quarta-feira, 14 de março de 2012

RESPOSTA à COMPANHEIRA TÂNIA MORAIS

A companheira Tânia Morais descreve na sua mensagem um quadro extremamente positivo e direi mesmo quase idílico dum grupo humano que partilha o instante que passa e aprecia justamente esse momento de felicidade, de comunhão e de verdadeiro calor humano.

Claro que isso ainda existe na nossa sociedade.

No meu artigo, ao qual se refere e que, constato, vem à sua memória durante os seus passeios de bicicleta, o que me lisonjeia, a ideia de fundo, é que a nossa sociedade se caracteriza cada vez mais pelo seu individualismo, infelizmente, e não pela solidariedade.

Após a leitura do seu comentário, ontem, fui também dar um passeio, não em bicicleta, mas a pé, num planalto próximo, a 2500 metros de altitude, no meio de montanhas alvas de neve, brilhantes ao sol.

A solidão do sítio permite a reflexão. Ideal para a marcha mas também para constatar uma espécie de solidariedade.

Aqui, os humanos... são mais humanos. Aqui, vivemos nesses momentos, o nosso piquenique “humano”! Partilhamos tudo.

Aqui, entre o céu e a terra, todos, embora desconhecidos ,nacionais e estrangeiros, se saúdam com um “bonjour” caloroso e afável. Tenho observado isto muitíssimas vezes, cada vez que ando pela montanha. Os humanos são mais humanos quando não estão perdidos na massa indiferente da cidade.

Porque nestas paragens, a solidariedade impõe-se. Existe sempre uma probabilidade de necessidade de ajuda da parte daqueles que cruzamos.

No vale, na cidade onde vivo, as pessoas que cruzamos, não nos vêm passar ao lado. Somos todos anónimos.

Sob esta base, pode-se demonstrar como o individualismo e a solidariedade são efectivamente, na sociedade ocidental contemporânea, consumista e materialista, incompatíveis. Tudo depende do meio em que se vive.

No plano jurídico, o indivíduo está munido dum certo numero de direitos ditos subjectivos que o libertam da suas obrigações morais e mais particularmente do respeito das obrigações comunitárias e mesmo do seu meio ambiente natural. Assim o direito organiza a des-responsabilizaçao dos indivíduos.

Mas, como será possível neste mundo de industrialização e de atomizaçao social, desenvolver uma ética colectiva?

Num mundo frenético, onde a acumulação de riquezas, de poderes, de conhecimentos, de procura de crescimento económico, está no centro de todas as preocupações, uma tal visão pode parecer extremamente pessimista ou “naïve”. Mas a atomizaçao da sociedade progrediu de tal maneira, que os indivíduos talvez já não sejam capazes de se desfazer desta necessidade de acumular, para uns, e de sobreviver para outros.

Por isso creio, Cara Tânia, que o tal homem que descreve, voltado para os valores reais, valores que seria necessário de explicar, não só desaparece todos os dias um pouco mais, como nada permite, hoje, de pensar, que o mundo que se aproxima lhe deixará uma “chance” de subsistir.

O todos por um e um por todos, tende a desaparecer debaixo dos golpes duros da concorrência económica.

A nossa sociedade moderna é dominada pelo dogma da performance. Este dogma desenvolve o culto do sucesso individual, obrigado a elaborar estratégias individuais para se distinguir num meio concorrencial.

A evolução individualista da sociedade é, portanto, visível e mesmo fatal, na medida em que o estatuto do indivíduo na sociedade evoluiu. Recorda-se do «Cogito ergo sum» ou "Je pense, donc je suis" de Descartes!

Com o capitalismo, a pressão das instituições e das normas duma sociedade tradicional, é substituída pela pressão económica e concorrencial duma sociedade capitalista, que condiciona o indivíduo. Este já não é pressionado pela igreja ou pela família, mas pelo desemprego.

O tema da família, valor que explodiu na sociedade moderna, poderia ser desenvolvido num comentário ao seu “post” precedente sobre as mulheres na sociedade.

Fica para mais tarde.

Cumprimentos

Freitas Pereira

Sem comentários: