sábado, 30 de abril de 2005

Passo atrás

Há coisas que não me parece que aconteçam por acaso.
Dois bons exemplos disso mesmo são as vitórias de Luís Marques Mendes e de José Ribeiro e Castro, nos respectivos congressos.
Eu que até me deixei embalar pela possibilidade de anteciparmos a chegada da política mediática, faço mea culpa e reconheço que não temos na sociedade, em geral, e na classe política, em particular, lastro ético e cultural que nos permita sustentar uma forma de comunicação mais apelativa, sem que com isso percamos a noção dos valores que devem orientar a política (a título de exemplo, saliento futuras "peças de antiquário" como a honra, a abnegação, a generosidade, a honestidade, a frontalidade, e tantas outras relíquias que, de quando em vez, em grupo ou separadas, lá vão sendo pisadas por algumas das nossas vedetas). Não culpo os nomes mais sonantes, a não ser em momentos, a existirem, em que não souberam depurar as cortes.
Creio que o centro e a direita quiseram buscar refúgio em fórmulas mais clássicas, dando um passo atrás na forma, assim procurando provar que a substância não foi esquecida.
O problema de modernizar o centro e a direita passará sempre pela reserva de propriedade que a extrema-esquerda, a esquerda e muitos jornalistas julgam poder fazer do conceito de modernidade, mormente nos planos da comunicação e da cultura.
E note-se que mesmo José Sócrates, homem de esquerda, procede com cautela e, mesmo assim, é alvo de juízos do bas-fond jornalístico que o tentam ligar à impreparação.
Tenho medo é que o meu PSD nem sequer pense no assunto...

segunda-feira, 18 de abril de 2005

Década e tal

A temática da limitação de mandatos é fulcral para o rejuvenescimento da nossa política e o combate ao "vício" que advém do lugar cativo.
E se, por um lado, o argumento do PS, a favor de apenas mais um mandato para quem já tenha cumprido os três mandatos previstos no diploma como máximo, me parece válido, sob pena de os resultados só se verem daqui a mais de uma década, por outro lado, penso que a sensibilidade deve imperar.
Não é fácil, quando se é sucessivamente escolhido pelos eleitores, em sufrágio livre, explicar por que é que não se pode continuar uma obra apreciada.
Como em todos os casos em que há princípios conflituantes deve procurar-se sopesar os valores, longe da mera táctica partidária.
Mais uma vez, o compromisso é desejável e imperioso (o diploma carece de 2/3 no Parlamento), e poderia bem passar ou pelo alargamento da possibilidade de recandidatura dos actuais titulares (2 mandatos, por exemplo) ou mesmo pela extensão da limitação aos deputados, já que, não obstante formarem um orgão colegial, também devem ser renovados (ou não é essa também uma das vantagens dos círculos uninominais?!).

A boa decisão

A escolha de Luís Marques Guedes para líder do grupo parlamentar do PSD é um acto acertado.
Marques Guedes tem o que faz falta para a missão: conhecimento da vida parlamentar, experiência de governo e de gestão autárquica, seriedade e dedicação ao Partido e, logo, a Portugal.
Chegou a vez dele e o balanço será, por certo, positivo, mesmo depois de olhado o desempenho (descontando assim as pessoas, comuns na vida e na política, que têm opiniões negativas ou positivas consoante pessoa-alvo esteja fora ou dentro dos tops).
Eu que trabalhei com ele, ponho as mãos no fogo.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

A esquerda lava mais branco

O protesto é sempre legítimo, em democracia.
Porém, "lavagem ao cérebro" de estudantes do básico e do secundário já me parece abuso.
Vem isto a propósito de ter visto as entrevistas que fizeram, hoje pela manhã, a um jovem (salvo erro, na Amadora) e a uma jovem (no Saldanha) que, a mais dos sintomáticos adereços (ele de lencinho "à Arafat" ao pescoço, e ela de boina/chapéu a lembrar Che), tinham a cassete (talvez o mp3, para modernizarmos o formato) bem carregado. Se não, vejamos:

1 - "contra os exames no 9º ano, porque resumem a uma prova 50% dos critérios, deixando para 3 anos de estudos igual medida".
A meu ver, o problema em Portugal é mesmo este; não gostamos que nos responsabilizem, nem que nos avaliem em condições de igualdade. No País em que, infelizmente, a "cunha" ainda é decisiva, entra-se na adolescência com o receio alheio de nos traumatizar e de nos expor às adversidades. Depois, é ver-nos tombar na competição global que, ignorantemente (dirão os que encomendam o sermão aos teenagers), não lê pela mesma cartilha...

2 - "contra o ranking ou avaliação das escolas, pois cava o fosso entre as boas e as más, as dos ricos e as dos pobres".
O problema é que, actualmente, essa discriminação existe e não é assumida. Nem sequer se conheciam, antes do diploma (em que colaborei com gosto), as carências de cada escola.
Ao mesmo tempo que se potencia a liberdade de escolha dos cidadãos e a autonomia de projectos educativos, deve aproveitar-se esta avaliação para premiar o mérito - mais valia assumirem que preferem disfarçar a mediocridade, baixando o nível geral (eis o porquê do medo de exames) - e ajudar as escolas que precisem.

3 - "contra a privatização do ensino". O Estado português investe mais do que muitos países civilizados em Educação, mas, como na Saúde, gasta mal.
Mais vale aumentar a ajuda aos que pouco ou nada têm, do que subsidiar totalmente a aprendizagem de quem possa pagar.
A nossa Constituição é retrógada em certos aspectos, já que o Estado deve assegurar - com ou sem privados - a oferta, mas não a totalidade dos custos.

Em suma, os deputados do BE e do PCP que digam algo com sentido, mas não obriguem os seus adeptos a decorar o que não podem justificar.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

Napoleão e o PSD

Napoleão dizia que "não há grandes homens para uma criada de quarto". Por isso, seria estranho que o PSD, que se atolou numa crise identitária que há muito não conhecia, tivesse um congresso apoteótico.
Creio que, no momento actual, Marques Mendes - homem de vasta experiência política e de inteligência táctica comprovada - é o homem para "levar a carta a Garcia", caso lhe não falhe a estratégia; ou seja, fica para provar a capacidade de imaginar o País de chegada para as suas propostas de partida.

quarta-feira, 6 de abril de 2005

João Paulo II

Sentir-me-ia rídiculo se pretendesse acrescentar algo, que não pessoal, ao muito que já foi (bem) escrito sobre a vida e obra de João Paulo II. Porém, sublinho o alcance político das suas intervenções (o Leste comunista bem o sentiu), o seu ecumenismo (Assis foi palco de um precioso encontro de fés), a sua permanente evangelização (África espelha-o) e o combate à perda ética dos nossos dias (não concordei com o Papa, por exemplo, em matéria de contracepção, mas creio que não só é essa a única via da Igreja, como é bom contraponto aos excessos de actuais). Foi um grande pontificado, em todos os sentidos.

Vamos ao circo

Não sou um adepto da política clássica ou sequer do jornalismo conservador, mas não posso deixar de rejeitar o tom da “reportagem” que “O Independente” decidiu fazer sobre o Congresso da JSD, no Fundão.
Ninguém pede aos jornalistas que sejam apreciadores das juventudes partidárias, como também não defenderá defende que sejam organizações próximas da perfeição. Creio que, como todas as organizações políticas, podem ser ninhos de defeitos – se fomentarem o carreirismo e a dependência – ou escolas de virtudes – se prepararem os seus militantes para os deveres inerentes à participação cívica. No caso concreto da JSD estou à vontade para falar, pois, embora a tenha integrado durante mais de 15 anos, já prescrevi, não tendo interesse directo na demanda.
Voltando ao dito relato jornalístico, é evidente que não podia deixar de mencionar o lado pitoresco ou surreal do evento: um pedido de casamento e cartazes com inscrições menos compostas.
O que já parece menos digno é que o editor do jornal (citado pelo próprio jornalista, cuja qualidade pessoal e profissional não ouso, todavia, por em causa) tenha proferido pérolas como “só tens de sair à noite. Aquilo é só noite, álcool e sexo”. E ainda: “não precisas de seguir o congresso. Eu quero é que te divirtas.”.
Apesar de o jornalista ter reconhecido que o congresso tinha pouco ou nada do entretenimento prometido, não posso deixar de lamentar que eu e o editor vivamos em mundos diferentes. Fui a “n” congressos e em todos eles assisti a debate político, com maior ou menor qualidade, independentemente do programa de diversão que me parece normal, quando falamos de reuniões de jovens dos 14 aos 30 (máximo 32) anos.
Será, por exemplo, que um jornalista que se divirta depois de sair da redacção pode ver resumida à parte festiva a sua actividade profissional?!
O problema tem mais a ver com a falta de respeito com que algum jornalismo menoriza os fenómenos partidários, numa espécie de superioridade que se dispensa de cobrir os eventos e vai lá para se divertir. Maus ou bons, os partidos são a única forma de representação política da sociedade, tornando-se eficazes como meios de prevenir a anarquia ou o despotismo, sendo que não é depreciando-os “abaixo de cão” que os media terão mais liberdade de imprensa. Tenho-o dito e repito: o regime que possa suceder à democracia não trará mais liberdade, já que os limites da liberdade alheia já estão a ser bem forçados, nos dias de hoje.
Era, por isso mesmo, também escusada a legenda da fotografia da Ana Zita Gomes (ex-Secretária-Geral e actual Presidente da Mesa do Congresso), que diz “esta é gira”. Esta gracinha, combinada com a censura ao ex-Presidente por ter perdido o seu apoio – sendo que o reparo se baseia apenas na alegada beleza da Ana Zita – e com mais um bocado de jornalismo para o Pullitzer que afirma que “não é um mito urbano: as miúdas da JSD são muito mais giras que as da JS”, faz com que, ainda que involuntariamente, o “Independente” venha ajudar os sectores mais reaccionários dos partidos que ainda se guiam por esse género de abordagem em relação às mulheres que participam politicamente.
Eu que sou avesso a quotas, preferindo que as pessoas valham pelo mérito, sem olhar a idade, sexo, raça, credo, orientação sexual ou qualquer outro factor que não seja a vocação política, sinto que perco força nessa oposição, cada vez que um actor político (e os media são actores, actualmente) coloca em xeque uma mulher que foi eleita por mérito, e não por ser “gira”. Pergunta o jornalista se “pensam que a jota é estúpida?”, e eu, que até nem sou amigo íntimo da Ana Zita, respondo que, de facto, a JSD não foi estúpida, uma vez que, deixando de lado as opções pontuais, é um percurso que, a par de nomes como Ana Sofia Bettencourt, Lurdes Sousa, Filipa Guadalupe, Ana Janine, Vânia Neto, Sandra Pereira e Rosária Sardinha (que perdoem aquelas de quem me esqueço), foi feito por mérito e provas dadas.

E nem é que eu não tenha sentido de humor. Quem me conhece sabe que “antes pelo contrário”, mas se a intenção era apenas humorística, talvez valesse terem ido ao circo...

Nota: este post já foi previamente publicado na imprensa.

sexta-feira, 1 de abril de 2005

Quem vier por bem

Li a entrevista de António Borges ao "Público" e a sua moção ao congresso do PSD, e devo dizer que as reflexões, a elevação e o fair-play são inegáveis.
Uma visão reformista/social-democrata da economia e tolerância política alinhadas com a humildade de quem reconhece ter de "pedalar" um pouco mais no pelotão, antes de tentar um eventual sprint, são ingredientes que prometem contributos relevantes.
Se nunca se tornar (algo que seria involuntário, estou certo) num ariete de ambições inominadas, temos ainda um percurso a seguir com atenção.
E que falta fazem ao PSD o desapego e a reflexão intelectualmente fundada...

Tipos de craveira

Estou satisfeito. Este blog começa a gerar debate profundo.
Permitam-me que, agradecendo todas as mensagens e links amigos, sugira a leitura dos comentários aos posts sobre "fé e ciência" (29 de Março) e sobre a venda de medicamentos fora das farmácias (13 de Março).
O João Carlos Perdigão e o Ricardo Leite (dr. Milk, para os amigos) tecem considerações de nível.
Afinal, talvez a nossa política tenha saída...