quinta-feira, 2 de maio de 2013

O regresso do cavalo do inglês

Vejo o estóico exercício de amputação realizado pelo Conselho de Ministros e relembro a troca de mensagens de correio electrónico com um amigo que é membro do Governo, que à minha frase de felicitação respondia com um “isto está difícil”.

Não me passa pela cabeça duvidar do esforço que é pertencer a um governo que tem que combater uma crise que parece insuplantável e que, seguramente, o é a solo por Portugal.

Como já disse, creio que, à parte de um ou outro carreirista que consegue furar as malhas do mérito, as pessoas que hoje aceitam ir para funções de Estado são cidadãos que me merecem todo o respeito; estarão, seguramente, sujeitas à permanente insatisfação de grande parte dos concidadãos, não verão as coisas boas que fazem aplaudidas ou sequer com o devido destaque mediático, não enriquecerão com o ordenado que vão receber e, de certeza absoluta, vão envelhecer bem mais depressa. Claro está que, assim o creio, servir a Pátria é uma honra, mas esta honra vem sem honrarias e apenas - para os que são sérios – com “ferimentos de guerra” e com uma quase pornográfica renúncia à esfera privada.

Penso, em conformidade, que o muito vituperado Víctor Gaspar não estará em funções porque o ordenado é soberbo – como académico e consultor ganharia “n” vezes mais – ou porque aprecia o estrelato, posto o que teria que lhe ser diagnosticado um masoquismo de proporções patológicas.

Tudo isto para dizer que o que podemos discutir é a forma de tentar amortecer o impacto da crise, que, repito, não resolveremos com mais ou menos cortes dado o cariz internacional dos problemas.

Aqui chegados, devo dizer-vos que valia a pena que os três partidos com propostas realistas de governação (PSD, PS e CDS) procurassem mais entendimentos em nome de Portugal, até para que haja a mesma obrigação moral quando a alternância democrática chegar. A lógica de deixar a batata quente nas mãos de outrém sempre acabará por escaldar as nossas, sobretudo quando o forno que é a economia está para lá de quente…

O entendimento é tão mais importante quando me parecem de levar em conta avisos como os que escutei a um economista (Arroja, creio), dizendo que não poderia haver mais cortes sem abdicar de funções do Estado. Achando a ideia tétrica e um recuo civilizacional, relembro as palavras de um ilustre académico de Coimbra que, há meses, me dizia que “não conseguimos pagar esta dívida em menos de 30 anos”. Isto para não evocar as muito criticadas declarações de José Sócrates, quando afirmou que estas dívidas não eram para se pagar (veja-se a Grécia…); concordamos que o rei vai nú, mas criticamos quem o diz…

Há, por isso, que pôr travão na dieta para que não resulte em anorexia ou, dito de outra maneira, para que não acabemos como o cavalo do inglês, que morreu quando estava quase a aprender a deixar de comer, como escrevi, há anos.

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