segunda-feira, 26 de março de 2012

Fox News ou como ter fama (de mau jornalismo) sem proveito


Esta imagem que de há dias para cá circula pela internet deixou muitos quase em estado de choque e propiciou a muita troça. Razões paracem não faltar: Toolooz será Toulouse? E fica mesmo em França ou ali para os lados da Roménia, como parece indicar o mapa? Quanto ao sujeito que levou a cabo os homicídios no sul de França, era budista ou muçulmano? E o que dizer de Claude Gueant: é Presidente ou... Ministro do Interior?! E lamentou o sucedido junto da comunidade asiática ou judaica?!!!

Enfim, o  rigor da informação da Fox sempre deixou a desejar, mas isto é um claro exagero. Alguém se lembrou de parodiar com o canal televisivo e a brincadeira espalhou-se por todo o lado, fazendo muitos acreditar que a Fox News seria capaz de tais atrocidades. A explicação encontram-na aqui.

Mais uma vez, convém ter noção de que nem toda a informação que  veicula por estas paragens é credível e, portanto, não será má ideia escavar um bocadinho antes de tirarmos as nossas (muitas vezes precipitadas) conclusões. 

A Liberdade é de TODOS!!!!! (mas para alguns é só às vezes!)

Não consigo perceber o rigor da esquerda no uso do património nacional. Afinal lutaram contra a ditadura, assim como todos os que não se identificavam com o Estado Novo. Não foi uma luta exclusiva da esquerda nem dos cantores irreverentes desse tempo. Se assim fosse, não teríamos as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da Republica com todos os representantes do Povo…

Hoje, fiquei a saber por aqui que os militantes do PSD não podem “cantar”/citar as músicas e letras do Zeca Afonso! Não percebo esta forma de adivinhar o futuro do pensamento das pessoas… começa a ser comum ouvir “se fosse vivo faria isto… ou aquilo”!!! Por outro lado direi, se Zeca Afonso fosse vivo talvez nos surpreendesse a todos… assim como Zita Seabra fez!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Kony e os bastidores do Marketing de Causas


Nas últimas semanas o nome Joseph Kony correu o Mundo e continua a dar muito que falar (não será por acaso que faz a capa da Time desta semana). Kony é um criminoso de guerra que durante anos liderou, no interior do Uganda, um grupo rebelde armado, usando crianças como soldados para espalhar o terror por aquele território, não tendo sido até à data julgado pelos crimes que perpetrou. Em face disso, a organização americana Invisible Children criou um vídeo de «caça ao homem» que se propagou à velocidade da luz e foi visto por mais de  80 milhões de pessoas em apenas duas semanas. A aparente estratégia era a de tornar Joseph Kony mundialmente conhecido e lograr a sua captura. Porém, já diz o povo que «nem tudo o que parece é». 

Se por um lado é interessante analisar este fenómeno e perceber como as redes sociais e plataformas como o Youtube podem ser hoje os novos média, com capacidade para pôr na agenda mundial questões a que ninguém fica indiferente, por outro cumpre analisar a forma como o fazem.

Desde logo o conteúdo do vídeo parece carecer de alguma actualidade e seriedade: segundo investigadores que há muito acompanham o conflito no norte do Uganda, Joseph Kony e os seus companheiros do Lord's Resistance Army deixaram o país em 2006 e desde então não mais se verificaram ataques da sua autoria naquela região. Crê-se que Joseph Kony e os membros do LRA se reduzem agora a menos de uma centena e actuam em território vizinho, na República Democrática do Congo e Sudão do Sul. As imagens que correm ao longo do vídeo têm mais de uma década e sustentam a dicotomia primária de «bons contra maus», simplificando a realidade do Uganda. Ignoram, por exemplo, que o próprio exército ugandês tem também a sua quota parte de responsabilidade no conflito que por ali lavra, tendo cometido ao longo do tempo uma vasta lista de atrocidades contra os civis que era suposto proteger. Mais, na década de 90 e já na primeira década do séc. XXI, foi o exército responsável pela deslocação forçada de aproximadamente um milhão e meio de pessoas para autênticos campos de concentração, onde escasseiam condições de vida e onde aquelas estavam mais expostas aos ataques.
 
Ora, e ao contrário do que nos convence o referido vídeo,  não estamos propriamente perante uma guerra de bons contra maus, estamos sim perante um conflito que não terá fim com a simples detenção de Joseph Kony. E tendo em conta a actuação do governo e das forças armadas do Ruanda, exímias no que toca a violação de direitos humanos, tomar a sua parte nesta causa também não parece muito certeiro... É, além do mais, estender a passadeira para mais violência pela mão dos exércitos do Uganda e do Congo...

No fundo, ao aumentar a pressão internacional e ao incitar a uma intervenção norte-americana, o grupo activista está a clamar por mais violência, concentrando os seus esforços na captura de um só criminoso e  esquecendo todos os danos colaterais do conflito na região, ignorando as necessidades das crianças e famílias que nele se viram envolvidas. Não há, assim, uma solução real apresentada pela Invisible Children.

Promover o envio de tropas americanas para o território apresenta-se somente como uma solução idealista para um problema de fundo. Sendo que não se pode ignorar que, à data do lançamento do vídeo, as tropas americanas já se encontravam no Uganda - desde o final de 2011 que por lá estão cerca de 100 militares. Obama justificou esta intervenção com a «promoção de interesses dos EUA de segurança nacional e política externa». Se Kony e o LRA não têm como alvo os americanos ou os interesses americanos, não fica muito clara a razão de ser deste súbito paternalismo. Uma coisa seria puxar do argumento «justiça internacional», mas dela não se ouviu falar...

Note-se, porém, que o envolvimento dos EUA no Uganda não é de agora, remonta aos anos 90, através do United States Africa Command (AFRICOM), que então auxiliou o exército ugandês. À data a neutralização do LRA parecia bem encaminhada, mas não só acabou por fracassar como pôs em risco as conversações de paz que se desenhavam. Disto não fala o vídeo Kony 2012, que negligencia as várias tentativas de negociação de paz entre 2006 e 2008, as quais levaram à já referida retirada do LRA do norte do Uganda.

O objectivo desta campanha parece assim esgotar-se na detenção de Joseph Kony e sequente apresentação perante o Tribunal Penal Internacional, que em 2005 emitiu mandatos de prisão para Kony e outros líderes da guerrilha, por acusações que vão desde o rapto de civis ao abuso de crianças. Ironicamente, esse é o palco internacional de Justiça que os EUA não reconhecem ou, pelo menos, entenderam não reconhecer ao não ratificar o Tratado de Roma que estabeleceu o TPI.

Assim, adensam-se as dúvidas quanto aos (reais) intuitos desta campanha e da concomitante intervenção dos EUA. As teorias mais rebuscadas apontam para interesses que coincidem com a recente descoberta de petróleo na região do lago Albert... 

É indiscutível que Joseph Kony deve ser levado a responder perante a Justiça pelos crimes contra a Humanidade que cometeu ao longo de décadas. Não obstante essa premissa, parece-me que neste processo se torna dispensável propaganda como a que a Invisible Children lançou, uma versão enviesada e redutora daquilo que se passa no continente africano, apelando ao emocional e menosprezando uma contextualização séria e fáctica destes conflitos na África Central.

Isto é tão grave que, precisamente na mesma semana em que Kony 2012 cegava meio mundo e usava aquele criminoso como bode expiatório de todos os males que afectam a região, morreram 30 civis em South Kivu, na República Democrática do Congo, vítimas - não do LRA - mas sim de milícias congolesas que operam na área. Mas disto não se ouviu falar. A espectacularidade de produções americanas tem outra repercussão nas massas, sobretudo porque a estas falta cada vez mais capacidade para questionar e aprofundar a informação que lhes é servida. Tratam-se das mesmas massas que têm como expoente máximo do seu activismo o botão «partilhar». E não é assim que vamos lá...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Rasgando a Constituição

Não percebo o nosso País. Otelo Saraiva de Carvalho - que, a meu ver, jamais deveria ter sido amnistiado - veio apelar às Forças Armadas para interromperem o curso normal da nossa democracia, e não foi ouvido, de imediato, pelas nossas autoridades policiais e judiciais. Mais ainda, os nossos actores políticos andam a trocar imperceptíveis galhardetes sobre "BPNs" e "troikas" e não viram nisto o apelo à subversão da ordem constitucional, que, claramente, é!

Em nome da decência, Otelo deveria ser ouvido judicialmente e acusado ou declarado inimputável. De uma ou de outra forma, teria (ainda) mais fé em Portugal.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Misérias nacionais

Este País cujos defeitos, lembrando o “Primo Basílio”, nos fornecem “tantas pilhérias”, é pródigo em manter desactualizados os motivos da minha irritação. Assim é que, ainda há dois dias, a Liga de Clubes concretizou a mais populista, cretina e ruinosa promessa de campanha do seu presidente: o alargamento da Liga para 18 clubes.

É aqui e a dois tempos que se vê que somos uma Nação com muita gente mesquinha: desde logo é o velho choradinho dos pequeninos contra os grandes. Tal qual como muitos portugueses preferem olhar à situação dos gestores (em alguns casos com razão) e outros abastados profissionais, em lugar de procurar uma via de melhorar a sua situação, trabalhando mais e melhor (embora também reconheça que, dada a quase total ausência de cultura de mérito, a desculpa para assim proceder é maior), os clubes pequenos decidiram olhar ao que julgam ser o seu interesse, e o alargamento deu-se.

Em segundo lugar, reside a mesquinhez na esperteza saloia do Presidente da Liga que, por preciosismo ou vontade de nos tomar por parvos, e pese embora reconhecendo o mesmo efeito prático, corrigiu um jornalista afirmando que não podia dizer-se que ninguém descia  de divisão; nas palavras deste génio da bola, o que se passava era que a I Liga era alargada e que dois dos quatro lugares que sobrariam (os dois novos e os dois da descida) eram ocupados pelo 15º e 16º classificados deste ano! Sob pena de ser grosseiro, mudo de parágrafo…

A ideia em si – a I Liga com 18 clubes – é errada sob vários prismas. Por um lado, vai aumentar as despesas da maioria dos clubes. Se me não atraiçoa a memória, creio que a Académica só terá lucro quando recebe Benfica, Porto e Sporting; ou seja, todos os outros jogos dão prejuízo (manutenção do estádio, segurança, etc…). Imagine-se este problema com mais dois jogos em casa e – eis outro anátema – com mais duas deslocações! Mais ainda, veja-se tudo isto para os vários clubes que têm menores assistências que a Briosa.

Em segundo lugar, não me custa acreditar que os próprios recursos humanos (vulgo, plantéis) tenham que ser aumentados, com os inerentes gastos. No fim de contas, são mais quatro jogos por temporada e maiores os riscos de lesões e fadiga.

Em terceiro lugar, aumentam também as hipóteses de assistirmos a maus jogos e a lamentáveis arbitragens. Se já temos que aturar valentes secas e autênticos roubos com trinta jornadas, replique o suplício por trinta e quatro.

Por fim, o momento em que a medida pode equivaler a um escândalo: mudar as regras com o jogo a decorrer é coisa que não pertence ao mundo da gente séria e dos cavalheiros! Quem me diz que, sabendo que não descerá, uma equipa não vai facilitar a vida a um candidato ao título ou às competições europeias, a troco de reforços ou sabe Deus que “fruta”? Digo-o com a tranquilidade de quem sabe que a Académica jamais o faria, mesmo que estivesse em risco de descida, de acordo com as regras vigentes e o deixasse de estar com as novas, mas com o alarme de quem gosta de jogos leais!...

RESPOSTA à COMPANHEIRA TÂNIA MORAIS

A companheira Tânia Morais descreve na sua mensagem um quadro extremamente positivo e direi mesmo quase idílico dum grupo humano que partilha o instante que passa e aprecia justamente esse momento de felicidade, de comunhão e de verdadeiro calor humano.

Claro que isso ainda existe na nossa sociedade.

No meu artigo, ao qual se refere e que, constato, vem à sua memória durante os seus passeios de bicicleta, o que me lisonjeia, a ideia de fundo, é que a nossa sociedade se caracteriza cada vez mais pelo seu individualismo, infelizmente, e não pela solidariedade.

Após a leitura do seu comentário, ontem, fui também dar um passeio, não em bicicleta, mas a pé, num planalto próximo, a 2500 metros de altitude, no meio de montanhas alvas de neve, brilhantes ao sol.

A solidão do sítio permite a reflexão. Ideal para a marcha mas também para constatar uma espécie de solidariedade.

Aqui, os humanos... são mais humanos. Aqui, vivemos nesses momentos, o nosso piquenique “humano”! Partilhamos tudo.

Aqui, entre o céu e a terra, todos, embora desconhecidos ,nacionais e estrangeiros, se saúdam com um “bonjour” caloroso e afável. Tenho observado isto muitíssimas vezes, cada vez que ando pela montanha. Os humanos são mais humanos quando não estão perdidos na massa indiferente da cidade.

Porque nestas paragens, a solidariedade impõe-se. Existe sempre uma probabilidade de necessidade de ajuda da parte daqueles que cruzamos.

No vale, na cidade onde vivo, as pessoas que cruzamos, não nos vêm passar ao lado. Somos todos anónimos.

Sob esta base, pode-se demonstrar como o individualismo e a solidariedade são efectivamente, na sociedade ocidental contemporânea, consumista e materialista, incompatíveis. Tudo depende do meio em que se vive.

No plano jurídico, o indivíduo está munido dum certo numero de direitos ditos subjectivos que o libertam da suas obrigações morais e mais particularmente do respeito das obrigações comunitárias e mesmo do seu meio ambiente natural. Assim o direito organiza a des-responsabilizaçao dos indivíduos.

Mas, como será possível neste mundo de industrialização e de atomizaçao social, desenvolver uma ética colectiva?

Num mundo frenético, onde a acumulação de riquezas, de poderes, de conhecimentos, de procura de crescimento económico, está no centro de todas as preocupações, uma tal visão pode parecer extremamente pessimista ou “naïve”. Mas a atomizaçao da sociedade progrediu de tal maneira, que os indivíduos talvez já não sejam capazes de se desfazer desta necessidade de acumular, para uns, e de sobreviver para outros.

Por isso creio, Cara Tânia, que o tal homem que descreve, voltado para os valores reais, valores que seria necessário de explicar, não só desaparece todos os dias um pouco mais, como nada permite, hoje, de pensar, que o mundo que se aproxima lhe deixará uma “chance” de subsistir.

O todos por um e um por todos, tende a desaparecer debaixo dos golpes duros da concorrência económica.

A nossa sociedade moderna é dominada pelo dogma da performance. Este dogma desenvolve o culto do sucesso individual, obrigado a elaborar estratégias individuais para se distinguir num meio concorrencial.

A evolução individualista da sociedade é, portanto, visível e mesmo fatal, na medida em que o estatuto do indivíduo na sociedade evoluiu. Recorda-se do «Cogito ergo sum» ou "Je pense, donc je suis" de Descartes!

Com o capitalismo, a pressão das instituições e das normas duma sociedade tradicional, é substituída pela pressão económica e concorrencial duma sociedade capitalista, que condiciona o indivíduo. Este já não é pressionado pela igreja ou pela família, mas pelo desemprego.

O tema da família, valor que explodiu na sociedade moderna, poderia ser desenvolvido num comentário ao seu “post” precedente sobre as mulheres na sociedade.

Fica para mais tarde.

Cumprimentos

Freitas Pereira

terça-feira, 13 de março de 2012

Serviço público



O nosso mundo (resposta ao Freitas Pereira)

Quando faço os meus passeios de bicicleta lembro-me frequentemente da preocupação do companheiro Freitas Pereira.

E compreendendo a sua preocupação apetece-me trazê-lo a estes passeios, onde me cruzo com famílias de portugueses e estrangeiros que estendem a toalha nas mesas de piquenique e brincam com as crianças da família, partilham a feijoada com outras famílias que trazem tartes e passam um dia com aqueles que realmente importam. Estas não são famílias que se demitiram de olhar os outros como a extensão de si próprios. Podem até ser famílias que há uns anos passavam as tardes nos centros comerciais e se deixaram seduzir pelas marcas e pelo consumo em detrimento das coisas que parecendo simples, são as mais preciosas que temos. Mas como a economia e a sociedade se regem por ciclos acredito sempre no homem de bem. E no dia em que ele volta aos valores que promovem uma sociedade coesa e forte. É nestes piqueniques, ou nas famílias que se encontram quando levam as crianças aos escuteiros, à música ou a correr pelo parque que encontramos o nosso mundo, como ele deve ser.

E renovo continuamente nestes meus passeios a fé neste homem e nesta sociedade, que às vezes se deixa seduzir mas termina o seu propósito naquilo que vale realmente a pena.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Conquistas do 8 de Março. Não, não queremos ser iguais aos homens.


Hoje celebramos a conquista da mulher sobre o reconhecimento da sua condição social. Foi na Rússia, despoletando o início da Revolução de 1917, que mulheres desencadearam um processo de conquista de melhores situações laborais (equivalentes às dos homens) e iniciaram o processo de reconhecimento enquanto cidadãs, com direito a voto. Contudo, e sendo esta conquista um processo de implementação em diversas sociedades com características culturais diferentes, ainda hoje o 8 de Março está em marcha. Enquanto houver mulheres apedrejadas no Iémen, enquanto houver a agressão à qualidade de mãe na China ou enquanto houver a repressão das liberdades individuais em tantos outros países nos quais a sua mulher teria de andar 10kms para poder alimentar os seus filhos, o 8 de Março está em marcha.
Mais próximo de nós, enquanto souber que há mulheres que em silêncio sofrem as consequências da brutalidade, mulheres que conjugam uma vida profissional com as suas tarefas familiares sem qualquer apoio ou reconhecimento, o 8 de Março está em marcha.
De qualquer forma, e como (com a graça de Deus) a generalidade das relações são bem diferentes destes exemplos,  o foco da celebração do dia da mulher pode servir para relembrar aos distraídos algumas das características que fazem as mulheres seres maravilhosos. Começando pelo essencial, meus caros e estimados homens, não fosse a vossa mãe transportar-vos 9 dolorosos meses vocês não estariam aqui. É impressionante como é fácil esquecer ou ignorar este período tão importante na nossa história pessoal, pois para além da alegria de trazer crianças ao mundo, o período até ao parto é uma corrida de obstáculos. Todo o nosso corpo se adapta e queixa, tornamo-nos pesadas e com uma dificuldade imensa em manter a auto-estima no seu melhor,  relativizamos as nossas características mais femininas, choramos por tudo e por nada, a roupa deixa de nos servir e face ao óbvio, questionamo-nos sobre a capacidade de continuar a exalar o sexappeal que provocou a bendita gravidez.  Passando pela educação dada às crianças, com as honrosas excepções masculinas que vão ganhando terreno na divisão destas e outras tarefas do quotidiano, o que seria de vocês sem as sandes de Nutella que a vossa mãe vos mandava quando iam jogar à bola? Ou a paciência que tinha para ouvir as vossas entediantes histórias sobre o João que depois de bater no Manel fez queixinhas à professora? É a continuação desta mulher que vocês encontram quando crescem e se apaixonam. E é este o conjunto de mulheres que transportou a sua sabedoria para o mundo dos dias de hoje. O 8 de Março é uma conquista nossa, invertendo a superioridade que vocês dominaram à custa da força e colocando a mulher na disputa da direcção dos destinos do mundo, quer gostem ou não. O problema foi ainda não termos encontrado o par de sapatos ideal para o dia em que a nossa sensibilidade e sabedoria forem partilhadas na sua plenitude.
É usual, em debates com amigos, ouvir a propósito das queixinhas que fazemos "Porque é que não me levas ao cinema?", "Já abrias a porta do carro, não?" que se quisemos a equitativa distribuição de regalias na sociedade não estejamos à espera de frases galanteadoras e grandes esforços na conquista das nossas almas. Assumindo que quem utiliza estes argumentos o faz por falta de inspiração para uma conversa mais interessante, não deixa de ser preocupante o declínio na relação investimento/expectativas que os homens das faixas etárias mais jovens demonstram quando lidam com mulheres. Tenho inclusivamente ideia de que se traçarmos uma correlação entre a utilização de hidratantes masculinos e o grau de cobardia que encontramos diariamente na abordagem que fazem ficaríamos assustados com os resultados. Não, meus caros. Nós não passámos a usar calças em casa nem a ser as criaturas de caça que imaginam que tenhamos de ser. Nem a mais independente das mulheres deixa de gostar de manter o pro forma das relações pessoais. Ainda que diga o contrário, (nesse caso está a enrolar-vos) é uma eterna sonhadora e claro que sonha quando vê uma comédia romântica ou espera o anel de noivado quando vocês dizem ter uma surpresa. E quando a surpresa é o bilhete para irmos ver o Benfica convosco "Um programa com os meus amigos, ela vai gostar!" nós até vamos, mas se se encontram neste ponto da relação, ainda estão muito longe de verem a vossa namorada transformada na J.Lo ou na Irina Shayk. Não digo que a referência esteja nas personagens da Anatomia de Grey, homens cheios de dúvidas e hiper-sensíveis sobre as questões mais patéticas, peço apenas para se recordarem de quão bom é o toque da mulher ou, no exercício inverso, como seria o vosso mundo se nós cá não estivéssemos. Seria esquisito voltarmos aos comportamentos comuns de Atenas Antiga quando está comprovada a complementaridade do casal.
O mesmo se aplica no casamento. Se já chegaram a esta fase, parabéns. Não é fácil, apesar de tudo, levarem-nos ao altar. Porque se para o homem o casamento se processa como a consequência natural de uma boa relação, connosco a história comporta análises aprofundadas sobre a qualidade dos genes dos filhos a vir, sobre a vossa capacidade de transmitir bons valores, sobre a relação que mantemos com a vossa família e sobre o rácio de sucesso dos casamentos das pessoas que vos rodeiam. E claro, a não ser que sejam as vossas irmãs (aliadas naturais), é altamente desaconselhável um homem rodeado de outras mulheres. É nesta fase que  vos damos a oportunidade de nos conhecerem plenamente, sendo um exercício da mais pura confiança deixarmos um homem ver-nos sem maquilhagem, despenteadas e cheias e dores menstruais num Domingo de manhã. E aqui precisamos do vosso romantismo mais do que nos outros dias e não que espreitem a vizinha do terceiro esquerdo que anda sempre impecável. Ou que comentem com os amigos a menina que aparece de lingerie na página "Social" do Correio da Manhã (uma prática que tenho vindo a descobrir também no "Jornal da Região" e que me parece digna de uma análise aprofundada). Não se deixem iludir. A verdadeira mulher não anda meio despida pela rua nem é de conversa fiada. A verdadeira mulher é aquela que na sua reserva e individualidade vos dá a oportunidade de serem os homens mais felizes do país (como referi há pouco, há uma Jennifer Lopez, uma Irina Shayk ou uma Eva Longoria dentro de cada uma de nós). Basta que cumpram a vossa parte. 

Ânsia de protagonismo + mau jornalismo = a notícia idiota

As notícias sobre uma petição para demitir Cavaco Silva continuam. Depois de muito me conter, eis alguns pensamentos:

1 - Nem sempre concordo com o que diz e faz o Presidente, mas acho que outros, em cargos públicos e partidários, já fizeram muito mais para serem demitidos. Todavia, como "não dá notícia" ou é alguém do "grupo", os caciques calam-se.

2 - A demissão do Presidente não está prevista na Constituição, muito menos com um processo encetado por uma petição.

3 - Cavaco Silva foi eleito com 2.231.956 (dois milhões, duzentos e trinta e um mil, novecentos e cinquenta e seis votos) o que faz as quarenta mil assinaturas (onde dúvido que estejam sequer 5% de ex-apoiantes de Cavaco Silva) da petição parecerem ridículas. Porém, como "não faz sangue", os media não sublinham isto.

4 - Torna-se infame o desrespeito sistemático pelas instituições e símbolos nacionais.

terça-feira, 6 de março de 2012

O Irão e a história por trás de «Uma Separação»


Ainda na ressaca dos Óscares, cumpre lançar um olhar sobre o vencedor na categoria de melhor filme estrangeiro. «Uma Separação», do iraniano Asghar Farhadi, levou a melhor sobre os outros nomeados, entre os quais o filme israelita «Footnote». E até por isso, na noite da consagração, a televisão estatal iraniana descreveu o feito como um triunfo nacional sobre o regime sionista. Mas não se ficou por aí e descreveu-o também como uma vitória sobre o Ocidente. Mesmo considerando que Israel possa integrar o mundo ocidental, não deixa de ser um bocadinho irónico se pensarem que foi a crítica ocidental que os premiou, que não se deixou levar por separações e não se coíbiu em distinguir um filme iraniano, pela primeira vez na história dos Óscares. 

Igualmente irónico é que a televisão estatal congratulava-se por um prémio atribuído a um filme cuja produção chegou a estar suspensa depois do seu realizador ter defendido publicamente outros cineastas iranianos que são perseguidos pelo Governo. Pelo menos seis deles foram presos em Setembro passado, entre os quais Jafar Panahi, um brilhante realizador que foi proibido de realizar filmes nos próximos vinte anos e que está a cumprir pena de prisão domiciliária até ao ano de 2016. Jafar Panahi é conhecido pelos filmes O Círculo (que foca a opressão das mulheres no Irão), Offside/Fora de Jogo (que dá conta da proibição das mulheres iranianas em marcar presença em eventos desportivos, como os jogos de futebol, e a forma como tentam contornar essa imposição) e, o mais recente, Isto não é um Filme, um documentário que dá conta da sua vida em prisão domiciliária e que Panahi conseguiu fazer chegar ao último Festival de Cannes, alegadamente no interior de um bolo ou de uma fatia de pão.

Voltando a Farhadi, para além de um pedido de desculpas oficial por ter defendido os seus pares, abdicou dos subsídios do governo ao cinema e financiou-se junto da banca, evitando um maior controlo por parte dos censores do Estado. Tendo em conta estas dificuldades que o realizador enfrentou, não deixa de ser curioso que agora o Irão se congratule e se faça valer do prémio que o seu filme arrecadou. Aliás, o país só apoiou o filme depois deste ter arrebatado um Globo de Ouro e ainda o Urso de Ouro do Festival de Berlim. 

A forma ágil e subtil como Farhadi explora, nas entrelinhas, as questões da sociedade iraniana que suscitam mais polémica, evitando no entanto discursos panfletários, acaba por ser uma táctica que leva a melhor. Aliás, nas suas palavras ao arrecadar o Óscar, Asghar Farhadi mostra como a subtileza por vezes é mais certeira que os discursos inflamados.   

"At this time, many Iranians all over the world are watching us and I imagine them to be very happy. They are happy not just because of an important award of a film or filmmaker, but because at the time when talk of war, intimidation, and aggression is exchanged between politicians, the name of their country Iran is spoken here through her glorious culture, a rich and ancient culture that has been hidden under the heavy dust of politics. I proudly offer this award to the people of my country, a people who respect all cultures and civilizations and despise hostility and resentment."

Fica a certeza de que com este prémio se deu um passo para que o Mundo ponha os olhos no cinema (e na realidade) do Irão e a esperança de que o Irão ponha os olhos no Mundo...

segunda-feira, 5 de março de 2012

Só um troncozinho para a fogueira

Desconfia sempre dos tipos que estão no parlamento, numa câmara municipal ou em campanha a dizer "estou aqui num espírito de missão, eu não quero viver da política.". isto é quase tão mau quanto teres a tua casa projectada por "arquitectos" que o são porque gostam de desenhar ou construída por engenheiros que montam uns parafusos aos fins de semana naquele espírito de solidariedade. é claro que quando a casa cair o arquitecto e o engenheiro vão dizer "então a gente veio ajudar e você está-se a queixar?"

quinta-feira, 1 de março de 2012

Os "Decisófilos"

O debate em torno da Reforma Administrativa do Poder Local prova que somos um país de “decisófilos”. Falamos muito, discutimos ainda mais, fazemos grandes análises mas depois, quando chega a hora de implementar, ou há coragem política ou então a montanha tende a parir um rato.

Já por aqui o disse. Trata-se de uma violência reformista sem precedentes e que toca em todos os aspectos do modelo organizacional da gestão local. Mexe nas empresas do Sector Empresarial Local; na Gestão Municipal e Inter-Municipal e seu Modelo de Financiamento; nas suas Leis Eleitorais e naquele que é o eixo mais mediático, o Ordenamento do Território.

Por tudo isto, a agitação política e mediática que temos assistido em torno da Reforma é natural. Anormal seria o oposto! Mas se tivermos atenção, notamos dois epicentros críticos. Um, composto por autarcas, especialmente presidentes de juntas, cujas freguesias deixarão de ter o actual figurino e outro, organizado pela ala esquerda da arena política portuguesa.

Se para os primeiros, mesmo que discordem (e têm toda a legitimidade para o fazer) é sempre mais fácil dizerem às suas populações que nada têm que ver com a Reforma, para os “canhotos” mais não é do que o aproveitamento de uma lei que, a não ser consensual, provoca desgaste a quem a subscreve.

Mas convém não esquecer que, mesmo que indirectamente, cerca de 80% dos portugueses votaram nesta Reforma, ao exararem o seu voto no PSD, CDS e PS, ou seja, os três partidos que subscreveram o acordo com a Troika. Depois, e aqui é apenas um juízo pessoal, creio que a maioria dos portugueses concorda, na generalidade com a Reforma e que não querem, mais uma vez, ver o assunto adiado.

Surpreendentemente, ou talvez não, é que apesar de assentar em 4 eixos, todos eles de elevada importância, só se fala do Ordenamento do Território, como se de um momento para o outro o território português, alvo de uma qualquer invasão ainda por enxergar, fosse encolher.

Seguramente que todos já ouvimos alguém comentar, seja na TV, na imprensa escrita ou mesmo no café da rua, que o modelo de organização administrativa em Portugal está desactualizado e que não faz qualquer sentido haver juntas de freguesia com trinta e tal mil eleitores, enquanto outras têm pouco mais de cinco centenas. Ou então, que não se compreende que num território com a dimensão do português haja 4.259 freguesias!

Pois bem, e se o ouvimos é porque é perfeitamente normal que se coloque em causa um modelo de organização administrativa que data de finais do século XIX.

E temos de entender o seguinte: ou mantemos tudo como está e adiamos mais uma vez o que já devia ter sido feito há muito e os resultados serão precisamente os mesmos; ou então, desta vez, deixamos a “decisófilia” e vamos mesmo em frente numa Reforma que, até que me provem o contrário, acredito que venha a tornar o nosso modelo de organização administrativa mais eficiente.

Abutres

Se há coisa que importuna quando vejo Portugal a fazer um esforço colectivo, a que todos tiram o chapéu, é ver gente que tenta lucrar com os maus momentos de muitos que vão sofrendo com a crise.

Esquecendo a minha formação jurídica (que me perdoem os meus Mestres, nomeadamente os Profs. Costa Andrade e Figueiredo Dias) os burlões do costume – os que vão a aldeias e lugares remotos vigarizando idosos indefesos – tratavam-se com a velha sova nos postos da GNR. Infelizmente, Louçã e seus seguidores, como venho dizendo e escrevendo, puseram a coisa exclusivamente em termos de abuso policial e deixaram-nos à mercê de leis penais que nem no Céu serviam para pôr na ordem os anjos…

Já a crescente vaga de furtos em residências, que trouxe amargas novidades, por exemplo, à pacatez coimbrã, pede confiança na PSP e na PJ e, sobretudo, mais meios e encorajamento aos nossos profissionais que, visto o que lhes pagamos e o trabalho apresentado, são mesmo muito bons!

O que mais me apoquenta, contudo, é, entre outros fenómenos, o verdadeiro descontrolo em que andam esses poleiros de abutres que são as casas que compram ouro, jóias, relógios, computadores portáteis e afins em segunda mão.

Bem li no rodapé de um canal noticioso que a Ministra da Justiça – a meu ver, um dos mais brilhantes e destacados membros do Conselho de Ministros, a par do seu colega da Administração Interna – tenciona por ordem neste lamaçal que é pornográfico, eticamente repugnante e de legalidade dúbia.

Pornográfico porque acompanhado de publicidade espampanante em cartazes e montras. Não bastava a necessidade genuína de alguns portugueses se desfazerem de bens pessoais, ainda anda esta gente a angariar miséria. Pior do que isto só anúncios que vi, por exemplo, na Suazilândia, apelando ao pagamento faseado e antecipado do funeral.

Eticamente repugnante porque sabemos bem que este tipo de negócios – vejam-se, a título de amostra, as realidades dos EUA e do Brasil – é um despudorado apelo aos furtos e roubos. Não é preciso decorar os episódios do CSI, Lei e Ordem ou Mentes Criminosas para chegar à evidente conclusão de que havendo receptadores há vendedores, e de que nem todos são os legítimos proprietários dos bens vendidos.

Com o que chegamos à legalidade dúbia; a mais de não precisar das décadas que já levo de vida para perceber que a facturação destas empresas deve ser, na sua maioria, muito criativa e poupada, também não preciso do curso tirado em Coimbra para adivinhar que a proveniência dos bens, em muitos casos, deve ser tão analisada como o crescimento da comunidade de formigas nos jardins públicos do Benim!...

Eu próprio não sei bem onde pode chegar um artigo destes, mas do desabafo já ninguém os livra…

O que é, o que deve ser e o que quer ser o Sr. Presidente

Em Janeiro do ano passado fiquei satisfeita com a reeleição de Cavaco para a presidência da nossa república. Esta satisfação deveu-se a três pontos essenciais:
Compreender que os candidatos colocados à esquerda do PSD não se apresentariam como o garante da coesão social, mas sim como a voz do descontentamento face às medidas adicionais de contenção orçamental dos PECs apresentados sucessivamente pelo governo socialista. Apesar de discordar com as opções do PS acredito que o presidente se deve demitir de provocar uma discussão mais apaixonada e portanto menos realista quanto à função governativa;
Acreditar que um presidente com experiência governativa de grande alcance (nenhum dos restantes apresentava qualquer função que merecesse realce) teria uma melhor preparação para 1) compreender o alcance das medidas de carácter económico e as dinâmicas daí decorrentes; 2) transmitir as suas opiniões, reservas e observações e contribuir para a fiscalização dos executivos considerando em primeiro lugar o bem nacional;
Finalmente, e em linha com a primeira razão exposta, percepcionar em Cavaco Silva um forte sentido de estado e rectidão de princípios que serviriam a nação tanto nas representações junto de actores internacionais como na transmissão de ideias de esforço, dedicação e honra aos seus concidadãos, que são preciosos na manutenção da coesão social portuguesa.

Sucede que ao longo dos meses do primeiro e segundo mandatos Cavaco demonstrou alguma inconsistência na definição das suas prioridades. Recordo que anunciou uma comunicação aos portugueses em pleno mês de Agosto, que todos aguardaram com expectativa, sabendo depois tratar-se de uma questão de inconstitucionalidade na definição do estatuto dos Açores, tendo havido perigo na sobreposição de poderes regional e de soberania; recordo também que deixou escapar através da sua assessoria a suspeita de haver toupeiras ou escutas ilegais que beneficiariam o governo Sócrates (já as relações institucionais tinham azedado depois da lua-de-mel dos primeiros 2 anos de convivência democrática). Sobre o primeiro, é ao sentido de estado a que devemos reconhecer esta preocupação transmitida pelo presidente; sobre o segundo, para além de que para o cidadão português a casa civil da presidência se assemelha ao quartel-general de maior importância em território nacional - no sentido figurado, por norma um cidadão não deve fazer acusações ou qualquer insinuação sobre um terceiro. Tendo ainda a responsabilidade de ser a voz do conjunto dos 10 milhões que cá andam, é perceptível a opinião que tenho sobre este assunto.

A determinada altura, e aquando da aprovação do casamento homossexual em Portugal, volta a dirigir-se aos portugueses, com uma expressa necessidade de justificar o não veto ao projecto-lei ao qual é "pessoalmente contra" dizendo que outras questões mais prementes se colocavam no país. Nesta questão não me quero alongar dado que no assunto tem uma complexidade que merece maior reflexão. Mas gostaria de deixar duas notas: a) a constituição de família é pedra basilar nos processos de socialização primária e um dos factores de maior importância da criação da nossa identidade, sendo portanto uma das questões mais importantes a debater no país. A economia é composta por ciclos, enquanto as alterações culturais são permanentes; b) pelo menos 70% do eleitorado que lhe deu o voto nas eleições presidenciais a que se apresentou é tendencialmente conservador.

Algumas semanas antes do início da campanha para as legislativas de 2011, num dos seus menos ortodoxos discursos que fez na posição que ainda ocupa, instigou os portugueses a "sair à rua". Claro que a situação em que o partido socialista colocou o país (entre o pântano de Guterres e a fantasia socrática) é propícia a que os cidadãos se sintam defraudados, mas não compete ao Sr. Presidente apelar aos homens e mulheres a que saiam à rua para contestar o que quer que seja escassos meses após um processo eleitoral (admitindo o fôlego que este discurso deu ao partido a que orgulhosamente pertenço).
Mais recentemente, e não obstante o facto de na qualidade de primeiro-ministro ter tido um dos maiores investimentos em obras públicas necessárias ao desenvolvimento do interior do país, esquecido na década de 80, tem-se colocado na posição de fiel de balança questionando a necessidade e o alcance das medidas propostas pelo governo de coligação - e que se assumem como o cumprimento de objectivos assinados com o conjunto de credores internacionais. Tem-se esforçado por demonstrar compreensão quanto às dificuldades vividas pela classe média, paralelando situações de privação com a sua situação pessoal (uma reforma de €10 000) o que naturalmente ainda não foi digerido pelos portugueses. Mais acrescento, e é este o ponto essencial desta reflexão, que os portugueses têm consciência da dimensão da sua pátria e não precisam de um Chefe de Estado que esbanje compaixão mal-medida. O que nós precisamos é de um Chefe de Estado que nos relembre a cada dia a garra que os filhos de Viriato sempre demonstraram, que nos prove ser capaz de assegurar uma coesão nacional baseada nos princípios da honra, do trabalho e da força que a sociedade civil transporta, que nos relembre de vez em quando da posição histórica de Portugal no Mundo e que invista na promoção da solidariedade entre todos nós. É esta a função do Sr. Presidente no momento actual na nossa república. E julgo que é isto que os seus antecessores históricos esperam também de si. Seria esta a posição de um Rei, consciente da identidade e da força do país mais antigo da Europa.