Há pouco tempo, em viagem, falava com um amigo que se queixava do panorama de Coimbra, no plano da política, da cultura, da comunicação social, do futebol, e por aí fora...
E a verdade é que, sendo Coimbra uma cidade com altos padrões de qualidade de vida, é-o apesar de muitos dos supostos timoneiros da nossa barca (permita-se o registo intimista ou unplugged, para usar a terminologia MTV), que é como quem diz que as elites da cidade se arredaram ou foram arredadas do comando dos nossos destinos.
Em ocasiões anteriores já falei e escrevi sobre o PSD, referindo a curiosidade que representa a distância do meio universitário, dos médicos e advogados e outros profissionais liberais prestigiados (muitos dos quais aceitam ser mandatários e afins, quando vislumbram prestígio suficiente na missão), dos agentes sindicais e patronais, em relação à sede do Partido. Não que os aspirantes a "jovens turcos" (apesar de tudo, os originais deixaram marca perene) não tenham a legitimidade, ao menos, formal: ganharam eleições internas pelo voto, eliminaram a competição e espraiaram os seus braços (não contem comigo para escrever "tentáculos"). O facto é que devemos retornar à essência do fim do sistema partidário.
A meu modesto ver, um partido político democrático deve, em primeiro lugar, oferecer um ideal social, aos mais diversos níveis geopolíticos e aos vários escalões etários. Os cidadãos devem perceber, no plano nacional, distrital ou concelhio, que modelo de sociedade resultará de uma prolongada governação daquela agremiação, e como se concatenam as medidas avulsas para o construir dessa sociedade nova.
Entenderá diferente quem tiver vistas curtas, falta de estudo ou oportunismo mediático (como bem percebeu, por exemplo, o Bloco de Esquerda).
Em segundo lugar, um partido deve estimular a divergência interna de opiniões e tolerar o debate externo. Quem discorda deve ser convidado a colaborar e a enriquecer a posição comum, sendo até uma boa maneira de responsabilizar a possível oposição pelos destinos comuns. Parece óbvio?! Acredite que não é, em muitos estádios da vida de um partido.
Depois, entendo que as pessoas devem evitar a inveja. A atitude persecutória das elites é típica dos períodos pós-revolucionários, mas não de democracias maduras. Só mentes pouco brilhantes e com o civismo a terminar na carteira ou no umbigo podem entender que é pendão a ostentar a expulsão das figuras de relevo ou, no limite, a sua não sedução para aderirem à vida partidária.
Fala-vos um tipo que, não se considerando parte da elite, tem pena que se não guarde para ela um lugar de relevo, já que entendo que um catch-all party (um partido consociativo de massas) deve ser verdadeiramente pluralista, se ambiciona espelhar a vida social que procura servir. Não defendendo qualquer teoria elitista (embora saiba o que dizem Paretto e Mosca), creio que as elites ajudam a manter o dinamismo do debate, num dado meio.
Um périplo pelos cabeças de lista de Coimbra de três dos grandes partidos às últimas eleições legislativas é elucidativo: respeito as figuras (nem poderia ser de outro modo), e não sou provinciano ao ponto de entender que só "nados e criados" podem fazer caminho nas respectivas circunscrições, mas a "importação" de facto (apesar dos laços que sempre conseguem estabelecer-se com as terras de recepção) das figuras de proa pode atestar ou a dormência cívica ou a "limpeza étnica".
Não se geraram líderes locais? Se sim, por que não assumem os focos de poder político social e político do Concelho? Se não, por que razão secou a fonte? Por que não entram nas sedes dos partidos, dos clubes e associações e por que não encimam projectos culturais que escapem à marginalidade do "alternativo" ou à facilidade do "pimba"?
Creio que poucos me subscreverão, mas acreditem, pelo menos, que escrevo sem ressentimento ou com outra pretensão que não seja a de tentar encetar um debate sobre a liderança que se foi perdendo, em Coimbra, como em tantas terras. Por cá, faz-me mais confusão, já que temos condições e mole humana para ser um pólo de excelência não apenas na Ciência, na Educação e nas profissões liberais – onde temos feito boa figura – mas também na vitalidade cívica e na influência política, que já tivemos.
Coimbra já deu ao País gente que pôde ser, com mérito, Primeiro-Ministro, Presidente da Assembleia da República, Ministro, e por aí fora… E agora?...
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