domingo, 29 de junho de 2008

Crescer para baixo

Vi duas vezes na televisão e custou ter coragem para vir à Internet verificar uma das notícias do dia, que versa o jogo Miss Bimbo.

O facto é que o jogo existe e, desgraçadamente, nada tem a ver com pão ou com parolos...

Trata-se de um enredo virtual que começa a viciar crianças e adolescentes (dos 7 aos 17 anos), por todo o Mundo, e que remexe em todos os complexos e receios de quem está a formar a personalidade.

A boneca que deve evoluir às mãos da jogadora (destina-se mais a raparigas) começa por ser feia, burra e sem vida. A ideia, bem entendido, é faze-la linda, brilhante e rica.

Ora, se a ideia é o sonho cor-se-rosa de toda a jovem dos países ocidentais (há gente com necessidades bem mais básicas por satisfazer), a verdade é que sabemos que apenas uma minoria chega aos picos desse alegado Éden.

Começamos pelo facto de se exaltarem, embora não exclusivamente, valores fúteis e geradores de desgosto para as muitas pessoas que, induzidas a essa ambição pela sociedade mediatizada, não conseguem aperfeiçoar-se a tal ponto.

Depois, estimula-se o gasto, já que, depois de um crédito inicial gratuito, há que mandar mensagens via telemóvel, para recarregar o fundo de maneio e, notem bem, cada mensagem custa cerca de 2€. Como também estão a adivinhar, a coisa não se faz com uma, havendo até relato de uma adolescente britânica que terá gasto cerca de 400 Libras (aproximandamente 505€) ao paizinho...

Em terceiro lugar, é magnífico que o sítio do jogo o apresente como uma "ferramenta educativa", pois estará, eventualmente, a dar mais uma soberba ideia ao nosso psicadélico Ministério da Educação; é que, vendo bem os conteúdos pedagógicos do jogo, no seu nível 11, a aprendizagem passa por ter dinheiro para implantes mamários (bigger is better, é o conteúdo filosófico), deixando de lado os retoques nos lábios e as dietas rigorosas (as tais que, na vida real, podem dar anorexia). Já no nível 17, a nossa inocente bonequinha só tem mesmo que engatar um milionário que está de férias, assim dando roupagem adequada ao que, até há bem pouco, se chamava prostituição. Aqui, como é de luxo, deve chamar-se consultoria amorosa...

O problema é que, de hoje para amanhã, pode ter uma filha ou uma irmã a utilizar esta encantadora enciclopédia virtual de socialização. Acha que não lhe acontece?! E se eu disser que, segundo o que li, há mais de 1 milhão de jogadores em França e que o jogo já chega a dezenas e dezenas de países?!...

E de nada serve que os pais tenham de validar a inscrição, pois, entre falta de tempo e lacunas de esclarecimento dos mais velhos, está a ver-se a falta de insucesso (apeteceu-me a dupla negativa...) do jogo, junto dos mais novos.

A bem da calma peninsular



Filho da puta

Peço desculpa pelo título aos leitores e colaboradores mais sensíveis, mas já não sei que diga sobre Robert Mugabe, Presidente de facto (que não de direito) do Zimbabué.
Não sou a voz mais autorizada do blogue (a "cruzada" do Lodo tem outro líder) para falar sobre ele, mas acho nojento que, depois de perseguir o líder do partido da oposição (Morgan Tsvangirai) ao ponto de o forçar a desistir da 2ª volta das eleições presidenciais, para proteger os seus apoiantes, e de ter torturado (via forças de segurança ou esbirros do seu partido, ZANU-PF) quem assumiu que o mais legítimo e democrático "basta!", venha agora convidar Tsvangirai para a tomada de posse, numa eleição que roubou.

E para quem tenha complexos ou ache que sou preconceituoso, recomendo que vejam o que diz o Prémio Nobel da Paz, prestigiado clérigo e famoso inimigo do apartheid, Desmond Tutu, que, estando longe de ser branco, admite mesmo a necessidade de intervir pela força.

O facto de haver mais quem sofra não é desculpa para que se vire a cara ao que passa o povo do Zimbabué.

sábado, 28 de junho de 2008

Quem disse que o crime não compensa?


Num estabelecimento comercial sito na baixa lisboeta, o método eleito para dissuadir os amigos do alheio passou por afixar este prospecto. Pese embora o mau português, não deixa de ser um método suis generis de prevenção e dissuasão da práctica de actos ilícitos. Tenho é dúvida quanto à sua eficácia, bem como quanto à legalidade da coisa... Por outro lado, o certo é que ali, excepcionalmente, o crime compensa. Pelo menos no que toca ao proprietário. Bem diz o povo que para ladrão, ladrão e meio.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sonhos não se comem só no Natal


Há dias felizes!

Ir ao Teatro Naciona D. Maria II ver "Um Conto Americano - The Water Engine" de David Mamet assegura-o.

Boa representação (entre outros com Eurico Lopes e Lourdes Norberto), muito boa banda sonora e soberba cenografia, numa peça passada na América do iniício do século XX, mas com um tema actual: a dependência dos combustíveis fósseis.

Um jovem inventor, concretizando um sonho, cria um motor a hidrogénio/água e a indústria não aprecia a veleidade. O resto?!... Vá (mas vá mesmo) ao teatro até dia 13 de Julho!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Congresso interessante...

Grande parte da leitura do congresso do PSD já foi feita. Cá por mim, limito-me a partilhar convosco algumas pinceladas que me apetece deixar com o impressionismo quase diletante que os blogues permitem e que o meu lugar no banco de suplentes autoriza (ou seja, nada a perder...):


  1. Houve boas prestações alheias, mas, com mais ou menos votos, o congresso foi ganho por Manuela Ferreira Leite. É interessante que seja mulher e que não tenha usado quotas como biombo e é certo que devolverá respeitabilidade e coerência discursiva ao PSD; não se espera ouvir à noite coisa diversa da que se escutou pela matina...

  2. Triunfou a política classique, no estilo como no conteúdo. No primeiro caso, contrariando o que aconselha o mediatismo actual e o apelo popular a uma paleta ampla de emoções, vamos ter palavras a contado e em tom firme, mas com registo "certinho"; seremos uma mistura de sábios professores do País e bons alunos da Europa. No segundo caso (o do conteúdo), repetiremos, com alguns retoques ditados pela conjuntura, políticas que, desde o 25 de Abril, perpassam PSD e PS e que visam colar os cacos de um Estado Social cada vez mais estilhaçado por uma globalização que amarfanha economias "piquenas" (se me permitem adoptar o jargão "manuelino"); ou seja, não arriscaremos "grandes saltos em frente" (sem querer ser mau ou, no caso, Mao).

  3. Pedro Passos Coelho certo no verbo, imperial na postura e frio na hora de "trinchar o peru" (leia-se, fazer listas; "negócio" a que ninguém escapa), cortou orelhas e rabo e teve direito a volta à arena... Ceteris paribus (o que vale por dizer "se nada de anormal suceder"...), temos presidente, a médio prazo. Aqui sim há soluções mais atrevidas e, como é bom de ver, risco acrescido, pois não se sabe o que darão as propostas avançadas. Pior do que estamos é impossível?! Paguemos para ver...

  4. Pedro Santana Lopes - que continua sem condecoração presidencial - ensaiou mais um discurso com a emoção e a sedução que só ele tem. Com o corpo cravado de chagas de derrotas recentes, ainda assim, saíu por cima no cházinho que serviu ao grupo social-democrata ora reinante. Todavia, continua rodeado por 1/2 dúzia de fiéis, entre os quais 50% serão rémoras à boleia do tubarão... Quero com isto dizer que os meros 5 delegados que elegeu para o conselho nacional resultam da fuga dos seus apoiantes de Braga e Aveiro que, vendo listas à vista em 2009, o deixaram só, assim revelando a fibra que une a sua ética (não vale rir por eu ter utilizado esta palavra!!!).

  5. O mesmo dr. Santana é, provavelmente, o último dos franco-atiradores. Os resultados práticos das "directas" (que, confesso, não antecipei cabalmente, quando, em tese, as defendi) implicam que só a integração em blocos (aceitando o chicote do capataz de cada grupo) e uma trajectória interna ao estilo Via Sacra (quase que deixa de ser bem visto existir na sociedade e só depois optar pela militância) permitirão desempenhar tarefas de relevo no politburo laranja. O destino das listas indy prova-o, embora se desconte o efeito devastador da existência de 3 grandes blocos de simpatia e a má fé de muitos que sempre mandam peões minar as formações alternativas ou se afoitam em esmifrar pessoalmente o que estas podem oferecer, mandando os fiéis em peregrinação para outras letras do boletim de voto (não vi nada, mas também não sou cego...). Mas mesmo estas listas, cedo ou tarde, visam lugar no "conselho de administração" de uma qualquer S.A.P. (Sociedade Anónima Política), sendo que os partidos são uma espécie de S.G.P.S.* em relação às tribos que se formam.

  6. Por fim, a questão das mulheres, já aqui glosada. Estou farto de paninhos quentes! Se já era contra as quotas, alguém tem, agora, que me resolver um dilema: ou as pessoas que fizeram as inúmeras listas para os órgãos nacionais desprezam o princípio que a própria Lei já acolheu ou o preenchimento dos famigerados assentos reservados para as diversas eleições vindouras será fictício, já que, pelos vistos, não há no PSD mulheres em número suficiente para polvilhar 55 lugares no Conselho Nacional e mais dúzia e meia (ou coisa que o valha) nos demais órgãos... Que faremos para encontrar as centenas de que careceremos em 2009?!... A meu ver o que falta é coragem para censurar as quotas ou vergonha na cara pelo seu incumprimento, caso contrário. Acresce que acho sociologicamente deliciosa a comparação que, na política, pode fazer-se entre a solidariedade que há entre homens e a que há (?!) entre mulheres; e mais não digo, pois levo a mal se acharem que sou machista.

  7. "Tecnicamente", os congressos passaram de festas (às vezes excessivas) a missas do sétimo dia, já que se começa, de imediato, a tirar as medidas à liderança entretanto eleita e a apostar na próxima. Prova disso, creio eu, é o número de inscrições para falar; já lá vão os dias em que se discutia política até às tantas da madrugada... Agora, é assistir e aplaudir.

Ou é isto ou eu é que já não tenho jeitinho nenhum para a política...




* Sociedade Gestora de Participações Sociais.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Previsível

Depois disto, disto, disto, disto, disto e, mais recentemente, disto... já nada me surpreende. Excepção feita ao silêncio conivente de uma Europa cada vez mais cega, surda e muda.

Cartoon daqui

segunda-feira, 23 de junho de 2008

As contas que o PSD não fez

Se a eleição de Manuela Ferreira Leite no passado dia 31 de Maio se tornou histórica por, pela primeira vez, conduzir à liderança de um (grande) partido português uma mulher, a escassez da representação feminina nos órgãos ontem eleitos representa um claro retrocesso dessa conquista.

Num total de 88 membros eleitos para os órgãos do partido, o número de mulheres neles presentes é de 8. Fiz as contas aos mandatos dos últimos três líderes e constatei que foi no reinado de Marques Mendes que houve o maior número de mulheres nos órgãos do partido: 14. Segue-se-lhe Durão Barroso com 11 e, em último, Menezes, com apenas 7. O último e o actual mandato figuram, deste modo, como aqueles que a priori menos apreço revelam pelo cunho feminino no seio do partido.

Eu, que rejeito bacocos discursos feministas e que sou contra o sistema de quotas, creio no entanto que - atentando a estes números - é tempo de nos debruçarmos seriamente sobre eles e perceber o porquê de não haver espaço para a intervenção feminina no seio de um partido democrata. É que enquanto mulher e enquanto social-democrata preocupa-me - por ora, não a título pessoal, dado que sou novata - o futuro das mulheres social-democratas e do seu livre e desobstruído acesso aos centros de decisão do partido.

De cada vez que assisto a um congresso laranja, custa-me a digerir a presença masculina em massa nos principais cargos políticos e pergunto-me porque é que elas não chegam . Muitas são profissionais de reconhecido êxito, outras lideram estruturas partidárias locais, algumas são activistas sociais, também as há autarcas, marcam cada vez mais presença nos congressos, apresentam moções, discursam sem receios e pretensiosismos... e, ainda assim, chegada a hora de reunir as hostes, poucas são convocadas e só meia dúzia delas alcançam lugares onde possam marcar a diferença. Será porque são menos dadas a 'negociatas'?!

Certo é que os entraves de ordem sociológica hoje já não me parecem ser os mais relevantes, ousando dizer que já ninguém questiona a capacidade e o valor de uma pessoa em razão do género. Parece-me então que os maiores entraves virão da teia partidária, do sinuoso (e, reconheça-se, por vezes pouco escrupuloso) percurso que há que fazer para poder marcar presença nos centros de decisão do partido.

E não, não é preciso criar estruturas internas reservadas a 'elas', imbecilidade que recentemente foi ponderada e aplaudida por algumas senhoras. Da mesma forma que não creio que seja com listas ao CN exclusivamente compostas por mulheres - como vergonhosamente ocorreu no Congresso de Torres Vedras - que as social-democratas conquistem respeito e visibilidade (muito menos lugares...) dentro da estrutura.

O que é imperioso é deixar abertas as portas à sua espontânea adesão e perceber o quão valoroso pode ser o contributo das mulheres no plano político-partidário. E não é preciso ir muito longe para constatar que já há muito quem o tenha percebido: basta pôr os olhos no PP espanhol, que também reuniu em congresso este fim de semana e no qual Rajoy, reconduzido, não hesitou em chamar mulheres para o coadjuvarem, integrando cargos de relevo como o é o de secretária-geral.

sábado, 21 de junho de 2008

A debutante

No XXXI Congresso Nacional do PSD,a nossa Tânia Morais subiu ao púlpito para apresentar e defender a proposta temática "Portugal (Inter)Nacional", da sua inteira responsabilidade e que veio a ser merecida e expressivamente aprovada pelos congressistas.
Começou por focar o papel de Portugal no processo de construção europeia e alertou o partido para a urgência em marcar a diferença neste plano, em claro contraponto com os erros que Sócrates e o seu Governo insistem em cometer no plano das Relações Internacionais.
Prosseguiu, destemida e incisiva, dando exemplos certeiros: a rendição do Engenheiro a Chavez aquando da recente deslocação à Venezuela; a desastrosa visita de Manuel Pinho à China e o caso da insensibilidade do governo (e de toda a Europa, exceptuando a França) perante a catástrofe da Birmânia.
Não tardou em recolher a simpatia dos presentes com a sua determinação e serenidade, mas sobretudo, pela ousadia em levar ao conclave laranja uma temática que é indevidamente desprezada, brilhando naquele que foi o seu debute.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mário Soares conversa com Hugo Chavez

Há quem se sinta muito incomodado cada vez que vê Mário Soares em programas de televisão. A mim também sempre me aborreceram As Tardes da Júlia… o dr. Soares, que muitos dizem já não aturar, séra sempre um nome central da democracia neste país e, ideologia à parte, concordando ou não com o que diz, considero que posso aprender qualquer coisa ouvindo-o (admitindo desde já que o distanciamento geracional ajude...). O anterior programa em que Soares participou na RTP – O Caminho Faz-se Caminhando, de Clara Ferreira Alves – onde sobressaia o discurso informal do ex-Presidente, a primar pela riqueza das histórias partilhadas, foi seguramente um testemunho interessante sobre o antes e o após-Democracia para o conhecimento das novas gerações.

Esta é uma posição de princípio.

Na estreia da segunda temporada de Conversas de Mário Soares (quarta-feira passada), foi Hugo Chavez o entrevistado.

Chavez precisa da Europa. Diz que "a Europa é uma das mães da América Latina" e apela, como tal, à intensificação das relações entre as duas regiões continentais.

Gostaria de dizer que Chavez está com algum azar, numa Europa em que os partidos da esquerda andam a sofrer de doença crónica.

Mas não há dúvida de que Portugal - e o PS - parece(m) dar-lhe amparo...

E, chegados ao fim, Chavez termina o programa a dizer que é contra às FARC. Apetece perguntar, como sugere uma amiga, se os malandros já não lhe passam recibos, sr. Presidente!

PS.: Lula da Silva e Santiago Carrilho são os homens que se seguem.

Lê-se

“Por que não mudar o título dos telejornais para telejornais desportivos? É que deixaram de ter notícias.”
José Pacheco Pereira in Sábado
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Por uma vez na vida concordo consigo, sr. Professor..!

Geração à rasca

Lia-se num qualquer diário de ontem qualquer coisa como: "Alunos consideraram fácil o exame nacional de português". Curiosa que sou, fui espreitar o site do Ministério da Educação (GAVE) dedicado aos exames nacionais e, de facto, deparei-me com uma prova bastante acessível.
Para começar, os textos escolhidos para aquela foram analisados nas aulas e os alunos sabiam-no de antemão, pelo que se restringiram a essa frutífera e pedagógica estratégia de decorar o manual. Ainda assim, houve a gentileza de colocar notas de rodapé com definições - que aquele português dos textos é buéda erudito..! E, para rematar, havia um grupo com respostas de escolha múltipla - parece que hoje em dia é no jogo das cruzinhas, qual totobola, que se exercita o português..!
Naquilo que se supõe ser um instrumento de avaliação, nem vestígios de desafio intelectual, nem uma ponta de estímulo ao raciocínio e espontânea aplicação dos conhecimentos adquiridos pelo aluno.
Soa, de facto, a facilitismo. E não sou apenas eu que o digo: peritos, associações ligadas ao Ensino e os próprios professores consideram o mesmo e apontam o dedo à Sra. Ministra, mãe destas estratégias que só servem para ajudar as estatísticas a projectar o país para os patamares onde se encontram os grandes da Europa, numa espécie de autoconvencimento - um bocadinho como no futebol. Aparentemente até somos bons, mas quando chega a hora da verdade...
É precisamente isso que temo em relação às novas gerações. Quando as classificações saírem, os alunos dos exames 'fáceis' darão pulos de alegria, as boas notas ajudarão as estatísticas e a Ministra festejará o sucesso das suas medidas.
Não obstante, todos sabemos que embalar estes jovens e dar-lhes palmadinhas nas costas não se coaduna com um ensino de excelência e em nada contribui para o seu futuro. Todos sabemos que um sistema facilitista implica tornar as próximas gerações mais medíocres que as actuais.
Estamos a promover uma geração que mais tarde não saberá lidar com a realidade, que habituada ao fácil não vai saber superar o difícil. Uma geração que hoje se vai safando mas que mais tarde se vai ver à rasca. Na verdade, reconheçamos: à mercê do facilitismo, "caminhamos para o abismo da ignorância", como bem escreve Carlos Fiolhais na edição de hoje do Público.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Quando o silêncio vale ouro...


Vital Moreira qualificou aqui - e bem - de "ruidoso" o silêncio do PSD (leia-se: MFL) na passada semana, quando o caos se instalou no país e só não teve consequências mais drásticas porque nos deixámos embalar pelas vitórias da nossa Selecção.

Depois de uma fase em que o PSD não soube medir as palavras - com episódios tão lamentáveis como o de Rui Gomes da Silva sobre Fernanda Câncio ou o de Ribau Esteves e a imaginária reunião com a Autoridade Reguladora das Contas - o PSD de agora, que se arroga arauto da mudança laranja, fecha-se em copas e remete-se ao silêncio.

Meus senhores: nem oito, nem oitenta. A comunicação é coisa intrínseca à política e, com ou sem agências de comunicação, os partidos têm obrigatoriedade de marcar agenda, pautando-se por uma gestão sábia da palavra, sendo que a recente história governativa do nosso país tem provado que o segredo está no equilíbrio.

Porventura naquela que foi a mais indigesta das semanas que o Governo de Sócrates 'gramou', o país esperava pela reacção da Oposição e... nada. Absolutamente nada.

Entretanto, MFL já veio justificar o 'seu' silêncio e saiu-se com esta pérola sexista: "As mulheres não pensam em política 24h por dia". Aqui sim, o silêncio seria ouro...

A Dra. Manuela Ferreira Leite esquece-se é que os políticos, indepedentemente do género, não podem perder oportunidades de ouro para juntar a sua voz à voz do povo e puxar merecidamente as orelhas ao Sr. Engenheiro, mormente, quando se acaba de ser eleito e se tem no horizonte as legislativas de 2009.

Vícios & Paixões

Tentar pensar sobre futebol é um exercício que convoca Dali, Ernst, Bresson, Miró e outros artistas para o plantel, dado o surrealismo do exercício, quando não mesmo um reforço de origem suprematista como Kandinsky…

Vinte e dois tipos atrás de uma bola e a malta à espera de alguém que a meta entre três cilindros de ferro.

Jogadores que passam mais moda do que bolas e cujo cabelo envergonha, por manifesta modéstia, a minha árvore de Natal.

Uma equipa de quatro sujeitos que, decida o que decidir, recebe honras vitalícias da ordem da gatunagem.

E milhares de pessoas a pagar muitos euros por noventa minutos de duração de uma espécie de espectáculo e metade de jogo realmente jogado.

Ordenados que não consigo ler por terem tantos algarismos, mas que pagariam a viagem ao resto do Mundo que não conheço.

Dirigentes sem graça (sim, pode ser o meu caso, se quiserem…) e suspeitas à escolha do freguês.
Treinadores que mandam atravessar o autocarro em frente à baliza, para somarem um de três pontos e conservarem a cabeça acima do pescoço.

Milhões em material promocional (vulgo, merchandising).

Meia dúzia de fintas engraçadas e quatro dezenas de faltas feias e desleais.

Pancadaria quase tribal por causa de não se apoiar os onze que vestem de uma cor e se preferir os que vestem de outra.

Canais televisivos para isto e estações de rádio para mais disto.

Três jornais diários sobre o pontapé na bola e milhares de treinadores de bancada em canais que não eram bem para tratar do assunto.

Que raio! O futebol não faz muito sentido…

Mas eu adoro futebol!

Sigo a Académica nos jogos em Coimbra e fora de portas (escapa-me a Madeira porque o meu porquinho-mealheiro é anoréctico).

Não perco um suspiro da Selecção Nacional.

Adoro ver as Ligas portuguesa, espanhola, italiana e inglesa…

Já vi jogos de futebol em países como Albânia, Ucrânia, Rússia, Itália, Turquia e Grécia.

Fiz dezenas de colecções de cromos e perdoei com dificuldade à minha mãe e/ou à minha avó (a culpa não foi apurada, em sede de julgamento familiar) terem remetido para o lixo esses nacos de literatura ilustrada do mais alto coturno.

Definho nos tempos de veraneio, quando não há jogos.

Imagino a próxima alteração saída do banco de suplentes.

Tento perceber o desenho táctico da equipa, mesmo quando já andam todos aos papéis.

Vibro com as manifestações de solidariedade entre os tipos que defendem as minhas cores.
Aplaudo as jogadas do arco-da-velha.

Irrito-me com árbitros incompetentes ou “ladrões”.

Chateio-me se a Catarina (compincha de copo e de cruz e amiga de sempre) se atrasa.

Aborreço-me quando o Mário João (idem) começa armado em segundo doutorado português em futebol, logo após o ora jubilado Gabriel Alves.

É uma seca quando chove.

É um balde de água fria, quando torramos ao Sol e perdemos.

É lindo vibrar com os golos.

Adoro futebol! Temos que ser campeões da Europa e quero ver a Académica no Jamor!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

É a Cultura, estúpido!

Roubei a epígrafe à denominação das tertúlias que outrora tinham lugar no São Luiz porque o que me leva a escrever este post é a indignação que se me aflorou na passada quinta-feira, quando constatei, de novo, o quão menosprezada é Cultura neste nosso país. Bem sei que já devia estar habituada... mas há sempre quem nos volte a relembrar que a ela tudo (mas mesmo tudo!!) se pode sobrepôr.

Decorreu nas últimas duas semanas a 78ª Feira do Livro de Lisboa. Esta edição chegou a estar em causa mas lá tiveram juízo e ultrapassaram as muitas tricas entre as partes envolvidas, terminando assim com o folhetim que se gerou à volta daquilo que deveria tão somente ser uma iniciativa cultural mas que se tornou numa iniciativa subordinada ao factor comercial.

Estive lá numa visita relâmpago na primeira semana e planeei um regresso mais demorado pelo recinto na passada quinta-feira, véspera de feriado cá pela Capital. Visitei nesse mesmo dia o site oficial para confirmar os horários e para saber com que programa cultural e sessões de autógrafos podia contar.

Pois bem, chegada ao recinto no final de uma tarde de trabalho e desejosa de me perder por entre aquele infinito universo de livros, começo gradualmente a aperceber-me do corropio dos vendedores, a arrumar, a fazer contas ao lucro e a fechar as barraquinhas! Sem qualquer aviso, a APEL achou por bem encerrar a feira às 21h, com o agrave de ser véspera de feriado. Uma Feira do Livro dependente dos Santos Populares, portanto.

Pergunto-me: de que mais dependerá uma feira do livro? Do futebol?! Não estive lá nos dias em que a nossa selecção jogou, mas se alguém me disser que fecharam as barraquinhas para assistir aos jogos, não me admiraria! É que ali não faltava nem o ecrã gigante (!!), uma verdadeira heresia naquele lugar que eu tomava como uma espécie de templo do conhecimento.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Ó Anibal, dá lá uma medalhinha ao senhor...

Quando julgava já ter lido tudo, eis que o dr. Pedro Santana Lopes prova o quão limitada é a minha imaginação. Cá por mim, se não recebesse um galardão e mesmo que houvesse injustiça, não dava parte de fraco, mas cada um é como cada qual e o dr. Santana Lopes, sem dúvida, é único.
Já agora atente na gramática (não digo onde).

Lê-se

"Um das notas mais intrigantes a propósito da "greve" selvagem dos camionistas é o comprometedor silêncio do PSD, suposto líder da oposição e candidato ao Governo. Nada sobre o protesto, nada sobre os seus excessos violentos, nada sobre a ilegalidade que campeia nas estradas de Portugal. Só que nestas circunstâncias, o silêncio é cúmplice."

Vital Moreira, 'Ruidoso Silêncio' no Causa Nossa

O preço dos valores

Sou daqueles que entende que Luiz Felipe Scolari fez um trabalho soberbo na Selecção Portuguesa.

Bons jogos, bom balneário e, sobretudo, brilhante estratégia de empolgamento do povo português.

Todavia, detesto quando os moralistas metem a pata na poça; é que, a mais de achar pouco oportuno que divulgue o contrato com o Chelsea em pleno EURO 2008, lembro-me que, há anos e no decurso de outro torneio (não me lembro se no EURO 2004 ou no FIFA 2006), Scolari rejeitou ir para o Benfica, porque alguém divulgara a notícia durante a competição...

Nada me tira da cabeça que nenhum desse pudor se teria visto, se Vieira tivesse o mealheiro de Abramovich...

A vida é assim... Ponha um preço na sua ética e faça o favor de ser feliz, amigo leitor!...

terça-feira, 10 de junho de 2008

BE e PCP mostram a sua Raça

Gostaria de ouvir o BE e o PCP falar sobre Cuba, Irão, Myannmar e Coreia do Norte, a título de exemplo. Ao invés, temos o intelectualismo literário da ex-URSS a proferir estas alarvidades sobre o Presidente da República: “recuperou terminologia racista e segregadora do Estado Novo”.

A conotação tendenciosa que o PCP e o BE querem impor é descabida. Isto não é fazer política, é politiquice. É por estas e por outras que há cada vez mais descontentamento face aos partidos políticos.

Tanta mesquinhez...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Tirania a dobrar

Enquanto a fome grassa no Zimbabwe e a crise agudiza, Mugabe foi até Roma passear na cimeira da FAO. A hipocrisia da coisa em si já revolta, mas Mugabe e a sua Grace não se ficam por aqui. Para a viagem o casal levantou do Banco Central do seu país a módica quantia de 50.845 euros. A estadia fez-se numa suite de 890 euros diários e enquanto Mugabe ouvia o discurso (ou será: fazia orelhas de mouco?) sobre a fome no mundo, Grace foi às compras nas lojas dos grandes costureiros. Já não bastava a tirania do marido e a esposa revela-se ainda mais desumana: “só calço Salvatore Ferragamo porque tenho os pés muito estreitos”. Repugnante, no mínimo!

Observação

Portugal e comunidades ainda faziam a festa, na ressaca da primeira (de muitas, esperamos nós) vitória da selecção nacional. Emissões televisivas repetiam-se em perguntas, respostas, gritos, gestos e imagens. Na televisão pública foi o clássico Fado, protagonizado por Amália, a ocupar a tarde domingueira. Num fim-de-semana tão televisivamente português, só ficou mesmo a faltar Fátima…

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lembrete

Juízinho, pá!

Que a candidatura de um negro à presidência dos EUA é histórica, é!

Que Obama tem um estilo que todos entendem, que mobiliza e que promete uma liderança mundial mais conciliatória e arrojada, tem.

O problema é que, de Collor de Melo a Berlusconi, estes rasgos de esperança e inovação nem sempre acabam bem.

Resta a esperança de que, sendo eleito (a ver vamos):

  • Privilegie mais o multilateralismo e pare de chatear os russos gratuitamente.
  • Se tiver que fazer a guerra, pense no dia seguinte.
  • Combata o terrorismo com a humanidade possível, sem ter que convidar os detidos para um café, obviamente...
  • Cumpra o que alega serem as suas preocupações ambientais e bem rápido.
  • Em suma, seja um tipo estudioso, decidido e decente.

Espremendo os resultados

Sem esconder que apoiei Pedro Passos Coelho, não considero incompatível regozijar-me com a vitória de Manuela Ferreira Leite, sem que com isso espere indulgências ou qualquer lugar para mim, para um filho (que não tenho, ao que sei) ou afilhado (desculpa, Luís…).

Antes de mais, seria idiota pôr em causa a folha de serviços da Presidente eleita, a sua dedicação ao País e ao partido ou sequer a clareza e o mérito da sua vitória. Chega de mau perder e de autofagia no PSD!... Não há desculpa para, a um ano e pouco de eleições, haver birras de meninos mais ou menos guerreiros ou de outros que tenham medo de não arrajar lugar nos comboios eleitorais.

Depois, fica a curiosidade de falarmos da primeira mulher a liderar um partido nacional, sem que para isso tenha necessitado de quotas!... À atenção de todas as senhoras que, em vez de apostarem no mérito da participação, se reúnem em jantares à espera da boleia da Lei (da qual duvido, por muito boas que sejam as premissas). Acresce que poderemos vir a ter, pela primeira vez, uma senhora eleita para o cargo de Primeiro-Ministro, já que a eng.ª Maria de Lurdes Pintassilgo foi-o por convite presidencial (sem que isso belisque o seu mérito, diga-se).

Mas, curiosidades de almanaque e beijocas no querubim recém-nascido (o neto) parte, manda a acutilância política que se pergunte se vamos ter mais da política e das soluções clássicas que nos governam desde o 25 de Abril. Se o hirto sentido de Estado de Sá Carneiro, Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite (enquanto ministra) foram cruciais para nos consolidar como pátria, fica a saber a pouco quando nos perguntamos como emocionar e motivar a Nação para um esforço de desenvolvimento que depende muito mais das pessoas e da cultura cívica que dos Estados que, por esse mundo, encontram na globalização e no mercado absoluto os limites de caducidade. Dito de outra forma, entendo que a malta não come "Brent" nem respira "consolidação das contas públicas", como tenho dito.

O truque pode estar em associar à sabedoria, credibilidade e austeridade da nova líder quadros com provas profissionais e cívicas que respeitem processos éticos, mas inovem nas soluções substantivas, devolvendo ao partido e a Portugal a noção de um ideal social, de um sonho, de um paradigma novo de desenvolvimento e de amparo social. No fundo, fazer com que nos emocionemos não apenas quando 23 valentes rapazes vão para um torneio do pontapé na bola (no mesmo sentido, cfr. Drª Dulce Alves).

Do que estou certo é de que há que cerrar fileiras na concepção de uma alternativa credível ao actual Governo, causando-me urticária as análises que tenho ouvido e que dizem que Ferreira Leite não venceu, porque os votos de Passos Coelho e Santana Lopes, se somados, são mais. Ou isto mudou muito ou, que eu saiba, quem vence ainda é quem fica em primeiro lugar, não havendo coligações em eleições uninominais. Mas se calhar sou eu que já esqueci a ciência política em que me encartaram como mestre…

Para Pedro Passos Coelho fica a certeza de uma campanha fresca de ideias, sedutora de postura e aliciante para uma sequela. Entendo que o tempo que queda por diante poderia ser aproveitado para saltar as baias da máquina de votos que teve que montar (nunca desprezando esse capital), para separar “a boa da má moeda” (como se diz no Palácio de Belém, a nova Meca da liderança laranja) e para, humildemente, analisar as críticas construtivas que foram feitas, designadamente quanto à consistência das opiniões e das medidas propostas e respectiva carga persuasiva. Por mim, sinto-me contente com o voto que dei a Pedro Passos Coelho, de quem espero leal cooperação para com a liderança, pelo menos, até ao fim dos embates eleitorais de 2009, o que não choca com o desiderato anunciado de concorrer, democratica e frontalmente, ao conselho nacional com uma lista, como me parece ter assumido.

Quanto a Pedro Santana Lopes, lá cantava o “menino guerreiro” que “um homem também chora”… Após tantos e tão surpreendentes renascimentos, já só me resta aguardar ansiosamente onde é que o James Bond do PSD vai fazer o próximo “filme”, pois se a derrota de 2005 não lhe deu sugestão para harakiri, não será o terceiro lugar no PSD que o leva a cortar os pulsos da militância. Reconhecido o mérito de um dos mais curiosos curricula da política lusa, apenas resta lamentar a forma como não soube “combater” (como costuma dizer), designadamente quando se referiu à inexperiência e às derrotas (Câmara da Amadora e PSD de Lisboa) de Passos Coelho. Algo que ainda espanta mais dito pelo mesmo cidadão que, no Congresso de Viseu (que o opôs a Durão Barroso e Marques Mendes), disse a Durão (após a graça falhada deste sobre Zandinga e Gabriel Alves): “olha, Zé Manel: nunca se deve pisar quem perde! É uma lição que te fica para a vida”… Ao Zé Manel até pode ter aproveitado a lição, já a Santana…

De uma ou de outra forma, se ainda percebo o PSD, o que o carisma de Ferreira Leite não conseguir fazer, caberá à esperança de um lugar nas listas de 2009: ajudar a acalmar muitos dos tribunos de ocasião que dominam a atoarda social-democrata e que, regra geral, apenas esperam o seu quinhão de notoriedade.
Oxalá também haja espaço para pensar política a sério!...
Nota: edição revista e aumentada de um texto publicado no "31 da Armada".

Um mau português

Caso raro: entrevistado em directo (a propósito da inauguração, no concelho, de dois CIRVER - centros integrados de reciclagem. valorização e eliminação de resíduos perigosos), o Presidente da Câmara da Chamusca é tratado pela repórter por "doutor...".
Antes mesmo que a jovem jornalista continuasse, ouve-se em fundo: "eu não sou doutor!".

Saúda-se a honestidade, num país de hábitos de novo-riquismo, em que são às dezenas os que, não tendo qualquer grau académico, se deixam passar por "doutores" e afins e os que, tendo um grau qualquer, exigem que o mesmo figure nos cartões de débito e em tudo e mais alguma coisa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Por um Mundo melhor?!

"Por um mundo melhor" é o mote daquele que se auto-intitula o maior festival de música do Mundo - Rock in Rio. EU FUI e, música à parte, não gostei. Demasiada confusão, demasiado ruído entre concertos - oriundo dos mil e um stands que se dedicavam a tudo menos à música-, comportamentos excessivos e falta de civismo até mais não. Se aquilo é local para concentrar esforços por um mundo melhor... garanto que jamais voltarei a dizer mal do mundo em que vivemos.

O evento diz-se preocupado com questões sociais e nesta terceira edição portuguesa focou a sua responsabilidade social no Ambiente. Pura estratégia, quer-me parecer. Num evento tão ambicioso e vanguardista, nada vi de inovador quanto à preservação do meio ambiente. Absolutamente nada. Lá estavam os habituais contentores de lixo estilo eco-ponto e ponto final. Também houve promoção da utilização de transportes públicos para acesso ao recinto mas cabe sublinhar que a rede dísponivel era deveras diminuta: no caso do Metro, com apenas 4 estações abertas...

Ao que sei, o mais significativo que levaram a cabo com o intuito de preservar o meio ambiente foi a instalação de painéis fotovoltaicos que forneceram electricidade ao palco principal. É já um primeiro passo significativo, mas... e o resto?!

Ficaram-se por aí e perdeu-se a excelente oportunidade de alertar o cidadão comum para a necessidade de mudança de atitudes face ao descalabro do Planeta Terra... A única mensagem alusiva ao tema passava no ecrã gigante entre os concertos e resumia-se a uma fraquinha sugestão de Gisele Bündchen (não havia alguém mais credível?!) no que toca a preservar o ambiente. Curioso, é que nessas alturas o som baixava alguns décibeis e o público acabava por fixar-se noutras mensagens subliminares que a super modelo, inevitavelmente, transmite.

De resto, de Mundo Melhor não vi qualquer indício. Bem pelo contrário: aos poucos destruía-se o coberto verde da Bela Vista e a cidade do rock transformava-se numa selva que não lembra a ninguém, mergulhada em lixo. Bem sei que eram milhares de pessoas, mas os contentores mantinham-se vazios... A ajudar "à festa", o desperdício que é todo aquele merchandising distribuído e que no fundo não serve para absolutamente nada senão para poluir: plumas, cabeleiras, sacos e saquinhos, insufláveis, chapéuzinhos, papelinhos, etc.

Para terminar, a cereja no topo do bolo: o evento promete que determinada percentagem das receitas reverte a favor de organismos que estejam ligados à causa que dá mote a cada uma das edições, no presente caso relativos à preservação do meio ambiente. Este gesto parecer-me-ia louvável - e compensaria tudo o que poderia ter sido feito, e não foi, durante o evento- não fosse uma fonte segura garantir-me que a parcela a atribuir-lhes é uma ninharia que deveria envergonhar a própria organização...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Contágio

Leio no Correio da Manhã, edição de hoje, que Ribau Esteves, Secretário-Geral cessante e apoiante de Santana Lopes (eis a explicação?!), está empenhado numa boa passagem de pasta. Senão, vejamos:
"Sobre a transferência de dossiês, Ribau Esteves confessa-se tranquilo. 'O relatório de gestão que integra um caderno sobre o congresso está pronto desde o dia 31 de Maio [anteontem, dia da eleição]', diz. O documento, que, segundo descreveu, 'é profundo, tem 40 centímetros de altura e contém matérias delicadas', será entregue a Manuela Ferreira Leite. 'Quero que saiba que partido tem nas mãos', referiu Ribau Esteves".
"Profundo"?!... "40 centímetros de altura"?!... "Matérias delicadas"?!...
Se tivesse ganho percebia a pouca sobriedade das palavras, mas assim...
Apetece perguntar: e qual o comprimento? E vem escrito dos dois lados? Quantos furos? Ou é encadernado a quente?
Já não via nada assim desde que, na "Canção de Lisboa", ao fazer a oral, Vasco Santana cita a editora, o tipo de encadernação e tudo o mais... Mas esse tinha graça...

É que só podem estar a gozar..!

Há dias o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações lançou uma campanha para incentivar o uso de transportes públicos com o lema "Goze a viagem". Requisitaram um afamado actor, dispuseram de autocarros limpinhos e de carruagens de metro vazias e... voilá: um spot atractivo a promover os transportes públicos e as suas infinitas vantagens.
Agora, o Governo - que detém participações maioritárias numa série de transportes públicos - está a ponderar mais um aumento dos passes...
Em que é que ficamos?! Gasta-se na publicidade para promover uma atitude e logo depois tomam-se medidas para desmotivar?!
Que V. Exas. Srs. Governantes percebam uma coisa: andar de transportes públicos já é, por si só, um suplício. Andar de transportes públicos pagos ao preço do ouro é deveras angustiante.

Argumento interessante


Nota: o filme não contém qualquer sátira à candidatura de Pedro Santana Lopes, apesar do título...

domingo, 1 de junho de 2008

Sabia que...

  1. Manuela Ferreira Leite é a primeira mulher a presidir ao PSD e que não precisou de quotas?
  2. Manuela Ferreira Leite pode ser a primeira mulher a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro, ganhando esse direito depois de vencer eleições legislativas? É que Maria de Lurdes Pintassilgo foi Primeiro-Ministro por convite do Presidente da República (digo-o sem qualquer desprimor, sublinho).

Vence Manuela Ferreira Leite


Confirmou-se por volta das 20h de ontem. 37,67% dos votos davam a vitória a Manuela Ferreira Leite, que se fazia seguir de Pedro Passos Coelho, com 31,07%.

Não havia, nestas eleições, candidatos de sonho. Em Passos Coelho atestamos a sua determinação e boa imagem, uma forte capacidade de mobilização, uma vontade de ruptura e de resgate do partido do bloco central. É indelicado chamar-lhe aprendiz de Sócrates, mas não deixo de considerar que é complicado dar o futuro de agora a alguém sem passado. Não coloco toda a validade de um candidato no seu currículo, mas dada a importância desta escolha, a experiência era um ponto importante, fosse para a vitória ou para a derrota. Foi, por isso, falacioso o argumento de campanha de que, com Passos Coelho, só se debateria o futuro e ninguém lhe poderia pedir justificações sobre o passado. Seguidamente seria natural que a sua proposta de viragem à direita não agradasse a todos e que o seu liberalismo misturado com preocupações sociais soasse a mal cozido. Fora isto, PPC esteve à altura e agradou também pela sua visão não conservadora da vida social, outra marca de diferença dos outros candidatos.

Da vencedora confesso que não mais espero do que o finalizar das querelas internas no partido, uma linha de orientação com sustento e conteúdo, uma oposição. Com o seu estilo anti populista acabou por dar sinais de algum comprometimento ao não se manifestar sobre algumas matérias, fugindo às respostas concretas – jogou, por isso, mais no escuro e isso deve ser assinalado. Posto isto MFL acabou por, apesar do que implica dizê-lo, potenciar o seu perfil sobre as propostas para o país. Perfil esse, que valendo o que vale, enquanto dirigente política ou cidadã, se transformou no capital político da vitória.

Balanço final das directas – foi um exercício intenso, que não sofreu do mesmo alheamento das de Setembro último. Trouxe alguma reflexão sobre o país e a governação. Os portugueses seguiram com atenção um debate que também foi o das ideias. E para o PSD, abriu-se um caminho de esperança. Importante é, agora, MFL aceitar a colaboração de Pedro Passos Coelho. Um resultado de 31% pode significar a continuidade das querelas e da desunião. Se Leite não o fizer coloca em cheque a unidade do partido, aquilo que, verdadeiramente, os eleitores e militantes desejam com estas eleições.