quinta-feira, 18 de outubro de 2012

As Rosas também têm espinhos

Muitos como eu, têm estranhado os sucessivos sucessos eleitorais do CDS de Paulo Portas, porque num País que não cresce decentemente há mais de uma década e em que a contestação social vem em crescendo, como é possível o CDS valer mais do que PCP ou BE principais instigadores da contestação social. 

Ora, a arte de ser oposição, prometendo o impossível  principalmente em sectores muito fustigados, como tem sido por exemplo a agricultura, tem dado o retorno eleitoral que se tem visto. Chegada a hora da verdade, quando o PSD ganhou as últimas legislativas, e o CDS aceitou a coligar-se, seria de esperar que Paulo Portas tivesse assumido pessoalmente a pasta da agricultura, a grande bandeira na campanha eleitoral. 

Mas como todos sabemos isso não aconteceu e optou sabiamente pelo Ministério Cor de Rosa, assenta-lhe que nem uma luva em todos os aspectos e por sinal, parece-me até ser um dos Ministérios mais activos e com uma das melhores performances. 

Mas o problema surge, porque as rosas para além de serem bonitas e populares também têm espinhos ou dito de outra forma e recorrendo a um ditado popular, não é possível ter “sol na eira e chuva no nabeiro”. 

A acrescer a isto, está o facto de que o CDS estar minado de jotas, miúdos sem qualquer preparação politica ou intelectual, que vendo o lugar de deputado em causa, esquecem o sentido de estado, o patriotismo e o espírito de missão, “resgatar o país desta difícil situação”, colocando assim novamente o populismo e o interesse pessoal à frente de qualquer outro. Aliás e só para recordar os mais distraídos, já tínhamos tido alguns sinais desta conduta, quando o deputado João Almeida se candidatou a Presidente do Belenenses, supostamente para salvar o clube e à primeira dificuldade, abandonou o barco. Alguma admiração? 

Para mim o problema principal, está no facto do chefe da orquestra querer tocar várias músicas ao mesmo tempo, a banda segue-lhe as pisadas e o resultado é um conjunto de acordos sem sentido. O que me veio à memória, foi a recordação daqueles conjuntos de garagem quando se encontravam pela primeira vez, em que o baralho e o incómodo que provocavam na vizinhança era maior do que a musica que conseguiam produzir.

É este o parceiro de coligação de um governo, que tem como principal responsabilidade, tirar Portugal da bancarrota e coloca-lo na rota do crescimento económico.

Os casos em que esta ambiguidade se tem manifestado são muitos e com graves consequências para o País e para a imagem de Portugal no exterior. 

Como é que o Povo pode acreditar no futuro, se os exemplos que têm vindo do CDS são ambíguos  confusos, tardios e sem sentido de estado. O episódio desta semana, é mais um a somar a muitos outros, numa altura em que o mínimo exigido seria uma posição inequívoca e construtiva. Goste-se ou não deste orçamento e estou à vontade porque sou daqueles que não gosta, mas até me explicarem e provarem, que conseguimos conciliar os acordos e os objectivos que assinámos com com crescimento económico e emprego, não tenho dúvidas em afirmar, que este orçamento é a única opção que nos resta. 

Sou apologista e é uma das poucas críticas que faço ao actual Ministro das Finanças, é que deveríamos ser um pouco mais incisivos junto da Troika, no sentido de podermos dar prioridade à redução da dívida e não tanto ao défice, as duas não são conciliáveis em tão curto espaço de tempo. 

Como é lógico, não vou perder tempo a comentar as posições ou supostos caminhos preconizados pelo PCP ou BE, porque isso seria uma total perda de tempo. Já a posição do PS e de António José Seguro deixa-me perplexo, porque perante a clarificação e quantificação dos impactos e resultados do “tal caminho alternativo”, as respostas são vagas, imprecisas e sempre envolvendo a União Europeia como a chave de todas as soluções. 

Sejamos sérios, no memorando de entendimento assinado pelo Partido Socialista, não há duplas interpretações, não há dois caminhos, não há escolhas, há sim, objectivos reais, traduzidos em números e limitados no tempo. Vir dizer que a solução, é renegociar mais tempo e mais dinheiro, é uma não solução, recordo-me que na última avaliação da Troika, António José Seguro teve a oportunidade de salvar o Povo Português deste orçamento e não conseguiu, mas continua a vender o oásis. Mais uma vez o paralelo com Paulo Portas pode muito bem ser estabelecido  porque as condições e limites em que o orçamento foi elaborado não se alteraram e se dúvidas houvesse, hoje Selassie responsável do FMI dissipou-as. Azar António José Seguro, afinal não há outro caminho e talvez agora entendamos, porque é que Paulo Portas se apressou esta manhã a anunciar o voto favorável do CDS ao orçamento.

Todos sabemos que há outras opções para obter os mesmos resultados e quiçá mais sustentáveis e com mais futuro, mas ninguém tem coragem nem para as anunciar nem tão pouco as defender. Refiro-me a uma discussão que tem décadas e que se resume ao excesso de funcionários públicos. 

Quem tem a coragem de anunciar a rescisão ou a não renovação de contratos de trabalho a termo ou a prazo de 100.000 funcionários públicos? Simplificando algo muito complicado do ponto de vista social, doloroso e penalizante para quem se veja envolvido neste processo, esta medida poderia representar uma redução directa no défice, num montante muito próximo de 2.000 milhões de euros ano. 

A vida é feita de opções e os remendos e a cosmética a que se tem recorrido sistematicamente ao longo deste anos não têm resultado, não são sustentáveis e apenas têm disfarçado o indisfarçável.

Apesar de não ser um fã nem do actual Presidente da Republica nem de Mira Amaral, as palavras deste último foram sábias, quando referiu que Cavaco Silva não tinha sido eleito para ser o Paizinho desta coligação. Pelas razões que enumerei, creio que o recado foi dirigido essencialmente ao CDS, no sentido de se assumirem como homenzinhos de uma vez por todas.

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