terça-feira, 8 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Reciclar, dar e receber
Neste últimos tempos tenho vindo a confirmar que, apesar de todos os defeitos a que não escapamos, o povo português é na sua generalidade um povo solidário, abnegado e atento às necessidades do seu próximo, mesmo em plena crise económica. Exemplo disso são as inúmeras plataformas que crescem na internet e nas redes sociais com vista à partilha ou doação de objectos reutilizáveis, permitindo que uns se desfaçam daquilo que já não precisam e outros façam uso desses bens. O impacto dá-se em muitas frentes: não só se ajuda quem mais precisa e tem lugar um novo ciclo de consumo, como se aumenta o período de duração dos bens, reduzindo o número daqueles que vão parar ao lixo, o que se reflecte também ao nível ambiental. Estas plataformas - de que são exemplo a Dou.pt e a Trocas de Amor - têm tido uma enorme adesão por parte de quem dá e de quem recebe. O sucesso mostra assim que mesmo em tempos difíceis os portugueses não esquecem essa elementar máxima de que «dar é receber» e fazem questão de não deitar fora ou desperdiçar aquilo que sabem poder ser reutilizado por outros. E numa altura em que tanta gente não tem como fugir às dificuldades económicas, estas iniciativas são ainda mais significativas, facilitando a vida a muitos portugueses.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
A GRÉCIA - RESPOSTA à TÂNIA MORAIS
Oh a Grécia, Cara Tânia!
País maravilhoso, onde fui varias vezes. Não fica muito longe da minha casa. Há duas maneiras de ver a Grécia: Sentado num café, ao Sol, admirando o mar à volta da ilha de Santorin ou Myconos, ou observando a azáfama da cidade imensa de Atenas, da Acrópole, e os pequenos comércios onde os Gregos procuram ganhar a vida, enquanto a uns quilómetros de lá, nos cais do Pireu, os ricos yachts dos nababos e outros menos ricos, mas não pobres, que não pagam impostos ao Estado! Assim é a Grécia, além da beleza do Parthenon!
A Grécia é uma democracia parlamentar. Impensável, pois, que alguém chegue ao poder sem ter sido eleito, ou não fosse a Grécia que inventou a democracia!
O problema é que a democracia na Grécia sofre das mesmas maleitas que noutros países que conhecemos bem. A democracia não é a mesma para os guardas mal remunerados das ruínas do cabo Sounion, e para as profissões liberais ou os ricos armadores, que conhecem melhor os caminhos que levam à Suíça que os do ministério das finanças onde se pagam os impostos.
Como noutras democracias, a vigarice da entrada na U.E, falsificando as contas do Estado (obrigado Goldman Sachs!) sem análise prévia do que isso comportava, foi orientada por um clã político, validada pela oposição, mantido pelo segundo e finalmente , talvez submetido a um referendo apôs as contorções de enguia do segundo.
Para chegar agora à conclusão que um governo de Uniao Nacional se impõe.
Enfim, se impõe, tudo é relativo a este nível na Grécia!
A Grécia é uma mentalidade “mediterrânea”. Uma mistura confusa de comercialismo fenício, e de tribalismo hégirio. O dos “jeitinhos”, dos “pots-de-vin” debaixo da mesa, dos tráfegos diversos, dos bakchichs, e de tudo o que pode facilitar o comércio... Aliás, não creio que a nossa península ibérica tenha escapado ao contágio!
Enfim, creio que todas as camadas da sociedade estão contaminadas. O poderoso e rico rouba a grande escala. O pequeno, coitado, usa artimanhas para viver melhor, como pode. Mas este mundo dos biscatos seria, segundo alguns, o culpado da situação!
Agora que chegou a hora de pagar – parcialmente- a factura, todo este mundo quer fugir a isso! A imensa maioria não o poderá fazer senão exilar-se. Por isso vai continuar na miséria, nas reformas reduzidas, nos salários baixados ou deferidos, nas vantagens sociais agonizantes, nos serviços públicos em estado comatoso, na inflação histérica.
Aqueles que governavam antes e os que governam agora usam o mesmo discurso : é preciso fazer sacrifícios! Mas sabemos bem, que a casta de todos os quadrantes políticos, que levou a Grécia à agonia, não vai sofrer.
Serão os outros, aqueles que pagam a crise desde há muito, sofrendo as curas de austeridade sucessivas, que não podem aguentar mais, serão eles que vão pagar mais uma vez.
Como se fossem eles os culpados!
E alguns dirão que é melhor isso que a guerra civil, ou, pelo menos, a ditadura militar. A pulula passa melhor!
Evidentemente que esta crise põe a nu a verdadeira natureza do capitalismo. E neste pais que inventou a democracia, no momento em que a casta política no poder pensa “pedir” ao povo de se pronunciar democraticamente sobre o caminho a seguir, a minha opinião é que não é a necessidade de respeitar a ilusão democrática, mas sim a de ceder às exigências da casta económica dominante, que quer, mais uma vez, obrigar o povo a pagar os erros da governança. A saída eventual da EU e do Euro assusta-os! Saída aliás impossível!
Nada mais que a eventualidade do referendo já chegou para criar o pânico geral dos mercados e dos outros Chefes de Estado, o que prova a hipocrisia de um sistema que solicita a opinião do povo mas receia a resposta deste. A colusão dos financeiros e dos políticos é patente. O capitalismo financeiro é injusto e nocivo, porque pode destruir num dia o que levou séculos a construir: a democracia.
A Grécia, Cara Tânia, existe, pois, mas a maneira insultuosa para com o Povo Grego e o seu representante, dos dois gerentes da Europa, a França e a Alemanha, demonstra bem que a democracia, ela, é que não existe...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
QUO VADIS EUROPA ?
A hora da verdade da Europa parece ter chegado mais cedo que previsto.
A dimensão financeira no capitalismo não é, claro está, recente, mas tomou hoje uma nova dimensão – comparada à crise dos anos 30 – quanto mais não seja pelo facto da globalização do capital e das técnicas, tanto quantitativas que qualitativas, de valorização do capital.
Mas quando o capital encontra pela sua frente um povo recalcitrante que não pode aguentar mais, vitima da má governação de dirigentes incompetentes que o levou à catástrofe, retira-se uma impressão do género “ não sabemos o que é preciso fazer” , reeleger os mesmos ou ....piores”, etc.
O caso da Grécia é elucidativo. Durante anos, os partidos ditos “de governo”, após um doloroso “apagao” ditatorial dos militares, viram-se confiar as rédeas do poder, numa bela alternância
democrática, mas sem outro resultado que o de se “governarem”. Autênticas dinastias, o poder passou de Pai para o Filho, duma família à outra, sem diferença fundamental no exercício do poder.
A casta, a elite, o sistema, e os parasitas e tubarões que gravitam sempre à volta do poder quando este é fraco ou também está contaminado.
Quando tudo isto se passa em casa própria, lamentamos o facto, por compaixão. Mas quando isso nos toca, então o caso muda de figura.
.
O apelo do Primeiro Ministro Grego ao povo, para que ele se manifeste sem reticências, acto certamente democrático no pais que inventou a democracia, comporta , entretanto, uma série de questões :
O futuro do continente é ou não compatível com as soberanias nacionais?
A prosperidade económica e a paz social – ou o que resta – podem ou não conjugar-se com a democracia? A regressão não apela automaticamente à escolha entre governos autoritários e a desordem na falência?
A ficção da U.E. pode ou não ser mantida? Ou existem já de facto duas Europas , uma rica, relativamente, à volta da Alemanha, e outra em vias de deliquescência rápida, levada na enxurrada da globalização?
A Aliança Atlântica (NATO) deve ou não ser mantida? A ameaça russa esfumou-se e nenhuma outra a substituiu.
A América conduz , com o seu aliado inglês ( fora do Euro e contra a taxa Tobin) , uma verdadeira guerra económica contra a Europa . Quem não vê que a queda do Euro consolidará a posição do Dólar, que os chineses serão obrigados de defender, quando não houver a concorrência do Euro? Não é tempo para tirar todas as conclusões ?
Em definitivo, temos ou não ainda a coragem suficiente para reagir ou o nosso futuro é de ser submetidos como noutros tempos submetemos as nossas colónias ?
Freitas Pereira
Como não aumentar a produtividade em Portugal
Uma das medidas a negociar na concertação social, numa lógica de equilíbrios entre os sacrifícios a pedir aos sectores público e privado é o aumento da carga horária laboral em 30 minutos diários no segundo. Se o objectivo passa por aumentar os índices de produtividade dos portugueses, parabéns Sr. Ministro, é bem capaz de ser uma das piores formas de o fazer. Diria mais, uma medida contraproducente, e factor de aumento da frustração sentida no seio da nossa sociedade. Partindo de uma premissa de constatação:
Portugal é um dos países da União Europeia onde a carga horária laboral é mais elevada;
Portugal é um dos países da OCDE com piores desempenhos no que respeita à produtividade.
Na lógica apresentada pelo Governo português, se passarmos a ter camaratas nas unidades de produção ao estilo chinês, e esticarmos os horários de trabalho para as 16 horas diárias, talvez consigamos subir uns pontos nos rankings internacionais e impulsionar a nossa economia.
A optimização do tempo de trabalho é uma preocupação central quer nas entidades estatais, quer no sector privado. Foi desta preocupação que saiu o Simplex de Sócrates e as normas regulamentares internas nos mais diversos sectores que visam disciplinar o comportamento dos seus colaboradores. Falamos neste caso dos bloqueios ao acesso a redes sociais, da fixação dos horários para as pausas do café e cigarros, implementação de sistemas de informação integrados, partilha de agendas, informatização e centralização de registos, e a lista de regras poderia continuar... o que nos deixa invariavelmente com o factor humano. Das relações entre indivíduos e da afirmação do ser no seu meio. Devemos por isso considerar 2 realidades: a primeira, de fundo, respeitante à interpretação da função social do trabalho. A segunda, relacionada com os factores motivacionais subjacentes à execução do mesmo.
No primeiro campo, e apelando à memória colectiva, há uma diferença cultural considerável entre os países do Sul europeu e os restantes que resulta numa visão do trabalho e conquista de capital de duas formas distintas. Esta foi bem explorada por Max Weber em 1905 e a tendência mantém-se parecendo-me a maior dificuldade na mudança necessária face à interpretação do papel do trabalho na nossa sociedade. Naturalmente que se trata de uma abordagem generalista, não abordado casos de maior sucesso no nosso território. Mas como dizem, a regra fez a excepção.
No segundo campo, aquele que mais facilmente podemos moldar, abordamos as motivações do trabalhador. Aquela que não tem sido olhada por sucessivos governos e é também mal interpretada pelos sindicatos. Por norma, e para que uma empresa obtenha maiores ganhos dos seus recursos humanos deve considerar dois factores preponderantes: o primeiro, o dinheiro. É um facto: se não houver uma justa recompensa, as pessoas não ficam motivadas. Encontrar a solução para a justa retribuição pode ser um processo longo e alvo de diferenças de opinião, mas creio que a encontramos na generalidade dos casos quando pagamos às pessoas o suficiente para que a questão seja colocada de parte. E neste caso, sabendo que muitas vezes o salário mínimo nacional é insuficiente para pagar uma simples renda num T1 trata-se de uma questão premente. Os sindicatos estão também por isso em falta com os seus representados na falta de audácia nos processos negociais e na inércia em estabelecer uma doutrina que se baseie nesta lógica de win-win. Entre questionar uma entidade empregadora se quer um colaborador realmente motivado para dar o melhor de si ou só mais um para o que der e vier... não podemos ir muito mais longe do que as singelas comparações nos vencimentos mínimos e médios praticados na União Europeia.
A segunda fonte motivacional prende-se com o reconhecimento do indivíduo. Parece-me que na maior parte dos casos a Pirâmide de Maslow é interpretada como uma beleza académica: lírica e impraticável. Neste caso deve ser tomada como basilar no desenvolvimento de uma estratégia sustentada das empresas, explicando-se ao contratado qual a visão e a missão do projecto que integra, quais os propósitos e objectivos na sua função e qual o plano a médio prazo. Num momento em que as progressões na carreira pública estão congeladas há demasiado tempo, é hora de desenhar um verdadeiro plano de reconhecimento que não tem de passar pela subida nos escalões de IRS, mas pode ser tão simples quanto afirmar a qualidade, esforço e dedicação colocados no quotidiano laboral. Pode parecer pouco, mas todos nós sabemos quão boa foi a sensação de dever cumprido, de verdadeiro valor acrescentado, da inovação, ainda que apenas com uma palavra de apreço dos nossos superiores hierárquicos. Falta apostar na autonomia e liberdade à criatividade dos colaboradores, no aumento de competências através de formações - obrigatórias mas leccionadas muitas das vezes para cumprimento dos requisitos mínimos, e é imperativo que as empresas cumpram um dos seus mais significantes papéis: traduzirem aos colaboradores o seu propósito.
Falta ao trabalhador português descobrir o seu lugar na sociedade, e este é, creio, o maior e mais desafiante problema na produtividade nacional. Mas parece que as 16 horas diárias também possam ser uma solução.
Portugal é um dos países da União Europeia onde a carga horária laboral é mais elevada;
Portugal é um dos países da OCDE com piores desempenhos no que respeita à produtividade.
Na lógica apresentada pelo Governo português, se passarmos a ter camaratas nas unidades de produção ao estilo chinês, e esticarmos os horários de trabalho para as 16 horas diárias, talvez consigamos subir uns pontos nos rankings internacionais e impulsionar a nossa economia.
A optimização do tempo de trabalho é uma preocupação central quer nas entidades estatais, quer no sector privado. Foi desta preocupação que saiu o Simplex de Sócrates e as normas regulamentares internas nos mais diversos sectores que visam disciplinar o comportamento dos seus colaboradores. Falamos neste caso dos bloqueios ao acesso a redes sociais, da fixação dos horários para as pausas do café e cigarros, implementação de sistemas de informação integrados, partilha de agendas, informatização e centralização de registos, e a lista de regras poderia continuar... o que nos deixa invariavelmente com o factor humano. Das relações entre indivíduos e da afirmação do ser no seu meio. Devemos por isso considerar 2 realidades: a primeira, de fundo, respeitante à interpretação da função social do trabalho. A segunda, relacionada com os factores motivacionais subjacentes à execução do mesmo.
No primeiro campo, e apelando à memória colectiva, há uma diferença cultural considerável entre os países do Sul europeu e os restantes que resulta numa visão do trabalho e conquista de capital de duas formas distintas. Esta foi bem explorada por Max Weber em 1905 e a tendência mantém-se parecendo-me a maior dificuldade na mudança necessária face à interpretação do papel do trabalho na nossa sociedade. Naturalmente que se trata de uma abordagem generalista, não abordado casos de maior sucesso no nosso território. Mas como dizem, a regra fez a excepção.
No segundo campo, aquele que mais facilmente podemos moldar, abordamos as motivações do trabalhador. Aquela que não tem sido olhada por sucessivos governos e é também mal interpretada pelos sindicatos. Por norma, e para que uma empresa obtenha maiores ganhos dos seus recursos humanos deve considerar dois factores preponderantes: o primeiro, o dinheiro. É um facto: se não houver uma justa recompensa, as pessoas não ficam motivadas. Encontrar a solução para a justa retribuição pode ser um processo longo e alvo de diferenças de opinião, mas creio que a encontramos na generalidade dos casos quando pagamos às pessoas o suficiente para que a questão seja colocada de parte. E neste caso, sabendo que muitas vezes o salário mínimo nacional é insuficiente para pagar uma simples renda num T1 trata-se de uma questão premente. Os sindicatos estão também por isso em falta com os seus representados na falta de audácia nos processos negociais e na inércia em estabelecer uma doutrina que se baseie nesta lógica de win-win. Entre questionar uma entidade empregadora se quer um colaborador realmente motivado para dar o melhor de si ou só mais um para o que der e vier... não podemos ir muito mais longe do que as singelas comparações nos vencimentos mínimos e médios praticados na União Europeia.
A segunda fonte motivacional prende-se com o reconhecimento do indivíduo. Parece-me que na maior parte dos casos a Pirâmide de Maslow é interpretada como uma beleza académica: lírica e impraticável. Neste caso deve ser tomada como basilar no desenvolvimento de uma estratégia sustentada das empresas, explicando-se ao contratado qual a visão e a missão do projecto que integra, quais os propósitos e objectivos na sua função e qual o plano a médio prazo. Num momento em que as progressões na carreira pública estão congeladas há demasiado tempo, é hora de desenhar um verdadeiro plano de reconhecimento que não tem de passar pela subida nos escalões de IRS, mas pode ser tão simples quanto afirmar a qualidade, esforço e dedicação colocados no quotidiano laboral. Pode parecer pouco, mas todos nós sabemos quão boa foi a sensação de dever cumprido, de verdadeiro valor acrescentado, da inovação, ainda que apenas com uma palavra de apreço dos nossos superiores hierárquicos. Falta apostar na autonomia e liberdade à criatividade dos colaboradores, no aumento de competências através de formações - obrigatórias mas leccionadas muitas das vezes para cumprimento dos requisitos mínimos, e é imperativo que as empresas cumpram um dos seus mais significantes papéis: traduzirem aos colaboradores o seu propósito.
Falta ao trabalhador português descobrir o seu lugar na sociedade, e este é, creio, o maior e mais desafiante problema na produtividade nacional. Mas parece que as 16 horas diárias também possam ser uma solução.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Nem Sá Carneiro escapa
Em tempos de crise só os ladrões parecem não ter falta de trabalho, já que a onda de assaltos que assola o país cresce a cada dia que passa. O furto de bustos em bronze tem sido, infelizmente, uma realidade por todo o país. Ora Fermentelos não foi excepção e nem o emblemático busto de Sá Carneiro escapou ileso. Este busto marcava presença na margem da Pateira desde 27 de Agosto de 1987. 24 anos depois houve alguém (de seu nome gatuno) que sem qualquer respeito pelo que representa Sá Carneiro para nós Fermentelenses e para muitos Portugueses, se apoderou do busto sem dó nem piedade (provavelmente já estará derretido).
A nós unidos pelo Lodo, resta-nos a fotografia que se segue para memória futura. Quanto ao monumento ao Emigrante lá se vai aguentando, sendo demasiado grande para roubar. Esperemos que os larápios não se lembrem de voltar para levar a placa que recorda uma interessante frase de Sá Carneiro de Julho de 1974:
"Os Períodos de grandeza de Portugal, são aqueles em que o país está aberto ao mundo."
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
GONE WITH THE WIND
Cerca de 60% do aumento do abismo que separa as rendas entre os ricos e os pobres entre 1998 e 2010 provém dos lucros realizados pelos serviços financeiros, segundo um relatório da Escola de Economia de Londres.
Pessoalmente nunca votei por esses organismos financeiros que ocupam as primeiras paginas dos jornais do mundo inteiro: Banco Mundial, Banco Central Europeu, FMI e todos os outros que têm uma tão grande influência na minha vida e na de todos os povos do mundo.
Mas são eles que dirigem o mundo. Os media só falam de mercado. Nos nossos ecrãs de televisão vêm-se indivíduos que têm os olhos fixos sobre os ecrãs e que apoiam sobre as teclas . Como se estivessem a tocar piano, cada vez que eles afloram as teclas , estes pianistas dos tempos modernos, dispõem da vida de milhões de seres humanos . Inteiramente à sua mercê.
Como é que lá chegamos? Que espécie de sistema criamos que lhes dá assim tanto poder? Eles a quem confiamos o nosso dinheiro, que engolem com avidez, o dinheiro daqueles que trabalham por vezes por muito pouco, tão duramente ganho?
Onde estavam aqueles que elegemos para se ocuparem de nos quando esta forma de capitalismo corrompido se propagou? Eram incompetentes ou acabaram por se integrar numa oligarquia que os enriqueceu ao mesmo tempo que os especuladores?
Como é possível que uma operação habitualmente tão simples como fornecer dinheiro aos criadores de riqueza, os da economia real, seja agora assim tão complexa?
Claro que conhecemos muito bem a resposta: esta complexidade é o método que foi utilizado para cegar deliberadamente as populações e permitir “aos senhores do dinheiro” de sugar todo o dinheiro do trabalho para o jogar no casino. Onde uns acabaram por perder em proveito de outros mais espertos.
Aqueles que tinham por missão de utilizar o dinheiro da gente ordinária para alimentar a máquina económica, fugiram com ele e o sistema gripou.
Freitas Pereira
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Se estivesse no Parlamento e fosse de esquerda chamaria a esta publicação "palhaçada"
Deputado do PSD distribui post-it na AR
Era discutida lei-quadro da competitividade e empreendedorismo. Pedro Saraiva distribuiu post-it pelos assentos parlamentares para recolher ideias, e utilizou os projectores da AR para partilhar a máxima da fábula de La Fontaine "A cigarra e a formiga".
A esquerda não gostou e apelidou de "palhaçada" a iniciativa.
Ora, vamos por partes:
O debate era sobre empreendedorismo. O que faz um empreendedor?
À partida, diria que surge no mercado com uma ideia inovadora e lança uma start-up. Mas em Portugal, para não ser apelidado de idiota ou outras coisas chatas, é bom que se fique por abrir um café;
Ainda que seja um café. Para se manter no mercado de forma competitiva, deve ter um factor diferenciador.
Requer um exercício de brainstorming. Se o grupo é composto por 230 pessoas e não há um software integrado de partilha de informações, o post-it parece-me uma boa solução;
Supondo que o grupo até precisa de inspiração, dado que metade não foi capaz de apresentar qualquer solução para os destinos do café nos últimos 5 meses, e até tens um projector catita para todos receberem in-puts.
Utilizá-lo para partilhar a tua ideia pode ser porreiro. Numa empresa, costumamos chamar a isto estratégia motivacional.
Sobre a fábula, disse Catarina Martins do BE que tinha sido utilizada pela propaganda em 1933, sendo um absurdo apresentá-la em 2011. Referia-se claramente aos movimentos fascistas portugueses. Podemos depreender que quem se revê na "Cigarra e a Formiga" é fascista? Ou podemos depreender que quem concorda que no trabalhar é que está o ganho é fascista? Ou quem não é reaccionário é fascista?
Espera, mas é a direita que deveria ser reaccionária. (calma, eu vou perceber isto)
Era discutida lei-quadro da competitividade e empreendedorismo. Pedro Saraiva distribuiu post-it pelos assentos parlamentares para recolher ideias, e utilizou os projectores da AR para partilhar a máxima da fábula de La Fontaine "A cigarra e a formiga".
A esquerda não gostou e apelidou de "palhaçada" a iniciativa.
Ora, vamos por partes:
O debate era sobre empreendedorismo. O que faz um empreendedor?
À partida, diria que surge no mercado com uma ideia inovadora e lança uma start-up. Mas em Portugal, para não ser apelidado de idiota ou outras coisas chatas, é bom que se fique por abrir um café;
Ainda que seja um café. Para se manter no mercado de forma competitiva, deve ter um factor diferenciador.
Requer um exercício de brainstorming. Se o grupo é composto por 230 pessoas e não há um software integrado de partilha de informações, o post-it parece-me uma boa solução;
Supondo que o grupo até precisa de inspiração, dado que metade não foi capaz de apresentar qualquer solução para os destinos do café nos últimos 5 meses, e até tens um projector catita para todos receberem in-puts.
Utilizá-lo para partilhar a tua ideia pode ser porreiro. Numa empresa, costumamos chamar a isto estratégia motivacional.
Sobre a fábula, disse Catarina Martins do BE que tinha sido utilizada pela propaganda em 1933, sendo um absurdo apresentá-la em 2011. Referia-se claramente aos movimentos fascistas portugueses. Podemos depreender que quem se revê na "Cigarra e a Formiga" é fascista? Ou podemos depreender que quem concorda que no trabalhar é que está o ganho é fascista? Ou quem não é reaccionário é fascista?
Espera, mas é a direita que deveria ser reaccionária. (calma, eu vou perceber isto)
sábado, 22 de outubro de 2011
Educação
Partilho este vídeo que reflecte em muito a minha opinião sobre Educação.
Como sociedade, somos (ou devemos ser) sensíveis a esta temática, quer pelo seu papel crítico na formação das novas gerações, quer nas implicações directas que tem no desenvolvimento e futuro da nação.
Em boa verdade, várias gerações de decisores políticos que passaram pelo poder nas últimas décadas não souberam cumprir a sua missão nesta área pelo que deixo agora algumas reflexões sobre qual considero que deveria ser o rumo das políticas de educação no nosso País.
Historicamente, nomeadamente desde a era da industrialização, a educação seguiu os princípios ideológicos do chamado socialismo, massificando o ensino, tratando tudo e todos por igual. Passados mais de 100 anos, continuamos exactamente com o mesmo sistema, como que ignorando as evoluções e necessidades vigentes da nova era digital e de informação que hoje vivemos. Parece que a globalização e suas consequências enquanto difusora livre e democrática de conhecimentos não existem na realidade paralela em que se vive nas escolas e universidades portuguesas. A nossa visão tem que ser diametralmente oposta, devendo estar assente num espírito de abertura para o mundo; temos que acreditar no valor da individualização e que o ser humano deve estar sempre no centro de toda a acção política.
Primeiro, e antes de mais, devemos ser os primeiros a assumir que chegou a hora de acabar de vez com o jogo das culpas. Nesse jogo, os pais culpam os professores, os professores culpam os pais, estes culpam os conselhos directivos, as universidades culpam os liceus, que por sua vez culpam as escolas básicas e, por fim, todos acabam por culpar os políticos. Chegou a hora de dizer basta! Chegou a hora de parar com este jogo e de deixarmos de continuar a aceitar o fracasso do sistema como uma fatalidade ou destino – enquanto assim não for, nada se resolverá.
Por isso, vamo-nos concentrar todos, em equipa, em encontrar as soluções que nos permitam entrar numa nova era para a Educação em Portugal. Honra seja feita, neste aspecto, o nosso Ministro Nuno Crato tem feito um trabalho excepcional tendo definido de forma clara a sua visão de exigência em que podemos e seremos melhores. Para entrarmos nessa nova era, é obrigatório começar por encarar cada criança como um ser individual: com características, virtudes e defeitos próprios – cada criança tem um ou mais talentos e é nosso dever criar um sistema educativo que encontre e explore essas potencialidades! Não podemos continuar a fomentar um sistema que utopicamente exige que todos os alunos sejam bons em tudo… Se nenhum adulto consegue alcançar esta proeza, como serão as crianças capazes?
O nosso maior erro tem sido o de tratar todos por igual… é nossa missão assegurar que cada criança seja bem sucedida nas áreas em que apresenta maiores capacidades, sobretudo sabendo que esse sucesso na infância irá ditar muitos dos sucessos que poderá vir a ter na sua vida adulta.
Sejamos francos: a escola não vale pelos conhecimentos enciclopédicos que nos impõe mas sim pelas ferramentas que nos faculta para enfrentar as dificuldades e problemas do dia-a-dia. Em vez de ensinarmos a “marrar”, que tal ensinarmos a “pensar”?
No entanto, para que um sistema educativo seja capaz de ter esta abordagem individualizada, é necessário assumir duas coisas: Primeiro – que nenhuma criança tem dificuldades de aprendizagem, mas sim têm exigências diferentes de aprendizagem; e segundo –que as crianças processam informação de modo diferente umas das outras, exigindo uma adaptação personalizada do método de ensino. Outra questão que se coloca é o das reformas dos sistemas educativos. Nas últimas décadas, várias foram as reformas oriundas do Ministério da Educação. Curiosamente, essas reformas focalizaram-se quase sempre no ensino secundário…
Parece que o que é evidente deixou de o ser e, Ministro após Ministro, ninguém foi capaz de assumir que o problema é que os alunos chegam ao secundário e às universidades mal preparados, com maus hábitos e com falta de valências que lhes permitam ser bem sucedidos. Os problemas estão na base, bem no inicio, e não no final da vida académica pré-graduada. Chegou a hora de nos consciencializarmos sobre a importância do ensino pré-primário e primário e sobre a urgência de as transformar profundamente. As evidências da caducidade do actual sistema estão também patentes no aumento que se verifica nos níveis de racismo, xenofobia e criminalidade entre indivíduos que não completaram sequer a escolaridade obrigatória. Não só o sistema não cumpre os seus objectivos de formar cidadãos solidários e capazes de ajudar ao desenvolvimento do país, como nem sequer cativa a participação dos próprios alunos.
Portanto, para iniciarmos esta reforma por um inovador sistema de ensino, devemos assumir que a educação não começa nem acaba nas escolas. Hoje é irrefutável a importância do papel das famílias e das comunidades em que estão inseridas na formação de qualquer criança ou jovem… então porque é que ignoramos a sua existência e não fomentamos a sua participação? Tem de ser dada a importância devida às associações de pais e às reuniões entre pais e professores – porque é que o professor não pode ir à casa dos alunos de modo a começar a quebrar a barreira entre a escola e a casa? Os Professores têm que assimilar que eles têm uma missão única e histórica e a sociedade tem que lhes reconhecer esta grandeza.
Também as comunidades devem ser incentivadas a colaborar com as escolas e deve ser fomentado um espírito de missão entre os membros de determinada comunidade de modo a que sintam orgulho e vontade de melhorar a sua escola. Mas este tipo de espírito só poderá ser alcançado a longo prazo se as crianças de hoje tiverem direito a uma verdadeira educação para a cidadania – que lhes incuta um espírito empreendedor, mas solidário – de modo a que as crianças de hoje, adultos de amanhã, não sejam indiferentes às dificuldades e problemas que os possam rodear. Quando toca à nossa comunidade e ao nosso País, temos o dever de ter sentido de missão… e de transmitir esse sentido de missão às novas gerações.
Evidentemente, neste novo sistema, a educação para a cidadania tem de ser acompanhada por uma educação para a saúde, de modo que cada indivíduo se possa conhecer e respeitar a si próprio, no sentido de assim se formarem cidadãos justos, solidários, empreendedores e, sobretudo, mais responsáveis e conscientes do seu papel em sociedade.
Os nossos estabelecimentos de ensino devem ser templos dirigidos à beleza do conhecimento, à tolerância, à cidadania e à solidariedade.
Tem que se reconhecer que cada aluno é especial e único, mas também é determinante que cada aluno perceba que pertence a uma sociedade a um mundo Maior, que extravasa as paredes da sua escola.
Como sociedade, somos (ou devemos ser) sensíveis a esta temática, quer pelo seu papel crítico na formação das novas gerações, quer nas implicações directas que tem no desenvolvimento e futuro da nação.
Em boa verdade, várias gerações de decisores políticos que passaram pelo poder nas últimas décadas não souberam cumprir a sua missão nesta área pelo que deixo agora algumas reflexões sobre qual considero que deveria ser o rumo das políticas de educação no nosso País.
Historicamente, nomeadamente desde a era da industrialização, a educação seguiu os princípios ideológicos do chamado socialismo, massificando o ensino, tratando tudo e todos por igual. Passados mais de 100 anos, continuamos exactamente com o mesmo sistema, como que ignorando as evoluções e necessidades vigentes da nova era digital e de informação que hoje vivemos. Parece que a globalização e suas consequências enquanto difusora livre e democrática de conhecimentos não existem na realidade paralela em que se vive nas escolas e universidades portuguesas. A nossa visão tem que ser diametralmente oposta, devendo estar assente num espírito de abertura para o mundo; temos que acreditar no valor da individualização e que o ser humano deve estar sempre no centro de toda a acção política.
Primeiro, e antes de mais, devemos ser os primeiros a assumir que chegou a hora de acabar de vez com o jogo das culpas. Nesse jogo, os pais culpam os professores, os professores culpam os pais, estes culpam os conselhos directivos, as universidades culpam os liceus, que por sua vez culpam as escolas básicas e, por fim, todos acabam por culpar os políticos. Chegou a hora de dizer basta! Chegou a hora de parar com este jogo e de deixarmos de continuar a aceitar o fracasso do sistema como uma fatalidade ou destino – enquanto assim não for, nada se resolverá.
Por isso, vamo-nos concentrar todos, em equipa, em encontrar as soluções que nos permitam entrar numa nova era para a Educação em Portugal. Honra seja feita, neste aspecto, o nosso Ministro Nuno Crato tem feito um trabalho excepcional tendo definido de forma clara a sua visão de exigência em que podemos e seremos melhores. Para entrarmos nessa nova era, é obrigatório começar por encarar cada criança como um ser individual: com características, virtudes e defeitos próprios – cada criança tem um ou mais talentos e é nosso dever criar um sistema educativo que encontre e explore essas potencialidades! Não podemos continuar a fomentar um sistema que utopicamente exige que todos os alunos sejam bons em tudo… Se nenhum adulto consegue alcançar esta proeza, como serão as crianças capazes?
O nosso maior erro tem sido o de tratar todos por igual… é nossa missão assegurar que cada criança seja bem sucedida nas áreas em que apresenta maiores capacidades, sobretudo sabendo que esse sucesso na infância irá ditar muitos dos sucessos que poderá vir a ter na sua vida adulta.
Sejamos francos: a escola não vale pelos conhecimentos enciclopédicos que nos impõe mas sim pelas ferramentas que nos faculta para enfrentar as dificuldades e problemas do dia-a-dia. Em vez de ensinarmos a “marrar”, que tal ensinarmos a “pensar”?
No entanto, para que um sistema educativo seja capaz de ter esta abordagem individualizada, é necessário assumir duas coisas: Primeiro – que nenhuma criança tem dificuldades de aprendizagem, mas sim têm exigências diferentes de aprendizagem; e segundo –que as crianças processam informação de modo diferente umas das outras, exigindo uma adaptação personalizada do método de ensino. Outra questão que se coloca é o das reformas dos sistemas educativos. Nas últimas décadas, várias foram as reformas oriundas do Ministério da Educação. Curiosamente, essas reformas focalizaram-se quase sempre no ensino secundário…
Parece que o que é evidente deixou de o ser e, Ministro após Ministro, ninguém foi capaz de assumir que o problema é que os alunos chegam ao secundário e às universidades mal preparados, com maus hábitos e com falta de valências que lhes permitam ser bem sucedidos. Os problemas estão na base, bem no inicio, e não no final da vida académica pré-graduada. Chegou a hora de nos consciencializarmos sobre a importância do ensino pré-primário e primário e sobre a urgência de as transformar profundamente. As evidências da caducidade do actual sistema estão também patentes no aumento que se verifica nos níveis de racismo, xenofobia e criminalidade entre indivíduos que não completaram sequer a escolaridade obrigatória. Não só o sistema não cumpre os seus objectivos de formar cidadãos solidários e capazes de ajudar ao desenvolvimento do país, como nem sequer cativa a participação dos próprios alunos.
Portanto, para iniciarmos esta reforma por um inovador sistema de ensino, devemos assumir que a educação não começa nem acaba nas escolas. Hoje é irrefutável a importância do papel das famílias e das comunidades em que estão inseridas na formação de qualquer criança ou jovem… então porque é que ignoramos a sua existência e não fomentamos a sua participação? Tem de ser dada a importância devida às associações de pais e às reuniões entre pais e professores – porque é que o professor não pode ir à casa dos alunos de modo a começar a quebrar a barreira entre a escola e a casa? Os Professores têm que assimilar que eles têm uma missão única e histórica e a sociedade tem que lhes reconhecer esta grandeza.
Também as comunidades devem ser incentivadas a colaborar com as escolas e deve ser fomentado um espírito de missão entre os membros de determinada comunidade de modo a que sintam orgulho e vontade de melhorar a sua escola. Mas este tipo de espírito só poderá ser alcançado a longo prazo se as crianças de hoje tiverem direito a uma verdadeira educação para a cidadania – que lhes incuta um espírito empreendedor, mas solidário – de modo a que as crianças de hoje, adultos de amanhã, não sejam indiferentes às dificuldades e problemas que os possam rodear. Quando toca à nossa comunidade e ao nosso País, temos o dever de ter sentido de missão… e de transmitir esse sentido de missão às novas gerações.
Evidentemente, neste novo sistema, a educação para a cidadania tem de ser acompanhada por uma educação para a saúde, de modo que cada indivíduo se possa conhecer e respeitar a si próprio, no sentido de assim se formarem cidadãos justos, solidários, empreendedores e, sobretudo, mais responsáveis e conscientes do seu papel em sociedade.
Os nossos estabelecimentos de ensino devem ser templos dirigidos à beleza do conhecimento, à tolerância, à cidadania e à solidariedade.
Tem que se reconhecer que cada aluno é especial e único, mas também é determinante que cada aluno perceba que pertence a uma sociedade a um mundo Maior, que extravasa as paredes da sua escola.
Tal como afirmou Albert Einstein: “A Educação é tudo que nos resta, depois de esquecermos tudo que aprendemos na escola”.
Está na hora de darmos às crianças de Portugal a Educação que elas merecem.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Para Consumo Interno
Uma das inequívocas vantagens em sair do país durante uma vasta temporada é que no regresso temos tendência a ver as coisas com um olhar mais clínico. Mas nem foi preciso um olhar muito cuidado para, chegada a solo lusitano, dar conta de uma notória e imensa diferença nas cidades por onde passei: o comércio tradicional diminuiu drasticamente e muitas são as lojas de rua agora votadas a montras e prateleiras em branco, grades em baixo e avisos «fúnebres».
Pelo Oeste, o meu berço lusitano, o cenário é algo preocupante nalgumas das suas cidades. Em Alcobaça, uma passagem pelo percurso pedonal que conduz ao centro histórico leva-nos a concluir que são poucos os lojistas que subsistem ao contexto económico, sendo que nem os turistas lhes valem. Não muito longe, na cidade das Caldas da Rainha, outrora uma cidade orgulhosamente afamada pelo bom comércio tradicional – do famoso mercado diário na praça central à movimentada «Rua da Lojas» - o movimento em ambas já não é o que era. E disso é sintomático o encerramento de um emblemático estabelecimento local – a Livraria 107 – que infelizmente não resistiu às «fnacs» deste mundo.
Porém, o pequeno comércio não pode recorrer eternamente à concorrência das grandes catedrais de consumo como bode expiatório dos seus males. Veja-se o caso de Leiria, onde os centros comerciais coexistem pacificamente com o comércio de rua e, noticiava o Região de Leiria em Julho passado, é nas grandes superfícies – no caso, LeiriaShopping – que as vendas caíram a pique. A verdade é que o comércio local tem também que reconhecer mea culpa, já que muitas vezes resistiu a acompanhar os tempos e os novos consumos, refugiou-se em horários confortáveis e nem sempre soube agilizar os procedimentos com a clientela.
Outra realidade que não vale a pena ignorar é a imbatível oferta das ditas ‘lojas dos chineses’. É legítima - esclareça-se desde já-, mas há que reconhecer que sufoca o comércio em seu redor, pois a oferta é vasta e os preços são tentadores nos tempos que correm. E se durante anos se convencionou que os benefícios do comércio com a China superavam os custos, um estudo recente levado a cabo por investigadores (alguns deles do MIT) concluiu que a velocidade a que a China cresceu como exportadora e a concorrência dos seus produtos estão a provocar danos na economia americana, verificando-se quebras generalizadas de emprego (industrial, mas não só) nos condados mais expostos às importações chinesas. Certo é que, no caso português e a este ritmo, não tardará muito para que se encontrem as ditas lojas «porta sim porta sim», o que, convenhamos, descaracteriza o nosso comércio. A propósito, não sei a razão, mas despertou-me curiosidade o facto de uma outra cidade do Oeste - Óbidos – não contabilizar uma única loja destas no seu centro histórico, mantendo o seu comércio pitoresco e com carimbo local.
Nos últimos anos são muitas as iniciativas de promoção do nosso comércio, mas isso não parece ser suficiente. Fazer renascer o comércio dito tradicional é de extrema importância, pois não só serve de motor de desenvolvimento das nossas cidades, como potencia o consumo de produtos locais, gerando emprego e riqueza. Pequenos passos que se reflectem na «economia cá de casa».
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Gaddafi
Podemos falar dos insultos aos DH, da péssima relação com França que se veio a desenvolver no reinado Sarko, do interesse estratégico ou das excentricidades do senhor Kadafi mas ninguém me tira isto da cabeça.
O Destino Trágico de Stefan Zweig
Recordo de ter lido o meu primeiro livro de Stefan Zweig, era eu ainda muito jovem, à sombra do “meu” velho castelo de Guimarães! Aliás, nasci ali muito perto : a minha casa tinha as costas voltadas para o castelo.
Foi aí também que ouvi, num dia de sol, em 1940, sobre os ombros do meu Pai, um velho senhor dizer “Portugal pode ser se nós quisermos, uma grande e próspera Nação” !
Esse senhor tinha um aspecto muito respeitável e para o miúdo que eu era parecia-me muito inteligente.
Mais tarde, apercebi-me que o senhor que discursou junto ao “meu” Castelo, parecia-se muito com Stefan Zweig!
Mas se havia uma semelhança entre eles, não havia , porém, nenhuma afinidade.
Quando os Nazis queimaram num verdadeiro “auto da fé”, os seus livros em 1933 em Berlim, Zweig é o autor mais lido no mundo, o mais traduzido, mais ainda que Thomas Mann, que também li ,e aprecio, que ele considerava como o seu modelo inultrapassável.
Na altura em que li Stefan Zweig,dizia-se no meu círculo de amigos, que era tão perigoso ler esse autor, como ler Máximo Gorki! “Big Brother” já existia nesse tempo!
Por isso o liamos às escondidas! Debaixo do capote!
Vários intelectuais e criadores judeus alemães suicidaram-se momentos antes da GESTAPO bater à porta.
Zweig suicidou-se no Brasil, com a segunda esposa. Esta imensa inteligência, esta consciência universal, levou tempo a compreender a vontade assassina e implacável do nazismo.
Infelizmente, ele tinha-se assimilado tanto a esse mundo de Viena, essa burguesia cultivada, esses artistas e homens de cultura brilhantes, esses Judeus plenamente “germanizados”, numa palavra a defunta Mittel Europa, que, ao destruir tudo isso, os nazis tinham-no destruído também.
Esta sociedade na qual Zweig evoluiu , desmoronou-se quando a liberdade foi estrangulada pela ideologia nazi. Nessa época, poucos foram os intelectuais que se levantaram contra essa serpente venenosa. E quando alguns se aperceberam já era tarde demais. Como Zweig.
A opinião publica não existia ainda, ou pelos menos não estava estruturada. E o medo imperava.
Hoje, a opinião publica é um dos meios de defesa contra a tentação de totalitarismo dos regimes políticos, quaisquer que eles sejam.
O exemplo dos países árabes, onde Facebook e Tweeter, perfeitamente utilizados pela juventude instruída, levou à queda dos ditadores, obriga à reflexão.
Por isso, uma informação recente chamou a minha atenção: Os Estados Unidos vão consagrar perto de 3 milhões de dólares para desenvolver programas que lhes permitirão manipular centenas de contas falsas dedicadas à luta contra as ideologias radicais e à difusão de propaganda anti-americana nos círculos sociais, como Tweeter e Facebok.
Assim, o exército americano terá um programa que lhe permitirá criar 500 falsos perfis, geridos por 50 pessoas (espiões) a partir de servidores localizados fora do território americano.
Felizmente, os USA não são as ditaduras árabes, mas outros podem estar interessados.
Freitas Pereira
sábado, 15 de outubro de 2011
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Uma chegada e um regresso
Freitas Pereira é um ilustre e qualificadíssimo português, há muito, residente em França, onde construiu uma carreira brilhante.
Além disso, também há alguns anos, começou a honrar-nos com os seus comentários, tantas vezes melhores do que os nossos textos (falo por mim, pelo menos).
Não somos da mesma geração. Raramente partilhamos o mesmo trilho ideológico. Porém, no LODO somos mesmo assim: quando vemos alguém tão ou mais inteligente do que nós não tentamos eliminá-lo ou subjugá-lo ao grupo/bando; antes o convidamos a juntar-se a nós e a enriquecer-nos com o seu saber.
Não somos da mesma geração. Raramente partilhamos o mesmo trilho ideológico. Porém, no LODO somos mesmo assim: quando vemos alguém tão ou mais inteligente do que nós não tentamos eliminá-lo ou subjugá-lo ao grupo/bando; antes o convidamos a juntar-se a nós e a enriquecer-nos com o seu saber.
Assim fizémos com o nosso novo colaborador e estamos orgulhosos de o ter connosco.
Já no nosso Doc. Milk (Ricardo Leite) decidiu voltar a abrilhantar o blogue com a sua prosa fresca e avisada. Tratando-se de um jovem e promissor Deputado, são palavras a ler com atenção e expectativa sobre as seguintes.
Reflexão pessoal sobre a Situação de Emergência Nacional
Sinto-me defraudado enquanto jovem cidadão Português.
A minha geração está a pagar pelos erros daqueles que irresponsavelmente governaram o nosso país e que violaram o princípio de não comprometer as gerações futuras. Vivemos hoje, por causa disso, uma situação apenas comparável à de um país em estado de guerra.
Mas contas feitas, há um pensamento que me assombra. É certo que houve, e há, no funcionamento do Estado, má gestão, desperdício e muitas ineficiências que contribuíram para a situação de catástrofe económico-financeira em que nos encontramos. Mas é também por demais evidente que a situação só poderá ter atingido esta dimensão dantesca como resultado de gestão ruinosa, tráfico de influências, corrupção e roubo.
Subscrevo, por isso, a proposta da Juventude Social Democrata. O Procurador Geral da República tem que, de uma vez por todas, cumprir o seu papel e assegurar a investigação e condenação expedita dos responsáveis por esta situação.
Mas vou mais além. Todos os responsáveis têm que ser condenados. Sejam eles de que partido forem, sejam eles independentes, sejam eles antigos ou actuais governantes ou antigos ou actuais membros dos órgãos de Soberania, sejam eles antigos ou actuais gestores da coisa pública, sejam eles actuais ou antigos gestores privados com ligações directas ao Estado, sejam eles cidadãos que lucraram através do abuso e fraude consciente do Estado, quer no âmbito da segurança social quer no âmbito fiscal.
Mas não basta investigar e condenar. Todos os bens desses responsáveis, devidamente condenados em tribunais deste nosso Estado de Direito, devem ser confiscados e devolvidos directamente para o Estado, que afinal somos todos nós contribuintes.
Isto não resolve o nosso problema. Eu sei.
Mas garanto-vos que, no futuro, se cumprirmos com estas premissas, situações como aquelas que levaram à condição que hoje vivemos, não voltarão a acontecer.
Nós, jovens deste país não podemos desistir. E acredito mesmo que seremos capazes de dar a volta e repor Portugal na rota do crescimento. Acredito muito na força, visão e determinação do nosso Primeiro-Ministro e tudo farei para ajudar neste estado de emergência nacional. Faço-o porque tenho orgulho no meu país e porque a força da nossa história, enquanto Nação, a isso nos obriga.
Eu acredito que juntos iremos conseguir. Acreditem também… e que Deus nos ajude.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
SOU EUROPEU
Quando o tempo o permite, contemplo da minha casa o alvo manto de neve do teto da Europa, o Monte Branco, com os seus 4810 metros, recentemente certificados.
Se a brancura imaculada do símbolo europeu aparece resplandecente, tal não se pode dizer do facto europeu, que é mais um facto geográfico que um facto político ou económico.
As nuvens negras que se acumulam, cobrem largamente o espaço europeu e não sei,francamente ,se um vento salvador acabará por levantar-se para as varrer do horizonte.
Se as questões sociais e económicas são de preocupar, as problemáticas das mentalidades e por conseguinte dos valores que se estimam dever ser os de um cidadão europeu também são importantes. Interessa saber o que eles significam para o cidadão, interiormente e exteriormente, através do duplo prisma da sua vida e do espaço no qual ele evolui.
Sobre o primeiro, é impossível poder pronunciar-se, mas em contrapartida, no que respeita o segundo, não se pode ignorar que a Europa está confrontada hoje a desafios cruciais.
A sua posição dominante e a sua capacidade de brilhar no resto do mundo, tanto cultural que sistémica, já não são o que eram. E é o que me preocupa quando constato a maneira como os seus pilotos negociam as viragens da historia.
De facto, os dois principais motores económicos da Europa mostram sinais de fatiga e têm, pelo menos, um funcionamento errático.
Quando tudo indica que é preciso acelerar a economia, investindo na produção, para reduzir o desemprego, eles preferem travar às quatro rodas, retirando mesmo algum carburante através das baixas de salários , dos impostos e taxas de toda a espécie , dirigindo a economia para a recessão. Como se cidadãos mais pobres pudessem comparticipar melhor à salvação da economia através de mais miséria.
Na origem desta situação encontra-se a crise e a debandada do político, do Estado, frente ao poder da finança desabrida. .
Sem duvida, a crise é um desastre estrondoso para o capitalismo e para a economia de mercado. O liberalismo desenfreado foi imposto a marchas forçadas.
Até aqui, o essencial das políticas europeias consistiu na promoção do libre échange e o seu corolário, a concorrência livre, em detrimento da solidariedade e dos serviços públicos.
Quanto ao programa social, continua a ser protelado.
Mais grave, o alargamento da União a 27 membros, sem nenhuma precaução, favorece mais ainda o dumping social ou fiscal (salários de miséria, impostos quase nulos para as sociedades, etc.), num panorama terrível de deslocações e de chantagem ao emprego.
A globalização deixa atrás dela um rasto de ruínas industriais, em todos os países ocidentais.
A destruição, ciente, das industrias tradicionais de base dos países sub industrializados, para abrir o “grande mercado”, levou à miséria milhões de cidadãos.
A assinatura do tratado de Lisboa e a sua ratificação pela via parlamentar na maioria dos Estados, contra a opinião das populações, elaborado em segredo e totalmente ilegível, tudo isso desencoraja mesmo os mais acérrimos partidários da ideia europeia.
Frau Merkel e Monsieur Sarkozy vão propor, segundo parece, no próximo G20 de Cannes, as modificações que se impõem aos tratados europeus.
Esperemos que o campo livre que se viu oferecer o capitalismo, transformado no jogo da globalização galopante e do casino sem lei, seja varrido para sempre.
Freitas Pereira.
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