Na Conferência Episcopal Portuguesa, os nossos Bispos resolveram "comer a Dama" e pôr em xeque o régio direito a ter uma família.
Dir-se-ía que foi a coice de cavalo que nos fizeram cair da torre do progresso científico, convertendo-nos em peões de uma doutrina, cada vez mais, desfazada do que deveria ser uma moral prática para a pós-modernidade.
Em boa verdade sou dos que simpatiza com muitos postulados da ética católica-apostólica-romana, mas também não deixo de entender que não é com uma resistência cega às alterações (algumas para pior, concordo) que trouxeram os tempos que correm que se cativam as pessoas para seguir aquele que dizem ser o caminho do Senhor.
Casos como o do aborto seriam mais eficazmente tratados pela Igreja, se adequasse a forma de expressão e o modo de condenação. Porém, este é um dos casos em que mais facilmente entendo o irredentismo episcopal.
O mesmo se não passa com o facto de relativamente à procriação medicamente assistida os Bispos terem afirmado que utiliza métodos (legalmente permitidos, sublinha-se) que "constituem uma infidelidade, ainda que consentida" *. Falam suas eminências, como está bem de ver, da fecundação heteróloga (aquela em que, face à infertilidade, se recorre a óvulos ou espermatezóides de uma terceira pessoa). Confesso que há muito tempo não ouvia algo tão retrógado no mundo ocidental...
E depois sobra uma contradição lógica: não são estes os mesmos Bispos que entendem que uma mulher não deve abortar, pois sempre haverá carinho e dignidade para o nascituro?!
Ou seja, o importante é o resultado final e um ser humano em crescimento, certo?!
Sendo assim , o que os detém, neste caso? O simples facto de se usarem gâmetas alheios com o acordo de ambos os membros de um casal que querem trazer uma criança ao mundo e, deduzo, dar-lhe aquele mesmo carinho que devia (como um dos argumentos "contra"), dizem eles, banir o aborto?
Em bom rigor, o assunto em apreço não me levanta nem dúvidas, nem especial entusiasmo, mas não podia deixar de registar o quão moderno anda o mundo da sotaina e do paramento.
* Fonte: Diário de Notícias, de hoje.
2 comentários:
Boa!... e agora sob pena de blasfénia, mas Deus me perdoe direi: e como foi com Cristo? O gameta não era de José...hoje poderia explicar-se tudo à luz da PMA...
Julgo que a Igreja Católica tem reservas em relação a este assunto por ser um assunto tão recente. A Igreja é uma instituição conservadora, apesar de tantas ideias progressistas, que não avança à medida do mundo. A Igreja tem o seu próprio tempo. Para uns isso é considerado retrógado, para outros significa apoio, o ponto de referência numa sociedade altamente dinâmica.
Do ponto de vista filosófico, a utilização do gâmeta alheio pode significar uma infidelidade consentida, mas é só no plano do pensamento. No dia-a-dia, nas nossas vidas trata-se da possibilidade real dos casais terem filhos seus...
A notícia de que os cientistas conseguem seleccionar embriões sem destruir outros abre uma janela de oportunidades no desenvolvimento científico ético que a Igreja certamente não demorará a aceitar.
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