Se a eleição de Manuela Ferreira Leite no passado dia 31 de Maio se tornou histórica por, pela primeira vez, conduzir à liderança de um (grande) partido português uma mulher, a escassez da representação feminina nos órgãos ontem eleitos representa um claro retrocesso dessa conquista.
Num total de 88 membros eleitos para os órgãos do partido, o número de mulheres neles presentes é de 8. Fiz as contas aos mandatos dos últimos três líderes e constatei que foi no reinado de Marques Mendes que houve o maior número de mulheres nos órgãos do partido: 14. Segue-se-lhe Durão Barroso com 11 e, em último, Menezes, com apenas 7. O último e o actual mandato figuram, deste modo, como aqueles que a priori menos apreço revelam pelo cunho feminino no seio do partido.
Eu, que rejeito bacocos discursos feministas e que sou contra o sistema de quotas, creio no entanto que - atentando a estes números - é tempo de nos debruçarmos seriamente sobre eles e perceber o porquê de não haver espaço para a intervenção feminina no seio de um partido democrata. É que enquanto mulher e enquanto social-democrata preocupa-me - por ora, não a título pessoal, dado que sou novata - o futuro das mulheres social-democratas e do seu livre e desobstruído acesso aos centros de decisão do partido.
De cada vez que assisto a um congresso laranja, custa-me a digerir a presença masculina em massa nos principais cargos políticos e pergunto-me porque é que elas não chegam lá. Muitas são profissionais de reconhecido êxito, outras lideram estruturas partidárias locais, algumas são activistas sociais, também as há autarcas, marcam cada vez mais presença nos congressos, apresentam moções, discursam sem receios e pretensiosismos... e, ainda assim, chegada a hora de reunir as hostes, poucas são convocadas e só meia dúzia delas alcançam lugares onde possam marcar a diferença. Será porque são menos dadas a 'negociatas'?!
Certo é que os entraves de ordem sociológica hoje já não me parecem ser os mais relevantes, ousando dizer que já ninguém questiona a capacidade e o valor de uma pessoa em razão do género. Parece-me então que os maiores entraves virão da teia partidária, do sinuoso (e, reconheça-se, por vezes pouco escrupuloso) percurso que há que fazer para poder marcar presença nos centros de decisão do partido.
E não, não é preciso criar estruturas internas reservadas a 'elas', imbecilidade que recentemente foi ponderada e aplaudida por algumas senhoras. Da mesma forma que não creio que seja com listas ao CN exclusivamente compostas por mulheres - como vergonhosamente ocorreu no Congresso de Torres Vedras - que as social-democratas conquistem respeito e visibilidade (muito menos lugares...) dentro da estrutura.
O que é imperioso é deixar abertas as portas à sua espontânea adesão e perceber o quão valoroso pode ser o contributo das mulheres no plano político-partidário. E não é preciso ir muito longe para constatar que já há muito quem o tenha percebido: basta pôr os olhos no PP espanhol, que também reuniu em congresso este fim de semana e no qual Rajoy, reconduzido, não hesitou em chamar mulheres para o coadjuvarem, integrando cargos de relevo como o é o de secretária-geral.
Num total de 88 membros eleitos para os órgãos do partido, o número de mulheres neles presentes é de 8. Fiz as contas aos mandatos dos últimos três líderes e constatei que foi no reinado de Marques Mendes que houve o maior número de mulheres nos órgãos do partido: 14. Segue-se-lhe Durão Barroso com 11 e, em último, Menezes, com apenas 7. O último e o actual mandato figuram, deste modo, como aqueles que a priori menos apreço revelam pelo cunho feminino no seio do partido.
Eu, que rejeito bacocos discursos feministas e que sou contra o sistema de quotas, creio no entanto que - atentando a estes números - é tempo de nos debruçarmos seriamente sobre eles e perceber o porquê de não haver espaço para a intervenção feminina no seio de um partido democrata. É que enquanto mulher e enquanto social-democrata preocupa-me - por ora, não a título pessoal, dado que sou novata - o futuro das mulheres social-democratas e do seu livre e desobstruído acesso aos centros de decisão do partido.
De cada vez que assisto a um congresso laranja, custa-me a digerir a presença masculina em massa nos principais cargos políticos e pergunto-me porque é que elas não chegam lá. Muitas são profissionais de reconhecido êxito, outras lideram estruturas partidárias locais, algumas são activistas sociais, também as há autarcas, marcam cada vez mais presença nos congressos, apresentam moções, discursam sem receios e pretensiosismos... e, ainda assim, chegada a hora de reunir as hostes, poucas são convocadas e só meia dúzia delas alcançam lugares onde possam marcar a diferença. Será porque são menos dadas a 'negociatas'?!
Certo é que os entraves de ordem sociológica hoje já não me parecem ser os mais relevantes, ousando dizer que já ninguém questiona a capacidade e o valor de uma pessoa em razão do género. Parece-me então que os maiores entraves virão da teia partidária, do sinuoso (e, reconheça-se, por vezes pouco escrupuloso) percurso que há que fazer para poder marcar presença nos centros de decisão do partido.
E não, não é preciso criar estruturas internas reservadas a 'elas', imbecilidade que recentemente foi ponderada e aplaudida por algumas senhoras. Da mesma forma que não creio que seja com listas ao CN exclusivamente compostas por mulheres - como vergonhosamente ocorreu no Congresso de Torres Vedras - que as social-democratas conquistem respeito e visibilidade (muito menos lugares...) dentro da estrutura.
O que é imperioso é deixar abertas as portas à sua espontânea adesão e perceber o quão valoroso pode ser o contributo das mulheres no plano político-partidário. E não é preciso ir muito longe para constatar que já há muito quem o tenha percebido: basta pôr os olhos no PP espanhol, que também reuniu em congresso este fim de semana e no qual Rajoy, reconduzido, não hesitou em chamar mulheres para o coadjuvarem, integrando cargos de relevo como o é o de secretária-geral.
2 comentários:
No plano teórico creio que você tem toda a razão.
A prática é ligeiramente diferente nalgumas coisas.
Desde logo porque sendo,de facto,muito discutivel a criação de uma estrutura de mulheres esta (entretando extinta) terá tido o mérito de pôr algumas coisas a mexer nas estruturas do partido.
E isso não sendo por si só suficiente tem o mérito de não ter permitido que tudo continuasse como estava.
A lista feminina de Torres Vedras entendo-a como uma forma muito irónica de denunciar a discriminação praticada quanto á presença das mulheres nos orgãos do partido.
Não é discriminando,neste caso os homens,que se resolve o problema da discriminação.
Mas,cara Dulce,uma coisa lhe garanto:se não forem as mulheres a dinamizarem a sua participação nos orgãos bem podem esperar sentadas por uma melhoria de situação.
E o facto de o partido ser liderado por uma mulher pode até,por irónico que pareça,vir a revelar-se contraproducente.
A ver vamos
Luís,
como podem as mulheres dinamizar a sua participação nos órgãos se, regra geral, encontram desde logo nas estruturas base do partido os mais diversos entraves? Por muitas provas que dêem de que têm capacidade e valor deparam-se quase sempre com os olhares de soslaio dos senhores que perpetuamente se instalam nas sedes do partido por esse país fora. Isso sucede da mesmíssima forma com a JSD, e neste caso, trate-se de homem ou mulher, não são levados a sério em razão da sua juventude.
Diz ainda o Luís que a tal estrutura de mulheres “pôs as coisas a mexer”. Com que resultados? É que do que se me afigura visível, o número de mulheres nos órgãos é exactamente o mesmo que no ‘reinado’ de LFM.
Quanto à lista feminina do penúltimo Congresso, não a tinha visto como forma de denúncia do tratamento das mulheres no palco partidário, mas antes como uma afronta à própria condição feminina. E não devo ter sido a única delegada a pensar desta forma, dado que tal lista só obteve 3 votos...
Enviar um comentário