

Freitas Pereira
Vitor Constâncio no seu melhor

Vitor Constâncio é Português, foi indicado por Portugal para ocupar uma das vice-presidências do BCE e por isso pensava eu, reunia qualidades impares para exercício de um cargo numa instituição, que hoje é considerada das mais importantes da União Europeia e do Mundo.

Então, o que leva Vitor Constâncio a afirmar em finais de Março, que Portugal dificilmente escapará a um novo programa de ajustamento económico e passadas 3 semanas afirma com a mesma convicção o seu contrário, quando as condições económicas hoje, são muito piores do que eram na altura.

Recordo, que a Espanha é o principal parceiro ecónomico de Portugal e que dela dependem quase 50% das nossas exportações, mas nas últimas semanas não se tem falado de outra coisa senão, num programa de ajustamento à “Espanhola”.

Cito aqui estas duas intervenções:

A 31 de Março
Vítor Constâncio, vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), disse hoje que não se pode pôr de lado a possibilidade de Portugal vir a precisar de um segundo programa de ajustamento económico, lembrando que tal cenário "tem de estar sempre em avaliação".


A 22 de Abril
Washington, 22 abr (Lusa) - O vice-presidente do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio, afirma que Portugal vai melhorar o acesso aos mercados financeiros cumprindo o programa de ajuda externa, e que regressará aos mercados na data prevista, se a conjuntura económica se mantiver.

 Afinal em que é que ficamos, Dr. Constâncio?

A mim parece-me, que Vitor Constâncio já aderiu a esta nova técnica de comunicação, que permite mais tarde e independentemente do desfecho, citar uma qualquer afirmação que se ajuste ao momento, do tipo: “Tal como eu tinha previsto há algum tempo....”

O que se exige a um Vice-Presidente do BCE, é tenha uma visão mais dilatada no tempo, que seja coerente e que seja um factor de estabilidade e de esperança. Este ziguezag irracional, que se traduz em mais incerteza e em mais imprevisibilidade, só alimenta especuladores ávidos de razões para intervir nos mercados em sinal contrário, aquele que todos desejaríamos.

Bem esteve Mariano Rajoy quando há umas semanas pediu ao BCE contenção nas palavras. Quando os protagonistas não tem qualidade, o silêncio é sempre a melhor opção. Aprenda Dr. Constâncio...

P.S

Com a provável vitória de François Hollande, assistiremos mais uma vez à esquerda Portuguesa a embandeirar em arco. Ao contrário, não tenho dúvidas de que Hollande, fará o que os mercados financeiros internacionais o deixarem fazer, manterá a “entente” Paris-Berlim e dentro destas limitações, colocará sempre os interesses da França acima de quaisquer outros. “Liberté Égalité, Fraternité”, é coisa do passado.

Obrigado pelo convite



Ao longo destes anos tenho sido um dos muitos leitores deste blog e por isso ocupado uma posição invejável e confortável. Ao aceitar trocar um lugar confortável na plateia pelo de actor, fico na “dúvida” se este convite do nosso amigo Gonçalo Capitão, não está embuído daquele espirito muito na moda, de nos desafiar a sair da nossa zona de conforto. Felizmente, a tecnologia de hoje, permite-nos estar em todo o lado sem termos que emigrar.
Espero que o tempo disponível me permita intervir tanto quanto gostaria

ADEUS SARKO

Em princípio, ele vai-se embora! Se Jacques Brel fosse vivo, cantaria  «on t’aimait pas, tu sais»! (Não gostávamos de ti, sabes ?) Mas que ninguém tenha ilusões: Quando o malabarista e candidato dos ricos for embora, e que o balanço do seu reinado for feito, com todas as decepções que ele causou aos seus próprios adeptos, a vida vai continuar. Mas, repito, que ninguém tenha ilusões, porque outras decepções virão, não por causa das palhaçadas e das contradições instantâneas nas quais Sarko era um especialista, mas porque o mundo sendo o que ele é agora, as medidas que permitiriam a verdadeira mudança de rumo, não serão tomadas.

A social democracia vai continuar a gerir à sua maneira. E mesmo que o novo presidente seja mais representativo de certos valores da democracia francesa, o mundo da finança internacional continuará a impor a política económica que pôs o mundo na situação em que se encontra hoje. Paraísos fiscais, deslocalizações de empresas, globalização, procura de lucros fáceis e substanciais através da mão de obra barata do quarto mundo, injustiça social organizada, redução da segurança social e mercantilização dos serviços públicos, incluindo a saúde, que será cada vez mais a duas velocidades, precariedade, austeridade, continuarão a modelar o mundo de amanhã. 

Estes últimos cinco anos foram particularmente nefastos para os Franceses. E portanto, esta eleição da primeira volta trouxe uma surpresa: Muitos eram os que esperavam uma abstenção recorde! Ora mais de 80% dos Franceses foram votar! Mais que em 2007! Talvez porque em 2012 eles estão mais pobres que em 2007! A França é um dos países da Europa comunitária onde as desigualdades aumentaram mais fortemente, com a excepção da Espanha e de Portugal. E da Grécia! A degradação do ratio da renda média dos 20% mais ricos em relação aos 20% mais pobres é devida essencialmente à política fiscal de Sarkozy. Ele, que tinha como slogan de campanha em 2007: “Serei o presidente do poder de compra”! Os pobres pensavam que ele lhes falava do poder de compra... dos pobres! Mas enganaram-se: Ele falava dos outros, daqueles que estão mais ricos hoje que em 2007!

Claro, sejamos honestos: Os sinais de empobrecimento relativo dos Franceses não têm nada a ver com aqueles que verifiquei há dias na minha terra de Guimarães, que fui visitar rapidamente. Ainda não se vêm por cá “menus” a 5 euros nos restaurantes, com sopa, prato, pão e bebida! Perguntei a mim mesmo como é que é possível viver, tanto o restaurador como o cliente! Mas cá, os “clientes” dos restaurantes de Coluche, onde os pobres e não só, vão alimentar-se gratuitamente, estão cada vez mais cheios. Mesmo alguns membros outrora da classe média, lá vão agora também!

Mas há outros sinais negativos: a degradação das condições de trabalho nas administrações e nas empresas. Tudo isto sendo o resultado previsível do impacto crescente das condições financeiras do Mercado desregulado, impostas às políticas públicas pela renuncia dos “eleitos do povo” a resistir. O que é compreensível: O gesticulador chefe francês é o amigo da maioria dos patrões do “CAC 40”, índice da bolsa de Paris! 

Evidentemente que seria necessário acabar com tudo isso. O vencedor do 6 de Maio próximo não o fará. Ele será o novo porta voz do Pacto Financeiro Europeu criado pelos Merkozy, pacto que se fosse denunciado condenaria a França a sair do Euro! Por conseguinte, ele será obrigado a continuar, e mesmo a amplificar, a liberalização dos mercados. E a próxima etapa poderá ser a dinamitagem do pilar central do código do trabalho: O contrato com duração indeterminada. A Itália e a Espanha fizeram-no e, em nome da harmonização europeia e da livre circulação dos trabalhadores, ele fará o mesmo. E em frente para a precariedade generalizada! 

Trata-se portanto de continuar a negar a realidade dos perigos que pairam sobre o mundo contemporâneo. O capitalismo perpetua-se tragicamente, incapaz de ultrapassar as suas próprias contradições internas. A crise maior do regime de acumulação do capital, que os artifícios cada vez mais grosseiros da finança globalizada não conseguem dissimular, é irremediável. Abandonar a nossa sociedade ao autoritarismo de regimes essencialmente preocupados da defesa mortífera dos interesses de oligarquias riquíssimas, pode gerar o regresso de movimentos políticos fundados exclusivamente na designação de bodes expiatórios. Marine Le Pen é o exemplo. Aceitá-lo é abrir o caminho ao regresso do fascismo. Creio que é realmente mais que tempo para acordar. 

Freitas Pereira

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Corda ao pescoço

Apesar da analogia, não é sobre a crise económica que vos falo hoje… Falo de outra; da crise de algum do nosso futebol…

Deixo de parte a questão de salários em atraso e dívidas ao Estado, que também seria assunto cardinal…

Começo, assim, pela Briosa. Sei que sou apenas um adepto de sofá (tirando os jogos com a União de Leiria e a segunda partida com a Oliveirense, já nem treinador de bancada posso ser), mas, tendo as quotas em dia, tenho direito a uma opinião que, admito ab initio, pode ser disparatada; a saber: creio que a Académica e Pedro Emanuel deveriam ter rescindido o contrato de trabalho deste último há quatro ou cinco jornadas atrás.

Não estão em causa o homem – parece-me um cavalheiro – ou sequer o profissional – sei que é trabalhador e nem excluo que venha a ser um treinador de sucesso, no futuro. Todavia, parece-me claro que, há muito, deixou de ter ascendente emocional (leia-se, liderança) sobre os jogadores e vejo-o sem força interior à altura da hercúlea tarefa que se lhe depara (uma das poucas vantagens de ver os jogos na televisão é poder reparar em detalhes como o que vi na escandalosa derrota com o Beira-Mar; após o segundo golo aveirense, o treinador enfiou-se no banco de suplentes com o ar mais desapontado do planeta).

Além disso, entendo que muitas opções tácticas têm sido erradas e que um ou dois jogadores seriam candidatos à dispensa imediata… Não consigo esquecer, no mesmo jogo, a cara sorridente e displicente de Édinho, depois de ter feito um dos mais desastrosos e absurdos remates da partida (daqueles que só se perdoa a um iniciado), com a equipa em desvantagem!...

Seria o maior paradoxo que já vi vencer a Taça de Portugal (honestamente, tenho fé) e descer de divisão. Creio, todavia, que não chegaremos a tal catástrofe, ganhando a tranquilidade merecida com uma vitória sobre o Olhanense (esperança para a qual em nada contribui a derrota de sexta-feira com o Arouca, em jogo de treino). Com a manutenção garantida, espero que a Direcção tire ilações de tudo isto.

A nota derradeira tem a ver com o Benfica e, sobretudo, com o treinador Jorge Jesus. Com a arrogância e boçalidade que o distinguem aquém e além fronteiras e a propósito de um elogio a Sérgio Conceição, o treinador encarnado afirmou que os treinadores não se formavam nas universidades, mas sim no campo, como ele e Conceição. Ora bem, com uma equipa fantástica, tendo tido cinco pontos de vantagem, diria que a situação actual (quatro pontos de atraso e eliminação da Taça de Portugal e da Liga dos Campeões) não deixa ao Presidente do Benfica outra solução que não a de correr com o mais caro e grotesco treinador da história encarnada… Bastava, diga-se de passagem, uma mera comparação com a gestão do Porto para chegar a esta conclusão, visto que, cirurgicamente, comprou dois jogadores (Lucho e Janko), reposicionou algumas pedras e lançou-se para um título quase certo (e "sem treinador"!!!).

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ambição & ignorância


Em primeiro lugar, a final de 69 jogou-se em ditadura e o protesto foi feito no Jamor, pois seria uma forma d...e evitar a repressão. De tal modo isto foi compreendido, que o próprio adversário de então(Benfica) entrou em campo mostrando evidentes sinais de respeito para com a VERDADEIRA crise que se vivia na academia coimbrã.

Em segundo lugar, "fecharia os olhos" ao aproveitamento da festa do futebol se os estudantes e a sua direcção associativa tivessem, como no meu tempo e ainda mais em tempos anteriores, o hábito de vestir a sua capa e a sua batina e irem apoiar a Briosa (não só não vestem, como são raros os que vão aos jogos, mesmo quando os bilhetes custam cinco euros). Ao invés, o que vejo muito nesta juventude agora tão civicamente activa é muitos cachecóis do Benfica, Sporting e Porto (num ou noutro caso com o traje académico, o que, quando eu estudava, valeria um valente "rapanço").

As asneiras que não causa a ambição de alguns aspirantes a políticos ou agentes provocadores...

terça-feira, 17 de abril de 2012

Vender Portugal

"Portugal é uma das melhores comunidades do planeta. As pessoas são uma delícia, o clima é maravilhoso e a sua base ligada à descoberta é surpreendente. Portugal precisa de exportar a sua poderosa história. Alguém tem de trabalhar esta importante plataforma. Passos Coelho tem de fazer disto uma prioridade."

Interessante, esta visão de Joey Reiman, fundador e CEO da BrigtHouse (empresa que detém contas publicitárias da Coca-Cola, McDonalds e Procter & Gamble). Não diz nada que não saibamos já, mas como não damos mostras de o saber, temos um estrangeiro a abanar e alertar este país para as suas potencialidades.  Embora algumas marcas portuguesas assegurem um posicionamento no mercado externo assente na portugalidade, ainda há um caminho muito longo a percorrer para demonstrar lá fora que só somos pequenos em termos geográficos. A promoção do país não é tarefa apenas para as empresas, mas também de organismos públicos e da acção diplomática, que lá vão fazendo o que podem. Porém, falta-nos apostar numa certa propaganda cultural que dê uma imagem do que fomos e do que ainda somos. A título de exemplo veja-se que, apesar de esta nação ter praticamente 900 anos de vida para contar aos demais povos, não produzimos cinema que incida sobre a nossa História e enalteça (cá e além fronteiras) o nosso prestígio ao longo de séculos. Isto seria importante não só para a auto-estima da nação e dos seus, como para a imagem que lá fora de nós se constrói. Dizia, e bem, Churchill: "a love for tradition has never weakened a nation, indeed it has strengthened nations in their hour of peril." A nossa identidade é reconhecida por muitos, mas a percepção que o Mundo tem de nós poderia ser explorada com mais afinco e vendida com mais sucesso. Como refere Reiman, é urgente vender Portugal: não só as suas gentes, o seu clima, o seu património e tradições, mas novas facetas que vamos talhando... inovação, sofisticação, lifestyle. A ver vamos se Passos Coelho lhe dá ouvidos e se os outros nos deixam de ver como aquele país ao lado de Espanha.
* espantem-se mas a imagem acima foi obtida numa loja portuguesa, Meio da Praça, em Lisboa...

sábado, 14 de abril de 2012

DIREITA ? ESQUERDA ?

Caríssimo Amigo Gonçalo Capitao

Aproveitando a abertura do «post » precedente no qual me “encaixa” naquela corrente ideológica que se chama “esquerda”, que não renego, gostaria, se me permite, não de explicar  esta tendência, explicação que não se impõe,  mas de ir um bocadinho mais longe na análise da noção de “esquerda” e “direita”, como a concebo.
As eleições presidenciais em França oferecem um quadro ideal para esta análise. Mas se estas eleições fossem em Portugal, a conclusão seria a mesma.
Qualquer que seja a facção política que se apresenta ao voto dos eleitores, todas têm , em principio, um programa estratégico de desenvolvimento económico.
Este programa vai condicionar a política social no sentido mais largo do termo, sendo a  educação , a justiça social e o emprego, os pontos essenciais que vão interessar a grande maioria dos eleitores de base. A maioria ignora, de facto, os aspectos fundamentais da economia política. Só a vida de todos os dias os sensibiliza..

Por traz dos efeitos de tribuna e do ambiente escaldante das reuniões publicas incensadoras, nada permite de assegurar que este programa vai ser respeitado pelas facções políticas em luta pelo poder.
Hoje, mais que nunca, os políticos procuram esconder a verdade sobre o poder real de que dispõem para conduzirem  uma política governamental.

Se olhamos para o caso da França, existem exemplos flagrantes para provar que qualquer que seja o vencedor, “esquerda” ou “direita”, o problema do poder real é patente.

Assim, quando o candidato da esquerda, provável vencedor, diz em Paris que o seu adversário principal é a “finança” e diz em Londres que este adversário  é finalmente aceitável, nada o diferencia da direita.

Quando o mesmo diz que vai aplicar uma “taxa nas transacções financeiras”, ele não diz como o fará, e ainda menos quais são os países que vão aceitar de aplicar uma tal taxa. Sim, porque isso não será possível que ao nível, pelos menos, europeu. A direita diz a mesma coisa.

A ideia da criação da “Agência Publica de Notação Financeira” é um gadget comparada às outras agências privadas, autónomas, que continuarão de existir. Qual será aquela que os mercados vão crer? A direita propõe a mesma coisa.

O pacto de “responsabilidade de governança e de crescimento” ( que Portugal assinou!) é uma concha vazia! Ninguém sabe como ela se poderá encher! Tudo depende dos parceiros da Europa e da finança internacional... Tudo hipotético como as “euro-obrigações”! A direita também assinou.

Proibir a criação de filiais dos bancos nos paraísos fiscais e limitar certos produtos financeiros, é francamente risível! Sarkozy prometeu quantas vezes estas medidas ? A esquerda promete agora!
Ninguém tem a possibilidade de lutar contra a especulação financeira, sem mudar o sistema económico mundial, e as medidas anunciadas são picadelas de alfinete nas costas do monstro! Na finança tudo é interligado.

Reindustrializar o pais, prometido pela direita e pela esquerda. Muito bem. Para Portugal como para a França, a ideia é premente. Mas como fazer regressar as industrias que partiram para longe, estas deslocações de empresas que mais não são que um puro produto da globalização mundial?

Quanto à Republica e às instituições, esquerda como direita, prometem  coisas que não custam nada a anunciar.. e eventualmente não serão realizadas ! Reduzir o numero de funcionários? Quem o ousará , sabendo que existem lacunas em vários serviços públicos, que o Estado abandona!

E porquê? Porque o novo presidente e o seu governo vão continuar a gerir o sistema mercantil como ele é, sem mexer no seu mecanismo de fundo, sem pôr em questão a maneira de funcionar, respeitando as regras do salariado, da rentabilidade, da circulação e da acumulação do capital, do essencial das regras dos tratados europeus ... e submetendo-se aos constrangimentos internacionais. 

Vamos assistir ao “merchandising” de todas as actividades económicas e sociais, com alguns retoques, certo, mas sem perturbar o seu curso.

Vamos assistir a uma gestão “social-democrata”, na realidade “liberal”, do capitalismo, como os outros países europeus. Não será uma gestão de “direita” mas não será melhor! E isto porque a “ideia” liberal contaminou completamente a “ideia” socialista.

Os problemas, os verdadeiros problemas, aqueles que se põem aos cidadãos na vida de todos os dias ( poder de compra, emprego, reformas, saúde) vão continuar e não serão resolvidos.. até que o povo desiludido... re-vote pela direita ... e assim de seguida ! Como na Espanha.
E no outro sentido, brevemente, como na Grécia como na Itália, como na Alemanha.

Gostaria de deixar aqui, se me permite,  estas palavras de Mitterrand: “ Os socialistas que se apresentaram como “reformadores”, acabaram por colaborar e aderir aos valores capitalistas e portanto à política da direita. A colaboração escapa dificilmente ao seu destino que é o de atraiçoar”.

Alors, Caríssimo Amigo: Direita, esquerda? Onde estão realmente? No interesse individual que se situa acima do interesse colectivo? Talvez.

Freitas Pereira

quarta-feira, 4 de abril de 2012

"Forward"

Creio que todos nós recebemos uma imensidão de mensagens de correio electrónico reencaminhadas (vulgo “fw” ou “forward”); desde as anedotas aos gatinhos e cãezinhos com patéticas mensagens de paz e amor, das bonitas mulheres assim às obesas mulheres assado, dos reclamos com erros aos abaixo-assinados para demitir todos e mais um…

Há, todavia, um tipo de mensagens e anexos que, sempre que posso, me dou ao trabalho de ler: aqueles que versam política. E foi num desses interlúdios de leitura que abri um pequeno filme sobre a pirataria na Somália, enviado por um dos mais cultos cidadãos da diáspora que conheço, que o meu amigo Freitas Pereira, residente em França (um homem cujas ideias se encaixam claramente no que se usa designar por “esquerda”), recomenda no texto do e-mail (que não sei se é seu ou também ele reencaminhado) que vejamos “o outro lado da história”.

Vejamos, então: o filme de realização espanhola começa por um enquadramento da noção romântica de piratas que herdámos de aventuras em livros e filmes, para depois balizar o conceito. Segundo os autores, um pirata é alguém que rouba no mar, fortemente armado e, por vezes com a protecção de um Estado (relembremos as cartas de corso e os corsários...).

Seguidamente, somos elucidados sobre a pesca massiva e predadora realizada por potências ocidentais, bem como sobre o depósito ilegal de matérias radioactivas e de outros lixos tóxicos (por exemplo, resíduos hospitalares). Tudo isto se passa na zona económica exclusiva da Somália, país que a não pode vigiar por estar devassado pela guerra e pela miséria.

As consequências destes actos são evidentes: os recursos alimentares marítimos escasseiam e muita da matéria radioactiva deu à costa, por altura de uma das mais recentes e dramáticas calamidades naturais.

Pelo meio, imagens da fome que faz sofrer o povo somali e censuras aos gastos ocidentais no patrulhamento bélico da área… Segundo os seus autores, aliás, os piratas mais não são do que pescadores desesperados aliados a alguns combatentes tribais, como tudo pudesse ser justificado desta forma.

O cenário é pungente e nada pode ser mais atroz: pesca ilegal, depósitos de lixo tóxico, fome e guerra…

Contudo, cumpre olhar o " também verdadeiro" outro lado. Comecemos pelo lado da guerra: com intervenção da Etiópia na zona da Somalilândia, quem está em guerra?! Tribos somalis. São somalis que massacram o seu povo. Acresce que quando os EUA, no início dos anos 90, quiseram pôr alguma ordem no caos gerado, as Nações Unidas entenderam que não valia a pena ajudar da única forma viável: a força.

Depois, se não fosse trágico, era quase hilariante a ideia de que a pirataria pode ser justificada por depósitos e pesca. Os indivíduos que a praticam, como sabem, são vulgares bandidos que, à custa de tantos resgates (indevidamente) pagos, estão hoje fortemente armados e visam o enriquecimento ilícito e fácil.

O que, em meu entender, tem andado mal é o alheamento dos países ocidentais, designadamente das antigas potências coloniais (Reino Unido e Itália) que deveriam ajudar a repor alguma ordem no país, permitindo restaurar a ordem pública e o renascer da economia local.

Tudo o resto é propaganda para nos causar remorsos que, com franqueza, não tenho e que não devem confundir-se com preocupação, que todos devemos nutrir.