quinta-feira, 4 de julho de 2013

Conflito intergeracional

Longe de mim dar início a uma contenda intergeracional, mas não posso deixar passar ao lado, ou branquear, acusações mais ou menos veladas à nova geração de políticos/governantes, só porque vieram das jotas e porque segundo alguns destes dinossauros da política, tiraram licenciaturas sabe-se lá como.

Para quem não me conhece, tenho 50 anos, pertenço a actual geração de políticos/governantes e portanto segundo os iluminados deste Pais, pertenço à geração responsável por tudo o que de mau acontece em Portugal.

Então vamos por partes e nada como uma abordagem cronológica:

- Foi esta geração que aprovou a constituição em 1976, ideológica, estática, caduca e restritiva em termos de futuro. Recordo, que passadas quase 4 décadas, pouco ou nada foi alterado na sua génese e que depois de 1976, já caiu o muro de Berlim, já não existe União Soviética, a China é tudo menos comunista, a globalização veio para ficar, não temos fronteiras na Europa e finalmente os jovens de hoje são cidadãos do mundo e não deste pequeno rectângulo, porém temos a mesma constituição.

- foi esta geração que fez uma descolonização vergonhosa, ignorando e menosprezando Portugueses? De um momento para o outro, famílias inteiras chegaram a Portugal, com a promessa de que as poupanças amealhadas ao longo de uma vida de trabalho seriam convertidas e disponibilizadas pelos bancos em Portugal. Mentira, a maioria delas foi espoliada, tiveram que começar do zero, outras enlouqueceram como alguns casos que conheci de perto

- foi esta geração que nacionalizou o tecido empresarial Português e assim condenou o País e os Portugueses a um retrocesso de mais de 3 décadas?

- foi esta geração que esteve envolvida nos escândalos de Macau, nas verbas do Fundo Social Europeu ou até nos fundos de coesão colocados à nossa disposição pela então pela CEE? Não foi, pois não? 

- foi esta geração que atribuiu a si própria reformas e pensões vitalícias depois de 8 anos de descontos, mais tarde corrigida para 12, como é o caso dos deputados, autarcas e afins, quando o comum dos trabalhadores necessita de 40 anos de descontos?

- foi esta geração que criou as regras de supervisão bancaria, que supervisionou e que permitiu que casos como o BPN e BPP acontecessem?

- foi esta geração que tomou a decisão de nacionalizar estes banco se com isso se tivessem salvaguardado os interesses das grandes fortunas, fazendo o Povo Português pagar por erros que não cometeu?

- foi esta geração que criou este sistema de justiça, que deixa impunes todos os crimes de colarinho branco, típicos de quem ocupou cargos de decisão ao longo destes anos?

Não, não foi esta geração que cometeu estas barbaridades e outras que me dispenso recordar, mas que está bem presente na memória dos Portugueses.

Agora, tenho que ser honesto e dizer com toda a clareza, que a actual geração que começou com Pedro Santana Lopes na governação, teve o seu epilogo com Sócrates também prevaricou e porquê? Porque os ensinamentos, os maus exemplos e as más praticas ficaram e quando se critica esta geração por ser o resultado de jotas mal preparados, mais uma vez, o exemplo veio de cima, dos mais velhos, da geração que hoje se auto-intitula, iluminada e responsável.

Como já vem sendo prática nos meus artigos, tento ser imparcial e não poderia deixar passar aqui alguns aspectos positivos da geração dos iluminados:
Fez o 25A e devolveu-nos a liberdade. Desenvolveu um sistema de saúde, de educação, um estado social e uma rede rodoviária de que nos podemos orgulhar, mas mesmo aqui, foram cometidos excessos, que a actual e próximas gerações vão ter que pagar

Mais uma vez, não fui eu que dei inicio a um conflito intergeracional, ele existe e foi iniciado pelos tais iluminados, personificada por Mário Soares, Freitas do Amaral, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Bagão Felix, só para citar alguns, porque a lista é interminável. E porquê?

Porque habituados a viver a conta do estado Português directa ou indirectamente, pela primeira vez, estão a ser chamados a contribuir tal como os restantes cidadãos para salvar o nosso rectângulo de um descalabro muito provável. Pois é, é que um amigo meu, lembrou-me um máxima que era repetida muitas vezes por alguns destes Senhores em tom jocoso:
Perante uma manifestação em que se gritava, "os ricos que paguem a crise", o comentário não era nem mais nem menos do que, "Então eles não sabem, que são sempre os pobres que pagam a crise?"

Não tem esta geração o direito de dizer "BASTA":  não queremos a constituição que vocês escreveram, não queremos a justiça que vocês criaram, não queremos certos vícios e certas práticas. Queremos manter e melhorar o que  foi bem feito e corrigir o que foi mal feito.

Finalmente e só porque discordamos em algumas matérias, não queremos ser apelidados de irresponsáveis e mal preparados, mas sim e em conjunto, corrigir excessos, garantindo a sustentabilidade e o futuro das próximas gerações.

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