sábado, 3 de agosto de 2013

Os cinco


Embora pareça uma evocação de Enid Blyton (saudades desses tempos…), falo-vos, hoje, sobre os cinco milhões (número estimado) de portugueses que residem fora de Portugal.

Com algum dever de reserva imposto pelas funções desempenhadas, começo pelo lado onomástico do fenómeno: se, antigamente, eram designados por “emigrantes” todos os portugueses que ganhavam a sua vida “lá fora” (“aqui fora”, digo eu), há aqueles que, hoje em dia, se abespinham com o estilo clássico, preferindo a designação pós-modernista de “portugueses residentes no estrangeiro”. Se pensarmos bem, faz até sentido em casos como os quadros das empresas que passam fora de portas tempo limitado (os famosos “expatriados”) e para aqueles que, tendo a nacionalidade, já nasceram fora do País.

Do que conheço, continuaria por destacar uma imensa virtude dos nossos concidadãos emigrados: demonstram, todos os dias, que nada se consegue sem imenso trabalho. Enquanto segue a polémica caseira sobre horas semanais para a função pública, por exemplo, na África do Sul era comum encontrar empresários portugueses a trabalhar às cinco da manhã, terminando apenas quando pudessem faze-lo. No caso dos exemplos de sucesso, que olhamos, por vezes, com uma pontinha de inveja, raros serão os percursos de vida que não estejam respaldados por momentos de privação e dúvida, e mesmo por noites ao relento.

Claro está, diga-se, que as nossas Comunidades estão longe de ser todas elas constituídas por exemplos de abastança – ideia que temos tendência a nutrir. Há casos de emergência social a que as autoridades portuguesas tentam acudir, com as limitações conhecidas de todos.

Em segundo lugar, creio ser de sublinhar a generosidade como traço forte de um qualquer retrato dos portugueses emigrados. Se é certo que alguns acumularam fortunas consideráveis, não é menos verdadeiro dizer-se que o que têm lhes pertence e assim poderia continuar a ser, legitimamente. Todavia, e apenas a título ilustrativo, basta dizer que em Joanesburgo e perto de Caracas existem dois enormes lares de terceira idade – qual deles o mais bem equipado – fundados e mantidos pela boa vontade das respectivas comunidades. Ademais, à parte das infra-estruturas, são diversas as ocasiões em que iniciativas destinadas a compatriotas carenciados ou em situações de emergência se tornam possíveis por via desse sentimento de partilha e redistribuição que, no fundo, sempre está no coração dos portugueses.

Se tivesse que apontar traços de apreensão no curto espaço e com a rédea curta que me tutelam, apontaria, mormente no exemplo africano, os atritos e envelhecimento daquela Comunidade que ainda alimenta a tradição associativa. De igual modo, creio que os números de participação eleitoral não fazem, nem de perto nem de longe, jus à relevância dos nossos portugueses da diáspora.

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