Parece inevitável.
Sempre que se fazem rankings mundiais sobre o que quer que seja, estamos confinados a figurar nos piores lugares.
Seja qual for o assunto, lá estamos nós, portugueses, na lista negra, habituadissímos aos lugares mais vergonhosos.
Mas diz o povo que “não há regra sem excepção”...
Na passada semana, a ONG “Repórteres sem Fronteiras” divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no Mundo referente a 2006.
E eis que Portugal “arrecada” a 10ª posição entre 168 países.
Esta posição talvez não nos surpreenda assim tanto, uma vez que longe vão os tempos das comissões de censura e do lápis azul.
Porém, desenganem-se os que julgam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são “dados mais que adquiridos” quer em terras lusas, quer por esse Mundo fora.
Mediáticos casos como o dos cartoons dinamarqueses – país que outrora figurava no primeirissímo lugar deste ranking... - ou a mais recente morte da jornalista russa fazem-nos repensar o conceito de liberdade de expressão no mundo de hoje.
Até porque os atentados à liberdade de imprensa não se confinam somente a actos graves e mediáticos como estes...
A liberdade de imprensa e a inerente liberdade de expressão estão consagradas em quase todas as Constituições por esse Mundo fora. Trata-se de um princípio cuja importância, à partida, ninguém questiona.
E que na prática parece estar assegurado: afinal, vão surgindo novas formas de pôr em prática a nossa liberdade de expressão – como o é aqui o caso da blogosfera!
E todos os dias nascem novas publicações e revistas. (Por terras lusas, a morte do "Independente" e o nascimento do novato “Sol”, cujo grau de isenção eu não questiono, vieram relançar esta discussão da isenção jornalística...)
Contudo, a maioria de nós mal se apercebe de que diariamente este princípio se vê limitado um pouco por todo o lado, mesmo diante dos nossos olhos. A forma mais subtil de limitar a liberdade de imprensa nos nossos dias é controlar a informação, controlar criteriosamente e rigorosamente aquilo que é passível de ser notícia.
A questão hoje para o editor parece ser: «o que há de novo no mundo de hoje que mereça destaque no meu jornal, que conquiste leitores e que não se confronte com os que o sustentam economicamente?»
E assim se faz jornalismo dito “livre”...
Esta é, ainda que não queiramos assim ver, uma nova forma de censura. Não a do lápis azul, mas talvez a do “toque no ombro”, a do telefonema em tom de aviso.
Apesar de estarmos no “top ten” da liberdade de imprensa, a verdade é que nem o nosso jornalismo é impermeável às influências do poder político e económico...
Nem nós, nem a espanhola Prisa do PSOE, nem a Fox dos Conservadores... tantos (maus) exemplos de como a concentração do poder mediático em quem tem poder económico, pode deturpar o conceito de liberdade de expressão.
Ou seja, legalmente, a censura há muito que acabou.
Em Portugal, do ponto de vista formal, há liberdade de imprensa desde a Revolução dos Cravos. Contudo, volvidas mais de três décadas, não podemos falar de uma imprensa totalmente livre. Aliás, o mais provável é que nunca chegue o dia em que possamos falar dela.
Afinal, trata-se do Quarto Poder, e como Poder que é... há-de sempre ser “controlado”.
Sempre que se fazem rankings mundiais sobre o que quer que seja, estamos confinados a figurar nos piores lugares.
Seja qual for o assunto, lá estamos nós, portugueses, na lista negra, habituadissímos aos lugares mais vergonhosos.
Mas diz o povo que “não há regra sem excepção”...
Na passada semana, a ONG “Repórteres sem Fronteiras” divulgou um relatório sobre a liberdade de imprensa no Mundo referente a 2006.
E eis que Portugal “arrecada” a 10ª posição entre 168 países.
Esta posição talvez não nos surpreenda assim tanto, uma vez que longe vão os tempos das comissões de censura e do lápis azul.
Porém, desenganem-se os que julgam que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são “dados mais que adquiridos” quer em terras lusas, quer por esse Mundo fora.
Mediáticos casos como o dos cartoons dinamarqueses – país que outrora figurava no primeirissímo lugar deste ranking... - ou a mais recente morte da jornalista russa fazem-nos repensar o conceito de liberdade de expressão no mundo de hoje.
Até porque os atentados à liberdade de imprensa não se confinam somente a actos graves e mediáticos como estes...
A liberdade de imprensa e a inerente liberdade de expressão estão consagradas em quase todas as Constituições por esse Mundo fora. Trata-se de um princípio cuja importância, à partida, ninguém questiona.
E que na prática parece estar assegurado: afinal, vão surgindo novas formas de pôr em prática a nossa liberdade de expressão – como o é aqui o caso da blogosfera!
E todos os dias nascem novas publicações e revistas. (Por terras lusas, a morte do "Independente" e o nascimento do novato “Sol”, cujo grau de isenção eu não questiono, vieram relançar esta discussão da isenção jornalística...)
Contudo, a maioria de nós mal se apercebe de que diariamente este princípio se vê limitado um pouco por todo o lado, mesmo diante dos nossos olhos. A forma mais subtil de limitar a liberdade de imprensa nos nossos dias é controlar a informação, controlar criteriosamente e rigorosamente aquilo que é passível de ser notícia.
A questão hoje para o editor parece ser: «o que há de novo no mundo de hoje que mereça destaque no meu jornal, que conquiste leitores e que não se confronte com os que o sustentam economicamente?»
E assim se faz jornalismo dito “livre”...
Esta é, ainda que não queiramos assim ver, uma nova forma de censura. Não a do lápis azul, mas talvez a do “toque no ombro”, a do telefonema em tom de aviso.
Apesar de estarmos no “top ten” da liberdade de imprensa, a verdade é que nem o nosso jornalismo é impermeável às influências do poder político e económico...
Nem nós, nem a espanhola Prisa do PSOE, nem a Fox dos Conservadores... tantos (maus) exemplos de como a concentração do poder mediático em quem tem poder económico, pode deturpar o conceito de liberdade de expressão.
Ou seja, legalmente, a censura há muito que acabou.
Em Portugal, do ponto de vista formal, há liberdade de imprensa desde a Revolução dos Cravos. Contudo, volvidas mais de três décadas, não podemos falar de uma imprensa totalmente livre. Aliás, o mais provável é que nunca chegue o dia em que possamos falar dela.
Afinal, trata-se do Quarto Poder, e como Poder que é... há-de sempre ser “controlado”.
5 comentários:
Justo, muito justo. Pode-se dizer a mesma coisa de Berlusconi.
E mesmo de "Paris-Match' que lienciou um Director por este ter autorizado uma foto da Esposa de Sarkozy, acompanhada, nas ruas de Nova Iorque.
Tenho uma admiraçao sem limite pela liberdade de imprensa no Reino Unido, onde ao lado do "Sun" de Murdoch, hà jornais como "The Guardian" e outros, que nao hesita em publicar "-
THE GUARDIAN • Les Britanniques craignent plus George W. Bush que Kim Jong-Il
Bela liçao de democracia.
Não resisto a deixar aqui um jogo de palavras que ouvi da boca do Mário Mesquita: o quarto poder ou o quarto do poder...
A solução é ler/ver/ouvir diversas fontes, manter o sentido crítico apurado e... fé em Deus.
Dulce:
Antes de mais, bem vinda e 1/2 bjinho pela boa estreia que, por mero acaso, se faz com o tema que escolhi no mestrado e que escolherei no doutoramento a fazer.
Sobre o mesmo, apenas notas telegráficas (embora muito mais houvesse a dizer):
1 - Se a Internet configura um espaço de liberdade que, alguns autores de matriz libertária já apelidaram de quinto poder, a verdade é que, sem uma ética para uso dessa liberdade sem franquia, o seu uso pode ser pervertido (como foi o de outros avanços tecnológicos, de que é exemplo, numa outra escala, a energia nuclear).
A verdade é que muitas das correntes do pensamento futuro passarão por aqui, no mesmo meio que permite uma nova censura (veja-se a China, com a qual até o Google alinha, depois de Murdoch ter aceitado compactuar, nos assuntos televisivos), a influência do dinheiro (por um lado, a Net ainda é para quem tem dinheiro para aceder e, por outro lado, os sítios mais evoluídos e publicitados são os mais consultados) e até o descarregar de frustrações (veja-se o uso repugnante que se faz do anonimato, estando estudado o facto de as mensagens políticas agressivas aumentarem exponencialmente on-line).
2 - Depois, diagnosticaste bem outro problema: a influência do dinheiro na comunicação social, já que, na sua maioria, os meios de comunicação são um negócio que visa o lucro. Daí, designadamente, o sensacionalismo e o voyeurismo que se vê proliferar...
Como disse, há muito tempo, à TSF, o Rui Reininho, "os políticos já não passam a mensagem, passam o fiambre" (cito de cor), pretendendo significar que a comunicação é tratada como mercadoria.
3 - Encaixando nos dois apontamentos anteriores, acrescento que é de reparar que, para se sustentarem, muitas publicações vivem já do acriticismo de uma massa ruminante, vendendo mais o dvd, a medalhinha ou o faqueiro do que os textos em que os embrulham.
4 - Depois há que não diabolizar exclusivamente a lógica de mercado ou os regimes políticos.
É igualmente censurável que a velha escola do jornalismo informativo e isento tenha entrado em declínio.`
Entristece-me ver a presunção de uma classe profissional que, com honrosas excepções, se afirma como poder e, ainda por cima, como contra-poder ao poder político legitimamente eleito.
Senti-o pessoalmente e vejo-o diariamente. Torna-se demasiado frequente ver um jornalista a "agredir" um político, a fome com que se persegue o mais leve lapso dos nossos representantes e jornalistas que se entrevistam uns aos outros, trocando o lugar de âncora pelo de comentador, num movimento endogâmico e arrogante.
Tal não desculpa a miséria da nossa classe política, mas representa um extravazar de funções, sem o mesmo controlo democrático e constitucional a que estão sujeitos os censurados.
5 - Sobre a Rússia (e sobre a China), sendo inaceitável o assassinato da jornalista, teríamos matéria para muito debate, já que jamais teremos aí um regime democrático de tipo ocidental. Atrevo-me a dizer que é impossível, por várias razões.
Way to go, Dulce!
Freitas Pereira, Rita, Rui Ribeiro e Gonçalo,
Como “caloira” aqui no “Lodo” não me posso queixar das ‘praxes’, i.e.
das vossas reacções ao meu primeiro post, que foram interessantíssimas!
Com o jogo de palavras de Mário Mesquita que a Rita referiu, apetece fazer outro jogo: até que ponto não andam os Media e a Política a ‘jogar ao quarto escuro’ nesse “quarto do Poder”?!
Será que ainda vamos a tempo de lhes lembrar que entre ‘susurros’, ‘apalpadelas’, ‘toca e foge’, etc etc apanham-se alguns sustos?! ...
Adiante.
Quanto aos comments em geral, aqui ficam dois, três ou talvez quatro apontamentos:
1 Por muito que sejamos tentados, nao usemos como bode expiatório a classe jornalistica, porque ao generalizar estamos (como em todas as generalizaçoes…) a ser injustos.
Eu cá, acredito que ainda restam muitos jornalistas que por esse mundo fora tentam exercer a sua profissão fugindo às pressões ideológicas e comerciais, servindo o ‘interesse comum’ e não determinados interesses. E acredito ainda que muitos deles sofram na pele as consequências de rumarem contra a maré. Ana Politkóvskaya, a tal jornalista russa que referi no post, é o mais recente e chocante exemplo disso!
Mas por outro lado, tenho que concordar com o Gonçalo (que sabe bem melhor do que eu quando fala nisto...) quando refere os apetites vorazes de que ‘padecem’ muitos profissionais dos media.
De facto, cada vez mais os jornalistas se sentem no direito de se tornarem comentadores e analistas... e, aproveitando-se do poder que o que escrevem/dizem pode alcançar, lançam-se ao ‘ataque’ sem olhar a meios. É este o pão nosso de cada dia...
Como ouvi alguém um dia dizer: ‘afinal, todos os jornalistas gostavam de ser políticos, e acham-se melhor que os próprios’...
2 Não restam duvidas de que a Internet se tornou um instrumento de comunicaçao poderosíssimo, com consequências gigantescas para todos nós, para as nações e Mundo em geral.
Se por um lado veio permitir uma nova forma de concretizar esse principio basilar que é a liberdade de expressão… por outro, estamos perante um instrumento que pode ter a força de corromper, manipular, dominar… e até explorar! E tal como o Gonçalo referiu, o anonimato (ou pelo menos a sensação dele) ajuda muito a essa ‘perversão’...
A juntar a isso, a concorrência económica e também a natureza do
jornalismo que se faz nesta “auto estrada da comunicação”, contribuem para o sensacionalismo, a intriga, a perversão de informação, etc etc..
Isto dá lugar a outra (complexa) questão: Internet - um mal que vem
por bem ou... um bem que vem por mal? ...
3 Ainda de relevar a verdadeira ‘perversão’ do jornalismo (levada a cabo pelos próprios!) que o Gonçalo tão bem focou, agora que não se vende informação, mas sim o “dvd, o faqueiro, etc”.... ... Lamentavelmente, muito recentemente uma publicação de inegável prestígio recorreu a esse ritual - cada vez mais comum - da oferta do dvd, para não perder o lugar ao “Sol” nas bancas. (não foi propositada a metáfora... ;))
4 Como bem disse Rui Miguel Ribeiro, resta-nos ‘beber’ a informação de várias fontes, de preferência, procurando fugir das que estão ‘impróprias para consumo’...
Bem, fico-me por aqui...
Muito mais escreveria sobre estas áreas que muito me dizem.
Aos que não me conhecem, para mim isto é um pouco como a famosa musica “eu tenho dois amores”…
No caso, a Politica e a Comunicaçao Social… e tal como na musica também “nao tenho a certeza de qual eu gosto mais”… …
Enviar um comentário