Lia-se num qualquer diário de ontem qualquer coisa como: "Alunos consideraram fácil o exame nacional de português". Curiosa que sou, fui espreitar o site do Ministério da Educação (GAVE) dedicado aos exames nacionais e, de facto, deparei-me com uma prova bastante acessível.
Para começar, os textos escolhidos para aquela foram analisados nas aulas e os alunos sabiam-no de antemão, pelo que se restringiram a essa frutífera e pedagógica estratégia de decorar o manual. Ainda assim, houve a gentileza de colocar notas de rodapé com definições - que aquele português dos textos é buéda erudito..! E, para rematar, havia um grupo com respostas de escolha múltipla - parece que hoje em dia é no jogo das cruzinhas, qual totobola, que se exercita o português..!
Naquilo que se supõe ser um instrumento de avaliação, nem vestígios de desafio intelectual, nem uma ponta de estímulo ao raciocínio e espontânea aplicação dos conhecimentos adquiridos pelo aluno.
Soa, de facto, a facilitismo. E não sou apenas eu que o digo: peritos, associações ligadas ao Ensino e os próprios professores consideram o mesmo e apontam o dedo à Sra. Ministra, mãe destas estratégias que só servem para ajudar as estatísticas a projectar o país para os patamares onde se encontram os grandes da Europa, numa espécie de autoconvencimento - um bocadinho como no futebol. Aparentemente até somos bons, mas quando chega a hora da verdade...
É precisamente isso que temo em relação às novas gerações. Quando as classificações saírem, os alunos dos exames 'fáceis' darão pulos de alegria, as boas notas ajudarão as estatísticas e a Ministra festejará o sucesso das suas medidas.
Não obstante, todos sabemos que embalar estes jovens e dar-lhes palmadinhas nas costas não se coaduna com um ensino de excelência e em nada contribui para o seu futuro. Todos sabemos que um sistema facilitista implica tornar as próximas gerações mais medíocres que as actuais.
Estamos a promover uma geração que mais tarde não saberá lidar com a realidade, que habituada ao fácil não vai saber superar o difícil. Uma geração que hoje se vai safando mas que mais tarde se vai ver à rasca. Na verdade, reconheçamos: à mercê do facilitismo, "caminhamos para o abismo da ignorância", como bem escreve Carlos Fiolhais na edição de hoje do Público.
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