quinta-feira, 8 de março de 2012

Conquistas do 8 de Março. Não, não queremos ser iguais aos homens.


Hoje celebramos a conquista da mulher sobre o reconhecimento da sua condição social. Foi na Rússia, despoletando o início da Revolução de 1917, que mulheres desencadearam um processo de conquista de melhores situações laborais (equivalentes às dos homens) e iniciaram o processo de reconhecimento enquanto cidadãs, com direito a voto. Contudo, e sendo esta conquista um processo de implementação em diversas sociedades com características culturais diferentes, ainda hoje o 8 de Março está em marcha. Enquanto houver mulheres apedrejadas no Iémen, enquanto houver a agressão à qualidade de mãe na China ou enquanto houver a repressão das liberdades individuais em tantos outros países nos quais a sua mulher teria de andar 10kms para poder alimentar os seus filhos, o 8 de Março está em marcha.
Mais próximo de nós, enquanto souber que há mulheres que em silêncio sofrem as consequências da brutalidade, mulheres que conjugam uma vida profissional com as suas tarefas familiares sem qualquer apoio ou reconhecimento, o 8 de Março está em marcha.
De qualquer forma, e como (com a graça de Deus) a generalidade das relações são bem diferentes destes exemplos,  o foco da celebração do dia da mulher pode servir para relembrar aos distraídos algumas das características que fazem as mulheres seres maravilhosos. Começando pelo essencial, meus caros e estimados homens, não fosse a vossa mãe transportar-vos 9 dolorosos meses vocês não estariam aqui. É impressionante como é fácil esquecer ou ignorar este período tão importante na nossa história pessoal, pois para além da alegria de trazer crianças ao mundo, o período até ao parto é uma corrida de obstáculos. Todo o nosso corpo se adapta e queixa, tornamo-nos pesadas e com uma dificuldade imensa em manter a auto-estima no seu melhor,  relativizamos as nossas características mais femininas, choramos por tudo e por nada, a roupa deixa de nos servir e face ao óbvio, questionamo-nos sobre a capacidade de continuar a exalar o sexappeal que provocou a bendita gravidez.  Passando pela educação dada às crianças, com as honrosas excepções masculinas que vão ganhando terreno na divisão destas e outras tarefas do quotidiano, o que seria de vocês sem as sandes de Nutella que a vossa mãe vos mandava quando iam jogar à bola? Ou a paciência que tinha para ouvir as vossas entediantes histórias sobre o João que depois de bater no Manel fez queixinhas à professora? É a continuação desta mulher que vocês encontram quando crescem e se apaixonam. E é este o conjunto de mulheres que transportou a sua sabedoria para o mundo dos dias de hoje. O 8 de Março é uma conquista nossa, invertendo a superioridade que vocês dominaram à custa da força e colocando a mulher na disputa da direcção dos destinos do mundo, quer gostem ou não. O problema foi ainda não termos encontrado o par de sapatos ideal para o dia em que a nossa sensibilidade e sabedoria forem partilhadas na sua plenitude.
É usual, em debates com amigos, ouvir a propósito das queixinhas que fazemos "Porque é que não me levas ao cinema?", "Já abrias a porta do carro, não?" que se quisemos a equitativa distribuição de regalias na sociedade não estejamos à espera de frases galanteadoras e grandes esforços na conquista das nossas almas. Assumindo que quem utiliza estes argumentos o faz por falta de inspiração para uma conversa mais interessante, não deixa de ser preocupante o declínio na relação investimento/expectativas que os homens das faixas etárias mais jovens demonstram quando lidam com mulheres. Tenho inclusivamente ideia de que se traçarmos uma correlação entre a utilização de hidratantes masculinos e o grau de cobardia que encontramos diariamente na abordagem que fazem ficaríamos assustados com os resultados. Não, meus caros. Nós não passámos a usar calças em casa nem a ser as criaturas de caça que imaginam que tenhamos de ser. Nem a mais independente das mulheres deixa de gostar de manter o pro forma das relações pessoais. Ainda que diga o contrário, (nesse caso está a enrolar-vos) é uma eterna sonhadora e claro que sonha quando vê uma comédia romântica ou espera o anel de noivado quando vocês dizem ter uma surpresa. E quando a surpresa é o bilhete para irmos ver o Benfica convosco "Um programa com os meus amigos, ela vai gostar!" nós até vamos, mas se se encontram neste ponto da relação, ainda estão muito longe de verem a vossa namorada transformada na J.Lo ou na Irina Shayk. Não digo que a referência esteja nas personagens da Anatomia de Grey, homens cheios de dúvidas e hiper-sensíveis sobre as questões mais patéticas, peço apenas para se recordarem de quão bom é o toque da mulher ou, no exercício inverso, como seria o vosso mundo se nós cá não estivéssemos. Seria esquisito voltarmos aos comportamentos comuns de Atenas Antiga quando está comprovada a complementaridade do casal.
O mesmo se aplica no casamento. Se já chegaram a esta fase, parabéns. Não é fácil, apesar de tudo, levarem-nos ao altar. Porque se para o homem o casamento se processa como a consequência natural de uma boa relação, connosco a história comporta análises aprofundadas sobre a qualidade dos genes dos filhos a vir, sobre a vossa capacidade de transmitir bons valores, sobre a relação que mantemos com a vossa família e sobre o rácio de sucesso dos casamentos das pessoas que vos rodeiam. E claro, a não ser que sejam as vossas irmãs (aliadas naturais), é altamente desaconselhável um homem rodeado de outras mulheres. É nesta fase que  vos damos a oportunidade de nos conhecerem plenamente, sendo um exercício da mais pura confiança deixarmos um homem ver-nos sem maquilhagem, despenteadas e cheias e dores menstruais num Domingo de manhã. E aqui precisamos do vosso romantismo mais do que nos outros dias e não que espreitem a vizinha do terceiro esquerdo que anda sempre impecável. Ou que comentem com os amigos a menina que aparece de lingerie na página "Social" do Correio da Manhã (uma prática que tenho vindo a descobrir também no "Jornal da Região" e que me parece digna de uma análise aprofundada). Não se deixem iludir. A verdadeira mulher não anda meio despida pela rua nem é de conversa fiada. A verdadeira mulher é aquela que na sua reserva e individualidade vos dá a oportunidade de serem os homens mais felizes do país (como referi há pouco, há uma Jennifer Lopez, uma Irina Shayk ou uma Eva Longoria dentro de cada uma de nós). Basta que cumpram a vossa parte. 

3 comentários:

AEfetivamente disse...

:)

Acho fundamentais todas as liberdades conseguidas até agora e outras que faltam conquistar, por cá ou lá mais longe. Mas de facto, não queremos ser iguais aos homens:) Não temos de ser para sermos igualmente válidas e notáveis!

Gonçalo Capitão disse...

Parcial, mas interessante. Creio mesmo que, para a igualdade ser natural, em Portugal, só falta mesmo abolir as quotas na política.

Defreitas disse...

Escrevi, na minha resposta à Tânia sobre o mundo de hoje, que gostaria de abordar o tema da mulher na sociedade, e comentar assim alguns pontos do seu “post”.

Quando escrevi sobre a procura frenética da performance para os indivíduos, para ganhar e conservar a posição social, poderia ter acrescentado que a necessidade de performance impõe-se da mesma maneira, aos homens como as mulheres.

Porque a mulheres entraram desde há muito no mundo moderno e há muito que escaparam à “norma” antiga .

Na realidade ,a família é cada vez menos uma instituição “normalizada”, com formas e códigos preestabelecidos!
Da mesma maneira que cada indivíduo pode escolher livremente o seu modo de vida, cada indivíduo pode escolher o seu modelo de família.

Eu sou do tempo em que uma família era constituída por uma mulher e um homem e vários filhos. O casal ligado para a vida , casava-se antes de ter o primeiro filho. O indivíduo conformava-se a esta estrutura clássica sob a forte pressão social e familiar, sobretudo no meio rural. A religião tinha a sua palavra a dizer.

Hoje as famílias podem ser recompostas, monoparentais, os casais divorciados, re-casados, “contratados” sob o regime do Pacs ou homossexuais.
A sociedade tolera que o indivíduo transgrida as normas para poder assim fazer as suas escolhas pessoais próprias, a tal ponto que a norma da família não existe mais.

O símbolo desta evolução é o numero de divórcios e a instabilidade dos casais, a diminuição do numero de filhos por cada mulher, a diminuição do numero de casamentos e a subida de nascimentos fora do casamento.

E a mulher nesta evolução? Creio que é a mulher que paga mais caro esta evolução, porque os esforços de toda a ordem que se lhe exige são muito elevados em relação aos homens.

Já porque é através do lugar que a mulher ocupa na sociedade, através da sua profissão, que ela têm a impressão de existir.

Os magazines femininos definiram desde há muito os critérios da mulher moderna, que deve ser ao mesmo tempo uma boa amante, uma boa mãe e uma boa colaboradora no trabalho.

Li há algum tempo o livro de Elizabeth Badinter, esposa dum antigo ministro da justiça de Mitterrand ( que aboliu a pena de morte em França), no qual ela descreve muito bem o conflito da mulher e da mãe, e como este modelo age como uma pressão social sobre as mulheres.

Parece-me que numa sociedade individualista, a tolerância e o desenvolvimento pessoal são hoje primordiais e é aceite que o indivíduo procure o seu desenvolvimento sentimental e sexual em detrimento da estabilidade e da preservação da célula familiar.

Freitas Pereira