quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cultura ao quilo

Nos últimos dias, aquela que suponho ser a maior cadeia de livrarias da África do Sul, a Exclusive Books, repetiu nos seus armazéns de Randburg uma curiosa iniciativa: livros ao quilo!

E se o leitor pensa que estamos a falar de livros com trinta anos ou em mau estado, muito se engana. Claro está que também não encontra os sucessos do momento, mas em dezenas de gigantescas mesas (por cima e por baixo das mesmas) podia encontrar excelentes álbuns (refiro-me, não sei se com propriedade terminológica, aos livros de capa dura, edição de qualidade e soberba ilustração fotográfica), romances (em inglês e africânder), boa banda desenhada, livros infantis e leitura “utilitária” (cozinha e afins).

Trago a iniciativa à colação para dizer que muito me impressionou uma acção de promoção cultural de cariz exclusivamente privado e que democratizou a Cultura de forma evidente. Basta dizer que, nas duas ocasiões em que ali me desloquei, constatei o jaez pluriétnico e interclassista da frequência.

Fica, por isso, uma anotação para a FNAC, a Bertrand e quem mais por aí opere em larga escala para que reparem que, independentemente de medidas fiscais e programas governamentais para o sector, as empresas podem lançar os seus próprios incentivos, sem necessidade de cartões de fidelização ou sem limitar os descontos a meia dúzia de produtos ou a percentagens irrisórias.

Com o que fica dito, não olvido (de modo algum!!!) aquela que, como já escrevi vezes sem conta, deveria ser uma aposta magna do Estado.

Sei bem que vivemos tempos de crise e que o raciocínio mais imediato será no sentido de dizer que há outras prioridades. Se não me é difícil concordar com a asserção prévia, também afirmo que será um erro subestimar a hierarquia da importância da Cultura, nesta mesma época.

Desde logo, falamos de uma área em que o elemento económico já é tudo menos despiciendo; ou seja, seria um bom motivo para estimular parte da economia, criando ou mantendo empregos.

Mais importante ainda, falamos de uma área que contribui de modo indiscutível para o bem-estar do ser humano, algo de que bem andamos carenciados.

Encurtando os argumentos, creio ainda que, quando a produção é de qualidade, qualquer associação estatal ou mecenática grava o nome de quem a apoia nas mentes de quem a vê, lê ou ouve.

Entendo, por isso, que privados e Estado deveriam, mesmo nos dias de hoje, apoiar a Cultura com veemência, dado que com gastos pequenos ou diminutos lucros cessantes conseguiriam aprovação, melhorias económicas e acréscimo da qualidade de vida dos cidadãos. Pensar de outra ver maneira é, salvo melhor opinião, “não ver bem o filme” ou “ler o livro errado”…

Sem comentários: