quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O caminho das pedras

Ver notícias da manifestação de segunda-feira em frente ao Parlamento, definitivamente, aparta-me de quaisquer preocupações de cuidado na expressão. Se os demais protestos revelaram alto teor de civismo e constituíram democráticos e saudáveis exercícios de dissenso democrático, este grupo constituindo em medida não desprezível por delinquentes de cara tapada a recolherem pedras para atingirem a PSP, jovens em topless (embora a rapaziada agradeça, juro que continuo sem perceber a mensagem…) e autênticos “garotos” com lenços “à Arafat” e cabeleiras infindas – dizia eu –esta gente mais não comete do que crimes contra a ordem pública, desprestigiando os milhares e milhares de concidadãos que, com elevação e com igual veemência (embora do tipo saudável), encheram ruas para gritar a sua dor.

Dito de outro modo, quero deixar claro que não serão quaisquer manipulações de movimentos anarquistas ou blocos extremistas que porão em causa a democracia ou a genuinidade dos milhares que clamam por um rumo diferente; o que se viu, há dois dias, foi apenas pouca vergonha e uma polícia com movimentos algemados por ordens superiores. O que é arruaça deve ser tratado como tal, mas a política ocidental recuou perante os media e os movimentos políticos radicais, conduzindo a uma perigosa inacção em casos de tumultos incentivados por alguns agentes provocadores, sujeitando os bravíssimos e dignos homens e mulheres das forças de segurança pública a actos de resistência espúria e a humilhações públicas, em lugar de poderem, com o equilíbrio que sabemos terem no caso português, a sua missão de reposição da ordem pública e de defesa da democracia.

No meio de tudo isto, subsiste a dita crise e teme-se um orçamento “de corda ao pescoço”. Não percebo como é que tomamos medidas para agradar a credores - designadamente, FMI e União Europeia – que asfixiam o devedor… A menos que os Países em crise possam ser vendidos como salvados, não entendo como posso continuar a fazer omeletas se corto o pescoço à galinha poedeira…

Aliás, a minha evidente burrice começa há muitos anos, pois nunca percebi uma construção política que, durante anos, pagou para arrancarmos vinha e olival, deixarmos de plantar cereais, abatermos barcos de pesca e limitou a quantidade de leite produzido (que perdoem os entendidos se alguma das premissas não for exacta). Resistindo à tentação de ver proximidade entre isto e os falhados planos quinquenais soviéticos, estou quiçá num limbo de ingenuidade tecido que faz supor que, outra fora a nossa vontade de agradar como bons alunos (a França tem o escândalo de lucrar milhões com a Política Agrícola Comum e a Espanha, ao que sei, nunca foi tão obediente como nós), estaríamos em condições de muito maior suficiência produtiva para, pelo menos, atenuar a crise e matar a fome.

Seja como for, Nação velha e independente de quase novecentos anos que somos, trilharemos mais este caminhos das pedras, de preferência sem as atirarmos…

Sem comentários: