sábado, 12 de março de 2011

Dou a mão à palmatória

As manifestações de hoje atingiram números surpreendentes, que eu, crente na apatia dos portugueses, nunca julguei possíveis. Claro está que o tempo ajudou – como disse alguém, os revoltosos ficam menos revoltosos se tiverem de sair de um ambiente confortável -; claro que muitos dos que marcaram presença já há muito passaram os vinte (eu bem disse aqui que os jovens estavam a ser narcisistas); claro que havia várias causas à mistura, desvirtuando o movimento inicial; claro que houve muito de partidário nisto (do Bloco à JSD, passando por dinossauros políticos como Garcia Pereira); claro que a coisa foi abrilhantada por uns quantos deputados da esquerda, uma dúzia de cantores ditos de intervenção e resquícios do Carnaval (máscaras, vassouras e muitos óculos fantasiosos).

Porém, reconheça-se, foi um interessante exercício de cidadania, sobretudo por ter sido pacífico e não tomar contornos como noutros países, provando que a democracia está bem e recomenda-se, mesmo quando tudo o resto vai mal. O povo levantou o rabo do sofá, saiu à rua e chamou à atenção para os seus muitos e variados problemas.

Porém, era bom que não se ficassem por aqui, era bom que à semelhança de hoje fossem à procura de soluções e não ficassem a choramingar por melhores dias. O país está a atravessar uma crise grave, é certo, mas os jovens também estão acomodados (a própria música que inspirou o movimento dita que «sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição (…) sou da geração ‘casinha dos pais’, se já tenho tudo p’ra quê querer mais?»). Querem tudo à mão de semear e esquecem-se que têm que levantar o rabinho (perdoem-me a expressão, mas acho-a oportuna) para outras coisas, como procurar emprego noutras frentes.

A propósito, aqui ficam três exemplos desse conformismo e de como há mais alternativas do que possa parecer:

* Hoje mesmo passou na rtp uma reportagem sobre uma empresa no concelho de Viseu que não consegue contratar pessoal especializado (engenheiros para ordenados médios superiores a 1000€) e que por causa disso diminui a sua produção e perspectivas de melhorar a sua qualidade;

* A Alemanha tem um tecido empresarial tal, que absorve todos os seus jovens qualificados e, ainda assim, precisa de muitos mais, pelo que tem requerido aos demais países da Europa (sobretudo Espanha) que lhes enviem jovens de áreas várias (engenheiros, médicos, enfermeiros e até cozinheiros!);

* Na Suíça e na África do Sul, bem como noutras comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo, muitas vagas de professores de Português não são preenchidas, ano após ano, deixando os lusodescendentes sem direito a aprender a língua de Camões. Isto, enquanto passamos a vida a ouvir falar de professores desempregados – não digo que mudar de país seja fácil, mas para os mais novos, que não estabeleceram ainda família, não é propriamente insustentável!

Em suma, dá-me ideia que ao contrário dos nossos pais e avós, que outrora partiram (embora em condições inferiores, pois não tiveram oportunidade de ter a formação que actualmente temos), à procura de alternativas fora do seu casulo, as novas gerações estão à espera que a sorte esteja à sua espera na porta do lado.

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