segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O dia em que Houdini se afogou


Tentarei escrever esta prosa com o menor número de adjectivos e com a frieza possíveis em homenagem à moderação a que me sinto obrigado. Contudo, creio que o dr. António Costa poderá estar, politicamente falando, a meter-se numa numa camisa-de-onze-varas ou a criar, genialmente, o “auto-xeque-mate”.

Indo por partes, reafirmo que, a meu ver e usando noções sobre métodos eleitorais que espero não estejam desactualizadas, a coligação PSD-CDS, tendo mais votos e mais deputados eleitos, ganhou as eleições. Continuo a acreditar nisso, apesar de as últimas notícias me tenham feito ganhar esperanças de que a Briosa possa ir à Liga dos Campeões, aliando-se a clubes mais bem pontuados. E nem venham os puristas dizer que se não pode comparar política e futebol; em ambos os casos e salvaguardadas as evidentes diferenças regulamentares, é uma questão de pontos averbados...

Pode, por isso, soar a mau perder que as forças derrotadas queiram o que os portugueses não quiseram dar-lhe. Acredito que a mensagem eleitoral pode ser plasmada do seguinte modo: siga o Governo com o bom trabalho, mas com mais moderação e escutando propostas alternativas.

Pensar nem que seja num acordo de incidência parlamentar com PCP (dou por irrelevantes Os Verdes) e Bloco de Esquerda é suicídio a prestações: por um lado, porque estas duas formações radicais têm apenas dois caminhos possíveis: ou se “aburguesam” e desaparecem em próximas eleições por traição ao seu eleitorado, ou impõem os seus temas e arrastam o PS para fora da governabilidade europeia.

Por outro lado, porque esta originalidade aritmética pode custar a Costa a união do PS, tanto mais necessária quanto mais esotérico o acordo que fizer.

Ademais importa por os conceitos en su sitio: no caso do PCP, como podemos ver pelo quase estaticismo eleitoral, falamos de um partido parado no tempo e que espera que a lei da vida venha a erodir a sua base eleitoral, por muito que disfarce com a operação plástica que consiste em indigitar alguns deputados jovens. Trata-se do único partido comunista ocidental que apoiou o golpe contra Gorbatchev e que, mais recentemente, revelou dúvidas sobre o facto de a Coreia do Norte não ser uma democracia. Por fim, cumpre dizer que nem Mário Soares deu, alguma vez, tanto poder aos comunistas…

Já no caso do Bloco de Esquerda e como não sou apreciador de cocktails, não sei qual a sua composição actual, mas lembro-me de um tempo em que se descortinavam marxistas-leninistas, trotskistas, maoístas e até anarquistas na sua fórmula. É a propostas destas maravilhas ideológicas que podemos sujeitar-nos? E se já houve fracturas internas, como será quando tiverem que incensar a burguesia que, seguramente, vêem no PS?

Se for este o caminho, que não se iluda Costa: cedo ou tarde, a factura chegará e com IVA a 100%...

Já se escolher “tolerar” a coligação e derrubá-la um ou dois anos volvidos, provavelmente, arrisca nova maioria absoluta de PSD e CDS.

Há habilidades que podem sair caras. A ver vemos se sai da caixa de água em que se meteu.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

António Costa, acabou o recreio, larga o baloiço


Perante os resultados eleitorais, o Presidente da República fez uma declaração ao País em que colocou claramente quais as condições para dar posse a um novo governo, a saber:
- Uma maioria estável, acompanhada de um acordo relativamente ao cumprimento dos compromissos internacionais aos quais Portugal está vinculado. Com esta comunicação Cavaco Silva não poderia ter sido mais claro, União Europeia, Euro, Nato, tratado orçamental e metas quanto à dívida, só para citar alguns.

Ora, perante estas premissas em que apenas a coligação se revê, pelo menos a avaliar pelas posições assumidas durante a campanha eleitoral, Costa arriscou uma última cartada, formar uma coligação de esquerda com todos os rejeitados das eleições de 4 de Outubro, ignorando que o País não é Lisboa.

Acredito que neste momento, a maioria dos Portugueses andem apreensivos e preocupados, com a hipótese de termos um governo chefiado pelo grande derrotado destas eleições, acompanhado pelos igualmente derrotados BE e CDU. Nesta matéria estou calmo e pouco preocupado, por 3 razões:
1 – Cavaco Silva só dará posse a uma hipotética solução de governo à esquerda, se todos os partidos que compõem essa maioria integrarem o governo. Por outras palavras, nunca daria posse a um governo chefiado por António Costa, consubstanciado apenas e somente num acordo de incidência parlamentar, porque isso seria desvirtuar os resultados eleitorais e lançar o País numa instabilidade permanente. Instabilidade por instabilidade, daria posse a Paços Coelho, não só porque venceu as eleições, mas porque lhe daria mais garantias no caso de ter que optar por um governo de gestão.

2 – Mesmo que a suposta maioria de esquerda, conseguisse chegar a um acordo de incidência parlamentar, seria sempre vago e pouco detalhado nos compromissos que Cavaco enunciou e que considerou incontornáveis. Será crível acreditar, que Bloco e CDU assinassem um acordo em que ficasse preto no branco e cito apenas um, “cumprimento do tratado orçamental”? Nunca, porque isso significaria, a negação de tudo o que andaram a prometer aos seus eleitores. Aceitar tal compromisso, seria o mesmo que admitir e concordar que em matéria de pensões, salários da função pública, regras da segurança social na atribuição de subsídios e outras prestações sociais, continuasse tudo na mesma.

3 – Portanto resta uma 3 alternativa, Bloco e CDU integrarem um governo chefiado por António Costa, com um acordo assinado que contemple os compromissos considerados irrevogáveis por Cavaco Silva. Por muitas voltas que lhe desse ao estomago, Cavaco aceitaria, mas Bloco e CDU não, porque seria o mesmo que preencherem todos os requisitos para uma eutanásia. Ignorando o BE, porque tem uma base eleitoral que não ultrapassa os 5%, se a CDU integrasse um governo, para além de todos os constrangimentos já apresentados, qual passaria a ser o papel da CGTP? Portanto, qualquer que seja a solução à esquerda, ela será sempre pouco duradoura, porque a sobrevivência política sobrepor-se-á sempre, ao interesse do País.

Para estes partidos de protesto, a dicotomia entre, cumprir a principal promessa eleitoral, derrotar o governo de direita, derrotar Passos e Portas e definhar a curto prazo, há muito que a escolha está feita e só Costa é que não quer ver.
Entretanto, os sinais de desconforto de destacados militantes socialistas estão em crescendo, Sérgio Sousa Pinto da actual direcção bateu com a porta, Francisco Assis, Álvaro beleza, Jorge Coelho, Vera Jardim, Carlos Silva líder da UGT, António Vitorino e muitos outros já vieram a público dizer o que pensam da suposta coligação anti natura e não foram nada meigos para com o actual líder Socialista.

Posto isto, resta-nos aguardar serena e pacientemente, que o Presidente da República se farte e exija uma definição clara e inequívoca do género, António Costa acabou o recreio, larga o baloiço e diz o que pretendes.
Já todos percebemos também, que perante os resultados eleitorais, a esquerda sabe que qualquer que seja a solução encontrada nunca será duradoura, não só porque a historia lhes dá razão, mas porque o principal partido da oposição, nunca foi de fiar. Sendo assim, o tempo joga a favor deles, quanto mais tempo durar esta fase, mais Bloco e CDU capitalizam e só Costa ainda não percebeu que poderá ficar na história, como o líder que mais derrotas sofreu no mais curto espaço de tempo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Um navio que não deu a(o) Costa

Por muito que se pinte de rosa o que é laranja e azul, só há uma leitura dos resultados eleitorais: PSD e CDS ganharam, e o PS perdeu; a leitura é simples e não é preciso estudar em Coimbra para a fazer. Interessante resultado, depois de medidas tão penalizadoras. Mais do que masoquismo, leio maturidade democrática, quiçá até no apoio condicionado por uma maioria relativa.

De um ponto de vista socialista, eu diria que o maior dilema é o julgamento moral que pode fazer-se em face da degola política de António José Seguro; apear um cidadão que ganha por pouco por outro que o apeia e perde… No entanto, como sabemos, a palavra “moral” é algo de alienígena para os aparelhos partidários, e nem dou por excluído que António Costa possa ser Primeiro-Ministro, no futuro. Note-se, porém, que creio que o não consegue (ou logra um “inconseguimento”, segundo a Dra. Assunção Esteves) se criar instabilidade a um Governo legitimado por uma maioria de votos e de lugares; antes pelo contrário… Fica a obra de ciência política que é perder algo que era seguro (que palavra ambígua!…).

Por fim, reconheço que festejei antecipada e erradamente um desaparecimento do Bloco de Esquerda que aproveitou a moda hispano-grega para continuar na passarela. Continuo a entender que se trata de uma modernidade pouco estimável, mas o facto é que “vende”.

A respeito de “modernices” vale a satisfação de Marinho, Joana e Cª não terem vendido as suas ilusões. Nem o tom grave de um, nem a gravidez de outra lograram transformar em consistente o que é coisa de megafone, assim estilo “Homens da Luta” ainda com menos graça (o que já me parecia impossível).

Já o PCP e o seu atrelado esperam tristemente que a lei da vida leve o grosso da coluna dos seus votantes. Um dia, inevitavelmente, a pauta eleitoral dirá “chega de saudade”.

Resta esperar que uns trabalhem, e que outros deixem trabalhar.