- Houve boas prestações alheias, mas, com mais ou menos votos, o congresso foi ganho por Manuela Ferreira Leite. É interessante que seja mulher e que não tenha usado quotas como biombo e é certo que devolverá respeitabilidade e coerência discursiva ao PSD; não se espera ouvir à noite coisa diversa da que se escutou pela matina...
- Triunfou a política classique, no estilo como no conteúdo. No primeiro caso, contrariando o que aconselha o mediatismo actual e o apelo popular a uma paleta ampla de emoções, vamos ter palavras a contado e em tom firme, mas com registo "certinho"; seremos uma mistura de sábios professores do País e bons alunos da Europa. No segundo caso (o do conteúdo), repetiremos, com alguns retoques ditados pela conjuntura, políticas que, desde o 25 de Abril, perpassam PSD e PS e que visam colar os cacos de um Estado Social cada vez mais estilhaçado por uma globalização que amarfanha economias "piquenas" (se me permitem adoptar o jargão "manuelino"); ou seja, não arriscaremos "grandes saltos em frente" (sem querer ser mau ou, no caso, Mao).
- Pedro Passos Coelho certo no verbo, imperial na postura e frio na hora de "trinchar o peru" (leia-se, fazer listas; "negócio" a que ninguém escapa), cortou orelhas e rabo e teve direito a volta à arena... Ceteris paribus (o que vale por dizer "se nada de anormal suceder"...), temos presidente, a médio prazo. Aqui sim há soluções mais atrevidas e, como é bom de ver, risco acrescido, pois não se sabe o que darão as propostas avançadas. Pior do que estamos é impossível?! Paguemos para ver...
- Pedro Santana Lopes - que continua sem condecoração presidencial - ensaiou mais um discurso com a emoção e a sedução que só ele tem. Com o corpo cravado de chagas de derrotas recentes, ainda assim, saíu por cima no cházinho que serviu ao grupo social-democrata ora reinante. Todavia, continua rodeado por 1/2 dúzia de fiéis, entre os quais 50% serão rémoras à boleia do tubarão... Quero com isto dizer que os meros 5 delegados que elegeu para o conselho nacional resultam da fuga dos seus apoiantes de Braga e Aveiro que, vendo listas à vista em 2009, o deixaram só, assim revelando a fibra que une a sua ética (não vale rir por eu ter utilizado esta palavra!!!).
- O mesmo dr. Santana é, provavelmente, o último dos franco-atiradores. Os resultados práticos das "directas" (que, confesso, não antecipei cabalmente, quando, em tese, as defendi) implicam que só a integração em blocos (aceitando o chicote do capataz de cada grupo) e uma trajectória interna ao estilo Via Sacra (quase que deixa de ser bem visto existir na sociedade e só depois optar pela militância) permitirão desempenhar tarefas de relevo no politburo laranja. O destino das listas indy prova-o, embora se desconte o efeito devastador da existência de 3 grandes blocos de simpatia e a má fé de muitos que sempre mandam peões minar as formações alternativas ou se afoitam em esmifrar pessoalmente o que estas podem oferecer, mandando os fiéis em peregrinação para outras letras do boletim de voto (não vi nada, mas também não sou cego...). Mas mesmo estas listas, cedo ou tarde, visam lugar no "conselho de administração" de uma qualquer S.A.P. (Sociedade Anónima Política), sendo que os partidos são uma espécie de S.G.P.S.* em relação às tribos que se formam.
- Por fim, a questão das mulheres, já aqui glosada. Estou farto de paninhos quentes! Se já era contra as quotas, alguém tem, agora, que me resolver um dilema: ou as pessoas que fizeram as inúmeras listas para os órgãos nacionais desprezam o princípio que a própria Lei já acolheu ou o preenchimento dos famigerados assentos reservados para as diversas eleições vindouras será fictício, já que, pelos vistos, não há no PSD mulheres em número suficiente para polvilhar 55 lugares no Conselho Nacional e mais dúzia e meia (ou coisa que o valha) nos demais órgãos... Que faremos para encontrar as centenas de que careceremos em 2009?!... A meu ver o que falta é coragem para censurar as quotas ou vergonha na cara pelo seu incumprimento, caso contrário. Acresce que acho sociologicamente deliciosa a comparação que, na política, pode fazer-se entre a solidariedade que há entre homens e a que há (?!) entre mulheres; e mais não digo, pois levo a mal se acharem que sou machista.
- "Tecnicamente", os congressos passaram de festas (às vezes excessivas) a missas do sétimo dia, já que se começa, de imediato, a tirar as medidas à liderança entretanto eleita e a apostar na próxima. Prova disso, creio eu, é o número de inscrições para falar; já lá vão os dias em que se discutia política até às tantas da madrugada... Agora, é assistir e aplaudir.
Ou é isto ou eu é que já não tenho jeitinho nenhum para a política...
* Sociedade Gestora de Participações Sociais.
3 comentários:
Estivemos no mesmo congresso? Subscrevo praticamente tudo o que dizes, mas... Manuela Ferreira Leite ganhou o congresso?!
Com o devido respeito pela nossa Presidente e pelo teu (sempre) perspicaz olhar sobre a realidade social-democrata, não creio que assim tenha sido.
No primeiro dia MFL discursou para meia dúzia e limitou-se apontar (e bem) o dedo sem, no entanto (e mal), apresentar soluções.
No segundo dia só subiu ao palco para apresentar a sua lista, com tom de enfado, sublinhe-se.
No terceiro e último dia, aguardava-se um discurso que galvanizasse os congressistas e que fosse um pouco mais além da mera contestação ao rumo socrático que o país leva. No entanto, não surpreendeu: pese embora seja inquestionável que todo o congresso não hesitou em aplaudi-la, o encerramento mais parecia a tal “missa do sétimo dia”.
Consideras que há nisto algum vestígio de vitória?
E mesmo no que respeita à coerência no discurso, será bem assim? É oportuno e certeiro que conteste o excesso de obras megalómanas que o governo de Sócrates prevê executar na recta final deste mandato, mas... eu não ia por aí...
Se a memória não lhe falhar, o último Governo de que fez parte não hesitou em aprovar projectos idênticos e, reconheça-se que à data o país já estava de tanga...
Já percebi que não gostas da Drª Manuela...
Todavia, concordo com a pobreza dos discursos, mas sejamos pragmáticos: 68% (salvo erro) para a CPN; 5 vs 4 no CJN e 20 vs 16 para o Conselho Nacional. E mesmo aqui, destacado o brilharete do Pedro Passos Coelho (que apoiei, como sabes), nem que fosse 20 vs 19 seria uma vitória. Em Coimbra e Cascais ganha quem tem mais e era só disso que falava. E em Alcobaça?! ;)
Gosto sim, mas confesso que esperava que - não abdicando do seu estilo muito próprio - a sua liderança e os discípulos com que conta viessem imprimir uma outra tónica ao partido. Ao invés, o que pude constatar em Guimarães é que o partido mantém-se tão cinzento quanto conformado e que o congresso foi, salvo duas ou três excepções, de um enorme tédio. Assim, não vamos lá...
Quanto ao resto, é certo que MFL ganhou nas urnas (quer nas das directas, quer nas do congresso), mas quem ganhou o congresso foi PPC: pelo discurso possante, pela atitude destemida e coerente com aquilo que defendeu na campanha, pela tranquilidade (ao contrário dos demais 'perdedores') e sobretudo, pela sua inegável hombridade.
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