sexta-feira, 20 de maio de 2005

De Karimov lavada

O que se passa no Usbequistão pode, à vista desarmada, parecer que nada tem a ver com o jardim à beira-mar plantado.Porém, como se diz na América, look closer...
Enquanto no Ocidente nos indignamos, e bem, com o morticínio ordenado pelo Presidente Karimov, esquecemos que foi a mesma emotividade romântica que nos fez esquecer de perguntar a George W. se havia pensado no pós-guerra, no Iraque.
Repito que nada justifica a desproporção da força que empregaram as forças oficiais uzbeques, mas o problema é que, embora nada pague o direito democrático de escolher, o Afeganistão e o Iraque podiam ter beneficiado de transições menos sangrentas.
Desde logo, no primeiro caso, não fosse a ideologia "Rambo" (veja-se a propaganda anti-soviética no terceiro filme da série) e os "estudantes de teologia" nunca teriam chegado a dizimar e oprimir milhares e milhares de pessoas.
Não aceito qualquer atropelo aos direitos humanos, mas sabemos que a sua violação é uma praga na política internacional, que é por natureza cínica. Dito isto, a verdade é que, sob este prisma, uma das poucas realizações aceitáveis da URSS foi mesmo a laicização da Ásia Central, impedindo que ali se instalassem regimes fundamentalistas.
É por isso que me pergunto se a onda de condenação do regime de Tashkent não seria mais útil aos próprios cidadãos usbeques se fosse direccionada para uma transição planeada e negociada para um regime mais democrático...

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