quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Enquanto Kosovo, mata-se a fome

Tenho escrito sobre o Kosovo, por diversas vezes...

Mas, agora que PSD e PS se entretêm a dar as mãos a propósito do reconhecimento da independência do Kosovo, resta-me encolher os ombros, concluir que não percebo nada de política internacional e manter a minha suspeita de que se trata da maior estupidez desde que Cleópatra foi mordida pela áspide…

Talvez possa iluminar-me, aliás, com a sua opinião na SONDAGEM LODO, à direita destas desafortunadas linhas...

Porém, retomando o assunto e já que a sintonia é tão bonita, talvez os lideres dos dois maiores partidos possam combinar um passeio e fazer o que eu, nem há duas semanas, fiz: ir lá e ver bem o que é a realidade de Pristina, Prizren e de muitas aldeias pelo caminho.

O que vos digo é que se já era contra o abrir desta caixa de Pandora, somo agora razões empíricas ao meu cepticismo. Desde enclaves sérvios, onde as pessoas têm medo de que os albaneses venham armados para os saquear, mais uma vez e na melhor das hipóteses (algo que determinou a desertificação de muitas povoações de montanha, onde a “gentileza” daqueles era absolutamente impune), passando pela decrepitude do tecido industrial ante a incompetência dos novos “donos” do território (uma mina que vi em pleno labor era gerida por suíços…) e chegando mesmo à constatação de que falamos de uma maioria populacional que evolui em progressão geométrica, falando-se de uma malha etária com metade dos cidadãos em idade jovem, algo em nada acompanhado pelo crescimento do emprego.

Se a isto juntarmos os dados de que os serviços de informação ocidentais dispõem e que demonstram que todos os líderes do Kosovo estão ligados a actividades criminosas (tráfico de tudo e mais umas botas, com seres humanos incluídos), então vemos o que é um Estado falhado a emergir.

Depois é só rever a matéria dada: já se sabe que, em breve, as fronteiras com a Albânia serão decorativas (retira-se o berço da nação sérvia e dá-se aos albaneses), humilha-se a Sérvia (como não se fez, e bem, à Alemanha do pós-guerra) e abre-se um seríssimo e grave precedente; o mesmo que os russos alegaram na Ossétia do Sul e na Abecásia (e que, só por ser a Rússia a invocar, mereceu reacção oposta), o que os habitantes da Transnístria (zona oriental da Moldávia) podem vir a alegar, para já não falar no País Basco, Catalunha, Córsega e outros delírios actuais que podem ser cruzes a carregar no futuro.

De permeio e na agenda, temos já o Tibete e Taiwan (casos em que não se vislumbra a mesma "garganta" por parte da diplomacia ocidental), bem como risco análogo ao do Kosovo, na Macedónia (onde também estive), onde há já bastas zonas de maioria albanesa e os constituintes cometeram, ademais, o grosseiro erro de autorizar partidos nacionalistas albaneses e o uso dos símbolos nacionais daquele país (administração local incluída), pelo que o risco já vai na propaganda.

É nisto que o eng. Sócrates a dra. Manuela nos estão a meter, amigos…

Nota: a fotografia é da capital, Pristina.

2 comentários:

Luis Melo disse...

Sem dúvida caro Gonçalo. Também me faz um pouco de "comichão" como é possível os nossos lideres não pensarem nisso.

Ou melhor, eles pensam (não são burrinhos) mas como sempre, vão a reboque de certos países da UE.

Assim, continuaremos a ser pequeninos. E ajudamos a abrir um precedente gravíssimo.

Gonçalo Capitão disse...

Luís

Eles vão a reboque da UE e a UE vai a reboque dos EUA...

Somos muito pequenos em termos de política externa comum, como já percebeu a Rússia, que aposta nos tratados bilaterais, por exemplo, com a Alemanha...