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terça-feira, 17 de abril de 2012

Vender Portugal

"Portugal é uma das melhores comunidades do planeta. As pessoas são uma delícia, o clima é maravilhoso e a sua base ligada à descoberta é surpreendente. Portugal precisa de exportar a sua poderosa história. Alguém tem de trabalhar esta importante plataforma. Passos Coelho tem de fazer disto uma prioridade."

Interessante, esta visão de Joey Reiman, fundador e CEO da BrigtHouse (empresa que detém contas publicitárias da Coca-Cola, McDonalds e Procter & Gamble). Não diz nada que não saibamos já, mas como não damos mostras de o saber, temos um estrangeiro a abanar e alertar este país para as suas potencialidades.  Embora algumas marcas portuguesas assegurem um posicionamento no mercado externo assente na portugalidade, ainda há um caminho muito longo a percorrer para demonstrar lá fora que só somos pequenos em termos geográficos. A promoção do país não é tarefa apenas para as empresas, mas também de organismos públicos e da acção diplomática, que lá vão fazendo o que podem. Porém, falta-nos apostar numa certa propaganda cultural que dê uma imagem do que fomos e do que ainda somos. A título de exemplo veja-se que, apesar de esta nação ter praticamente 900 anos de vida para contar aos demais povos, não produzimos cinema que incida sobre a nossa História e enalteça (cá e além fronteiras) o nosso prestígio ao longo de séculos. Isto seria importante não só para a auto-estima da nação e dos seus, como para a imagem que lá fora de nós se constrói. Dizia, e bem, Churchill: "a love for tradition has never weakened a nation, indeed it has strengthened nations in their hour of peril." A nossa identidade é reconhecida por muitos, mas a percepção que o Mundo tem de nós poderia ser explorada com mais afinco e vendida com mais sucesso. Como refere Reiman, é urgente vender Portugal: não só as suas gentes, o seu clima, o seu património e tradições, mas novas facetas que vamos talhando... inovação, sofisticação, lifestyle. A ver vamos se Passos Coelho lhe dá ouvidos e se os outros nos deixam de ver como aquele país ao lado de Espanha.
* espantem-se mas a imagem acima foi obtida numa loja portuguesa, Meio da Praça, em Lisboa...

quinta-feira, 1 de março de 2012

O que é, o que deve ser e o que quer ser o Sr. Presidente

Em Janeiro do ano passado fiquei satisfeita com a reeleição de Cavaco para a presidência da nossa república. Esta satisfação deveu-se a três pontos essenciais:
Compreender que os candidatos colocados à esquerda do PSD não se apresentariam como o garante da coesão social, mas sim como a voz do descontentamento face às medidas adicionais de contenção orçamental dos PECs apresentados sucessivamente pelo governo socialista. Apesar de discordar com as opções do PS acredito que o presidente se deve demitir de provocar uma discussão mais apaixonada e portanto menos realista quanto à função governativa;
Acreditar que um presidente com experiência governativa de grande alcance (nenhum dos restantes apresentava qualquer função que merecesse realce) teria uma melhor preparação para 1) compreender o alcance das medidas de carácter económico e as dinâmicas daí decorrentes; 2) transmitir as suas opiniões, reservas e observações e contribuir para a fiscalização dos executivos considerando em primeiro lugar o bem nacional;
Finalmente, e em linha com a primeira razão exposta, percepcionar em Cavaco Silva um forte sentido de estado e rectidão de princípios que serviriam a nação tanto nas representações junto de actores internacionais como na transmissão de ideias de esforço, dedicação e honra aos seus concidadãos, que são preciosos na manutenção da coesão social portuguesa.

Sucede que ao longo dos meses do primeiro e segundo mandatos Cavaco demonstrou alguma inconsistência na definição das suas prioridades. Recordo que anunciou uma comunicação aos portugueses em pleno mês de Agosto, que todos aguardaram com expectativa, sabendo depois tratar-se de uma questão de inconstitucionalidade na definição do estatuto dos Açores, tendo havido perigo na sobreposição de poderes regional e de soberania; recordo também que deixou escapar através da sua assessoria a suspeita de haver toupeiras ou escutas ilegais que beneficiariam o governo Sócrates (já as relações institucionais tinham azedado depois da lua-de-mel dos primeiros 2 anos de convivência democrática). Sobre o primeiro, é ao sentido de estado a que devemos reconhecer esta preocupação transmitida pelo presidente; sobre o segundo, para além de que para o cidadão português a casa civil da presidência se assemelha ao quartel-general de maior importância em território nacional - no sentido figurado, por norma um cidadão não deve fazer acusações ou qualquer insinuação sobre um terceiro. Tendo ainda a responsabilidade de ser a voz do conjunto dos 10 milhões que cá andam, é perceptível a opinião que tenho sobre este assunto.

A determinada altura, e aquando da aprovação do casamento homossexual em Portugal, volta a dirigir-se aos portugueses, com uma expressa necessidade de justificar o não veto ao projecto-lei ao qual é "pessoalmente contra" dizendo que outras questões mais prementes se colocavam no país. Nesta questão não me quero alongar dado que no assunto tem uma complexidade que merece maior reflexão. Mas gostaria de deixar duas notas: a) a constituição de família é pedra basilar nos processos de socialização primária e um dos factores de maior importância da criação da nossa identidade, sendo portanto uma das questões mais importantes a debater no país. A economia é composta por ciclos, enquanto as alterações culturais são permanentes; b) pelo menos 70% do eleitorado que lhe deu o voto nas eleições presidenciais a que se apresentou é tendencialmente conservador.

Algumas semanas antes do início da campanha para as legislativas de 2011, num dos seus menos ortodoxos discursos que fez na posição que ainda ocupa, instigou os portugueses a "sair à rua". Claro que a situação em que o partido socialista colocou o país (entre o pântano de Guterres e a fantasia socrática) é propícia a que os cidadãos se sintam defraudados, mas não compete ao Sr. Presidente apelar aos homens e mulheres a que saiam à rua para contestar o que quer que seja escassos meses após um processo eleitoral (admitindo o fôlego que este discurso deu ao partido a que orgulhosamente pertenço).
Mais recentemente, e não obstante o facto de na qualidade de primeiro-ministro ter tido um dos maiores investimentos em obras públicas necessárias ao desenvolvimento do interior do país, esquecido na década de 80, tem-se colocado na posição de fiel de balança questionando a necessidade e o alcance das medidas propostas pelo governo de coligação - e que se assumem como o cumprimento de objectivos assinados com o conjunto de credores internacionais. Tem-se esforçado por demonstrar compreensão quanto às dificuldades vividas pela classe média, paralelando situações de privação com a sua situação pessoal (uma reforma de €10 000) o que naturalmente ainda não foi digerido pelos portugueses. Mais acrescento, e é este o ponto essencial desta reflexão, que os portugueses têm consciência da dimensão da sua pátria e não precisam de um Chefe de Estado que esbanje compaixão mal-medida. O que nós precisamos é de um Chefe de Estado que nos relembre a cada dia a garra que os filhos de Viriato sempre demonstraram, que nos prove ser capaz de assegurar uma coesão nacional baseada nos princípios da honra, do trabalho e da força que a sociedade civil transporta, que nos relembre de vez em quando da posição histórica de Portugal no Mundo e que invista na promoção da solidariedade entre todos nós. É esta a função do Sr. Presidente no momento actual na nossa república. E julgo que é isto que os seus antecessores históricos esperam também de si. Seria esta a posição de um Rei, consciente da identidade e da força do país mais antigo da Europa.

domingo, 2 de maio de 2010

Polémica à antiga portuguesa (sem comentários)

"Que imensa tristeza nos provoca a leitura das Quase Memórias do Dr. António de Almeida Santos (Volumes I-II, Lisboa, 2006), onde se critica a II República por não ter aceite o processo das independências coloniais. Um advogado de superior craveira põe-se a historiar o passado sem atributos para o fazer, e o resultado fica bem à vista. São lugares-comuns e juízos sem prova, até com o desplante de rebaixar um mestre da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, ousando revelar conversas privadas e o «diz-se» de versões deturpadas. Como é fraco o talento histórico de um abalizado causídico que, em vez de se quedar para sempre em Moçambique, onde lhe estaria reservada a presidência da nova República, voltou à metrópole com os proventos amealhados numa conspiração consentida. E que hoje recolhe as frustrações de quem não soube fazer uma carreira política nesta metrópole onde praticamente ninguém deu pelo seu regresso."


Serrão, Joaquim Veríssimo, in "História de Portugal ", vol. XVIII ["A Governação de Salazar: Grandeza e Declínio (1960 - 1968)"], pág. 9, Lisboa, Babel (Verbo), 2010. Itálicos no original.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ignorância «Sem Medo»

Monumento de Homenagem ao Gen. Humberto Delgado, Cela (Alcobaça)

Há dias, numa feira do livro, comprei um dos exemplares da Colecção "O País das Maravilhas", produto oficial do evento "Maravilhas de Portugal 07.07.2007" que com certeza ainda terão na memória, mercê da sua grande mediatização. O n.º 15 daquela colecção versa sobre o meu estimado Mosteiro de Alcobaça, monumento candidato que se veio a consagrar uma das sete maravilhas em solo luso.

O pequeno livro divide-se em três partes - a Maravilha (leia-se: o Mosteiro); 7 ícones ao seu redor (Chita, Doces conventuais, Maçã, Padeira de Aljubarrota, Pedro & Inês, Pop e Vidro) e, logo de seguida, "Outras 21 pequenas maravilhas". E é aqui que, para meu espanto, entre o destaque para outros monumentos locais, outras iguarias gastronómicas e algumas personalidades indelevelmente ligadas ao concelho, descubro que uma das figuras que ali consta é, voilá, o Marechal Gomes da Costa. Leio outra vez e sim, o que ali está é, preto no branco, "Marechal Gomes da Costa". E o pequeno texto, o que é que diz? Aqui se transcreve:

"Não nasceu em Alcobaça, mas sempre aí passou férias e fez amigos para mais que uma vida. Conhecido como General Sem Medo (1906-1965), procurou derrubar a ditadura através de eleições, tendo sido derrotado num processo eleitoral fraudulento que deu a vitória a Américo Thomaz. Foi assassinado pela PIDE, em Olivença, e encontra-se sepultado no panteão nacional. Foi-lhe erigido um monumento no lugar de Cela, em Alcobaça".

Por certo já se deram conta de que o texto refere-se não a um Marechal, mas a um General, de seu nome Humberto Delgado, este sim, intimamente ligado ao concelho. Um erro grosseiro que, dado o contexto - publicação oficial de um evento com o apoio institucional, imagine-se, do Ministério da Cultura, do IPPAR e do Turismo de Portugal - parece-me indesculpável. Além do mais, 3 anos volvidos e ninguém se deu ao trabalho de elaborar uma “Errata”.

Tenha-se em conta que é um livro que foi pensado para dar a conhecer um monumento, uma cidade e o que de mais marcante os rodeia e que se trata de um produto sujeito a uma revisão editorial que, no presente caso, parece ter corroborado da estapafúrdia ideia de que, entre a Ginja, a Louça de Alcobaça e a Maria de Lurdes Resende, o Marechal Gomes da Costa também ia bem com Terras de Cister.

Pois bem, recupere-se das lições de História de Portugal e relembre-se quem foi Marechal Gomes da Costa: destacado militar e líder da direita conservadora, encabeçou a Revolução de 28 de Maio de 1926 e, por golpe em Junho desse mesmo ano, alcança o Governo, sendo que este apenas dura 20 dias, uma vez derrubado por Óscar Carmona aos 9 dias de Julho seguinte. Carmona, assim que toma a posse, remete o seu precedente para o exílio nos Açores, não sem antes tê-lo feito Marechal.

É certo que, tal como Gomes da Costa, Humberto Delgado também fez carreira militar, tendo sido, já a título póstumo, também nomeado “Marechal” (da Força Aérea). Mas as semelhanças entre estas duas figuras históricas ficam-se, obviamente, por aqui. Opositor ao Estado Novo, o General Sem Medo sobressaiu naquela época pela sua coragem – daí o cognome -, coragem essa que, contudo, não lhe bastou para vencer as (fraudulentas) eleições de 58. Segue-se o exílio político, sem deixar de fazer oposição, até ao dia em cai numa cilada da PIDE e é assassinado em terras fronteiriças.

Muito mais fica aqui por dizer sobre este homem de exemplo, mas aos que desconhecem a sua apaixonante (embora trágica) história de vida, recomenda-se a biografia escrita por um dos seus netos, Frederico Delgado Rosa. A recomendação estende-se, naturalmente, à autora dos textos do livro aqui em apreço, para que não repita a proeza de confundir duas figuras históricas tão díspares.


* também publicado na edição de hoje do jornal “Região de Cister”;