sábado, 22 de outubro de 2011

Educação

Partilho este vídeo que reflecte em muito a minha opinião sobre Educação.

Como sociedade, somos (ou devemos ser) sensíveis a esta temática, quer pelo seu papel crítico na formação das novas gerações, quer nas implicações directas que tem no desenvolvimento e futuro da nação.

Em boa verdade, várias gerações de decisores políticos que passaram pelo poder nas últimas décadas não souberam cumprir a sua missão nesta área pelo que deixo agora algumas reflexões sobre qual considero que deveria ser o rumo das políticas de educação no nosso País.

Historicamente, nomeadamente desde a era da industrialização, a educação seguiu os princípios ideológicos do chamado socialismo, massificando o ensino, tratando tudo e todos por igual. Passados mais de 100 anos, continuamos exactamente com o mesmo sistema, como que ignorando as evoluções e necessidades vigentes da nova era digital e de informação que hoje vivemos. Parece que a globalização e suas consequências enquanto difusora livre e democrática de conhecimentos não existem na realidade paralela em que se vive nas escolas e universidades portuguesas. A nossa visão tem que ser diametralmente oposta, devendo estar assente num espírito de abertura para o mundo; temos que acreditar no valor da individualização e que o ser humano deve estar sempre no centro de toda a acção política.

Primeiro, e antes de mais, devemos ser os primeiros a assumir que chegou a hora de acabar de vez com o jogo das culpas. Nesse jogo, os pais culpam os professores, os professores culpam os pais, estes culpam os conselhos directivos, as universidades culpam os liceus, que por sua vez culpam as escolas básicas e, por fim, todos acabam por culpar os políticos. Chegou a hora de dizer basta! Chegou a hora de parar com este jogo e de deixarmos de continuar a aceitar o fracasso do sistema como uma fatalidade ou destino – enquanto assim não for, nada se resolverá.

Por isso, vamo-nos concentrar todos, em equipa, em encontrar as soluções que nos permitam entrar numa nova era para a Educação em Portugal. Honra seja feita, neste aspecto, o nosso Ministro Nuno Crato tem feito um trabalho excepcional tendo definido de forma clara a sua visão de exigência em que podemos e seremos melhores. Para entrarmos nessa nova era, é obrigatório começar por encarar cada criança como um ser individual: com características, virtudes e defeitos próprios – cada criança tem um ou mais talentos e é nosso dever criar um sistema educativo que encontre e explore essas potencialidades! Não podemos continuar a fomentar um sistema que utopicamente exige que todos os alunos sejam bons em tudo… Se nenhum adulto consegue alcançar esta proeza, como serão as crianças capazes?

O nosso maior erro tem sido o de tratar todos por igual… é nossa missão assegurar que cada criança seja bem sucedida nas áreas em que apresenta maiores capacidades, sobretudo sabendo que esse sucesso na infância irá ditar muitos dos sucessos que poderá vir a ter na sua vida adulta.

Sejamos francos: a escola não vale pelos conhecimentos enciclopédicos que nos impõe mas sim pelas ferramentas que nos faculta para enfrentar as dificuldades e problemas do dia-a-dia. Em vez de ensinarmos a “marrar”, que tal ensinarmos a “pensar”?

No entanto, para que um sistema educativo seja capaz de ter esta abordagem individualizada, é necessário assumir duas coisas: Primeiro – que nenhuma criança tem dificuldades de aprendizagem, mas sim têm exigências diferentes de aprendizagem; e segundo –que as crianças processam informação de modo diferente umas das outras, exigindo uma adaptação personalizada do método de ensino. Outra questão que se coloca é o das reformas dos sistemas educativos. Nas últimas décadas, várias foram as reformas oriundas do Ministério da Educação. Curiosamente, essas reformas focalizaram-se quase sempre no ensino secundário…

Parece que o que é evidente deixou de o ser e, Ministro após Ministro, ninguém foi capaz de assumir que o problema é que os alunos chegam ao secundário e às universidades mal preparados, com maus hábitos e com falta de valências que lhes permitam ser bem sucedidos. Os problemas estão na base, bem no inicio, e não no final da vida académica pré-graduada. Chegou a hora de nos consciencializarmos sobre a importância do ensino pré-primário e primário e sobre a urgência de as transformar profundamente. As evidências da caducidade do actual sistema estão também patentes no aumento que se verifica nos níveis de racismo, xenofobia e criminalidade entre indivíduos que não completaram sequer a escolaridade obrigatória. Não só o sistema não cumpre os seus objectivos de formar cidadãos solidários e capazes de ajudar ao desenvolvimento do país, como nem sequer cativa a participação dos próprios alunos.

Portanto, para iniciarmos esta reforma por um inovador sistema de ensino, devemos assumir que a educação não começa nem acaba nas escolas. Hoje é irrefutável a importância do papel das famílias e das comunidades em que estão inseridas na formação de qualquer criança ou jovem… então porque é que ignoramos a sua existência e não fomentamos a sua participação? Tem de ser dada a importância devida às associações de pais e às reuniões entre pais e professores – porque é que o professor não pode ir à casa dos alunos de modo a começar a quebrar a barreira entre a escola e a casa? Os Professores têm que assimilar que eles têm uma missão única e histórica e a sociedade tem que lhes reconhecer esta grandeza.

Também as comunidades devem ser incentivadas a colaborar com as escolas e deve ser fomentado um espírito de missão entre os membros de determinada comunidade de modo a que sintam orgulho e vontade de melhorar a sua escola. Mas este tipo de espírito só poderá ser alcançado a longo prazo se as crianças de hoje tiverem direito a uma verdadeira educação para a cidadania – que lhes incuta um espírito empreendedor, mas solidário – de modo a que as crianças de hoje, adultos de amanhã, não sejam indiferentes às dificuldades e problemas que os possam rodear. Quando toca à nossa comunidade e ao nosso País, temos o dever de ter sentido de missão… e de transmitir esse sentido de missão às novas gerações.

Evidentemente, neste novo sistema, a educação para a cidadania tem de ser acompanhada por uma educação para a saúde, de modo que cada indivíduo se possa conhecer e respeitar a si próprio, no sentido de assim se formarem cidadãos justos, solidários, empreendedores e, sobretudo, mais responsáveis e conscientes do seu papel em sociedade.

Os nossos estabelecimentos de ensino devem ser templos dirigidos à beleza do conhecimento, à tolerância, à cidadania e à solidariedade.

Tem que se reconhecer que cada aluno é especial e único, mas também é determinante que cada aluno perceba que pertence a uma sociedade a um mundo Maior, que extravasa as paredes da sua escola. 

Tal como afirmou Albert Einstein: “A Educação é tudo que nos resta, depois de esquecermos tudo que aprendemos na escola”.

Está na hora de darmos às crianças de Portugal a Educação que elas merecem.

2 comentários:

Defreitas disse...

Excelente. Já conhecia o vídeo . Infelizmente creio que a sociedade portuguesa está ainda longe de poder compreender a necessidade da qualidade na educação, quando a preocupação essencial é de sobreviver.

Quando escreve “Os nossos estabelecimentos de ensino devem ser templos dirigidos à beleza do conhecimento, à tolerância, à cidadania e à solidariedade’ disse o mais importante. Porque sem cidadania e sem conhecimento não é possível passar a mensagem .

Eu sou do tempo em que a educação só era acessível a uma ínfima parte da população. A educação era na realidade o parente pobre da sociedades

Talvez para os dirigentes politicos da época fosse mesmo prudente de não educar" as massas "!

Hoje a situação é diferente, mas o problema parece-me mais vasto que o de adaptar a educação à “receptividade” intrínseca de cada cidadão. Vê-se bem que a juventude diplomada não consegue inserir-se na sociedade por falta de disponibilidade de postos de trabalho correspondendo à qualificação adquirida.

Se em principio a formação deve corresponder às necessidades da sociedade e à sua organização económica, mais ou menos industria, mais ou menos serviços, a globalização da economia que permite de transferir num ápice, as industrias e os serviços para o outro lado do mundo, falseia completamente os esforços dos governos para educar .

Um exemplo que conheci bem: a criação duma “Silicone Valley” na minha região, com 150 empresas importantes, especializadas na pesquisa , desenvolvimento e produção de programas (logiciels) e produtos informáticos (Microelectronique, Motorola, Hewlet-Packard, Intel, e outros), conduziu à aceleração da formação de engenheiros e técnicos em grande quantidade nos estabelecimentos especializados da região . Só que, volvidos uns tantos anos, mais de metade destas empresas transferiram-se para a Índia e para a China, por razoes de custo salarial e não de formação!

Só a Nano-tecnologia ficou por cá, por ser uma especialidade associada ao Comissariado da Energia Nuclear e Instituto Marie Curie, controlados pelo Estado. Hoje, centenas de bons engenheiros e técnicos procuram emprego, enquanto havia tanta falta deles há algum tempo atrás.

O mundo conturbado no qual vivemos e a globalização da economia, tornará cada vez mais difícil a boa programação do ensino e da educação . Entretanto, a China “fabrica” milhares de engenheiros de alto nível ,necessários para a conquista do mercado mundial.

Freitas Pereira

Rosa Moreto disse...

Excelente vídeo... Tens toda a razão Ricardo, está mesmo na hora de mudar muita coisa na Educação. Mas é preciso um grande esforço para que se faça um bom trabalho e se opte pelas mudanças certas. Chega de reformas aqui e ali que não levam a lado nenhum. Como professora sinto a urgência dessa mudança e acredito que muitos professores também o sentem e estão dispostos a dar o seu melhor. Espero que o Ministro da Educação possa despoletar esse difícil processo.