segunda-feira, 23 de abril de 2012

O Desporto e o Despotismo

Muitos “fãs” das corridas automóveis nem se aperceberão do que se está a passar no Barhreïn. E portanto, a revolta do povo deste minúsculo reino é o produto de anos e anos de injustiças, de opressão e de humilhações. Pode ser reprimido, mesmo esmagado, mas renascera como o Phénix, das suas cinzas. Porque nasceu e cresceu no solo do despotismo e do arbitrário. 

A organização do Grande Prémio de Formula 1 neste pequeno reino tem como efeito de reforçar a determinação “dos revoltosos da Pérola” a continuar o combate contra um regime ultrapassado, apoiado pelas monarquias do golfo e, claro está, pelos Estados Unidos e a Europa. 

O monumento da Pérola, símbolo da resistência à ditadura dos Al Khalifa foi destruído e substituído pelos “tanks” do exército saudita. As mesquitas e minaretes não escaparam à loucura destruidora. Os comissariados do arquipélago foram transformados em salas de tortura. Os tribunais militares julgam e condenam civis. Os feridos não são atendidos no maior desprezo das convenções internacionais. 

A dinastia dos Al Khalifa, no poder desde há séculos, o Conselho do Golfo dominado pela Arábia Saudita, os USA e a Europa estão satisfeitos. Eles pensam que as aspirações do povo de Bahrheïn à dignidade e à democracia estão, como o movimento que os caracteriza, enterrados. A ditadura, os privilégios, os interesses de uns e de outros estão salvaguardados. Pode-se anunciar agora ao mundo que a situação é normal. O espectáculo do Grand Prix de Formula 1 pode começar: “Aliás eu conheço gente pacifica que vivem sem problema no Bahreïn”, diz o organizador da corrida, Bernie Ecclestone, homem de negócios e patrão desta famosa corrida. O desporto ao serviço do despotismo!

A exploração política do desporto não data de hoje, evidentemente. A Itália fascista e a Alemanha nazi, já tinham instrumentalizado esta actividade para dar uma certa legitimidade ao poder que detinham. A Itália fascista mussoliniana (1934) e a Alemanha hitleriana ( 1936) tinham organizado respectivamente o Campeonato do Mundo de Futebol e os Jogos Olímpicos. A FIFA, ela, tinha confiado a organização do “Mundial” de 1978 à Argentina da junta militar dirigida pelo general Videla. O grande Prémio de F1 era organizado regularmente na África do Sul durante o regime de Apartheid. Bahreïn inscreve-se por conseguinte nesta “tradição”! 

Que não venham as autoridades do Bhareïn um dia pedir a intervenção da ONU para suster a revolta do povo. Porque a Primavera vem todos os anos!

Freitas Pereira

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