quarta-feira, 22 de julho de 2015

“Nunca subestimar a estupidez humana”…

… Foi essa a primeira e sábia lição de mestrado do Prof. João César das Neves, pese embora a propósito da Economia Política.

Lembro-me de tão sábias palavras por ter lido a polémica gerada em torno da aparição da mulher de Pedro Passos Coelho, sabendo-se que se encontra calva mercê de agressivos tratamentos contra um dos flagelos da nossa era.

Na generalidade, estou de acordo com as reacções de repúdio perante quem viu na dita aparição um sinal passível de aproveitamento político e, logo, de beneficiar o Primeiro-Ministro. Creio até que as pessoas que reagiram usaram de uma polidez de que eu, contestando “a quente”, não me sentiria capaz.

Se abordo o tema é por não poder deixar de juntar ao que li e escutei o meu mais sentido “vómito”. Creio que é meu dever de cidadania!

Desde logo porque considerar que Passos Coelho aproveitaria a grave doença da mulher para ganhar votos, é presumir que falamos de um monstro. Quem conhece a história prévia do nosso “Premier” sabe bem que falamos de um homem com elevado grau de humanidade. Mas nem deveria ser preciso ter tido o privilégio de ter conhecido PPC em privado, ou sequer de pensar que poderia estar a enriquecer numa boa sinecura, em vez de suportar o ónus pessoal e político de lutar por uma visão que tem para o nosso País (goste-se ou não do conteúdo desta); deveria ser mandamento da boa educação e do bom senso que se não repare e menos se comentem estes detalhes, ainda mais quando falamos de alguém que tem a coragem de enfrentar um desafio tão grande, em lugar de ficar em casa vivendo uma depressão. No caso de Passos Coelho, salienta-se o acto de amor, sem mais comentários.

Mais espanta que sobretudo uma mulher (Estrela Serrano) diminua outra de forma tão vil. E se do “politicamente correcto” falarmos, alguém que teoriza o tema, bem podia perceber o desajuste do reparo, numa época em que designações como “negro”, “deficiente” ou até “contínuo” caíram em desuso. Explicando melhor o aparente ridículo do encadeamento, o que quero dizer é que a “polis” mediática convencionou suavizar todos os termos e referências que menorizem cidadãos em alegada situação de inferioridade ou subordinação. Logo, insinuar aproveitamento de uma doença em que se joga a própria vida passa por cima de tudo isto e chega ao cume da nojeira…

Ademais, mesmo no mundo académico, há “fórmulas que não se formulam”. Num Portugal universitário e político que ainda teme ver os (raríssimos) méritos do Estado Novo, “brincar” com doenças graves ou fatalidades é demasiado “vanguardista”… O respeito que houve (e bem) para com António Guterres e Mário Soares, deveria ser tributado a qualquer personalidade pública, independentemente do seu quadrante político.

Oxalá quem tão triste figura fez não tenha que reagir a algo de similar. Em todo o caso, se tal dia chegar, prometo decoro e continuarei pensando sobre o eterno dilema de saber se deve ou não haver limites à liberdade de expressão em democracia.