Tentar pensar sobre futebol é um exercício que convoca Dali, Ernst, Bresson, Miró e outros artistas para o plantel, dado o surrealismo do exercício, quando não mesmo um reforço de origem suprematista como Kandinsky…
Vinte e dois tipos atrás de uma bola e a malta à espera de alguém que a meta entre três cilindros de ferro.
Jogadores que passam mais moda do que bolas e cujo cabelo envergonha, por manifesta modéstia, a minha árvore de Natal.
Uma equipa de quatro sujeitos que, decida o que decidir, recebe honras vitalícias da ordem da gatunagem.
E milhares de pessoas a pagar muitos euros por noventa minutos de duração de uma espécie de espectáculo e metade de jogo realmente jogado.
Ordenados que não consigo ler por terem tantos algarismos, mas que pagariam a viagem ao resto do Mundo que não conheço.
Dirigentes sem graça (sim, pode ser o meu caso, se quiserem…) e suspeitas à escolha do freguês.
Treinadores que mandam atravessar o autocarro em frente à baliza, para somarem um de três pontos e conservarem a cabeça acima do pescoço.
Milhões em material promocional (vulgo, merchandising).
Meia dúzia de fintas engraçadas e quatro dezenas de faltas feias e desleais.
Pancadaria quase tribal por causa de não se apoiar os onze que vestem de uma cor e se preferir os que vestem de outra.
Canais televisivos para isto e estações de rádio para mais disto.
Três jornais diários sobre o pontapé na bola e milhares de treinadores de bancada em canais que não eram bem para tratar do assunto.
Que raio! O futebol não faz muito sentido…
Mas eu adoro futebol!
Sigo a Académica nos jogos em Coimbra e fora de portas (escapa-me a Madeira porque o meu porquinho-mealheiro é anoréctico).
Não perco um suspiro da Selecção Nacional.
Adoro ver as Ligas portuguesa, espanhola, italiana e inglesa…
Já vi jogos de futebol em países como Albânia, Ucrânia, Rússia, Itália, Turquia e Grécia.
Fiz dezenas de colecções de cromos e perdoei com dificuldade à minha mãe e/ou à minha avó (a culpa não foi apurada, em sede de julgamento familiar) terem remetido para o lixo esses nacos de literatura ilustrada do mais alto coturno.
Definho nos tempos de veraneio, quando não há jogos.
Imagino a próxima alteração saída do banco de suplentes.
Tento perceber o desenho táctico da equipa, mesmo quando já andam todos aos papéis.
Vibro com as manifestações de solidariedade entre os tipos que defendem as minhas cores.
Aplaudo as jogadas do arco-da-velha.
Irrito-me com árbitros incompetentes ou “ladrões”.
Chateio-me se a Catarina (compincha de copo e de cruz e amiga de sempre) se atrasa.
Aborreço-me quando o Mário João (idem) começa armado em segundo doutorado português em futebol, logo após o ora jubilado Gabriel Alves.
É uma seca quando chove.
É um balde de água fria, quando torramos ao Sol e perdemos.
É lindo vibrar com os golos.
Adoro futebol! Temos que ser campeões da Europa e quero ver a Académica no Jamor!
2 comentários:
É extraordinário que assumindo o teu 'quasi' fanatismo pela coisa, consigas também ver o lado menos cor-de-rosa do desporto rei...
Só me decepcionou não teres feito a mais leve menção a essa instituição centenária e 'gloriosa' que é o SLB!
A Briosa no Jamor... Isso é que era.
Já agora, esqueceste-te de mencionar que também já viste pelo menos um jogo de futebol em Espanha, numa "estrutura muito bem montada, especificamente pensada para a prática do futebol":)))
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