sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Colapso e a escolha impossível

Que a civilização ocidental estava entre o maduro e o podre era coisa que já se sabia e que não é de hoje… Nas últimas décadas, criámos as raízes da nossa própria implosão, embora seja de dizer que não considero esta dado como adquirido, já que o ser humano tem tido a capacidade de se reinventar…

No fundo, a meu ver, tudo redunda na noção de conhecimento avançado orientado para o hedonismo; senão vejamos: teorias várias falam daquilo a que Sartori chamou “Homo Videns”, um retrocesso em relação ao Homo Sapiens causado pelo “embrutecimento” do ser humano ao ser exposto a doses massivas de televisão e, em geral, da cultura de passividade difundida pelos novos modos tecnológicos de comunicação. O que se pede ao moderno “consumidor” de informação e de entretenimento é que esteja sossegado, que não medite em demasia sobre o que vê e lê (algo que seria, aliás, impossível face à torrente de dados que nos entram “olhos adentro”), algo que, por seu turno, conduz, progressivamente, à perda da capacidade de abstracção (o tal extra que tornava o Homo Sapiens o zénite da evolução humana).

Por outro lado, o modo como nos banqueteamos trouxe doenças novas e, sobretudo, às novas gerações, que começam bem cedo a ter problemas como obesidade e diabetes.

Mais ainda, as novas formas de prazer, do desporto à intimidade, buscam, cada vez mais, os conceitos de “radical” e “extremo”. Seja saltar de pontes, descer de canoa rios com correntes fortes, trepar arranha-céus e escarpas, tornar a antiga traição num estímulo mutuamente encorajado ou, em geral, degenerar para práticas eticamente inaceitáveis em tempos não muito distantes (do consumo público de drogas à complacência com novas formas de servidão), tudo redunda na noção de prazer a qualquer custo, de satisfação absoluta, de direito avesso a dever, de não deixar para daqui a pouco o que pode acontecer já (esqueça a lentidão do “não deixar para amanhã o que podes fazer hoje), de ter mais do que a maçada de ser…

E com tudo isto deixámos o mercado ir longe demais e julgámos que compraríamos tudo e toda a gente (vem-me à cabeça a frase dos Deolinda: “que mundo tão parvo, onde para ser escravo é preciso estudar”). Sacrificámos às noções de eficácia e eficiência a capacidade de idealizar e a imprevisibilidade humanas (percebi-o bem quando, no fim de um processo criativo que fora um êxito, me disseram que faltou o ganho de “gestão do projecto”; no fundo é isso: o que era homem, hoje é projecto, algo que achava coutada da engenharia e da arquitectura). Hoje – e como o sabemos!... – levam-se países à falência e ao “lixo” com base em folhas de calcula, quando antigamente se morria por uma bandeira.

No fim de contas, a coisa nem andaria mal se víssemos alternativas… Todavia, olha-se para grande parte dos países islâmicos e confrontamo-nos com coisas que banimos há séculos. Viramo-nos para o Oriente e onde há crescimento, há ausência de certos direitos humanos e políticos de que não queremos abdicar.

Em suma, o problema é de civilização e não vejo classe política à sua altura.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ainda sobre... o "junk" português

Se dúvidas existissem sobre a possibilidade de contágio grego e português aos restantes países da Zona Euro, estas ficaram dissipadas a semana passada após o violentíssimo ataque europeu ao “junk” português imposto pela Moody’s.

Numa economia globalizada em que um espirro de qualquer um destes países pode expelir ventosidades com impacto suficiente para abanar a Europa e a sua moeda, a empreitada que é avaliar a capacidade dos Estados pagarem as suas dívidas, determinando assim os juros que irão pagar não faz muito sentido que seja entregue a agências “manhosas” e de uma só nacionalidade, que por acaso até tem a sua moeda em competição com a europeia.

Apesar do “junk”, os últimos dias até trouxeram alguns sinais positivos, e o principal será mesmo a redobrada atenção europeia às futuras notações da Moody’s, Fitch e Standart & Poors. Deixar esta gatunagem do rating à solta é perigoso e já nem será preciso ver o “Inside Job” para percebermos que estes senhores das terras do Tio Sam são o maior logro deste início do século XXI.

E não sou eu que o digo, é o próprio Senado norte-americano que em Abril tornou público um relatório onde dizem (tradução minha) que estas “figurinhas” andaram a “vender” ratings máximos (AAA) a produtos tóxicos dos amigos para conquistarem quota de mercado, desencadeando assim uma crise financeira que é (para já) a mais grave de uma geração.

Faz-me espécie que, mesmo depois do ocorrido em 2008, estas três “eminências” ainda sejam levadas a sério, controlando cerca de 95% do mercado financeiro mundial. Lembremo-nos do triplo (AAA) ao Lehman Brothers e à Islândia antes da falência, a título de exemplo.

Tampouco percebo o estado de excepção decretado pelo BCE após o “downgrade” da Moody’s a Portugal no que toca à exigência de um rating mínimo para emprestar dinheiro, o que já antes tinham feito à Grécia e à Irlanda! É que se estes senhores não servem para avaliar o rating dos periféricos porque hão-se servir para avaliar o dos países que constituem o núcleo central da Europa?

E confesso-vos a minha apreensão com “receitas rápidas”. Isto a propósito da chuva de apelos à criação de uma agência de notação europeia. Não estando em causa a sua necessidade, importa cuidar da sua imparcialidade e isenção, senão arriscamo-nos a ver políticos darem notações às suas próprias políticas e ainda pode vir a ser “pior a emenda que o soneto”.

Para já e nós por cá não nos inquietemos em demasia até porque só voltamos aos mercados em 2013. Até lá preocupemo-nos em cumprir o acordado com a Troika e porque não, perguntar à Europa se, em vez de atirar dinheiro aos aflitos, não estaria disponível para uma emissão de dívida conjunta, como forma de diminuir a importância deste tipo de agências.

Os alemães e os restantes países do núcleo central irão torcer o nariz, obviamente, porque os prejudica e favorece os periféricos, mas quem disse que o projecto europeu não tem os seus custos?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Guerra das divisas

Em 2008 tive oportunidade de defender uma moção temática em Congresso do PSD. Recordo-me com tanto carinho o apoio do Gonçalo Capitão minutos antes a dar dicas preciosas e da Dulce a tirar fotos guapíssimas de um momento cuja preparação foi tão irracional que nem correu assim tão mal.

O ideal

Recordo-me especialmente neste momento, pois toda a lógica daquela moção W "Portugal Internacional" assentava numa premissa implícita: a federalização na Europa e consequente uniformização das leis nacionais, assentes numa Constituição Europeia em que o direito supranacional assume primazia nas relações inter-estaduais. Logo em 2008, e na discussão do Tratado de Lisboa, vieram os puritanos falar nos conceitos de soberania e auto-determinação como se fosse proposto amputar direitos adquiridos pelos seus cidadãos. A UE não soube mostrar-se como o caminho para a maior prosperidade de todos nós europeus e chutou para canto.

O contexto

Veio a crise do subprime e o abanão dos mercados. Veio dinheiro à barda para os Estados-membros. Vieram à tona as dificuldades de financiamento de algumas economias europeias depois de injectarem capital no seu sistema doméstico. Os desequilíbrios nas contas públicas. E a necessidade de agir.
Juntando a estes factos a crescente valorização do euro face ao dólar e uma questão que data de 2002 (a moeda de referência nos mercados) poder-se-ia prever que os EUA necessitariam de equilibrar o peso da sua divisa internacionalmente. Se a determinada altura lhes era favorável ter uma moeda em desvalorização para potenciar exportações, em algum momento a correcção deveria ser feita.

O rating

Em 2008 trabalhei na AIG, a seguradora que esteve em risco de falir. Até então, a sua cotação na Standart & Poors era de AAA+, baseada sobretudo em dois factores: os dividendos na participação de resultados e o facto de muitos milhões de americanos aí colocarem as suas poupanças. A ilusão da solidez. Pois não contava para a agência de rating o negócio de leasing de aviões (???) que a companhia detinha mal parado há meses e meses a fio nem os produtos estruturados vendidos na perspectiva de evolução positiva dos mercados ad aeternum...

O político

As lógicas continuam a ser as do jogo de bilhar, com cada estado a sacudir as suas responsabilidades. Li, não me recordo bem onde, algo que faz todo o sentido: aterrando um alien na Europa, qual o sentido a dar a um conjunto de países que embora numa união económica e monetária, nos dizem "Eu não sou igual à grécia", "sou muito melhor que portugal", "olha a itália, aqueles é que não querem trabalhar"...?
Quem se tem distinguido neste jogo do empurra é Sarkozy, que ameniza os ímpetos populista alemães e finlandeses e lança os motes: ignorar as agências de rating, pressionar os bancos europeus a alargar o prazo da dívida grega, manter a liderança do FMI no domínio europeu.
Quem tem desiludido, e muito é Durão Barroso. Grandes líderes afirmam-se na adversidade e este é o momento de fazer avançar a europa. Se as inseguranças são resultado da excelente relação mantida com a américa não podemos esquecer uma ou outra ideia centrais: os americanos não esperam pela europa na altura de negociar internacionalmente; o escoamento dos produtos europeus é feito no mercado interno e há uma grande margem de progressão para áfria e ásia; os mercados emergentes são os BRIC's; muitas das bases geoestratégicas americanas são gentilmente cedidas por países europeus; não era má ideia negociar bens energéticos em euros.

As referências

Este impasse europeu faz-me lembrar da inércia de Neville Chamberlain no início da primeira grande guerra. Tanto se poderia ter evitado não fosse a crença naîf de que o poderio militar alemão e as recorrentes referências ao aumento naval dos germânicos não passavam de orgulho bacoco.
Lembra também o funcionamento da ONU: actuação em palcos de guerra quando o genocídio já está garantido.

É altura de levantar a Velha Europa. É altura de largar o fato de burocrata mais que sensato (e cobarde) e avançar em força, a bem de todos nós cidadãos europeus. É altura de legislar horizontalmente, estabelecer metas comuns, ter uma política fiscal europeia, incutir a força de um bloco regional no novo mapa político mundial. É altura para nos deixarem de tomar por parvos. É altura de nos deixarmos de tretas e fazermos política a sério.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

No jobs for the boys

Esta mudança é necessária e pode significar uma viragem muito positiva no funcionamento da Administração. Oxalá o governo aproveite a sua legitimidade e resista à oposição partidária que a atitude implicará. Que não lhe falte a coragem (para não ser igual aos outros).

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Más notícias


Hoje em dia quase tenho receio de escutar noticiários. Um bom exemplo justificativo foi, numa destas manhãs, a escandalosa medida da agência de rating Moody’s que, coincidência do diabo, na véspera da contracção de um empréstimo por Portugal aumenta, desmesurada e acintosamente, o risco de incumprimentos por parte do nosso País.


A negociata é clara e creio que as declarações de Passos Coelho e Durão Barroso deveriam ter sido ainda mais duras: o que se passa é que, como ainda há gente (muita e muito rica) que dá ouvidos a estes vampiros das agências, subindo o juro cobrado a Portugal em função da nossa alegada falta de fiabilidade, ganham os amigalhaços especuladores que vivem disto. Que se dane o facto de se estar a atirar para o desemprego (mais juros é igual a mais dificuldades para o Estado, o que, por sua vez, vai levar a mais “tareia” sobre cada um de nós)! Pouco importa a falência de centenas de empresas! E que ninguém sinta remorsos por emporcalhar indevidamente o nome de uma Nação a caminho dos 900 anos de independência!... O que é relevante é que estas sanguessugas possam alimentar os parasitas especuladores que, por seu turno, gastarão boas maquias nestes Deus ex machina do rating.


Eu, que não sou ninguém, bem ando a escrever (aqui e noutras paragens) e a dizer (quando tinha actividade partidária), há anos, que estamos a deixar o mercado ir longe demais! O que faz de mim um social-democrata ou um reformista é precisamente o facto de acreditar no mercado temperado pelo papel regulador do Estado. Ora, numa economia globalizada será às instituições internacionais que cumprirá preservar algum poder e não deixar andar a matilha raivosa à solta.


Mais me choca o que se passa se pensar que este Governo tem agido de modo a conter a gula do Estado, pedindo, ao mesmo passo, sacrifícios adicionais e graúdos aos portugueses. Acresce que o próprio Povo Português tem dado uma lição de enorme compreensão e civismo, não se assistindo aos tumultos da Grécia e de Espanha, ou tão pouco aos de tantas outras cidades de outros países europeus, onde se vê violência a cada medida mais penalizadora.


Não nos iludamos: o que está em perigo não é só o futuro de países como Portugal ou sequer da União Europeia!... Se ninguém puser travão a esta sangria provocada pela especulação, o que as pessoas começarão a questionar (compreensivelmente) será a própria validade do regime democrático. Já tivemos na Europa os demagogos que hoje criticamos na América Latina, no Médio Oriente e na Ásia; a continuarmos assim, um dia destes voltaremos ao tema…


Por cá, convinha que Seguro e Assis não pusessem a campanha do PS à frente de Portugal, pois criticas ao imposto extraordinário como as que fizeram são gasolina no fogo. Talvez seja de deixarem o circo para extrema-esquerda, que é boa nisso.

O poder do dinheiro

Uns vão para deputado (Doc. Milk), outros tornam-se tubarões da indústria e do comércio... Veja por que é que o Lodo podia ser um blogue rico!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Passos seguros

Entrando no tema, tem o título não a ver com o próximo Secretário-Geral do PS (parece-me seguro que seja Seguro), mas sim com os primeiros passos de Passos (Coelho) no Governo e com as suas opções políticas.

Desde logo, louva-se o recato com que se construí a aliança com o CDS e com que foi elencado o novo executivo, sempre comunicado em primeira mão ao Presidente da República.

Louvo ainda a escolha de Assunção Esteves para Presidente da Assembleia da República, embora não pelo simples facto de se tratar de uma mulher; quando me opus ao sistema de quotas, de cujo mérito ainda duvido, foi por entender que a competência deve ser premiada sem olhar a raça, sexo ou credo. Elogio a sua eleição por se tratar de uma política séria e de uma jurista brilhante.

Em terceiro lugar, creio que Passos Coelho soube combinar a inclusão de membros partidários com independentes, numa mistura de sensibilidade política com mais-valia técnica. Designadamente, entendo que “posicionou bem no terreno” os elementos mais políticos, com destaque para o papel coordenador de Miguel Relvas, alma da máquina que levou Passos Coelho à presidência do PSD, primeiro, e do Governo, depois.

Dito isto, paro a marcha da prosa para uma ressalva: pode ser perigoso o elogio exacerbado dos independentes. Certo que é bom ter gente consciente da “vida real”, mas políticos foram, são e serão precisos para uma orientação estratégica e ideológica. Nefasto, como alertam vários estudiosos, seria o “governo dos técnicos”. Espero, por isso, que se não cavalgue a onda da demagogia tanto neste aspecto, como em atoardas menores como a de um alegado excesso de secretários de Estado. A dimensão das reivindicações a um Estado (ainda) Providência obrigam a cobrir vários pelouros, sendo que a diminuição do número de ministros teria sempre que ser compensada.

Verei com atenção particular o que ocorre em duas secretarias de estado: em primeiro lugar, a da Cultura, que deixando de ser ministério ficou, e bem, sobre orientação do Primeiro-Ministro, tal como sucedeu com Santana Lopes e Cavaco Silva. Como a Cultura (erradamente, a meu ver) é alvo fácil de cortes em tempos de crise, espero que a independência de Francisco José Viegas não se traduza em menor poder reivindicativo. Dada a sensibilidade de Passos Coelho creio que tal não acontecerá.

Depois, vejo com entusiasmo a nomeação de Paulo Júlio para Secretário de Estado da Administração Local. Como dirigente partidário e autarca sempre foi um político de mão cheia, pelo que tenho poucas dúvidas sobre o seu sucesso futuro. A ver vamos…

Pedro Pinto e Roger Federer