quinta-feira, 1 de março de 2012

Abutres

Se há coisa que importuna quando vejo Portugal a fazer um esforço colectivo, a que todos tiram o chapéu, é ver gente que tenta lucrar com os maus momentos de muitos que vão sofrendo com a crise.

Esquecendo a minha formação jurídica (que me perdoem os meus Mestres, nomeadamente os Profs. Costa Andrade e Figueiredo Dias) os burlões do costume – os que vão a aldeias e lugares remotos vigarizando idosos indefesos – tratavam-se com a velha sova nos postos da GNR. Infelizmente, Louçã e seus seguidores, como venho dizendo e escrevendo, puseram a coisa exclusivamente em termos de abuso policial e deixaram-nos à mercê de leis penais que nem no Céu serviam para pôr na ordem os anjos…

Já a crescente vaga de furtos em residências, que trouxe amargas novidades, por exemplo, à pacatez coimbrã, pede confiança na PSP e na PJ e, sobretudo, mais meios e encorajamento aos nossos profissionais que, visto o que lhes pagamos e o trabalho apresentado, são mesmo muito bons!

O que mais me apoquenta, contudo, é, entre outros fenómenos, o verdadeiro descontrolo em que andam esses poleiros de abutres que são as casas que compram ouro, jóias, relógios, computadores portáteis e afins em segunda mão.

Bem li no rodapé de um canal noticioso que a Ministra da Justiça – a meu ver, um dos mais brilhantes e destacados membros do Conselho de Ministros, a par do seu colega da Administração Interna – tenciona por ordem neste lamaçal que é pornográfico, eticamente repugnante e de legalidade dúbia.

Pornográfico porque acompanhado de publicidade espampanante em cartazes e montras. Não bastava a necessidade genuína de alguns portugueses se desfazerem de bens pessoais, ainda anda esta gente a angariar miséria. Pior do que isto só anúncios que vi, por exemplo, na Suazilândia, apelando ao pagamento faseado e antecipado do funeral.

Eticamente repugnante porque sabemos bem que este tipo de negócios – vejam-se, a título de amostra, as realidades dos EUA e do Brasil – é um despudorado apelo aos furtos e roubos. Não é preciso decorar os episódios do CSI, Lei e Ordem ou Mentes Criminosas para chegar à evidente conclusão de que havendo receptadores há vendedores, e de que nem todos são os legítimos proprietários dos bens vendidos.

Com o que chegamos à legalidade dúbia; a mais de não precisar das décadas que já levo de vida para perceber que a facturação destas empresas deve ser, na sua maioria, muito criativa e poupada, também não preciso do curso tirado em Coimbra para adivinhar que a proveniência dos bens, em muitos casos, deve ser tão analisada como o crescimento da comunidade de formigas nos jardins públicos do Benim!...

Eu próprio não sei bem onde pode chegar um artigo destes, mas do desabafo já ninguém os livra…

1 comentário:

Tania Morais disse...

esta é daquelas situaçoes que estao no limiar da ética, gonçalo. concordo que seja um incomodo para os cidadaos preocupados como tu a publicidade de ma gosto que as casas de ouro fazem, mas é consequencia do mercado. nao sei bem como é que a ministra tenciona controlar este mercado, dado que é dificil, senao impossivel atestar a proveniencia das entregas... existem casos em que sao jovens < 18 anos a vender joias ao desbarato e ai claro que o controlo deve ser apertado, mas de resto...