terça-feira, 14 de novembro de 2006

Cala-te boca

Neste fim-de-semana, uma das reportagens realizadas por uma das estações televisivas glosava à saciedade o facto de José Sócrates se ter recusado a prestar declarações à comunicação social, fora dos momentos especificamente agendados para o efeito. Se calhar, fez bem...
Já há alguns dias, um jornal diário de referência abordava este género de atitude, informando que cresce o número de vezes em que as figuras públicas convocam os media para declarações sem direito a perguntas posteriores.
O interessante da coisa é que o jornalista que assinou a peça televisiva não parou para pensar nas eventuais motivações do Secretário-Geral do PS.
Ora, não conhecendo as socráticas razões, mas especulando com o auxílio da notícia mencionada, não me parece difícil de cogitar que tal pode ficar a dever-se à necessidade de auto-defesa dos titulares de cargos públicos que, cada vez mais, se vêem acossados por jornalístas que se acham investidos de um papel de contra-poder, para o qual ninguém os mandatou.
Pensando a contrario, basta lembrar a chacota e o massacre a que é sujeita qualquer figura pública que, aceitando colaborar, naquele momento, comete um lapso.
No dia em que os jornalístas fizerem auto-crítica verdadeira, talvez possa procurar-se o equilíbrio necessário entre a vontade de falar e o dever de informar.

4 comentários:

Dulce disse...

E mais uma vez...
vem à tona esta discussão do que deve ser o papel dos jornalistas.

É sabido que devem pautar-se por isenção, veracidade, autenticidade, rigor... e claro, manter o devido distanciamento para não cair na tentação de passar a sua opinião através da notícia.
Contudo – e infelizmente - a grande maioria dos jornalistas desconhece ou finge desconhecer estes princípios basilares da sua profissão e, vai não vai, transformam-se em verdadeiras ‘piranhas’.
O que torna compreensível a atitude do Primeiro-Ministro e de todos os que fogem a sete pés dos microfones dos jornalistas!

Nem de propósito, hoje mesmo um amigo recomendou-me a leitura de um post que partindo do caso “Miguel Sousa Tavares-Blog Anónimo-Equador, Plágio ou não?” faz uma interessante ponte para o tal papel dos media e o desvirtuar desse papel quando corroboram factos cuja veracidade ainda está por apurar.

O meu amigo recomendou e eu também:

http://blog.felisberto.net/2006/11/13/jornalismozeco-de-trazer-por-casa/

Rodrigo disse...

Mas bonito... bonito de ver e ouvir foi o Socrates a justificar que não prestava declarações pois tinha que ir «tratar de responsabilidades sociais»!!!!
o jornalista parou ... comeu ... e ... calou!!!!!
Impressionante!!!!

Gonçalo Capitão disse...

Dulce;

Volto a chamar a atenção para algo denunciado pelos analistas americanos, há muito: falo do facto de, cada vez mais, se verem jornalistas a entrevistarem jornalistas - vejam-se, por exemplo, a SIC-Notícias e a RTP-N.


Rodrigo,

Também tens razão! Foi lindo...

Rita disse...

Muito democrático...