terça-feira, 30 de abril de 2013

Longe do fim do Mundo

Nos últimos dias, tenho recebido por várias vias a pergunta “está tudo bem por aí?”. Sensiblizado pelas inquirições, sigo frustrado por não poder escrever livremente sobre este e outros temas (voltaremos ao estilo antigo, quando as funções terminarem…)…

Porém, cumpre chancelar a primeira crónica enviada da terra de Bolívar, Chavez “y” outros, dizendo que as notícias sobre o país são manifestamente exageradas.

Convém, no entanto, encontrar o ponto de equilíbrio para que se não pense no paraíso quando falo na Venezuela. Assim sendo, cumpre começar por reconhecer que a sua capital é, efectivamente, uma das cidades mais violentas do Mundo; Maduro e Capriles – os candidatos que dividiram o eleitorado ao meio nas eleições presidenciais de 14 de Abril – reconheceram-no durante a campanha eleitoral, inclusive com marchas gigantescas em evocação do tema. O maior drama, a mais do número de mortes, é o dos sequestros, que nada têm de amador; falamos de uma “indústria” muito bem montada e organizada.

Dito isto, é também dever desdramatizar o assunto. É necessário viver numa redoma e nunca por o pé na rua?! De todo!... Sente-se até muito mais a vida de uma verdadeira cidade do que em paragens como, designadamente, Joanesburgo. É mais do que possível ir ao “temido” centro e visitar a Praça Bolívar, as casas onde nasceu e viveu o “Libertador”, a Catedral e, noutras zonas, os museus e parques de Caracas. Sublinho mesmo que, pelas descrições, nos últimos anos, abnegado tem sido o esforço das autoridades para tornar as áreas em causa transitáveis, ao menos durante o dia. Em abono da oposição se diga de igual modo – não subscreverei maniqueísmos – que o Estado que Henrique Capriles (o grande contendor de Chavez e Maduro) governou até há pouco (que inclui as zonas “nobres” de Caracas) está classificado como zona segura para se andar (literalmente falando), embora com o relativismo que o termo impõe nesta urbe.

Por outro lado, mesmo o período pré e pós-eleitoral não foi o “faroeste” que me pareceu retratado na terra de Camões (a minha, por sinal…). Claro que mortes e grupos armados “em campanha” não cabem num duelo entre PSD e PS… Todavia, também será impossível, hoje em dia, ver por aí marchas e comícios com centenas de milhares de pessoas, com o condimento extra de uma cortante e inconciliável fractura ideológica entre “socialismo do século XXI” e liberalismo (não sei se Capriles aceitaria a etiqueta, mas foi a que me pareceu mais adequada para o fato que usou…), e sem esquecer a elevada temperatura do sangue latino-americano.

Tudo isto, em suma, para dizer que este é um País que vale a pena para trabalhar e visitar, desde que o leitor tome consciência de que as suas “calles” são um “bocadinho” mais agitadas do que a nossa Rua Ferreira Borges ou qualquer avenida lisboeta e tome as providências adequadas, mormente no que toca à simplicidade na aparência e à renúncia a qualquer acto de heroísmo em caso de infortúnio.

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