terça-feira, 24 de janeiro de 2006

A média dos media

Com franqueza, entendo que a vitória de Cavaco Silva, à primeira volta, e contra 5 candidatos de esquerda (cujo objectivo era, assumidamente, a derrota daquele), é um feito notabilíssimo na história do sistema político português.

Todavia, tudo foi dito por algumas vozes dos media e da política para que se diminuísse o facto de um só homem, em seis, ter cativado mais de metade dos mais de 60% de eleitores recenseados que decidiram votar.

Não generalizando, diria que entre os grandes derrotados se contam os media. Quem viu a ligeireza com que passaram as asneiras de Soares e vacuidade de Alegre, e a exploração quase sádica com que, por exemplo, publicaram e republicaram a “caraça” de espanto de Cavaco Silva, quando confrontado, a frio, com as impróprias declarações de Santana Lopes, proferidas na véspera, só pode concluir que Cavaco era o candidato não desejado.

Vejo-me forçado a sublinhar, designadamente, a cobertura que uma das principais repórteres da SIC fez da campanha do novo Presidente: salas que eu vi a abarrotar, eram salas meio cheias ou com clareiras, multidões de centenas passavam a dezenas, e daí em diante…

Em alternativa, nos festejos da vitória, no Centro Cultural de Belém, bastava sintonizar a TSF para ouvir um jornalista dizer que um urso de peluche era um símbolo pouco próprio de um Presidente, ao ver que Cavaco segurava um. Não sou jornalista, mas sempre pensei que importava averiguar “quem”, “como” e “porquê”… Felizmente, uma repórter entrou na linha para explicar (terá sido despedida?) que havia sido uma oferta do neto, assim se entendendo que o recém-escolhido Chefe de Estado tenha segurado, por instantes, o dito brinquedo.

E no dia seguinte à eleição, que podíamos ouvir?! Que, afinal, Cavaco não era de família humilde, como escrevera e dissera, porque uma estação radiofónica colhera depoimentos que diziam que o pai tinha camiões e o mais não sei o quê…

Depois queixam-se das tiragens e das audiências, e chocam-se com a preferência dada ao futebol, às novelas e aos tablóides!...

2 comentários:

el s (pc) disse...

Desculpe que lhe diga mas:
...Com franqueza, entendo que a vitória de Cavaco Silva, à primeira volta, e contra 5 candidatos de esquerda (cujo objectivo era, assumidamente, a derrota daquele), é um feito notabilíssimo ...
seria notavel se entre os cinco candidatos houvessem tb candidatos de direita, assim sozinho à direita pode simplesmente atacar o centro sem medo de perder o que está à direita dele.
Já cinco candidatos à esquerda não podem tentar cativar o centro sem medo de perder o que está à esquerda.
Simples como isso.

Gonçalo Capitão disse...

Pois sim.
Até pode ser verdade, numa óptica espacial/ideológica.
A verdade é que a esquerda não conseguiu unir-se e defendeu, arrogante e cinicamente, que se apresentava em várias vias para evitar a vitória de Cavaco. Consequência: tiveram que atacar e perderam.
Se tivessem apostado, por exemplo, em Alegre, não sei se (infelizmente, para mim) não teria cantado outro galo.
Em suma: se foram obrigados a uma campanha pela negativa, a eles próprios devem responsabilizar-se.
Sampaio, em 1996, ganhou contra Cavaco, beneficiando, entre outras coisas, da união à esquerda.