segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Café em chávena quente

Há coisas que não podem deixar de se rasgar. Uma delas foi esta página da revista "Pública" *, de 19 de Novembro.
Têm as simpáticas senhoras a missão de servir à mesa, num café de Santiago do Chile e, ao que li, nada de mais sério, descontada a caridosa tarefa de escutar desabafos de homens sózinhos, quando não é hora de ponta (salvo-seja).
O facto é que este género de estabelecimentos tem clientela, mesmo os que, como o da fotografia, não há serviços extra, na ementa.
Algumas ilações são, por isso, possíveis:
1. Os homens (mea culpa, com certeza) são mesmo fáceis de levar.

2. Andamos mesmo loucos da cabeça.

3. Não nos respeitamos suficientemente.

4. A Dulce e os que com ela abraçam causas (justas) em defesa das mulheres ainda têm muito a fazer.

De qualquer modo, o café sul-americano é bom, apesar de custar o dobro, nestes locais, dada a servidão de vistas.

* Que nos emprestou a fotografia, pese embora sem saber...

7 comentários:

Rosa Moreto disse...

Tens razão, há muito a fazer. Primeira medida: criar iguais estabelecimentos mas com homens de tanguinha...lol

Enfim, esta é a minha forma de responder a esta indignação...é melhor rir para nem pensar a sério nisso :)

Luis Cirilo disse...

Bem Gonçalo,admito que ja puseste melhores fotografias no blog.
Confesso que estas duas senhoras me fizeram lembrar uma dupla muito em voga num passado recente,constituida pelo Dario e pelo Manoel,cuja mobilidade era identica ás das senhoras sendo que a produtividade seguramente muito menor...
Falando a sério: o problema que a foto traduz é cultural,tem milénios,e compete as mulheres e aos homens resolver.
O que infelizmente desconfio que irá durar mais uns...milénios !

Dulce disse...

Rosa... uma pitada de humor cai bem :) principalmente depois de visionar uma foto que me deixou algo indisposta...
... ...
Diz muito bem o Luís… este problema não é só de homens nem só de mulheres.
Respeita a todos e compete quer a uns, quer a outros, tomar atitudes e medidas para o erradicar.
Porém, sendo que se no fundo tudo desemboca na “violência dos homens contra as mulheres” penso que eles mesmos deveriam ser os primeiros a esforçar-se nesse sentido... ...

E Gonçalo, já dizia o povo que “quem corre por gosto não cansa”...
E eu, apesar da meta se afigurar longínqua e do percurso ser sinuoso... corro com todo o gosto! :)

PS- Para os que não me conhecem, não julguem, inadvertidamente, que sou uma exacerbada partidária do feminismo. Sou antes uma partidária da dignidade, da igualdade e da humanidade.

Maria Manuel disse...

Não deixa de ser interessante a sua meditação, sendo certo porém que creio existir uma cada vez mais rápida mudança de valores. Há uma geração de ideias frescas com valores de defesa de Vida e Dignidade muito atenta ao movimento social e ao rumo que toma.
Mas acredite Gonçalo Capitão não tome o todo pela parte, há de facto homens “fáceis”, mas também os há bem dignos da sua Humanidade e cuja facilidade não é o lema.

Gonçalo Capitão disse...

Quimera: acordo total, inclusive na última ideia.

freitas pereira disse...

Sr. Gonçalo, se esta foto degradante era para rasgar, não devia ser, em principio, publicada num dos meus "blogs" preferidos!
O Sr.Luís Cirilo disse a mesma coisa de forma gentil. Não creio que esta postagem permita de avançar no combate para uma sociedade mais justa neste aspecto.

A miséria social e humana que leva mulheres a aceitar este género de "trabalho" existe um pouco por toda a parte. Em Nova Iorque, Amesterdao, Hamburgo, 'and elsewhere', existem dezenas de cafés -restaurantes do mesmo género.
Mas a causa das mulheres, o direito à dignidade e o acesso a todos os direitos na sociedade é uma luta que data de há muitos anos.
Em 1691, as mulheres votavam já no Massachussets (mas perderam esse direito em 1789, não sei porquê!
Em 1788, Condorcet, filosofo e político Francês reclamou para as mulheres o direito à educação, à participação na vida política e ao acesso ao emprego.

E em Portugal, em 1848, Costa Cabral, num projecto de lei, autorizou a criação de escolas mistas, para permitir enfim o ensino ao sexo feminino.

Em 1857, em Nova Iorque foi a primeira greve das mulheres, exigindo um horário de trabalho de 10 horas por dia em vez de 16 !
Estas operárias recebiam pelo mesmo trabalho, um terço do salário dos homens. Esta acção custou-lhes caro, porque a Direcção fechou-as na fabrica e, infelizmente, no incêndio que se declarou a seguir, 130 mulheres morreram queimadas.

Com este comentário, queria só dizer que se se pretende chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações, que vêm sendo impostos à mulher, é melhor "postar" historias de mulheres que marcaram e continuam a marcar a sua passagem na sociedade.

De Marie Curie, passando por Golda Meïr, Rosa Luxemburg, Indira Gandhi, Aung San Suu, Rigoberta Menchu Tum, Jody Williams, Emily Brontée e as irmas, às personalidades políticas contemporâneas, que se impõem no mundo político, eis aqui exemplos de 'posts' que permitiriam, talvez, trocar pontos de vista positivos.
Sabendo que nos , os homens, temos uma grande responsabilidade na situação actual, por falta de coragem na aceitação do principio de igualdade , talvez porque consideramos as mulheres como concorrentes e não como parceiros no governo da sociedade.

As manobras indignas dos candidatos-homens no combate recente da candidatura para representar o Partido Socialista nas próximas eleições presidenciais em França , leva-me a pensar que o Sr. Luís Cirilo tem razão quando diz que esta historia tem milénios e levará milénios a mudar.

Gonçalo Capitão disse...

Caro Sr. Freitas Pereira

Antes de a fotografia vir para o blog foi página do jornal "Público" que, como calcula, tem muitíssima mais saída que o "lodo".
Acresce que o "choque" eventual é, em si mesmo, um meio de comunicar, quando as fotografias, como julgo ser o caso, não passem os limites (a não ser os do bom gosto).
That being said, agradeço a sua preferência e o seu soberbo (como é hábito) comentário.